Encontrei uma matéria no G1 melhor que esta da Folha de São Paulo falando da retirada das luminárias (tori) da rua dos Aflitos, no Bairro da Liberdade. No fundo da rua, fica a Capela dos Aflitos e encontrei uma foto antiga do lugar, não tenho a data. Ela fala de Afroturismo, que é o turismo de rua com grupos guiados focado exclusivamente nos lugares importantes para a história dos negros e negras. Há Afroturismo em várias capitais brasileiras, além do turismo de rua comum, mas, no caso de São Paulo, existe um projeto do governo do estado que visa promover rotas em várias cidades paulistas.
A retirada dos tori, as luminárias, e eu não vejo como correto, não mudei de ideia, faz parte do projeto de revitalização chamado "Ruas Abertas Liberdade". É projeto do Município de São Paulo, não é da iniciativa privada. Assim como não é da iniciativa privada o Memorial que se pretende construir atrás da Capela dos Aflitos, onde era o antigo cemitério dos escravizados. Aliás, segundo matéria da Veja de um ano atrás, a verba, que é de 4 milhões de reais, já está garantida e é estadual. Vejam bem, um ano se passou e o que foi feito? Somente a retirada das luminárias.
A História de uma cidade, de um bairro, de um país, é complexa e dinâmica. Ela é feita em camadas. O apagamento dos negros e indígenas precisa ser questionado, porém a ideia de reparação histórica que vi nos comentários de algumas pessoas, parece mirar a comunidade japonesa, que não escravizou, matou, ou apagou essa história negra local. Há racismos, criou-se a ideia de que a Liberdade é o bairro japonês, ou oriental, o que seria mais correto hoje, mas a reparação histórica, e eu não gosto desse termo, não é responsabilidade do japoneses e seus descendentes, não é culpa dos tori, mas responsabilidade do ESTADO e SEUS AGENTES, que tentaram construir uma cidade negando suas raízes negras. E os japoneses no Brasil sofreram um tanto por causa do racismo, por causa da 2ª Guerra, não é uma história fácil, também.
Aliás, se a Lei Feijó (1831), que proibia o tráfico, tivesse sido cumprida, se o Estado não fosse conivente, a escravidão teria terminado muito antes e milhares de pessoas não teriam sido feitas escravas, quando deveriam ser livres, tampouco seus filhos e filhas, netos e netas. Tivemos que fazer uma segunda lei proibindo o tráfico negreiro, a Eusébio de Queirós (1850), e ainda uma outra, a Lei Nabuco de Araújo (1854), prevendo sanções para as autoridades que encobrissem o contrabando de escravos.
Enfim, eu sou historiadora e não gosto de ficar brincando de palavras de ordem e discurso fácil por aí. Tenho mais o que fazer e estou velha para isso, não tenho mais meus vinte anos. Agora, quem quiser ficar atrás da história verdadeira do Bairro da Liberdade, como se as outras fossem falsas e não fruto de disputas e camadas, que corra atrás desse engodo. Espero não ter que voltar a isso e desejo que o memorial fique pronto logo e a rua dos Aflitos seja revitalizada. O vídeo do G1 está abaixo:
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