sábado, 22 de março de 2025

Comentando Branca de Neve (Disney/2025): Um filme desconjuntado que não faz justiça à primeira princesa da Disney

Assisti Branca de Neve (Snow White) na estreia, primeira sessão legendada da tarde.  Com tanta coisa sendo dita e escrita sobre o filme por gente cheia de ódio e depois de ter achado interessante o último trailer, queria conferir no cinema.  Tive que fazer um esforço, porque precisava ser legendado, afinal, não queria avaliar a dublagem nacional, mas o original mesmo.  Dito isso, a primeira coisa a esclarecer é que considero qualquer versão live action de uma animação da Disney absolutamente desnecessária.  É uma tentativa equivocada de revisitar um clássico e eu escrevi isso, acredito, em todas as resenhas desse tipo de filme que eu fiz.  Segunda coisa, Branca de Neve não é ruim, nem é excelente, é um filme irregular que tem alguns momentos interessantes.  De resto, os bichinhos ficaram fofos de verdade, os anões de CGI estavam bem feitos e simpáticos e  Rachel Zegler canta muito bem.  Começarei com um resumo do filme.

Estamos em um reino medieval-like governado por um rei e uma rainha que usam coroas o tempo inteiro (*sim, isso é estranho*).  Eles desejam ter uma criança e ela nasce no meio de uma nevasca em uma carruagem.  A menina recebe o nome de Branca de Neve.  Conforme vai crescendo, ela interage com o povo comum, que é feliz usufruindo dos frutos do seu trabalho.  Branca de Neve recebe do pai um colar com quatro princípios que devem nortear o seu caráter: destemida, justa, corajosa e verdadeira (*fearless, fair, brave, e true spirit*na legenda, verdadeira virou autêntica*).  Mas a mãe da menina morre e seu pai se casa com uma bela mulher (Gal Gadot) que é ABERTAMENTE uma feiticeira.  Sim, não é segredo, ela não finge ser outra coisa, ela faz magia às vistas de todos.

Pouco tempo depois do casamento, o rei parte para mediar um conflito e nunca mais volta.  Branca de Neve é, então, transformada em criada por sua madrasta, que lhe corta os cabelos e a impede de sair do castelo.  Ela sonha em reencontrar o pai e vive com medo de desagradar a madrasta.  Enquanto isso, o reino definha sob o governo cruel da rainha-bruxa.  Um dia, Branca de Neve surpreende um rapaz roubando batatas na cozinha do castelo.  Ele diz fazer parte de um bando que luta para encontrar  o verdadeiro rei.  Jonathan (Andrew Burnap), porque esse é o nome do sujeito, acaba capturado e, pela primeira vez, Branca de Neve ousa erguer a voz para pedir por alguém e criticar a forma como a madrasta trata seu povo.  Ela termina ajudando Jonathan a fugir, impedindo que ele morra de frio.

Mais tarde, a Rainha é surpreendida pelo seu espelho mágico, que lhe diz que Branca de Neve é a mais bela.  Ele sempre dizia que não havia mulher mais bela que a Rainha.  Transtornada, ela ordena que um caçador mate a menina e lhe traga seu coração.  O caçador, no entanto, é incapaz de cumprir a ordem e diz  que Branca de Neve fuja e se esconda na floresta.  Depois de algumas situações aterrorizantes, ela é ajudada pelos animaizinhos da floresta que a levam até a casa dos Sete Anões.  As criaturas mágicas terminam acolhendo a Princesa e, mais tarde, ela reencontra Jonathan e conhece seu bando. Só que a Rainha descobriu que foi enganada e ela planeja acabar com a vida da Princesa.  Já Branca de Neve, precisa de coragem para lutar para assumir o lugar que lhe foi roubado.

