Olha, esse artigo do Yahoo Japão é espetacular. O autor faz uma comparação entre mangá original, anime de 1979 e o filme para o cinema com muita propriedade. E eu acho que é autor mesmo, porque em nenhum momento ele se coloca como uma mulher que admira Oscar.. Depois de ler tantos artigos sobre o filme, minha má vontade diminuiu bastante e minha curiosidade está explodindo. Muito bem, só para lembrar, não sei japonês e uso ferramentas de tradução e meus conhecimentos sobre a obra para ajustar o texto final. Só fiquei realmente na dúvida em um ponto, porque em português, ou em inglês, não faz sentido. E o artigo só tem a imagem de abertura. Eu mantive a estrutura original do texto em japonês.
Por que o personagem de Oscar foi mudada no filme "A Rosa de Versalhes"? As diferenças em relação ao trabalho anterior mostram sua modernidade
A obra-prima do mangá "A Rosa de Versalhes", que foi um grande sucesso na década de 1970, voltou às telonas depois de cerca de 50 anos. Esta não é a primeira vez que A Rosa de Versalhes é adaptada para anime. Uma série de anime de 40 episódios foi produzida em 1979 pela Tokyo Movie Shinsha (agora TMS Entertainment). Dirigida por dois dos maiores nomes da história do anime no Japão, Tadao Nagahama e Osamu Dezaki, ela pode ser considerado uma obra importante quando se fala em anime para a televisão japonesa.
Recentemente, houve um aumento no número de projetos de remake na indústria de anime, e eu escrevi uma coluna anteriormente sobre a criatividade dos remakes de anime, perguntando o que é um remake e como devemos abordá-lo. Vale a pena comparar as versões antiga e nova da "A Rosa de Versalhes". A questão não é dizer qual é melhor, mas sim que as diferenças de abordagem e direção são claras e, ao compará-las, é possível perceber o apelo multifacetado da obra original e entender que "não existe uma única resposta certa quando se trata de obras cinematográficas".
Em particular, A Rosa de Versalhes foi elogiada como um trabalho avançado para a sua época, pois lidou de frente com a representação de gênero e a Revolução Francesa. Levando isso em consideração, gostaria de analisar como a nova versão em formato filme difere da antiga versão de anime para TV.
Diferenças entre a versão antiga para a TV e a nova versão para o cinema
O mangá "A Rosa de Versalhes" de Ikeda Riyoko tem 10 volumes. O décimo volume final é um spin-off, então a história principal é contada em 9 volumes. A versão anime para TV consiste em 40 episódios, incluindo muitos episódios que não estavam na obra original. O novo filme tem duração de 113 minutos, e muitos episódios da obra original foram selecionados e reconstruídos.
A primeira metade da série de anime foi dirigida por Tadao Nagahama, mas ele desistiu devido a várias circunstâncias e, depois de alguns episódios, Osamu Dezaki assumiu, resultando em um estilo diferente entre a primeira e a segunda metade da série. Presume-se que a versão anime para TV passou por muitas reviravoltas durante a produção.
Desde que o diretor mudou, é difícil resumir a direção geral da série em uma palavra, mas pode-se dizer que o foco está em retratar a agitação da época às vésperas da Revolução Francesa. Essa tendência é especialmente forte na segunda metade, dirigida por Dezaki. Na segunda metade da série, há uma representação maior das massas empobrecidas, e o número de episódios com personagens que se aliam aos cidadãos que buscam a revolução desempenha um papel importante. Os episódios com Robespierre, Bernard Châtelet e Saint-Just, que não aparece muito na obra original, também foram significativamente expandidos, e o processo pelo qual a pressão do povo contra a monarquia se tornou mais forte é cuidadosamente retratado. Em particular, o comportamento insano de Saint-Just é um elemento não presente na obra original, e pode-se dizer que o lado sombrio da revolução é enfatizado ainda mais do que no original. A história é contada como um drama coletivo, retratando como os personagens, incluindo Oscar, são jogados de um lado para o outro durante esse período turbulento.
Por outro lado, talvez porque a versão cinematográfica teve que ser limitada a uma duração de cerca de duas horas, a representação da revolução foi amplamente cortada e o filme é estruturado como uma crônica do personagem Oscar. Embora haja representações de cidadãos sofrendo com a revolução e a pobreza, elas são usadas apenas como uma ferramenta para retratar a mudança no modo de pensar do personagem Oscar, e não são o foco principal do filme. O Cavaleiro Negro não aparece, e Rosalie, que representa os pobres, também aparece com muito menos frequência. A história se concentra na maneira como a personagem Oscar vive sua vida, nos casos amorosos interligados que a cercam e como ela é inspirada pelo desejo de liberdade do povo.
Como a representação de Oscar é diferente?
