Passei o dia fora de casa, na verdade, assisti ao anúncio dos indicados ao Oscar, que, para mim, sempre foi uma premiação interessante, ainda que seja a festa do cinema norte-americano. Estava subindo o Shoujocast, a internet estava ruim (*estou de férias na casa dos meus pais*), tinha horário para almoçar com um amigo e o caminho de São João até o Shopping Nova América era longo. Enfim, fiz postagens no Instagram e outras redes sociais e saí.
Se estivesse na minha casa, acho que teria gritado um tanto, mas nunca na minha vida imaginaria ver um filme brasileiro indicado a melhor filme. Sim, eu sei que revistas como a Variety estavam dando quatro indicações como possíveis, mas eu sou velha e tendo a abraçar a opção conservadora que seria melhor filme em língua estrangeira e, talvez, melhor atriz. Eu já tinha comentado que queria muito roteiro adaptado, mas veio MELHOR FILME. Emocionante mesmo. E a indicação já é prêmio.
Não estou fazendo bairrismo, não estou mesmo, mas o excelente cinema argentino que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro oito vezes e levou em duas ocasiões, como História Oficial (1985) e O Segredo dos Seus Olhos (2009), nunca conseguiu uma indicação a melhor filme. Algo a se levar em conta é a mudança no perfil dos votantes e uma maior abertura para produções internacionais e, também, filmes que normalmente ficariam de fora, como os de terror, vide as indicações para A Substância, em especial. E já deixo registrado aqui o que disse para umas amigas no ano passado, antes do Globo de Ouro, acredito que Demi Moore levará o prêmio.
Mas quais foram as indicações do Brasil a Melhor Filme Estrangeiro? O Pagador de Promessas (1962), O Quatrilho (1995), O que É Isso, Companheiro? (1997), Central do Brasil (1998) e, agora, Ainda Estou Aqui (2025). Walter Salles dirigiu dois desses filmes. O filme brasileiro mais indicado, no entanto, ainda é Cidade de Deus: direção (Fernando Meirelles); roteiro adaptado (Bráulio Mantovani); montagem (Daniel Rezende); e fotografia (César Charlone). Dois prêmios dos mais importantes (diretor e roteiro adaptado) e antes desse arejamento dos votantes. Isso facilitou a vida de Ainda Estou Aqui? Não necessariamente. Se o filme não fosse tão bom, se o investimento em propaganda não fosse tão grande, se Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello não fossem fluentes em inglês (*e outras línguas até*) e interagissem tanto, não teríamos chance, mas a História foi feita hoje.
Falando mais diretamente das indicações, a entrada de Fernanda Torres como melhor atriz foi ajudada pelo enfraquecimento da candidatura de Angelina Jolie e Nicole Kidman. Até algum tempo atrás, ambas eram dadas como certas, mas foram sendo esnobadas por outras premiações, como Globo de Ouro, Bafta e SAG (*no qual Fernanda Torres não era esperada como indicada*). Fernanda Torres tem chances, mas não é favorita.
Em filme em língua estrangeira, há chances maiores. Torço que o escândalo sobre uso de IA e o hate justificado dos mexicanos (*e outros*) termine queimando de vez as chances de Emília Perez. Do Brutalista também. E quem não sabe do que estou falando, leia meu post de ontem. Agora, observem que algo que eu apontei no Shoujocast, Flow em melhor longa de animação e filme estrangeiro, possa tornar a caminhada mais difícil.
Flow, que levou o Globo de Ouro, deve ficar sem estatueta em animação e, por conta disso, talvez, somente talvez, pegue filme estrangeiro. Guardem isso. Ou pode acontecer como no ano passado com O Menino e a Garça. Vai saber? Eu estou torcendo por Robô Selvagem e considerei muito, muito injusto que esta animação não tenha sido indicada em melhor canção.
Concluindo, acredito que há dois marcos para Ainda Estou Aqui dentro do Oscar. O primeiro é comprovado, somente duas mães e filhas foram indicadas ao prêmio de melhor atriz, Judy Garland (1955 e 1962) e Liza Minelli (1973); e, agora, Fernanda Montenegro (1999) e Fernanda Torres (2025). E somente Walter Salles dirigiu mãe e filha indicadas a melhor atriz e, talvez, a dirigir mãe e filha. Muito legal isso aqui.
Como o Dalenogare pontuou em seu vídeo análise das indicações, é preciso ter cuidado, porque uma das estratégias para queimar Ainda Estou Aqui pode ser plantar matérias na imprensa norte-americana sobre a falta de educação dos brasileiros. E nem seria mentira, Karla Sofia Gascón reclamou do hate que vem recebendo dos brasileiros, de irem até suas redes sociais, entrevistas e tudo mais escrever bobagens e não seria surpresa se carregadas de transfobia. É preciso ter cuidado com esse clima ridículo de copa do mundo.
