Esbarrei no Facebook nesta matéria do The Economist falando sobre o antifeminismo em três países da Ásia, Coreia do Sul, Japão e Taiwan, embora o grande foco seja mesmo nos discursos misóginos coreanos. Inclusive de como políticos adulam os incel para conseguirem votos, atacando os direitos das mulheres (*achei um artigo da Vice sobre isso*). No geral, a matéria não me trouxe novidades, ela toca, inclusive no movimento coreano 4B (*artigo traduzido aqui*), mas traz estatísticas sobre escolarização, diferenças salariais entre homens e mulheres, natalidade e outros números que permitem ver o abismo nos quais essas sociedades muito patriarcais estão se atirando.
Como costumo fazer com artigos traduzidos, preservei a estrutura da matéria. Ela só tinha uma única imagem e mantive somente ela. Para quem quiser ler a original, é só clicar: Meet the incels and anti-feminists of Asia. Segue abaixo o artigo traduzido:
27 de junho de 2024|Seul e Tóquio
KIM WOO-SeoK, um chef de 31 anos de Seul, cresceu questionando a maneira como a sociedade trata as mulheres. Ele sentia pena de sua mãe dona de casa. Ele se considerava um feminista. Mas, nos últimos anos, suas opiniões mudaram. Quando ele se deparou com mulheres ativistas online, ele ficou chocado ao ver que algumas delas estavam fazendo comentários humilhantes sobre os homens, incluindo zombarias sobre pênis pequenos. "Eu senti que minha masculinidade estava sob ataque", diz o Sr. Kim. Ele acredita que, desde a década de 2010, a sociedade coreana se tornou mais discriminatória contra os homens do que contra as mulheres. Embora ele tenha uma namorada, muitos dos que compartilham suas crenças na região não têm.
Em países avançados, a lacuna entre os sexos aumentou, com os homens jovens tendendo a ser mais conservadores e as mulheres jovens tendendo a ser mais liberais. A tendência é particularmente marcante no Leste Asiático. Os homens não estão se adaptando bem a uma sociedade onde as mulheres são mais educadas, competem com eles por empregos e não querem ter filhos com eles. De acordo com uma pesquisa de 2021, 79% dos homens sul-coreanos na faixa dos 20 anos acreditam que são vítimas de “discriminação reversa”. No vizinho Japão, uma pesquisa do mesmo ano descobriu que 43% dos homens de 18 a 30 anos “odeiam o feminismo”.
À primeira vista, isso pode não parecer tão incomum. Grande parte do Leste Asiático tende a ser bastante patriarcal. Japão e Coreia do Sul tem os piores desempenhos no índice de igualdade de gênero no ambiente de trabalho do The Economist, uma medida de quão favorável às mulheres é o ambiente de trabalho em 29 países ricos. Na OCDE, um clube de países desenvolvidos, a Coreia do Sul tem a maior disparidade salarial de gênero. As mulheres ganham 31% menos que os homens. No Japão, essa disparidade é de 21%. Em uma pesquisa de 2023 do IPSOS, um pesquisador, 72% dos sul-coreanos concordaram que "um homem que fica em casa para cuidar dos filhos é menos homem", a maior taxa nos 30 países pesquisados.
Mesmo assim, a vida das mulheres em grande parte da região melhorou. A "preferência por filhos" do Leste Asiático está desaparecendo, com meninos e meninas igualmente esperados para se saírem bem na escola. A taxa de matrícula na faculdade para meninas agora é maior do que a de meninos na Coreia do Sul, China e Taiwan. No Japão, ainda é maior para meninos, mas apenas três pontos percentuais. As mulheres estão cada vez mais entrando na força de trabalho: no Japão, a taxa de emprego para mulheres de 25 a 39 anos ultrapassou 80% pela primeira vez em 2022. Na Coreia do Sul, 74% das mulheres de 25 a 29 anos estão empregadas.
Esse sucesso é a primeira causa da reação negativa. Os homens jovens são "cercados por mulheres que se saem melhor na escola ou se destacam no trabalho", diz Lee Hyun-jae, da Universidade de Seul. Muitos homens sentem que "a igualdade de gênero já foi alcançada", diz a Sr.ª Lee. Em um mundo que eles acreditam já ser igualitário, muitos homens jovens sentem que políticas compensatórias para elevar as mulheres são injustas. A maioria não deseja confinar as mulheres em casa. Mas eles estão frustrados do mesmo jeito.
Outro fator é que os homens do Leste Asiático estão vivendo em tempos econômicos menos otimistas do que seus pais. O Japão testemunhou o estouro de sua "bolha econômica", um fim para décadas de crescimento notável, em 1991. A Coreia do Sul foi duramente atingida por uma crise econômica em 1997. Os jovens nascidos desde então viveram em uma era marcada por crescimento lento. O modelo de trabalho de "assalariados" em tempo integral foi corroído, com empregos mais precários ou de meio período em ascensão. No ano passado, no Japão, a inflação atingiu uma alta de quatro décadas (de cerca de 3%, então ainda baixa para os padrões atuais do mundo rico). Os salários reais caíram nos últimos dois anos. Na Coreia do Sul, a parcela de homens jovens que não estão em educação, emprego ou treinamento (NEET) aumentou de 8% em 2000 para 21%. Em contraste, a parcela de mulheres NEETs caiu de 44% para 21% no mesmo período.
