domingo, 24 de novembro de 2024

Comentando o livro Ainda Estou Aqui: o valor da memória e da justiça na trajetória de uma Antígona Moderna

Terminei de ler Ainda Estou Aqui, a autobiografia de Marcelo Rubens Paiva.  Só li por causa do filme, coisa que sempre foi comum na minha vida desde a minha adolescência.  Já perdi a conta dos livros que li por causa de filmes, séries, desenhos animados e mesmo telenovelas.  Por isso  sou tão defensora das adaptações, mesmo quando elas não fazem justiça ao original.  Afinal, quando uma obra vai para outra mídia, encontra um novo público.  Obviamente, em tempos emburrecidos e embrutecidos como os nossos, há quem ame a adaptação e diga que quer distância do original chato.  Vi isso quando a Netflix patrocinou aquele filme deplorável baseado em Persuasão.

Antes de ir para o livro, vamos a um resumo do drama da família de Rubens Paiva (1929-1971), que deu base ao filme inspirado no livro e que mudou a vida do autor, na época, um menino de 11 anos.  Brasil, 1971, auge da repressão da Ditadura Militar (1964-1985), o AI-5 de 1968 tinha criado um ambiente de total liberdade para que os agentes do regime praticassem toda sorte de violência. A vida de Eunice Paiva (1929-2018) e seus cinco filhos muda abruptamente após o desaparecimento de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, que tinha somente 41 anos.  Eunice terá que lutar para manter a memória do marido viva, lutar para que o Estado reconheça o crime cometido por seus agentes, enquanto se desdobra para manter sua família unida e terminar de criar seus filhos.

Ainda Estou Aqui, lançado em 2015, não segue uma cronologia.  Ele vai e volta no tempo, começa quase no presente, com Eunice já sofrendo com Alzheimer, discute a doença, como funciona a memória.  Vai costurando as lembranças de Marcelo Rubens Paiva sobre sua infância mais recuada, fala da fazenda do avô Paiva, avança para sua adolescência e juventude, o fato de ter se tornado o "homem da família" com o desaparecimento do pai.  A mãe o lembrava disso várias e várias vezes, ainda que, a julgar pelo livro, a pressão psicológica não tenha se revertido em uma delegação de poderes por parte da mãe.

Entrelaça suas experiências pessoais, seus dramas com a própria história do país e o drama de sua família: o desaparecimento do pai, a luta da mãe para tê-lo de volta ou que seja reconhecido como morto, o direito negado de enterrar alguém querido que é como nos congela no tempo.  O livro fala da educação e formação de Rubens e Eunice, de como eram pessoas notáveis, brilhantes até, mas representativas de sua classe social e geração.  Eram falhos e limitados, eram humanos.

Agora, é fato que, em condições normais, não leria Ainda Estou Aqui.  Não tenho interesse mesmo pelas experiências de adolescente e jovem de classe média nos anos 1970-80 de Marcelo Rubens Paiva.  Seus amores, suas primeiras experiências sexuais, a leniência da mãe em permitir-lhe que consumisse álcool, drogas e dirigisse sem carteira sendo menor de idade, tampouco a cantilena de que eles viviam em condições econômicas difíceis.  Claro, para quem foi classe média alta, de repente virar, talvez, classe média baixa é um choque.  Ainda assim, a vida dele não foi nem de longe difícil no sentido econômico da coisa.

O livro é, portanto, feito de altos e baixos para mim.  Não me interessam as experiências e picardias juvenis do autor, não vou mentir, mas gosto muito quando se fala de Eunice, da família Paiva como um todo, do painel da classe social a qual pertenciam.  Progressistas, sim, membros de uma elite intelectual, mas cheios de (pre)conceitos da sua época.  O autor mostra o quanto sua mãe era forte, lutadora, mas machista na sua permissividade com o filho homem, que as filhas não recebiam.  De como foi tirado de uma escola construtivista moderna e colocado em uma escola pública, porque, nas palavras do autor, os pais não queriam que ele fosse bicha.  