Branca de Neve foi o primeiro longa metragem animado produzido por Walt Disney, lançado em 1937, ele causou um grande impacto na época sendo um divisor de águas em termos de animação.  Tratava-se de uma adaptação de um conto escrito pelos Irmãos Grim em 1812 e que derivava de material que circulava naquilo que viria a ser mais tarde a Alemanha.  O desenho da Disney deu cor e personalidade aos anões, além de ter colocado o beijo de amor capaz de tirar a protagonista do seu sono de morte.  Na versão dos Grim, a princesa está engasgada, o príncipe aparece de reptente na floresta e pede seu corpo no caixão de presente aos anões, e o tropeção de um dos empregados do Príncipe ao carregar a pesada carga, vai fazer com que ela desengasgue e acorde.  Aliás, a maçã foi a terceira tentativa de Rainha-Bruxa de matar Princesa que, nas ocasiões anteriores, havia sido salva pelos anões.  

Introduzir o beijo, colocar Branca de Neve conhecendo o seu príncipe ainda no início do filme e os dois se apaixonando foi uma maneira de adequar a história aos gostos da época em que foi produzido.  Os casamentos por amor ou afinidade eram a regra nos Estados Unidos do início do século XX e ser beijada por um passante ou se casar com um desconhecido não seria algo visto como romântico.  Com as mudanças feitas no filme live action, afinal, não temos príncipe, duas canções importantes da película de 1937, I'm Wishing e One Song, foram eliminadas.  Elas serviam para estabelecer essa situação de "amor à primeira vista" que marca a relação do príncipe com Branca de Neve.  Elsa torceria o nariz, lembram da cena em Frozen na qual ela repreende Ana por querer se casar com um sujeito que mal conheceu?  Mas em 1937, se estava rompendo com o original e dando à jovem protagonista o direito de conhecer e escolher (*ou se deixar escolher*) pelo seu príncipe.

Resumindo, o filme de 1937 é  uma adaptação do conto e, como toda adaptação, não o coloca fielmente em tela. Não há  na animação nem a parte da Rainha desejando uma filha com cabelos como o ébano, pele branca  e lábios cor de sangue. Por isso mesmo, encrencar com a escalação de Rache Zegler era simplesmente uma exibição de racismo, como no caso da Pequena Sereia.  Branca/Blanche era nome comum na Idade Média. E existem várias adaptações da Branca de Neve para o cinema, ainda que, na cabeça de muita gente, quando se pensa em Branca de Neve o que vem na cabeça é  a imagem do desenho da Disney, inclusive com o cabelo curto.  O novo filme é, portanto, uma adaptação do filme de 1937 que dialoga com o conto original e com preocupações contemporâneas, assim como o primeiro longa da Disney buscou atualizar o trabalho dos irmãos Grim.

A Branca de Neve vivida por Rachel Zegler não poderia ser tão passiva como a original e precisava mostrar, afinal, essa parecia ser a proposta do filme, que poderia ser uma líder capaz.   Isso poderia passar batido, se Zegler não tivesse feito comentários infelizes quando o filme, que começou a ser planejado em 2016, estava em produção.  O fato de ter um elenco diverso e da atriz não ser o modelo de Branca de Neve que os malucos de internet gostariam, já era um problema, mas as críticas da atriz ao original e outras falas infelizes, como dizer que o príncipe original era um stalker, atraíram uma atenção negativa para a película.  Sim, eu considero que Zegler errou feio nas suas colocações a respeito do filme, não que os reacionários não fossem fazer escândalo de qualquer jeito, claro.

Outra fala problemática foi a do ator Peter Dinklage, que temia que o filme trouxesse representações ofensivas de pessoas com nanismo.  Os Anões passaram a ser de CGI e a produção atrasou por bem mais de um ano.  Fora isso, depois do ataque do Hamas à Israel e do genocídio palestino que está sendo perpetrado pelos israelenses, criou-se na cabeça dos que vivem de alimentar a tal guerra cultural uma rivalidade entre Gal Gadot, que é israelense, e Rachel Zegler, que tem forte discurso pró-Palestina.  Para jogar mais gasolina no incêndio, Zegler ofendeu Donald Trump e seus eleitores em suas redes sociais.  Se desculpou depois, mas todo o clima já estava envenenado. Mesmo a Disney parece certa de que o filme irá fracassar e, talvez, fracasse mesmo, mas isso tudo que escrevi nesses dois parágrafos nada tem a ver com a qualidade da película.  A revista Rolling Stone fez uma linha do tempo das polêmicas da produção.

