quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Ainda Estou Aqui: O Dia em que o Brasil fez História no Oscar

Passei o dia fora de casa, na verdade, assisti ao anúncio dos indicados ao Oscar, que, para mim, sempre foi uma premiação interessante, ainda que seja a festa do cinema norte-americano.   Estava subindo o Shoujocast, a internet estava ruim (*estou de férias na casa dos meus pais*), tinha horário para almoçar com um amigo e o caminho de São João até o Shopping Nova América era longo.  Enfim, fiz postagens no Instagram e outras redes sociais e saí.

Se estivesse na minha casa, acho que teria gritado um tanto, mas nunca na minha vida imaginaria ver um filme brasileiro indicado a melhor filme.   Sim, eu sei que revistas como a Variety estavam dando quatro indicações como possíveis, mas eu sou velha e tendo a abraçar a opção conservadora que seria melhor filme em língua estrangeira e, talvez, melhor atriz.  Eu já tinha comentado que queria muito roteiro adaptado, mas veio MELHOR FILME.  Emocionante mesmo.  E a indicação já é prêmio.

Não estou fazendo bairrismo, não estou mesmo, mas o excelente cinema argentino que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro oito vezes e levou em duas ocasiões, como História Oficial (1985) e O Segredo dos Seus Olhos (2009), nunca conseguiu uma indicação a melhor filme.  Algo a se levar em conta é a mudança no perfil dos votantes e uma maior abertura para produções internacionais e, também, filmes que normalmente ficariam de fora, como os de terror, vide as indicações para A Substância, em especial.  E já deixo registrado aqui o que disse para umas amigas no ano passado, antes do Globo de Ouro, acredito que Demi Moore levará o prêmio.

Mas quais foram as indicações do Brasil a Melhor Filme Estrangeiro?  O Pagador de Promessas (1962), O Quatrilho (1995), O que É Isso, Companheiro? (1997), Central do Brasil (1998) e, agora, Ainda Estou Aqui (2025).  Walter Salles dirigiu dois desses filmes.  O filme brasileiro mais indicado, no entanto, ainda é Cidade de Deus: direção (Fernando Meirelles); roteiro adaptado (Bráulio Mantovani); montagem (Daniel Rezende); e fotografia (César Charlone).  Dois prêmios dos mais importantes (diretor e roteiro adaptado) e antes desse arejamento dos votantes. Isso facilitou a vida de Ainda Estou Aqui?  Não necessariamente.  Se o filme não fosse tão bom, se o investimento em propaganda não fosse tão grande, se Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello não fossem fluentes em inglês (*e outras línguas até*) e interagissem tanto, não teríamos chance, mas a História foi feita hoje.

Falando mais diretamente das indicações, a entrada de Fernanda Torres como melhor atriz foi ajudada pelo enfraquecimento da candidatura de Angelina Jolie e Nicole Kidman.  Até algum tempo atrás, ambas eram dadas como certas, mas foram sendo esnobadas por outras premiações, como Globo de Ouro, Bafta e SAG (*no qual Fernanda Torres não era esperada como indicada*). Fernanda Torres tem chances, mas não é favorita.

Em filme em língua estrangeira, há chances maiores.  Torço que o escândalo sobre uso de IA e o hate justificado dos mexicanos (*e outros*) termine queimando de vez as chances de Emília Perez.  Do Brutalista também.  E quem não sabe do que estou falando, leia meu post de ontem.  Agora, observem que algo que eu apontei no Shoujocast, Flow em melhor longa de animação e filme estrangeiro, possa tornar a caminhada mais difícil.  

Flow, que levou o Globo de Ouro, deve ficar sem estatueta em animação e, por conta disso, talvez, somente talvez, pegue filme estrangeiro.  Guardem isso.  Ou pode acontecer como no ano passado com O Menino e a Garça.  Vai saber?  Eu estou torcendo por Robô Selvagem e considerei muito, muito injusto que esta animação não tenha sido indicada em melhor canção.

Concluindo, acredito que há dois marcos para Ainda Estou Aqui dentro do Oscar.  O primeiro é comprovado, somente duas mães e filhas foram indicadas ao prêmio de melhor atriz, Judy Garland (1955 e 1962) e Liza Minelli (1973); e, agora, Fernanda Montenegro (1999) e Fernanda Torres (2025).  E somente Walter Salles dirigiu mãe e filha indicadas a melhor atriz e, talvez, a dirigir mãe e filha.  Muito legal isso aqui.

Como o Dalenogare pontuou em seu vídeo análise das indicações, é preciso ter cuidado, porque uma das estratégias para queimar Ainda Estou Aqui pode ser plantar matérias na imprensa norte-americana sobre a falta de educação dos brasileiros.  E nem seria mentira, Karla Sofia Gascón reclamou do hate que vem recebendo dos brasileiros, de irem até suas redes sociais, entrevistas e tudo mais escrever bobagens e não seria surpresa se carregadas de transfobia.  É preciso ter cuidado com esse clima ridículo de copa do mundo.

E, bem, Ainda Estou Aqui entrou na indicação a melhor filme.  Fantástico e, politicamente, MUITO importante.  Estamos em um momento de ascensão dos autoritarismos com uma normalização de ditaduras de extrema-direita.  Sim, somente elas.  Então, lembrar de que família foram destruídas pela Ditadura e Rubens Paiva já foi ofendido várias vezes pelo inelegível, torna o contar da história dos Paiva e de Eunice, ainda mais importante.  E que as paquitas da ditadura se rasguem de raiva, porque são exatamente esse tipo de patriota que tangenciam importância e qualidade de produções cinematográficas ao maior prêmio do cinema norte-americano. 