E, bem, Ainda Estou Aqui entrou na indicação a melhor filme. Fantástico e, politicamente, MUITO importante. Estamos em um momento de ascensão dos autoritarismos com uma normalização de ditaduras de extrema-direita. Sim, somente elas. Então, lembrar de que família foram destruídas pela Ditadura e Rubens Paiva já foi ofendido várias vezes pelo inelegível, torna o contar da história dos Paiva e de Eunice, ainda mais importante. E que as paquitas da ditadura se rasguem de raiva, porque são exatamente esse tipo de patriota que tangenciam importância e qualidade de produções cinematográficas ao maior prêmio do cinema norte-americano.
Ator coadjuvante
- Yura Borisov - 'Anora'
- Kieran Culkin - 'A verdadeira dor'
- Edward Norton - 'Um completo desconhecido'
- Guy Pierce - 'O brutalista'
- Jeremy Strong - 'O aprendiz'
Figurino
- 'Um completo desconhecido'
- 'Conclave'
- 'Gladiador 2'
- 'Nosferatu'
- 'Wicked'
Maquiagem e cabelo
- 'Um homem diferente'
- 'Emilia Pérez'
- 'Nosferatu'
- 'A substância'
- 'Wicked'
Trilha sonora
- 'O brutalista'
- 'Conclave'
- 'Emilia Pérez'
- 'Wicked'
- O robô selvagem'
Curta-metragem com atores
- 'A lien'
- 'Anuja'
- 'I'm not a robot'
- The last ranger'
- 'The man who could not remain silent'
Curta-metragem animado
- 'Beautiful men'
- 'In the shadow of cypress'
- 'Magic candies'
- 'Wander to wonder'
- 'Yuck!'
Roteiro adaptado
- 'Um completo desconhecido'
- 'Conclave'
- 'Emilia Pérez'
- 'Nickel boys'
- 'Sing sing'
Roteiro original
- 'Anora'
- 'O brutalista'
- 'A verdadeira dor'
- 'Setembro 5'
- 'A substância'
Atriz coadjuvante
- Monica Barbaro - 'Um completo desconhecido'
- Ariana Grande - 'Wicked'
- Felicity Jones - 'O brutalista'
- Isabella Rossellini - 'Conclave'
- Zoe Saldaña - 'Emilia Pérez'
Canção original
- 'El Mal' - 'Emilia Pérez'
- 'The journey' - 'The six triple eight'
- 'Like a bird' - 'Sing sing'
- 'Mi camino' - 'Emilia Pérez'
- 'Never too late' - 'Elton John: Never too late'
Documentário
- 'Black box diaries'
- 'No other land'
- 'Porcelain war'
- 'Soundtrack to a coup d'etat'
- 'Sugarcane'
Documentário de curta-metragem
- 'Death by numbers'
- 'I am ready, warden'
- 'Incident'
- 'Instruments of a beating heart'
- The only girl in the orchestra'
Filme internacional
- 'Ainda estou aqui' - Brasil
- 'A garota da agulha' - Dinamarca
- 'Emilia Pérez' - França
- 'A semente do fruto sagrado' - Alemanha
- 'Flow' - Letônia
Animação
- 'Flow'
- 'Divertida mente 2'
- 'Memórias de um caracol'
- 'Wallace & Gromit: Avengança'
- 'O robô selvagem'
Direção de arte
- 'O brutalista'
- 'Conclave'
- 'Duna: Parte 2'
- 'Nosferatu'
- 'Wicked'
Montagem
- 'Anora'
- 'O brutalista'
- 'Conclave'
- 'Emilia Pérez'
- 'Wicked'
Som
- 'Um completo desconhecido'
- 'Duna: Parte 2'
- 'Emilia Pérez'
- 'Wicked'
- 'O robô selvagem'
Efeitos visuais
- 'Alien: Romulus'
- 'Better Man: A História de Robbie Williams'
- 'Duna: Parte 2'
- 'Planeta dos Macacos: O Reinado'
- 'Wicked'
Fotografia
- 'O brutalista'
- 'Duna: Parte 2'
- 'Emilia Pérez'
- 'Maria Callas'
- 'Nosferatu'
Ator
- Adrien Brody - 'O brutalista'
- Timothée Chalamet - 'Um completo desconhecido'
- Colman Domingo - 'Sing sing'
- Ralph Fiennes - 'Conclave'
- Sebastian Stan - 'O aprendiz'
Atriz
- Cynthia Erivo - 'Wicked'
- Karla Sofía Gascón - 'Emilia Pérez'
- Mikey Madison - 'Anora'
- Demi Moore - 'A substância'
- Fernanda Torres - 'Ainda estou aqui'
Direção
- Sean Baker - 'Anora'
- Brady Corbet - 'O brutalista'
- James Mangold - 'Um completo desconhecido'
- Jacques Audiard - 'Emilia Pérez'
- Coralie Fargeat - 'A substância'
Melhor filme
- 'Anora'
- 'O brutalista'
- 'Um completo desconhecido'
- 'Conclave'
- 'Duna: Parte 2'
- 'Emilia Pérez'
- 'Ainda estou aqui'
- 'Nickel boys'
- 'A substância'
- 'Wicked'
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