Enfim, naquilo que se propôs a fazer, Branca de Neve se sai razoavelmente bem.  Não é  uma adaptação apegada ao original, caso de Cinderela, A Bela e a Fera e Aladim, nem tenta fazer uma releitura radical, como em Malévola.  Está mais próximo da Pequena Sereia, eu diria, mas é um filme mais irregular.  Eu não vou mentir que percebi problemas na montagem do filme, não tenho olho treinado para isso, mas o Dalenogare falou muito sobre o fato do filme deixar evidente as sequências que foram enxertadas na película para que ela tivesse a forma que teve.  Talvez a indecisão entre uma ruptura completa e o apego ao original sejam o grande problema do filme.

Em Branca de Neve, temos o contraste entre o reino alegre e colorido antes da Rainha e a realidade  cinzenta que sua presença criou.  Rachel Zegler consegue mostrar a evolução da sua personagem da timidez e medo iniciais até se tornar a líder que precisa ser, sempre ancorada nos quatro princípios presentes no seu colar.  Não sou boa em identificar a qualidade do CGI, mas eu achei os bichinhos e os Anões muito bem feitos.  Os bichos são fofos e expressivos.  Comparados com Cinderela, Rei Leão e A Pequena Sereia foi um avanço e tanto e eles se parecem com os do filme de 1937, interagem com Branca de Neve, têm expressões faciais, eles lembram muito os animais dos desenhos da Disney.

Falando dos Anões, o filme deixa bem claro que eles são criaturas mágicas, não pessoas de verdade.  Há toda uma discussão se eles seriam cortados, ou não, mas o fato é que estão lá.  No filme, há um ator com nanismo, George Appleby, que é quem tem mais destaque no bando de Jonathan.  Ainda assim, atores com nanismo e militantes ficaram ofendidos pelas escolhas da Disney, porque não precisavam ter se acovardado diante das críticas de Peter Dinklage.  No caso dos Sete Anões, Mestre, Zangado e Dunga são os que recebem maior  destaque, mas cada um dos Anões tem uma expressão facial bem marcada e uma personalidade simples, mas delineada.  E era assim na animação, basta ir lá e conferir.

Salvo pela longa sequência da mina, que poderia ter sido enxugada, as cenas com os Sete Anões foram todas boas.  E há a discussão sobre bullying utilizando o Dunga, que é o anão que não fala e parece ser muito mais jovem que os outros.  E as sequências musicais dos Anões com Branca de Neve estão entre as partes do filme que eu mais gostei.  Aliás, temos em vários momentos a reprodução exata de sequências da animação e é  muito bonito de se ver.   A sequência da limpeza da casa dos anões é diferente, porque todos se ajudam, Branca de Neve não limpa tudo sozinha.  E ficou melhor assim, eu diria.

Falando de Jonathan, ele me lembra muito o Flynn Rider de Enrolados e isso é um problema.  Não considerei uma boa ideia terem retirado o Príncipe e criado outra personagem, mais ainda, porque ela não parece ter sido construída do ZERO.  Vejam bem, o príncipe da Branca de Neve sequer tinha nome, ele era um lugar social, representava o acolhimento e a proteção que a princesa órfã precisava, o sonho de amor verdadeiro.  Seu nome, Florian, foi criado muito depois.  Se não queriam um príncipe, e não entendo o motivo salvo esse horror doentio que as produções recentes da Disney parecem ter por representar o romance em filmes de princesa, poderia ser até um que tivesse perdido seu reino por ação da Rainha-Bruxa e quisesse Justiça/Vingança.  Encontrar Branca de Neve poderia ajudá-lo a rever suas ideias. Não precisavam criar alguém que não se parecesse com o par romântico de outra princesa, porque, daqui a pouco, aparece um live action de Enrolados.  