Enquanto isso, o mercado de namoro está se tornando mais brutal. Menos pessoas estão se casando: mais de 60% das mulheres japonesas na faixa dos 20 e poucos anos são solteiras, o dobro da taxa em meados da década de 1980. No Japão, a idade em que os homens perdem a virgindade sempre foi alta. E continua assim: em 2022, 42% dos homens na faixa dos 20 anos disseram que nunca fizeram sexo, enquanto 17% dos que estavam na faixa dos 30 também eram virgens. Um relatório do governo de 2022 descobriu que 40% dos homens nunca tiveram um encontro.
As tendências de casamento são semelhantes na Coreia do Sul e em Taiwan, enquanto ter filhos fora do casamento continua algo raro. Isso significa que os países estão envelhecendo e não estão nascendo bebês suficientes para sustentar a população. A taxa de fertilidade da Coreia do Sul é a mais baixa do mundo, com 0,72. A de Taiwan é de 0,87, enquanto a do Japão é de 1,2. Na Coreia do Sul, algumas mulheres juraram abandonar completamente os relacionamentos heterossexuais. Em 2019, um movimento marginal “4B” surgiu lá. Ele envolve mulheres se abstendo não apenas de casamento e parto, mas também de namoro e sexo com homens. Elas acreditam que uma vida com um homem é uma vida sem liberdade. “Eu nem estou lutando contra o patriarcado — eu decidi sair dele”, diz Kim Jina, uma praticante do 4B.
Outro fator é que a raiva contra as mulheres está sendo alimentada online. O Sr. Kim, o chef, segue Bae In-gyu, um influenciador no YouTube que lidera o “New Men on Solidarity”, um grupo de direitos dos homens. O Sr. Bae afirma que “o feminismo é uma doença mental”. Na Coreia do Sul, uma calúnia popular online entre os homens é kimchinyeo ou “kimchi bitch”, um termo que implica que as jovens coreanas são materialistas, controladoras e dispostas a viver parasitariamente dos homens. No Japão, tsui-femi, que é a abreviação de “feministas do Twitter”, tornou-se um termo depreciativo.
Semelhante aos incels (ou celibatários involuntários) no Ocidente, surgiu um grupo de homens japoneses conhecidos como jakusha-dansei ou “homens fracos”. “Quando se trata de namoro, as mulheres têm esmagadoramente poder de decisão”, diz Horike Takeshi, um japonês de 25 anos que nunca teve uma namorada. Ele se identifica como um "homem fraco" por causa de sua baixa renda e falta de apelo sexual para as mulheres.
Os políticos da Coreia do Sul estão bajulando esses jovens eleitores raivosos. Yoon Suk Yeol, o atual presidente, fez campanha há dois anos com a promessa de abolir o ministério da igualdade de gênero. Ele alegou que o feminismo está prejudicando "relacionamentos saudáveis entre homens e mulheres". O exaustivo serviço militar obrigatório de 18 meses do país é um ponto crítico em particular. Ao contrário de seus pais que serviram nas forças armadas sem questionar, os jovens coreanos estão cada vez mais desencantados. De acordo com uma pesquisa de 2021 da Hankook Research, uma empresa de pesquisa de mercado, 62% dos homens coreanos com idade entre 18 e 29 anos, a idade ideal para o recrutamento, acham que o serviço militar é uma "perda de tempo".
A vizinha Taiwan enfrenta desafios semelhantes. Seus homens também devem servir nas forças armadas, embora por um período muito mais curto. Mas um movimento antifeminista organizado está notavelmente ausente lá, diz Huang Chang-ling da Universidade Nacional de Taiwan. A frustração dos jovens taiwaneses, diferentemente dos sul-coreanos, "não se tornou forte o suficiente para que qualquer político queira explorar", diz a Sr.ª Huang. Da mesma forma, no Japão, onde não há serviço militar obrigatório, os políticos ainda não decidiram atiçar o voto incel.
O aumento do sentimento antifeminista é um mau presságio para as taxas de natalidade da região. Na Coreia do Sul, uma pesquisa do governo mostrou que mais de 60% dos homens coreanos na faixa dos 20 anos acreditam que se casar e ter filhos é "necessário" em suas vidas. Apenas 34% das mulheres na mesma faixa etária concordaram. Mas os homens e mulheres do Leste Asiático podem encontrar um ponto em comum? Uma pesquisa feita por um aplicativo de namoro no ano passado descobriu que, entre solteiros divorciados, 37% das mulheres coreanas disseram que um homem “patriarcal” seria seu encontro menos favorito. Uma parcela semelhante de homens disse que não queria namorar feministas.
3 pessoas comentaram:
Valéria, vc viu que a JBC e o tradutor estão tentando vender Skip and Loafer como se fosse shoujo/josei? mas o mangá é seinen, achei isso uma desonestidade intelectual imensa
Não vi isso, não. E conheço a editora e não encontrei nada dela tentando passar essz ideia. Quem foi o autor da façanha?
Foi na época que o Twitter ainda estava funcionando, alguém tinha postado que "Vou me apaixonar por você mesmo assim" e "Um sinal de afeto" eram juntos com Skip and Loafer os melhores shoujos que estavam saindo no Brasil e o Lucas (tradutor de Skip and Loafer) deu RT e comentou que concordava
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