Desculpe fazer dois posts feministas em seguida, mas se tornou assunto nos últimos dois dias, a reclamação da esposa de Sílvio Almeida, Ednéia Carvalho, sobre não ter sido acolhida por um certo feminismo. Não sei de qual feminismo ela fala, porque as matérias não são claras. Vou transcrever as falas dela que estão na matéria do UOL, são as que a gente tem, depois, eu retorno:
"Esses últimos dois meses não têm sido fáceis, conviver com a injustiça, tirarem a sua paz é algo que nem sei explicar (...) Faz 1 ano e 3 meses que vivo a maternidade e a sensação é que o puerpério não acabou."
"Fala-se tanto em pautas feministas, mas esse mesmo feminismo não me acolheu (...) Nunca vou esquecer das vezes que tive que amamentar a minha filha em meio a uma tristeza profunda."
"Lamento muito que pautas sérias estejam sendo banalizadas por interesses pessoais, mas apesar de tudo, estou bem, sigo cuidando da minha família."
"Estou feliz por estar na minha casa (SP), BSB [Brasília] não me fez bem, sentirei falta das boas amizades que lá fizemos, mais nada, mas essas mesmas amizades levaremos para a vida toda. (...) No meio desse furacão tivemos a certeza que temos amigos, os melhores, os mais companheiros, os mais fiéis."
"Teve quem pulou do barco, teve quem soltou a nossa mão, mas uma minoria que chega a ser irrelevante tamanha foi a rede de apoio que recebemos, inclusive aqui mesmo nessa mesma rede que massacrou minha família."
Escrevi sobre o caso do ex-ministro Sílvio Almeida em 13 de setembro. Ele foi demitido do governo Lula depois de uma série de acusações de assédio e/ou importunação sexual. A mais grave, porque era sua colega de governo, contra a também ministra Anielle Franco. Por enquanto, ele tudo contra ele está sendo investigado, as denúncias precedem a demissão em meses, muito já foi levantado, mas até que termine o processo, ele é SUSPEITO. De qualquer forma, não havia como Lula não tirá-lo do governo.
Quando li a matéria falando do abandono, ou agressão, feita por feministas (*Quais? Onde?*) à Ednéia Carvalho, lembrei que ela, no calor dos acontecimentos, veio à público defender o marido. Veja, não defender que se investigasse e reforçar que ele era inocente e isso seria provado. Ela acusou as (supostas) vítimas de estarem metidas em uma grande conspiração para tirar seu marido do governo. Acusava, também, racismo. Eu vi racismo, sim, mas ele partiu de quem na extrema-direita comemorou a queda de Almeida, não de grupos feministas organizados, ou de gente do governo.
Como esposa, acredito que ela teria três opções difíceis: se calar, oferecendo apoio em privado; apoiar as (supostas) vítimas, abandonando seu marido; ou partir para o apoio e o enfrentamento. Ela ESCOLHEU a terceira opção. Estabelecido isso, é possível que ela tenha sofrido ataques na internet. Isso é algo muito comum e pode atingir níveis absurdos de virulência. Eu não vi, mas não procurei, também.
O que ela desejava que as feministas e os grupos feministas, que não são nomeados, fizessem? Ficassem contra as (supostas) vítimas e se solidarizassem com o (suposto) agressor? Pedissem a permanência de Almeida no governo durante as investigações? Realmente, o que me parece é que ela esperava uma solidariedade que seria prontamente identificada como conivência com o abuso. Prestem atenção que ninguém a arrastou para o debate público, ela se colocou nele apoiando irrestritamente o esposo.
As falas de Ednéia estão reverberando, porque elas são particularmente úteis aos reacionários que desejam demonizar os feminismos. Eles não precisavam da Ednéia Carvalho, mas é uma mão na roda ter uma mulher preta, mãe de uma criancinha pequena, vocalizando como as feministas não apoiam mulheres como ela (*Esposa de um suposto abusador?*) e preferem apoiar as (supostas) vítimas, gente em posição vulnerável. Não vejo escolha aí. Nenhuma, até porque ela, Ednéia, se colocou publicamente na disputa não pedindo Justiça, mas acusando perseguição.
Enfim, se ela foi agredida, se algo criminoso foi lhe enviado em suas redes sociais, se sua criança foi submetida a algum ataque virulento, que ela busque a Justiça. Ela, aliás, é casada com um jurista de primeira linha, porque isso não mudou com as acusações feitas à Almeida. E que faça isso usando a imprensa para que se torne público. Lamento muito que ela esteja passando por essa situação toda, em especial, durante o puerpério, momento tão delicado e em que uma mulher precisa de paz. Agora, o que eu acredito ser um equívoco muito grande, se calculado é ainda pior, se prestar a ser vocalizadora de ataques aos feminismos e, claro, ajudar nos discursos da extrema-direita.
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