Muito bem, Jonathan, assim como Flynn, é um bandido social, um sujeito que vive às margens da sociedade e, nesse caso, a floresta é o lugar ideal, porque é o lugar da liberdade e, em muitos contos de fada, da magia.  Usei o termo "bandido social" e preciso explicá-lo, aliás, no filme, Mestre faz isso muito bem, tanto que é um momento genuíno de humor dentro do filme.  Bandido social é um criminoso que também pode ser lido como uma manifestações de resistência social e política contra estruturas de poder opressoras, um Robin Hood, por exemplo.  No caso do filme, a Rainha-Bruxa representa a opressão.  

Todos os membros do bando de Jonathan parecem ter sido perseguidos de alguma forma, em dado momento, fala-se que eles eram artistas mambembe, mas nada é aprofundado, ou explicado.  Eles simplesmente são marginais que vivem na floresta.  No filme Branca de Neve na Floresta Negra, meu live action favorito baseado no conto original, os Sete Anões foram transformados em um grupo de marginalizados, inclusive, a princesa nessa versão não termina com o príncipe, mas com um dos proscritos.  Recomendo muito o filme para quem não assistiu.  Sigourney Weaver entrega uma rainha-bruxa espetacular.

Voltando para Jonathan, Andrew Burnap não me impressionou como ator, mas fez bem o que lhe pediram para fazer, imagino.  Ele é bonitinho, mas nada excepcional, e sabe cantar, mas não me impressionou muito.  E há muita cantoria no filme, mais do que na animação original, umas duas músicas poderiam ter sido descartadas e falo disso daqui a pouco.  Jonathan e Branca de Neve têm dois duetos.  O primeiro, Princess Problems, é bem fraco.  A letra é boba e o sujeito devia a vida à Princesa e debochar de suas preocupações não faz muito sentido. "Enemies to lovers" não tinha como colar aqui. Já A Hand Meets a Hand, que depende muito mais de Rachel Zegler do que dele, é muito  boa. É quando eles se admitem apaixonados um pelo outro.  

E eles têm dois beijos, o que acorda a Princesa e o que vem em seguida, mas, no final, não temos nem os dois se abraçando ou lançando um olhar significativo um para o outro que apontasse para o fato de estarem juntos.  Não sabemos se eles se casaram, porque o filme fecha com uma sequência em que todo mundo veste branco (*Blergh!*) e está dançando.  E  fechamos a película com o livro que foi aberto no início, Branca de Neve aparece sozinha como rainha em uma ilustração.  As produções mais recentes da Disney parecem ter vergonha de deixar explícito até o mais tênue romance.  É como se isso fosse retirar a força da princesa protagonista.  O pai de Branca de Neve sempre tinha a esposa ao seu lado, por qual motivo não colocar Jonathan junto com a protagonista, mesmo que ela estivesse em primeiro plano?

E precisamos falar da Rainha-Bruxa e sei que muita gente está disposta a odiar Gal Gadot por motivos políticos.  Eu não tenho nenhuma intenção de  entrar nesse barco, aviso logo.  O roteiro trabalhou contra a vilã.  Deixarem claro que ela era uma bruxa desde sua primeira cena foi muito estranho.  Qual rei em um mundo pseudo-medieval se casaria com uma feiticeira?  Ela deveria usar da feitiçaria para conquistá-lo, mas não se expor da forma como aconteceu. É como se ser bruxa não fosse um problema em uma história como essas, como dizem os jovens, é uma red flag e tanto. Além disso, as frases de vilã malvada que fala com espelho foram as mais clichê possível.  

Como construir uma boa vilã se o roteiro não oferece um material consistente?  E a Rainha-Bruxa é a vilã fundadora da Disney!  Ela merecia mais.  A vilã quer riquezas?  Ela quer conquistar outros reinos?  Como ela matou seu marido?  A sequência da maçã é boa, diferente do original, mas ficou bem feita, começando pela transformação da Rainha-Bruxa até a "morte" de Branca de Neve.  A morte da vilã, algo que envolve o espelho, não é violenta como na animação (*e nem acho que a Disney fosse manter mesmo, colocaram uma maçã no lugar do coração de ursinho*), mas foi bem executada.  Foi uma boa sequência.