O apelo da obra "A Rosa de Versalhes" é múltiplo, mas a maior razão pela qual ela é considerada uma obra-prima hoje e tem sido apoiada por tantas pessoas é a criação do personagem extraordinário de Oscar.
Essa personagem ficou conhecida por ser uma bela mulher vestida de homem, mas a maneira como ela é retratada difere entre o anime de TV e o novo filme.
Seja a obra original, o anime de TV ou o novo filme, Oscar continua sendo a força motriz por trás da história. O que define a imagem de Oscar na série de TV é provavelmente a sequência de abertura, que permanece inalterada em todos os 40 episódios. A cena de abertura mostra Oscar enredado em roseiras contra uma tela pintada em vermelho vivo. Oscar parece bonita, mas sua existência é cruel, efêmera e privada de sua liberdade.
De fato, a versão do anime para TV parece retratar Oscar como "uma pessoa à mercê do destino em tempos turbulentos". No primeiro episódio do anime, que é cheio de cenas não encontradas na obra original, o pai, que esperava um menino para ser o herdeiro da família Jarjayes, fica chocado ao descobrir que o bebê é uma menina e decide criá-la como um menino. Neste momento, o pai sorri desconfiado, e lá fora há chuva e trovões criando uma atmosfera sinistra. Por outro lado, o mangá original apenas descreve as coisas de forma mais simples.
Quando Oscar recebeu a ordem de proteger Maria Antonieta, ela se rebelou contra o pai, dizendo: "Não quero ser protetora de uma mulher". Por outro lado, há uma cena em que ela está olhando sozinha para uma pintura de uma mulher com um vestido lindo, e quando André vê isso, ele diz: "Oscar, quais são seus verdadeiros sentimentos..." No primeiro episódio, é enfatizado que Oscar está hesitante e em conflito sobre se travestir e viver como um soldado, e se pergunta por que ele tem que viver como um homem.
Na história original, Oscar, quando criança, não tem escrúpulos em viver como homem. É verdade que ela de fato queria viver como mulher, mas isso só aparece em um episódio posterior, quando ela percebe seu amor por Fersen.
Além disso, no anime de TV, a importante traição de Oscar — sua motivação para deixar a Guarda Real e se transferir para o exército francês — é retratada de forma um pouco diferente do que na obra original.
Na história original, Oscar pede para ser transferida para o exército francês após capturar o Cavaleiro Negro e ouvir dele sobre a situação do povo e ser chamada de "uma boneca do palácio real!" Entre os episódios com o Cavaleiro Negro, há também cenas em que ela decide esquecer seus sentimentos por Fersen e a infidelidade de André [1]. Depois de ver o Cavaleiro Negro e Rosalie, que cresceu em uma família pobre, apaixonados, ela pede autorização de Antonieta para deixar a Guarda Real. Na obra original, as ações de Oscar são retratadas como uma mistura de seu orgulho por não ser uma boneca, seu desejo de saber mais sobre as pessoas e seu desejo de ser um soldado em vez de uma mulher.
Em contraste, na versão de anime para TV, sua determinação de "viver como um homem" é trazida à tona. As falas deixam claro que "Não me importo de ser um soldado raso, não tenho amor ou romance, quero lutar contra o inimigo e arriscar minha vida até o fim. Quero viver como um homem." O episódio imediatamente anterior a esta proposta é aquele em que ela desiste de seus sentimentos por Fersen, o que difere da história original.
No novo filme, o motivo de sua transferência para o exército muda para o desejo de conhecer melhor os cidadãos. Tendo vivido como aristocrata, Oscar não tinha ideia de quanta pobreza os cidadãos franceses sofriam. Após testemunhar a raiva dos cidadãos, Oscar pede para se juntar aos soldados, acreditando que conhecer os cidadãos o ajudará a proteger seu país. No novo filme, ela é retratada como um homem que assume uma responsabilidade maior na proteção de seu país por vontade própria.
Mais tarde na história, Oscar decide se tornar a "esposa" de André. A representação de Oscar depois desse ponto difere significativamente entre o trabalho original e a versão de anime para TV.
Na versão do anime para TV, depois que Oscar percebe seu amor por André e eles se tornam marido e mulher, ela se torna como uma esposa que anda meio passo atrás dele. Enquanto armas militares são apontadas para os cidadãos e os guardas recebem ordens para entrar em ação, Oscar anuncia que deixará sua posição como comandante da guarda e declara que caminhará ao lado de seu marido, André. Ela também diz: "André, dá-me as tuas ordens: aquilo em que acreditas é o meu caminho."