Há toda uma discussão na primeira parte do livro sobre a masculinidade e como Rubens Paiva fez pouco caso da esposa quando ela disse que poderia trabalhar. "Vai abrir uma butique em Ipanema?".  Não, ela acabou se tornando uma jurista respeitada internacionalmente e uma especialista em direitos indígenas, alguém que nunca aceitou ser vista como vítima, ou coitada.  Marcelo Rubens Paiva fala de como a mãe nunca chorou na frente dos filhos, como nunca admitiu publicamente a morte do marido, de como se trancava no quarto e derramava lágrimas sozinha.  Ela poderia ter se casado de novo, recebeu propostas, inclusive de amigos da família, mas ela não queria voltar a ser a dondoca, a dama muito educada, poliglota, que sabia fazer um suflê maravilhoso.  O autor não a descreve como feminista em nenhum momento, mas, nas suas contradições, Eunice encarnou uma série de ideias que eram, sim, defendidas pelas várias vertentes do movimento.

Mais de uma vez, o autor comenta o quanto a mãe culpava o pai por não ter se exilado, por não ter pensado na família primeiro.  Em segredo, Rubens Paiva ajudava perseguidos.  Esse "ajudar" motivou a sua morte. Ele conta que a mãe nunca foi convencional como outras mães, que os mimos e afagos vinham das tias, das avós e, infiro pela leitura, do pai.  Rubens Paiva é descrito pelos filhos e por outros como um homem sempre sorridente.  Sei que alguns acharam a representação de Rubens Paiva feita por Selton Mello meio exagerada, mas, a tomar pelo livro, era aquilo mesmo.

Algo muito importante, pelo menos para mim, é que Eunice nunca defendeu vingança, ela queria justiça.  Quando a Comissão da Verdade desvendou a morte de de Rubens Paiva, esmiuçando os detalhes e os culpados, em 2014, Eunice já estava em estado avançado da doença.  Agora, ela e outros juristas questionavam a Lei de Anistia (1979), porque ela era contra acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário.  Crimes contra a humanidade não prescrevem, a prisão, tortura e execução de Rubens Paiva contrariava, inclusive, as leis do próprio regime militar, ou seja, estava tudo fora da lei.

Enfim, estou me estendendo demais. A gente vê dentro do livro o material que foi usado para o filme.  Ela está disperso nos seus vários capítulos, então, o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza e mais que justificado.  O suflê, por exemplo, só aparece bem no final.  A frase "Ainda Estou Aqui" está no último capítulo.  Ela passou a ser repetida por Eunice já quando estava no estágio III do Alzheimer.  Ela nunca entrou no último estágio da doença.  

A descrição de Eunice doente foi perfeitamente encarnada por Fernanda Montenegro.  O autor descreve e eu vejo a atriz nas cenas.  Não a há colocaram alongando os dedos do filho, Marcelo Rubens Paiva ficou tetraplégico, algo que ela fazia mesmo depois de parecer ter se esquecido de tudo.  Eu queria muito essa cena no filme, porque foi uma das descrições mais tocantes do livro.  A angústia do vazio causada pela doença e a ternura de um gesto que a mãe fez por mais de trinta anos permanecendo


Pelo filme, imaginava Vera mais velha, talvez com 18 anos, mas ela tinha somente 16.  Não tinha terminado o colegial quando foi para a Inglaterra.  Não acredito, pelo livro, pela Eunice que temos lá, que sua filha educada no Colégio Sion ficasse solta pela cidade como o filme mostra.  Ainda mais sabendo o risco que ela corria.  No livro, Marcelo fala mais de si e da mãe, o pai é central, claro, mas todas as demais personagens são coadjuvantes, então, não sabemos muito das irmãs.

Quando fala da infância antes do desaparecimento do pai, o autor fala de como o Leblon era diferente, não se parecia com o das novelas do Manoel Carlos.  Havia uma grande favela no bairro, que era mais de casas e sobrados do que de prédios.  Os meninos se misturavam e brincavam juntos.  Só que, um dia, a Favela do Pinto pegou fogo.  Incêndio suspeito.  Destruída, seus moradores foram removidos, assim como os que moravam em outra favela à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas.  No lugar da favela do Leblon, construiu-se um grande condomínio habitado, principalmente, por oficiais do Exército.


