segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Comentando o mangá Toki wo Kakeru Sexless: Difícil saber se eu somente não gostei, ou se o odiei mesmo

Entrei no Bato.to e o mangá Toki wo Kakeru Sexless (時をかけるセックスレス) ou Leaping Through Time to Save a Sexless Marriage de Tetsuko Umiyama, estava na página principal.  Não sei se foi carregado de uma vez só, são 36 capítulos curtos, ou 12, segundo o Bakaupdates, o compilado deve ter um volume só, eu acredito.  O mangá é josei, não é TL, pode ser lido em qualquer lugar e não há nada de explícito nele.  Vou deixar o resumo e sigo comentando:

Em seu terceiro ano de casamento, Asuka Kohinata (32) está lutando com um casamento sem sexo. O casal estava perdidamente apaixonado um pelo outro quando se casaram, mas agora seu marido a rejeita, não importa quantas vezes ela tente iniciar. "Estou cansada de ser rejeitada..." "Como podemos voltar a ser um casal feliz...?" Lutando para fazer as coisas funcionarem com seu marido, Asuka um dia obtém o poder de viajar de volta no tempo. Asuka pode saltar no tempo para salvar seu casamento sem sexo?

Asuka é bonita, tem um bom emprego, faz parte de uma equipe de marketing em uma boa empresa.  Tem amigas, um chefe maravilhoso (*guardem essa informação*) e uma irmã que sempre a apoia.  O marido, Yuta, também tem um bom emprego, mas, desde que foi promovido, ele arruma várias desculpas para não ter qualquer intimidade com a esposa.  Ele a chama de relaxada e diz que ela não cuida bem da casa, ele simplesmente se nega a fazer sexo, diz que não sente vontade. No fim das contas, ele acaba com  a autoestima da protagonista. 

De fato, a casa é bagunçada, mas ambos trabalham fora e as coisas largadas pela sala são DELE, não, dela.  Asuka está deprimida, ela não tem amor, ela não tem sexo, e os pais do marido ainda pressionam para que eles tenham filhos.  O marido, que acredito ser filho único, parece não ter um bom relacionamento com os pais, ainda que a mãe pareça amá-lo muito.

Asuka vê uma propaganda de afrodisíaco e compra o tal produto.  Trata-se de uma bebida que a faz voltar no tempo.  Seria isso mesmo?  Não seria um sonho ou alucinação?  Asuka começa a viajar para o passado tentando corrigir problemas.  Ela consegue mais tempo para arrumar SOZINHA a casa.  Ela tenta mimar o marido.  Só que ela começa a desconfiar que é traída e a cada garrafinha, ela vai voltando e mexendo nos acontecimentos.  

O problema é que essas idas e vindas parecem cobrar um preço da saúde da protagonista e ela começa a se desesperar, afinal, ela ama o (*TRASTE do*) marido e quer salvar o seu casamento.  No fim das contas, ela acaba descobrindo o "segredo" de Yuta, o perdoa, se sente corresponsável pelo drama dele, e, a julgar pelo final, os dois conseguem retomar o seu casamento feliz, ou seja lá o que é aquilo.

Eu li o primeiro  o segundo capítulo, fiquei com uma raiva atroz do marido, e pulei para o último.  Não resisti.  A série é curta, na verdade, parece corrida, como se a autora tivesse recebido um prazo para encerrar a história.  Ela renderia mais, talvez, pudesse ser melhor.  O traço é bom e funciona muito bem em uma dramédia.  Fiquei com pena de Asuka, porque, efetivamente, a autora parece conduzir a trama para responsabilizá-la pelo fracasso do seu casamento.

O marido tem muitos problemas, ele trouxe esse passado nebuloso para o casamento.  A forma como ele se comporta com ela nada tem a ver com qualquer coisa que ela tenha feito, ou deixado de fazer.  O problema, o grande problema, é que a autora não problematiza nada disso.  E eu fico com um gosto amargo na boca.