Onde efetivamente Gal Gadot se mostra muito fraca é cantando.  As piores sequências musicais do filme são dela.  E se um ator ou atriz não canta, se auto-tune não resolve, o melhor seria optar ou pela dublagem, ou pela eliminação da música.  "All Is Fair", em especial, é uma tristeza.  A versão que linkei é a de estúdio, como a letra em si não é ruim, está versão está muito boa.  Na segunda música, as coisas funcionam melhor, mas isso não quer dizer que ela precisasse estar no filme.  O fato é que há músicas demais em Branca de Neve, o filme fluiria melhor se as canções fossem melhor selecionadas e ajudassem a contar a história, ou, de repente, talvez não mudasse o resultado, pois o roteiro não tinha lá grande coesão.

Branca de Neve no filme parece ser mais filha do pai do que da mãe, nada surpreendente, mas é o conselho materno, que não vemos ser dado em tela, que a ajuda a vencer no final.  A mãe lhe diz que ela deveria sempre se lembrar do nome das pessoas.  Trata-se de um bom conselho para um líder.  É assim que ela consegue chegar ao coração daqueles que tinham sido cooptados pela Rainha.  E eu fiquei feliz que não tenham posto uma espada na mão da Branca de Neve para mostrar que ela era uma mulher forte.  Há várias formas de mostrar força, é conversando que ela consegue prevalecer no final e com o apoio de seu povo.  

Preciso falar do figurino.  No geral, eu gostei bastante das roupas do povo e queria colocar imagens, mas não achei.  Há uma mistura de indumentária medieval (*de várias épocas diferentes*) e do período moderno (*até o século XVIII*).  As mulheres aparecem com o cabelo coberto por chapéus, capuzes e véus que ficaram bem feitos, bonitos.  No início, com a grande sequência da vila, que lembra muito A Bela e a Fera, tudo é colorido e feliz.  Quando a Rainha-Bruxa domina, teremos uma escala de cores neutras e tristes, mas as roupas continuam interessantes, eu diria.  Foi do final branco que eu não gostei mesmo, mas o figurino do povo foi melhor do que o das duas protagonistas.

Branca de Neve crescida usa duas roupas, três, se contar a branca do final.  A primeira, a de escrava doméstica, me pareceu a mais bonita. Gostei dela. A segunda, que ela usa boa parte do tempo, seu que se suje, ou rasgue, é inspirada na roupa clássica da princesa.  A saia do vestido, que parecia tentar usar a mesma sobreposição usada no filme Cinderela (*recomendo o vídeo da Modista do Desterro sobre o filme*), não ficou boa.  Seria melhor se usassem outro tipo de tecido, e a saia armada com o que parece ser tule, não era nem longa, nem curta.  Não me pareceu harmoniza com a parte de cima da roupa que estava bem feita.  A fita de cabelo vermelha foi perdida quando Branca de Neve cai no rio, então, não havia nada em seu cabelo durante boa parte do tempo.  As roupas da Rainha-Bruxa pareciam inspiradas nos anos 1940 e em filmes de ficção científica, talvez.  Mesmo Gal Gadot sendo tão bonita, o visual da rainha me pareceu monótono.  

Quanto à questão de ser "a mais bela" como o filme trabalha com isso?  Desde a escalação de Zegler e Gadot, uma das questões que mais mobilizou os desocupados da internet foi o fato da Rainha-Bruxa ser mais bonita que Branca de Neve.  Imagino que ninguém vá colocar isso em disputa, para os nossos padrões, Gal Gadot é mais bonita que Rachel Zegler, da mesma maneira que Charlize Theron era mais bonita  que Kristen Stewart em Branca de Neve e o Caçador.  De qual beleza estamos falando aqui?  Da beleza que perece com o tempo, da que é mantida por cuidados vaidosos, ou uma beleza que é interior?