O Brutalista talvez recebesse menos indicações se o escândalo do IA tivesse vindo antes das votações serem encerradas, inclusive, direção, porque o diretor de Conclave ficou de fora.  Espero que não ganhe Direção de Arte, pelo menos, porque seria uma ofensa e melhor ator (*e atriz coadjuvante*), também.  E preciso ver A Substância, porque até a diretora foi indicada. Mas eu estou muito, muito feliz.  E, para quem quiser ver, os indicados estão abaixo.  E somente uma observação, não uso nominados, nem sei se existe esta palavra na língua portuguesa, ainda que seja paradigmaticamente possível, parece daquelas inovações esquisitas que aparecem na internet e se alastram.

Ator coadjuvante

  • Yura Borisov - 'Anora'
  • Kieran Culkin - 'A verdadeira dor'
  • Edward Norton - 'Um completo desconhecido'
  • Guy Pierce - 'O brutalista'
  • Jeremy Strong - 'O aprendiz'

Figurino

  • 'Um completo desconhecido'
  • 'Conclave'
  • 'Gladiador 2'
  • 'Nosferatu'
  • 'Wicked'

Maquiagem e cabelo

  • 'Um homem diferente'
  • 'Emilia Pérez'
  • 'Nosferatu'
  • 'A substância'
  • 'Wicked'

Trilha sonora

  • 'O brutalista'
  • 'Conclave'
  • 'Emilia Pérez'
  • 'Wicked'
  • O robô selvagem'

Curta-metragem com atores

  • 'A lien'
  • 'Anuja'
  • 'I'm not a robot'
  • The last ranger'
  • 'The man who could not remain silent'

Curta-metragem animado

  • 'Beautiful men'
  • 'In the shadow of cypress'
  • 'Magic candies'
  • 'Wander to wonder'
  • 'Yuck!'

Roteiro adaptado

  • 'Um completo desconhecido'
  • 'Conclave'
  • 'Emilia Pérez'
  • 'Nickel boys'
  • 'Sing sing'

Roteiro original

  • 'Anora'
  • 'O brutalista'
  • 'A verdadeira dor'
  • 'Setembro 5'
  • 'A substância'

Atriz coadjuvante

  • Monica Barbaro - 'Um completo desconhecido'
  • Ariana Grande - 'Wicked'
  • Felicity Jones - 'O brutalista'
  • Isabella Rossellini - 'Conclave'
  • Zoe Saldaña - 'Emilia Pérez'

Canção original

  • 'El Mal' - 'Emilia Pérez'
  • 'The journey' - 'The six triple eight'
  • 'Like a bird' - 'Sing sing'
  • 'Mi camino' - 'Emilia Pérez'
  • 'Never too late' - 'Elton John: Never too late'

Documentário

  • 'Black box diaries'
  • 'No other land'
  • 'Porcelain war'
  • 'Soundtrack to a coup d'etat'
  • 'Sugarcane'

Documentário de curta-metragem

  • 'Death by numbers'
  • 'I am ready, warden'
  • 'Incident'
  • 'Instruments of a beating heart'
  • The only girl in the orchestra'

Filme internacional

  • 'Ainda estou aqui' - Brasil
  • 'A garota da agulha' - Dinamarca
  • 'Emilia Pérez' - França
  • 'A semente do fruto sagrado' - Alemanha
  • 'Flow' - Letônia

Animação

  • 'Flow'
  • 'Divertida mente 2'
  • 'Memórias de um caracol'
  • 'Wallace & Gromit: Avengança'
  • 'O robô selvagem'

Direção de arte

  • 'O brutalista'
  • 'Conclave'
  • 'Duna: Parte 2'
  • 'Nosferatu'
  • 'Wicked'

Montagem

  • 'Anora'
  • 'O brutalista'
  • 'Conclave'
  • 'Emilia Pérez'
  • 'Wicked'

Som

  • 'Um completo desconhecido'
  • 'Duna: Parte 2'
  • 'Emilia Pérez'
  • 'Wicked'
  • 'O robô selvagem'

Efeitos visuais

  • 'Alien: Romulus'
  • 'Better Man: A História de Robbie Williams'
  • 'Duna: Parte 2'
  • 'Planeta dos Macacos: O Reinado'
  • 'Wicked'

Fotografia

  • 'O brutalista'
  • 'Duna: Parte 2'
  • 'Emilia Pérez'
  • 'Maria Callas'
  • 'Nosferatu'

Ator

  • Adrien Brody - 'O brutalista'
  • Timothée Chalamet - 'Um completo desconhecido'
  • Colman Domingo - 'Sing sing'
  • Ralph Fiennes - 'Conclave'
  • Sebastian Stan - 'O aprendiz'

Atriz

  • Cynthia Erivo - 'Wicked'
  • Karla Sofía Gascón - 'Emilia Pérez'
  • Mikey Madison - 'Anora'
  • Demi Moore - 'A substância'
  • Fernanda Torres - 'Ainda estou aqui'

Direção

  • Sean Baker - 'Anora'
  • Brady Corbet - 'O brutalista'
  • James Mangold - 'Um completo desconhecido'
  • Jacques Audiard - 'Emilia Pérez'
  • Coralie Fargeat - 'A substância'

Melhor filme

  • 'Anora'
  • 'O brutalista'
  • 'Um completo desconhecido'
  • 'Conclave'
  • 'Duna: Parte 2'
  • 'Emilia Pérez'
  • 'Ainda estou aqui'
  • 'Nickel boys'
  • 'A substância'
  • 'Wicked'

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