""Não somos contra a memória japonesa, mas as luminárias não têm a ver com o prédio histórico", diz Eliz Alves, 60, coordenadora da Unamca. "Não é luxo nosso, é preciso que a cidade tenha sensibilidade com um patrimônio de 245 anos." "O que São Paulo busca apagar está guardado ali", afirma Alves sobre o beco que é tomado por caminhões, vans e motos que abastecem estoques de lojas na região. "A rua é uma doca, não conseguimos nem abrir o portão da capela", completa ela."
"A Prefeitura de São Paulo afirma, em nota, que a decisão respeita a diversidade cultural e histórica da cidade. "As lanternas, que remetem à imigração japonesa, foram consideradas inadequadas para o local, uma vez que o Beco dos Aflitos abriga a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, um marco histórico da época da escravidão no Brasil."(...) "As lanternas suzuranto foram mantidas no restante do bairro, preservando a herança da imigração japonesa.""
"Nas redes sociais, perfis se posicionam contra a substituição das luzes. "Apoiamos a cultura negra, mas não acreditamos em derrubar uma cultura para impor outra. Esse não é o melhor caminho", publicou a página Minha Liba, que tem 35 mil seguidores."
""Achamos uma falta de respeito com todo o trabalho que os orientais tiveram para construir o bairro. A igreja é um patrimônio histórico do nosso bairro, mas as suzurantos também são", conclui a publicação, curtida pela Acal (Associação Cultural e Assistencial da Liberdade)."
"Para o arquiteto Silvio Oksman, a Liberdade concentra uma somatória de camadas histórias, assim como o bairro do Bom Retiro. "Essas disputas na cidade são saudáveis", diz Oksman, 52, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Ibmec-SP. "É absolutamente legítimo ter um grupo organizado reivindicando sua memória, temos que ouvi-los, assim como temos que ouvir a comunidade japonesa que também reconhece ali seu território." Segundo ele, essa é uma questão que não existia há 20 anos na cidade. "É um bom debate, que mostra que evoluímos como sociedade", diz ele."
De minha parte, considero realmente triste a retirada dos postes. Sei que há disputa, há apagamento da presença negra, mas será que retirar os postes, negando uma das presenças mais importantes do bairro da Liberdade ajuda em alguma coisa? Há camadas várias histórias que se entrelaçam no bairro, são camadas de memórias, há disputas.
Rebatizar a estação de metrô de Japão-Liberdade é um erro, mas retirar os postes me parece outro erro. O Bairro da Liberdade assim se chamava antes da chegada dos japoneses e seus descendentes. Seu nome está ligado ao castigo e resistência dos negros. Em 2023, a Praça da Liberdade foi rebatizada de “Liberdade África-Japão”, tentando deixar clara a múltipla origem do lugar. E isso é importante.
Inaugurar, em 2022, a estátua de Deolinda Madre, também conhecida como Madrinha Eunice, fundadora de uma das primeiras escolas de samba de São Paulo, a Lavapés, foi um avanço. Acredito que exista os espaço para as duas heranças, ou mais até, porque quem visita a Liberdade hoje, percebe outras presenças lá, como a dos chineses. Enfim, só queria comentar a matéria e deixar o registro do ocorrido.
2 pessoas comentaram:
Curioso que Salvador tem um bairro negro chamado de Liberdade! É o berço do Ilê Aiyê !
Bom... não precisa tirar a luminária japonesa ! Basta tentar incluir de alguma forma os negros e indígenas nesse bairro !
Incluídos eles já estão, mas a ideia é dar uma nova identidade, ou retomar a velha identidade, da rua dos Aflitos. Eu não gostei, mas a discussão é complexa.
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