Em ambos os filmes, trata-se da beleza que vem de dentro.  Em inglês, a palavra usada pela Rainha-Bruxa ao conversar com o Espelho Mágico é "fair" que pode significar uma série de coisas: mulher bonita, lourice ou alguém que é louro, a virtude de ser justo etc.  No filme, o "fair" é usado tanto para beleza, quanto para Justiça.  Banca de Neve se mostra justa e é bela por suas virtudes, mesmo que exteriormente a Rainha a supere na beleza que é fugaz, que perece.  A Rainha-Bruxa, se fosse mostrada por dentro, seria um monstro.  Então, não se trata de colocar em discussão o óbvio, Gal Gadot é mais bonita que Zegler, mas essa questão absurda  para muitos é fundamental ao filme.

Não consegui achar o artigo, mas parece que se espantaram com a música "Good Things Grow" e a celebração do direito dos camponeses e trabalhadores em geral terem o direito de acesso aos frutos do seu trabalho.  Nesse artigo, que eu perdi um tempão procurando, parecia que o autor dizia que o filme trouxe ideias revolucionárias marxistas para a tela.  Só para não perder a viagem, a Bíblia diz que o trabalhador é digno do seu salário (Lucas 10:7 e 1 Timóteo 5:18) e Locke ao dizer que a propriedade privada é um direito natural, fazia questão de afirmar que desde que fosse fruto do trabalho.  Já  Adam Smith afirmava que o trabalho é o que era a riqueza da nação.  Então, amiguinhos, antes de Marx falar qualquer coisa, temos texto sagrado do Cristianismo e os pais do Liberalismo, o político e o econômico, dizendo que trabalho move o mundo e os trabalhadores são merecedores dos frutos que produzem.  Agora, para quem venera bilionário ou coach picareta deve ser muito ofensivo mesmo louvar os trabalhadores e logo na abertura do filme.

Caminhando para o final, eu sei que as pessoas em sua maioria estavam pré-dispostas a não gostar do filme.  Havia os que odiaram a seleção de Rachel Zegler, o que foi agravado por suas falas equivocadas; há os que detestam Gal Gadot por motivos políticos e/ou a consideram má atriz; e há os que consideraram muito do que foi feito e dito como um desrespeito à animação original.  Eu fui disposta a observar e analisar.  Não vou dizer que é um ótimo filme, porque ele não é, mas não me lembro de nenhum dos live actions da Disney ser memorável.  Todos os que assisti têm problemas, fizeram escolhas equivocadas, mudaram coisas que, na minha opinião, não deveriam ser mudadas.  

Eu tenho muito mais aversão por Malévola, que eu sei que foi bom como filme, do que pelas outras adaptações live actions, porque AMO A Bela Adormecida.  Minha resenha está linkada para quem quiser saber os meus motivos.  Detestei quando em A Bela e a Fera colocaram o príncipe a e mocinha disputando para ver quem era mais culto, quando, na animação, um dos momentos mais tocantes (*que ficou ainda mais no musical*) era quando a Fera começa a se humanizar e lembrar do passado por Bela ler para ele.  Ele havia perdido a capacidade da leitura.  Em Aladim, que eu acho um dos mais divertidos desses live actions todos, retiraram todo e qualquer apelo sexual do vilão.  Em O Rei Leão, a sugestão de que Scar seria homossexual, algo canônico, foi retirada para colocá-lo como alguém que disputou Sarabi com Mufasa.  

Eu posso reclamar e reclamar de todos os live actions, mas não vou massacrar Branca de Neve, não.  Teve pandemia, teve gente falando bobagem, houve mudanças no roteiro, tentaram virar as costas para o original e deu no que deu.  Mais um filme que será esquecido, quando deveria ser uma celebração da primeira princesa da Disney e estar ainda dentro das festas dos 100 anos do Estúdio.  Agora, não serei eu a pear uma das duas protagonistas para culpar, não.  Aliás, culpar mulheres é sempre fácil, deixo isso para os misóginos de sempre e quem quiser entrar nesse jogo com eles. Fica parecendo que elas têm força para definir os rumos da produção, só se fossem estrelas de primeira grandeza, coisa que nenhuma das duas é.  De resto, espero que pelo menos "Waiting on a Wish", que é uma música simpática consiga indicação para o Oscar.

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