O roteiro do filme selecionou pedaços do livro, os reorganizou, simplificou.  Algumas mudanças não me agradaram.  Cortaram os avós, as crianças deixadas trancadas pelos agentes com a empregada.  Eles não tinham chave, os avós maternos vieram com a chave reserva de São Paulo.  A missão de Marcelo, que foi mandado escondido, quando os agentes estavam na casa, pela mãe para avisar uma vizinha de que quem viesse até a casa seria preso.  A cena ficaria ótima no filme, há coisas do livro que mereciam estar lá.  

Trata-se de um desejo, claro, não de uma crítica.  Não vi exclusões que possam ser acusadas de nada para além de simplificação e necessidade de criar impacto emocional.  Na média, o filme resumiu muito bem em imagens e diálogos uma série de questões, como o fato de Eunice não ter acesso aos bens do marido.  Ainda que não a tenha mostrado tendo que ir trabalhar.  Imagino que há mais material gravado, cenas que foram descartadas.  Não me surpreenderia se a Globo colocasse esse material em uma exibição em formato minissérie de Ainda Estou Aqui.

E o livro traz alguns documentos como apêndice, processos, relatórios.  Essa parte ocupa cerca de 15% da obra. A parte inicial muito focada no autor e as discussões sobre o Alzheimer me cansaram um pouco, mas não o suficiente para me fazerem parar de ler, eu simplesmente seguia em frente e terminei até comovida.  Não chorei, como não o fiz quando assisti ao filme, mas as descrições de torturas e outras cruezas da ditadura foram incômodas e tem que ser assim mesmo.  Eunice na sua busca pelo marido, da certeza sobre seu destino, do direito de enterrá-lo, ainda que simbolicamente, a torna uma Antígona moderna.  Negar a alguém o direito de enterrar os seus é algo extremamente cruel, porque trata-se de um direito humano mais básico.

A graça, ou a desgraça, foi que enquanto eu lia algumas das partes mais pesadas, veio à público a grande conspiração que quase nos enfiava em outro período de trevas.  Não tive como ter um afastamento crítico da obra.  Concluindo, o livro é bom e eu nunca li nada de Marcelo Rubens Paiva.  Nadinha.  Nem nunca assisti Feliz Ano Velho, o filme.  Para quem quiser o livro Ainda Estou Aqui, a versão Kindle, a que eu comprei, está em promoção no Amazon.

sábado, 23 de novembro de 2024

Shoujocast no Ar! Mais um Trailer da Rosa de Versalhes: Decepção e Ansiedade (Estou assim, que nem Oscar. 😆)

 

O novo filme animado da Rosa de Versalhes será lançado em 31 de janeiro de 2025, no Japão.  Esta semana, saiu mais um trailer, um bem completo e que nos dá ideia de como será o resultado final, ou será enganação? Este vídeo é uma análise-comentário desse conjunto de séries que nos deram.  Vamos assistir?

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Atualização do caso das Luminárias (tori) da Rua dos Aflitos, Afroturismo e Reparação Histórica

Encontrei uma matéria no G1 melhor que esta da Folha de São Paulo falando da retirada das luminárias (tori) da rua dos Aflitos, no Bairro da Liberdade. No fundo da rua, fica a Capela dos Aflitos e encontrei uma foto antiga do lugar, não tenho a data. Ela fala de Afroturismo, que é o turismo de rua com grupos guiados focado exclusivamente nos lugares importantes para a história dos negros e negras.  Há Afroturismo em várias capitais brasileiras, além do turismo de rua comum, mas, no caso de São Paulo, existe um projeto do governo do estado que visa promover rotas em várias cidades paulistas.  

A retirada dos tori, as luminárias, e eu não vejo como correto, não mudei de ideia, faz parte do projeto de revitalização chamado "Ruas Abertas Liberdade".   É projeto do Município de São Paulo, não é da iniciativa privada.  Assim como não é da iniciativa privada o Memorial que se pretende construir atrás da Capela dos Aflitos, onde era o antigo cemitério dos escravizados.  Aliás, segundo matéria da Veja de um ano atrás, a verba, que é de 4 milhões de reais, já está garantida e é estadual.  Vejam bem, um ano se passou e o que foi feito?  Somente a retirada das luminárias.