Há uma discussão sobre o excesso de trabalho e como alguns homens acabam deixando suas esposas em segundo plano.  Esse ponto de vista, que é uma crítica social, vem com o chefe.  Em um dado momento da história, ele diz para Asuka, que acaba deixando seus problemas escaparem, que ele um dia já foi como o marido dela.  Ele foi promovido, ele vivia para o trabalho, a esposa queria ter filhos e ele disse que ela deveria esperar.  Ela cansou, pediu o divórcio e se casou de novo.

Ele é divorciado, ele é super gentil com Asuka, as colegas de trabalho, sabendo do drama que ela vive, tentam empurrar um romance entre eles.  A própria irmã da protagonista chega a dizer que ela deveria largar o marido e encarar o chefe como uma possibilidade.  Ele chega a dizer para ela, de forma corrida, porque tudo é corrido nesse mangá, que ele não cometeria de novo o mesmo erro da sua juventude.  A graça é que o chefe não parece mais velho que Asuka ou seu marido.

Enfim, o mangá me prendeu, em alguns momentos não sabemos se a protagonista está sonhando ou realmente viajando no tempo, há, também, o mistério sobre o segredo do marido, mas eu me irritei muito, porque, no fim das contas, foi a reafirmação do dispositivo amoroso, com Asuka se ajustando, aceitando tudo, compreendendo tudo, para que Yuta fosse feliz e, claro, pudesse voltar a amá-la.  Não sei se recomendo, mas a leitura não foi ruim.  Não foi mesmo.  Se você quiser saber o segredo de Yuta, siga lendo a partir daqui por sua conta e risco. (SPOILERS a seguir)

Está claro para mim que esse mangá deveria ser mais longo, foi encurtado por algum motivo e isso roubou dele algum sentido, o resultado final foi  apressado. O segredo de Yuta é que ele era cross-dresser. Há uma cena na qual Asuka dá por falta de um batom e não entende onde o deixou, em outra, ela encontra um brinco de pressão no bolso do marido. Realmente havia uma colega de trabalho mais jovem o assediando, mas ele não traiu Asuka com ela.  A moça sabia o segredo dele e usava esse conhecimento para criar uma certa intimidade com ele. 

Já para o final, em uma das digressões de Yuta, ele sente recrimina por não dar atenção para Asuka e que não faz sexo com ela por se sentir culpado.  Seu hobby durava seis meses, exatamente o tempo que em que ele negava atenção para a esposa.  Mas ele só começa a se culpar, porque Asuka, depois de se desdobrar para ser a dona de casa e esposa ideal, decide sair de casa e ir pedir abrigo para a irmã, isso depois de ser fria com ele por vários dias.

Eu gostaria de entender mais o marido, está claro que ele foi reprimido quando criança.  Em um dos saltos temporais, Asuka vê Yuta quando criança, ele estava brincando com a maquiagem da mãe, o pai o surpreende e o espanca. É uma cena muito violenta, mas não há desenvolvimento, não sabemos o que Yuta passou para se ajustar às expectativas do pai e da sociedade. 


E eu não consigo ver Yuta como um homem heterossexual, no máximo, ele é bissexual, mas, é possível, que ele seja um homem gay incapaz de assumir sua orientação sexual abertamente, especialmente para seus pais. E outra coisa, ele deixa seus clientes tocá-lo e até mesmo os beija. Há algo mais em seu comportamento, não era apenas um hobby, quero dizer, e ele traiu Asuka, mesmo que não da forma como ela imaginava.

Dito isso, a mocinha deveria ter seguido em frente. Ele tinha tantos problemas que não conseguia amá-la. O marido foi injusto com ela em vários momentos, mentiu, o chefe dela foi todo legal e solidário, a irmã foi maravilhosa, mas no final, a protagonista feminina menosprezou a si mesma e seus sentimentos para ficar com ele. Ela merecia algo melhor.

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