Ontem, assisti ao primeiro episódio de um dos animes da temporada, Akuyaku Reijou Tensei Oji-san (悪役令嬢転生おじさん), em inglês, From Bureaucrat to Villainess: Dad's Been Reincarnated! (De Burocrata à Vilã: Papai Reencarnou!), baseado no mangá seinen de mesmo nome de Ueyama Michiro. Vou deixar o resumo e sigo comentando:
O funcionário público de 52 anos Kenzaburo Tondenbayashi é um pai amoroso de duas adolescentes, uma delas, uma otaku que joga o otome game Magical Academy: Love & Beast. O pai volta e meia pergunta para a garota coisas sobre o jogo, ele e a esposa também são otaku e não veem problema no hobby da filha. Kenzaburo observa que a estética da vilão do jogo, Grace Auvergne, é inspirada nas antagonistas dos shoujo mangá dos anos 1970 (Glass Mask, Ace Wo Nerae e Candy Candy). A menina diz não entender do que ele está falando. Aliás, fiquei surpresa em citarem Candy♥Candy (キャンディ♥キャンディ) por conta da disputa judicial entre as autoras, o anime não pode ser reexibido, que eu saiba.
Naquele mesmo dia, voltando do trabalho, Kenzaburo salva um menininho (*não acho que seja filho dele*) que iria ser atropelado por um caminhão. Ele acorda e descobre que reencarnou como Grace Auvergne, a vilão do jogo favorito da filha. Grace tinha sofrido uma queda de cavalo e é Kenzaburo que assume o seu corpo. Ele sabe algumas poucas coisas do mundo do jogo. Grace é a vilã, é filha de um duque, é noiva do príncipe herdeiro (*Mas qual é o nome dele mesmo?*). O importante é que Kenzaburo guarda suas memórias da outra vida e isso o ajudará a sobreviver na academia mágica sem despertar suspeitas. Será mesmo?
Se você me conhece, sabe que eu tenho uma aversão a isekai reencarnacionista de vilã. Eu fujo desse gênero que se tornou muito popular dentro do shoujo e do josei. Às vezes, o anime vem de mangá, em alguns casos de livro e até de game. Não raro, e eu falei disso em um Shoujocast, há algo de sinistro nessas séries. Alguém profundamente infeliz em sua vida real termina morrendo e indo parar em um mundo de fantasia. Não há retorno, como nos isekai dos anos 1990 e o protagonista não é um adolescente, mas um adulto super explorado dentro do sistema capitalista. Mas como resistir às referências aos shoujo dos anos 1970, inclusive com a Rosa de Versalhes sendo homenageada na abertura? Como?
O primeiro episódio de Akuyaku Reijou Tensei Oji-san foi muito engraçado e eu preciso de uma série assim para contrabalançar com o drama de Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚) e outras que eu possa vir a assistir. Achei que a série engraçada seria Baban Baban Ban Vampire ( ババンババンバンバンパイア), que estreou hoje, mas acho que será esse aqui o que vai preencher essa lacuna.
Além das referências aos shoujo dos anos 1970, que só poderiam vir de um otaku, ainda mais nascido nesta década, ou na anterior, já que o mangá começou em 2020, para saber tanto, temos um protagonista que não era infeliz e que, ainda assim, parece estar se divertindo. Kenzaburo era bom no que fazia, tem uma cultura geral ampla e, mesmo tentando se comportar como uma vilã, acaba agindo como o pai amoroso e atento que poderia ser.
Sua primeira interação com a protagonista do jogo, Anna Doll, é uma graça. A vilã deveria humilhá-la, afinal, Doll é uma plebeia, filha de camponeses, cujos pais deram o seu sangue para que ela pudesse estudar e passar com a maior nota para a tal academia mágica. Ana Doll é a primeira pessoa que não é da nobreza a conseguir. Mas o que Grace/Kenzaburo faz? Ele fala do orgulho que os pais dela deveriam estar sentindo e que ela deveria honrá-los. A menina se debulha em lágrimas e quem está ao redor acredita que Grace e destruiu.
Como sou mãe de uma menina no limiar da adolescência, consigo me identificar com a personagem. Ele é um pai presente, ele valoriza as filhas, tenta compreender os hobbies dela e, acredito, se orgulha dos sucessos das filhas. Ele olha para Ana Doll com os olhos de pai, mas acho que a garota vai acabar desenvolvendo outros sentimentos por Grace. Kenzaburo está no corpo de uma ojousama orgulhosa e linda, com cachos louros que balançam de uma forma ridiculamente artificial. É de propósito, que fique claro.
Se eu tivesse que apostar, e eu não li o mangá, nem fui atrás de spoilers. O akogare, que já está evidente no comportamento de Ana Doll, pode se transformar em amor. Não sei como Grace/Kenzaburo vai lidar com isso. O primeiro príncipe, Virgile Vierge (*sério que colocaram o sobrenome do sujeito de "virgem" em francês?*), é noivo de Grace, ele deveria ficar fascinado por Ana Doll, mas ele se surpreendendo, também, com o comportamento da noiva.
Na primeira interação entre eles é divertido ver como Kenzaburo usa de um estratagema para conseguir que a própria Ana Doll fale o nome do rapaz, usando de seus conhecimentos de etiqueta (*aprendidos com a Rosa de Versalhes, talvez*), porque não se lembra. No primeiro episódio, foi neste único momento que Grace/Kenzaburo teve dificuldades, mas imagino que outros constrangimentos virão. De qualquer forma, com a experiência e a sensibilidade de Kenzaburo, talvez, nenhum dos príncipes tenha chance com as moças da série.
Houve vários momentos muito divertidos no episódio. Kenzaburo descobrindo que Grace, que tem 15 anos no jogo, tem uma visão perfeita. A exibição de boas maneiras e respeito pelos trabalhadores no refeitório. O uso da cortesia como se fosse um golpe de mangá shounen ou de jogo de luta. Mantendo o espírito do primeiro episódio, esse anime promete e qualquer drama que acontecer deve vir recheado com muitas risadas.
Concluindo, algo que me surpreendeu e me deliciou, também, foi o encerramento que é (*supostamente*) um samba. Kenzaburo e Grace dançando e em um desfile de escola de samba. Tem carro alegórico e tudo mais. O vídeo está abaixo. A abertura também é muito boa, mas o encerramento é espetacular. Vou tentar assistir outros primeiros episódios, inclusive de séries que não são shoujo e josei, caso de Medalist (*anime de patinação*) e o Baban Baban Ban Vampire.
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