A História de uma cidade, de um bairro, de um país, é complexa e dinâmica.  Ela é feita em camadas.  O apagamento dos negros e indígenas precisa ser questionado, porém a ideia de reparação histórica que vi nos comentários de algumas pessoas, parece mirar a comunidade japonesa, que não escravizou, matou, ou apagou essa história negra local.  Há racismos, criou-se a ideia de que a Liberdade é o bairro japonês, ou oriental, o que seria mais correto hoje, mas a reparação histórica, e eu não gosto desse termo, não é responsabilidade do japoneses e seus descendentes, não é culpa dos tori, mas responsabilidade do ESTADO e SEUS AGENTES, que tentaram construir uma cidade negando suas raízes negras.  E os japoneses no Brasil sofreram um tanto por causa do racismo, por causa da 2ª Guerra, não é uma história fácil, também.

Aliás, se a Lei Feijó (1831), que proibia o tráfico, tivesse sido cumprida, se o Estado não fosse conivente, a escravidão teria terminado muito antes e milhares de pessoas não teriam sido feitas escravas, quando deveriam ser livres, tampouco seus filhos e filhas, netos e netas.  Tivemos que fazer uma segunda lei proibindo o tráfico negreiro, a Eusébio de Queirós (1850), e ainda uma outra, a Lei Nabuco de Araújo (1854), prevendo sanções para as autoridades que encobrissem o contrabando de escravos. 

Enfim, eu sou historiadora e não gosto de ficar brincando de palavras de ordem e discurso fácil por aí.  Tenho mais o que fazer e estou velha para isso, não tenho mais meus vinte anos.  Agora, quem quiser ficar atrás da história verdadeira do Bairro da Liberdade, como se as outras fossem falsas e não fruto de disputas e camadas, que corra atrás desse engodo.  Espero não ter que voltar a isso e desejo que o memorial fique pronto logo e a rua dos Aflitos seja revitalizada.  O vídeo do G1 está abaixo:

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Luminárias japonesas são retiradas de rua na Liberdade a pedido de movimento negro e indígena


Eu gosto muito do Bairro da Liberdade.  Passei minha lua de mel lá, em 2001, voltei várias vezes.  Conheço por alto a história do bairro da Liberdade, essa rua, a da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, é, também, a de uma das entradas do hotel Issei, a principal é na Rua da Glória.  Agora, teremos postes de LED.  A matéria da Folha de São Paulo trouxe várias falas, vou transcrevê-las aqui: 

""Não somos contra a memória japonesa, mas as luminárias não têm a ver com o prédio histórico", diz Eliz Alves, 60, coordenadora da Unamca. "Não é luxo nosso, é preciso que a cidade tenha sensibilidade com um patrimônio de 245 anos."  "O que São Paulo busca apagar está guardado ali", afirma Alves sobre o beco que é tomado por caminhões, vans e motos que abastecem estoques de lojas na região. "A rua é uma doca, não conseguimos nem abrir o portão da capela", completa ela."

"A Prefeitura de São Paulo afirma, em nota, que a decisão respeita a diversidade cultural e histórica da cidade. "As lanternas, que remetem à imigração japonesa, foram consideradas inadequadas para o local, uma vez que o Beco dos Aflitos abriga a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, um marco histórico da época da escravidão no Brasil."(...) "As lanternas suzuranto foram mantidas no restante do bairro, preservando a herança da imigração japonesa.""

"Nas redes sociais, perfis se posicionam contra a substituição das luzes. "Apoiamos a cultura negra, mas não acreditamos em derrubar uma cultura para impor outra. Esse não é o melhor caminho", publicou a página Minha Liba, que tem 35 mil seguidores."

""Achamos uma falta de respeito com todo o trabalho que os orientais tiveram para construir o bairro. A igreja é um patrimônio histórico do nosso bairro, mas as suzurantos também são", conclui a publicação, curtida pela Acal (Associação Cultural e Assistencial da Liberdade)."

"Para o arquiteto Silvio Oksman, a Liberdade concentra uma somatória de camadas histórias, assim como o bairro do Bom Retiro.  "Essas disputas na cidade são saudáveis", diz Oksman, 52, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Ibmec-SP. "É absolutamente legítimo ter um grupo organizado reivindicando sua memória, temos que ouvi-los, assim como temos que ouvir a comunidade japonesa que também reconhece ali seu território."  Segundo ele, essa é uma questão que não existia há 20 anos na cidade. "É um bom debate, que mostra que evoluímos como sociedade", diz ele."