Por outro lado, na história original, é a própria Oscar quem decide se juntar à revolução e ficar do lado dos cidadãos. "Não é apenas a mente que deve ser livre. Todo ser humano, da ponta do dedo ao cabelo da cabeça, deve ser igual perante Deus", diz ela, renunciando a sua condição de nobre e assumindo o comando de suas tropas. Além disso, após a morte de André, a versão do anime para TV mostra Oscar ficando deprimida e tentando entregar o comando para Alan, mas na obra original e no novo filme, ela suporta a dor de perder André e continua a comandar as tropas.
As diferenças entre o trabalho original e a versão de anime para TV podem ser resumidas da seguinte forma. Na versão do anime para TV, Oscar percebe seu amor por André e se torna submissa, mas na versão original, ela se torna ainda mais forte e determinada.
A nova versão cinematográfica é fiel ao original e, graças à atuação poderosa de Sawashiro Miyuki, as cenas destacam a dignidade e a força de Oscar ainda mais do que no original.
Outra grande diferença são as palavras que Oscar deixa quando morre. No mangá original e na nova versão cinematográfica, suas últimas palavras são "Viva a França", e ela morre após ver a bandeira branca hasteada sobre a Bastilha, mas na versão de anime para TV suas últimas falas são "Adieu (Adeus)", e ela morre em um beco mal iluminado sem nunca ver a bandeira branca da Bastilha.
Aliás, na nova versão do filme, "Adieu" é usado na cena em que Oscar se despede de Maria Antonieta. Fica mais claro que a personagem rompeu com a "velha França" por vontade própria e acrescentou alguns arranjos que não estavam na obra original.
Na obra original e no novo filme, Oscar é retratada como uma pessoa que, por vontade própria, "viveu a vida que lhe foi dada sem arrependimentos". Por outro lado, a Oscar no anime de TV, somado à solidão da representação de seus momentos finais, dá a impressão de ser uma heroína trágica à mercê do destino.
O significado do renascimento moderno de Oscar
A Revolução Francesa, que aparece neste filme, é um evento histórico importante na história da humanidade, pois marcou o nascimento da democracia. Essa revolução foi cheia de contradições e turbulências, com expurgos abundantes, e sua principal força motriz foi a insatisfação dos cidadãos com a aristocracia devoradora de riquezas. A versão em anime para TV aborda esse ponto com mais detalhes do que a original e até inclui um episódio sobre a vida do personagem principal André como um plebeu.
A autora original, Ikeda, era uma estudante universitária profundamente envolvida no ativismo estudantil, mas a versão em anime para TV que começou a ser exibida em 1979 também enfatizou os aspectos negativos da revolução, talvez refletindo a atmosfera da época após a derrota do movimento. Também pode ser interpretada como uma obra que reflete os tempos, questionando o que é democracia e o que é revolução violenta. Há uma sensação real de que as mudanças nos tempos são enormes, então acho que a versão do anime para TV também retrata Oscar como alguém que está à mercê deles.
Nesse sentido, alguns podem dizer que o novo filme, que foca no Oscar indivíduo, dá um passo atrás da perspectiva social vista na versão anime para TV.
Então, isso significa que a nova versão do filme não é uma obra socialmente significativa? O autor acredita que não é o caso.
Trazer um personagem tão extraordinária de volta à vida na era moderna tem grande significado para a sociedade atual. Precisamos considerar o que Oscar incorporou no mangá original. Ela enfrenta um destino que o restringe, mas acredita na liberdade até a ponta de cada dedo e cada fio de cabelo de sua cabeça, e escolhe o caminho que deve seguir por sua própria vontade. Como deve ter sido deslumbrante para as mulheres que foram forçadas a suportar restrições na sociedade quando a história foi publicada. E isso não é necessário ainda hoje?
Oscar se sacrifica na crença de que as pessoas devem ser livres, transcendendo o destino de seu nascimento e seu gênero [2]. Ao focar nesse ponto, o novo filme envia uma mensagem poderosa de que as pessoas não são subordinadas umas às outras.
O novo filme prova que, embora tenham se passado mais de 50 anos desde que Riyoko Ikeda criou Oscar, a personagem não perdeu nada de seu brilhantismo. Com diversas desigualdades, incluindo a de gênero, permanecendo ao redor do mundo, a luta de Oscar para superar todos os tipos de injustiça é uma presença marcante para as pessoas modernas. O surgimento de Oscar não como uma figura trágica que estava à mercê dos outros, mas como alguém que viveu a vida sem arrependimentos, pode servir como um modelo muito necessário em 2025.
Hotaka Sugimoto
Notas:
[1] Que traição/infidelidade o André cometeu? Devo ter perdido o sentido aqui.
[2] Aqui, não é problema de tradução. O correto seria sexo biológico e, não, gênero, que são os papéis aceitáveis para homens e mulheres em uma dada sociedade em uma determinada época.
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