De minha parte, considero realmente triste a retirada dos postes.  Sei que há disputa, há apagamento da presença negra, mas será que retirar os postes, negando uma das presenças mais importantes do bairro da Liberdade ajuda em alguma coisa?  Há camadas várias histórias que se entrelaçam no bairro, são camadas de memórias, há disputas.

Rebatizar a estação de metrô de Japão-Liberdade é um erro, mas retirar os postes me parece outro erro.  O Bairro da Liberdade assim se chamava antes da chegada dos japoneses e seus descendentes.  Seu nome está ligado ao castigo e resistência dos negros.  Em 2023, a Praça da Liberdade foi rebatizada de “Liberdade África-Japão”, tentando deixar clara a múltipla origem do lugar.  E isso é importante.

Inaugurar, em 2022, a estátua de Deolinda Madre, também conhecida como Madrinha Eunice, fundadora de uma das primeiras escolas de samba de São Paulo, a Lavapés, foi um avanço.  Acredito que exista os espaço para as duas heranças, ou mais até, porque quem visita a Liberdade hoje, percebe outras presenças lá, como a dos chineses.  Enfim, só queria comentar a matéria e deixar o registro do ocorrido.

Saiu mais um trailer do filme animado da Rosa de Versalhes

Hoje, foi lançado mais um trailer da Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら). Ele está abaixo, depois, seguem meus comentários:

Ainda acredito em alguma novidade no aniversário de Oscar (25/12), mas talvez seja somente a confirmação de algo ruim, isto é, será um filme só.  Hitomi Kuroki, ex-atriz do Takarazuka, será a narradora do filme, ela está em destaque no Comic Natalie.

Neste novo trailer, vemos a protagonista com seus três uniformes (branco - vermelho - azul) e cenas que são do final mesmo da série, como o que parece ser Oscar se despedindo de Maria Antonieta.  Vemos no trailer o rei Luís XV, Bernard, Gerodelle (que no mangá demora a aparecer), mas Rosalie, nem sombra dela.  Será que vão cortar a trama de Madame Polignac?  Nem sombra de Jeanne e de qualquer coisa que me remetesse ao caso do colar.  Sem sinal, também, do baile no qual Oscar dança com Fersen, ou da trama do Cavaleiro Negro que é responsável pela cegueira de André.  Sem Cavaleiro Negro, como André ficará cego?  EM UMA BRIGA DE RUA!!!!!!

A sequência de Fersen dançando com Antonieta com roupas que pareciam de inspiração grega (deve ser sonho de alguém), me parece uma homenagem aquelas apoteoses do final das peças do Takarazuka.  E Gerodelle está lindo, gostei muito do pouquinho que vi.  O figurino feminino, por outro lado, parece estar muito bom.

Espero ainda estar errada, mas estou bem decepcionada. Fora Oscar e Antonieta, só tem macho nesse filme.  Sumiram com as outras personagens femininas. E, claro, a música não faz justiça à trilha do anime de 1979, uma lástima!  De qualquer forma, é uma maneira de manter a Rosa de Versalhes forte na memória coletiva.  Quem quiser mais e melhor, que pegue o mangá, as peças do Takarazuka ou até o anime de 1979.

Ainda Estou Aqui continua bem na bilheteria e a campanha para o Oscar segue

Sei que ainda irei falar muito do filme Ainda Estou Aqui.  Não por achar que ele seja o melhor filme nacional que já assisti na minha vida, mas pela importância dessa película, ainda mais em vista das últimas notícias.  Ontem, mais detalhes do sórdido plano de golpe militar planejado em 2022 veio à público, ele incluía matar o ministro Alexandre de Moraes, o presidente Lula e o Vice-Presidente Alckmin.  A história do veneno fez com que as suspeitas sobre as mortes de João Goulart, Carlos Lacerda e até Tancredo voltassem.  O primeiro, teria sido assassinado com a troca de seus remédios, o segundo, deu entrada em um hospital por motivo simples e nunca de lá saiu.  O caso da morte de Gustavo Bebiano, um dos primeiros a romper com Bolsonaro e guardião de muitos segredos, periga retornar, também.

Desde ontem, não consegui parar de ver as notícias e, ao mesmo tempo, ler o livro que deu origem ao filme.  Haverá resenha, claro. Neste momento, já passei bastante do meio do livro e estou sentindo um profundo mal estar.  Juntou combo do livro com essa trama golpista.  Sinto nojo e sinto medo, também, das coisas que poderiam ter acontecido e ainda podem acontecer, porque sei que muita gente não se importa até que o horror lhe bata à porta.  Há aqueles que não se importarão mesmo assim.  

Voltando ao filme, Ainda Estou Aqui, ultrapassou a marca de 1 milhão de espectadores no Brasil.  É o terceiro filme nacional a atingir a marca este ano, e o quarto desde a pandemia, os demais são  Minha Irmã e Eu, Os Farofeiros 2 e Nosso Lar 2: Os Mensageiros.  Duas comédias e um filme religioso, dois deles continuações.  No caso desses três filmes, são números verdadeiros e, não, inflados como no caso de certas produções ligadas à Igreja Universal.

Outro ponto, o filme está em segundo nas bilheterias, afinal  estreou Gladiador 2, mas subiu sua arrecadação em 31%.  O normal é que as bilheterias caiam no segundo fim de semana, ainda mais com menos salas disponíveis.  Se bem que não tenho esse número, isto é, quanto à redução de salas de exibição.  E, para fechar, a foto do post está no perfil do Governors Award 2024, que é o perfil oficial do Oscar.   A legenda diz "She is MOTHER." (Ela é MÃE.).  

Enfim, espero que ela consiga uma indicação ao Oscar, seria por merecimento.  Quanto a vencer, já é outra história, parece, inclusive, que o ano será muito difícil na categoria.  Ainda assim, é o filme com a maior campanha para o Oscar de todos os tempos.  A Sony PIctures o inscreveu para 9 categorias: Melhor Filme, Filme Internacional, Direção, Roteiro Adaptado, Atriz (Fernanda Torres), Ator Coadjuvante (Selton Mello), Fotografia e Montagem.

Anunciada uma nova animação de Anne of Green Gables para o ano que vem


Ambientado no final do século XIX, Anne of Green Gables conta as aventuras de uma menina órfã de 11 anos, Anne Shirley, enviada por engano a dois irmãos de meia-idade, Matthew e Marilla Cuthbert, que originalmente pretendiam adotar um menino para ajudá-los em sua fazenda na cidade fictícia de Avonlea, na Ilha do Príncipe Eduardo, Canadá. O romance conta como Anne faz seu caminho pela vida com os Cuthberts, na escola e dentro da cidade.

O livro foi publicado em 1908 pela autora canadense Lucy Maud Montgomery, que assinou usando suas iniciais L. M. Montgomery, algo comum para evitar condenações e rejeições machistas. O livro é o que chamamos de Bildungsroman,  romance de formação, em português, e mostra a transformação de uma criança em adulto.  Esse tipo de história era muito comum no final do século XIX e início do século XX.  O livro teve várias continuações e adaptações para o cinema, TV, streaming, teatro, quadrinhos e, claro, anime, Little Women, Poliana, Heide, O Pequeno Lorde, O Ateneu, se considerarmos parcialmente, temos Oliver Twist e David Copperfield, Jane Eyre, As Três Marias etc.

A primeira tradução de Anne of the Green Gables para o japonês, feita pela novelista Hanako Muraoka, é de 1952 e tem como nome Akage no Anne (赤毛のアン), Ana dos Cabelos Vermelhos.  A vida de Muraoka, que traduziu montes de livros importantes para o japonês, se tornou um dorama em 2014 com 156 capítulos chamado Hanako to Anne (Hanako e Anne), o que já indica o quanto essa obra em particular foi importante para a carreira da novelista.  Encontrei um artigo da NHK sobre ela, parece que ela teve um programa de rádio contando histórias para crianças.

Houve dois animes de Anne of Green Gables, uma série de 1979 com 50 episódios, como parte da série  Nippon Animation's World Masterpiece Theater (Sekai Meisaku Gekijou/世界名作劇場)  e outra em 2009, baseada na prequel autorizada Before Green Gables de Budge Wilson, lançada em 2008 para comemorar o centenário do primeiro livro.    A série de 1979, que foi dirigida por  Isao Takahata (O Túmulo dos Vaga-Lumes) é muito amada no Japão e foi recompilada como filme e relançada com grande sucesso em 2010.

Enfim, a nova série estreia em abril de 2025, no canal E-Tele da NHK'. O estúdio responsável é o Answer Studio, já tem site oficial e primeiras imagens.  O nome da série será Anne Shirley e, não, Akage to Anne, por motivos que não sei, me parece ter menos apelo, seja comercial, seja nostálgico.  Enfim, há mais informações no Comic Natalie e no ANN.  

Confesso que nunca li Anne of Green Gables (*nem Poliana*), nem assisti ao anime.  Devo ter visto algum fragmento dele, muito tempo atrás, e, com certeza, assisti algum filme baseado em algum dos livros da série.  Tecnicamente, Akage no Anne não é shoujo, mas é, inegavelmente,  material pensado para meninas, de autoria feminina e mostrando o amadurecimento de uma jovem mulher.  Logo, é assunto nosso.  O Amazon tem um box com quatro livros da autora, que escreveu outras obras para e sobre meninas.  Não sei a qualidade da tradução.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Série sobre irmã de Jane Austen tem imagens liberadas

Ano que vem, uma das produções austenianas previstas é Miss Austen, série da PBS/BBC baseada no romance de Gill Hornby.  Fiz post sobre a série em dezembro passado.  Com previsão de estreia em 4 maio de 2025, saíram esta semana várias fotos da produção, além de maiores detalhes. 

O TV Insider traz um resumo enxuto e bem interessante da série, além aquele que eu tinha colocado no meu primeiro post.  Vamos lá: "Miss Austen começa em 1830, 13 anos após a morte de Jane em 1817 e antes de Cassandra (Hawes) queimar as cartas de sua irmã. A trama se passa em duas linhas do tempo: 1830 e flashbacks da juventude de Cassandra e Jane." O resumo integral é este aqui: "O drama começa em 1830, um pouco depois da morte de Jane [*pouco?  Ela morreu em 1817!*]. Cassandra (Keeley Hawes) corre para ver sua jovem amiga Isabella (Rose Leslie), que está prestes a perder sua casa após a morte de seu pai. Cassandra está supostamente lá para ajudar sua amiga, mas seu verdadeiro motivo é encontrar um estoque de cartas particulares que, nas mãos erradas, poderiam destruir a reputação de Jane. Ao descobri-los, Cassandra fica emocionada ao ser transportada de volta à sua juventude. Em flashback, conhecemos a jovem Cassy (Synnøve Karlsen) e Jane (Patsy Ferran) enquanto elas experimentam as paixões, brigas familiares e esperanças frustradas que moldaram suas vidas e lançaram as bases para as histórias inesquecíveis de Jane. A reavaliação de Cassandra sobre seu passado eventualmente a leva a perceber o quão cega ela tem sido para a verdadeira causa da dor e angústia de Isabella. Encontrando uma maneira de guiar Isabella em direção à verdadeira felicidade, Cassandra finalmente consegue compreender e celebrar os sacrifícios que escolheu fazer por sua brilhante irmã, Jane."

No post do ano passado, ainda não tínhamos o nome da jovem Cassandra (Synnøve Karlsen), que deve ter importância na história.  Além disso,  há outros nomes no elenco como Phyllis Logan como Mrs. Austen, mãe de Cassandra e Jane.  Já Alfred Enoch será Mr. Lidderdale.  É sempre curioso saber como uma personagem negra será inserida na narrativa.  E, não, havia negros na Inglaterra e a própria Jane Austen criou uma mocinha negra e RICA, ela está em Sanditon, uma de suas obras inacabadas.

A série terá 4 episódios.  Eu coloquei somente algumas fotos.  Há outras no TV Insider, são as mesmas que estão circulando em todos os sites.  Outra produção austeniana para o ano que vem, é uma série sobre Mary Bennet.  Ainda  teremos pelo menos uma nova adaptação de Orgulho & Preconceito, também. .