Sábado passado, fui assistir com a Júlia (minha filha de quase 11 anos) o filme Robô Selvagem (The Wild Robot), aposta da DreamWorks para as premiações do ano que vem. O filme é baseado em uma série de livros (*que espero que saiam em português*) chamada The Wild Robot de um escrito chamado Peter Brown e mistura ficção científica, sobrevivência em ambiente hostil, ecologismo e um forte apelo à ideia de família e maternidade. Segue o roteiro do Adoro Cinema:
Em Robô Selvagem, o robô conhecido como "Roz" – a unidade ROZZUM 7134 – naufraga em uma ilha desabitada, precisa aprender a se adaptar a esse novo ambiente e, pouco a pouco, construindo relações com animais nativos e isso inclui até a adoção de um filhotinho de um ganso. O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome do escritor Peter Brown.
Fui ao cinema assistir Robô Selvagem, porque achei o trailer muito bonito e estava com muita saudade da sala de exibição. Depois que me mudei e da COVID, ir ao cinema se tornou algo muito raro na minha vida e eu sinto muita falta. Curiosamente, um filme tão bem executado já saiu de cartaz em Brasília. Aliás, nunca vi tanta fragmentação nas salas de cinema. Há muita coisa em cartaz, filmes menores dividindo a mesma sala de exibição para desaparecerem rapidamente. Só os grandes lançamentos, e sendo DreamWorks Robô Selvagem deveria ser um deles, ficam por muito tempo, enfim...
Em Robô Selvagem, estamos em um futuro que parece ser próximo. O nível dos mares subiu e a humanidade, ou o que sobrou dela, vive em cidades super tecnológicas. Unidades como ROZ foram feitas para servir esses humanos. Ao cair na ilha, ROZ precisa de uma missão e se esforça para encontrar uma. Ela aprende a língua dos animais, para que eles possam interagir de forma "humanizada" com ela, e toma como missão proteger e criar um ganso anão.
Bico-Vivo, este é o nome que ROZ e seu amigo, a raposa de nome Astuto, lhe dão, é órfão por causa de um acidente provocado por ROZ. Não foi de propósito, mas ao matar a família do gansinho, ela o salvou. Gansos anões estava condenados a morrer. ROZ, ao tomar Bico-Vivo como sua missão, lhe dá a possibilidade de uma família e um futuro.
U:ma das questões importantes do filme é que a ideia de família como aquela que nós elegemos como tal. ROZ é um robô, não deveria sentir, nem precisar de companhia, mas ela acaba desenvolvendo consciência, algo que me fez lembrar de Data de Jornada nas Estrelas, que também se torna pai em um determinado episódio. Não somente isso, mas ela adota uma identidade de gênero feminina. Ela se torna mãe. A maternidade é tratada de forma bem tradicional no filme, diga-se de passagem, ainda que a ideia de família seja bem moderna e inclusiva, afinal, a de ROZ é composta por uma robô, uma raposa e um ganso.
O fato é que ROZ consegue sobreviver, se adaptar, cumprir sua missão e interferir na dinâmica da ilha. Todos os animais interagem com ela, reconhecem suas qualidades e aceitam que ela é parte da vida selvagem como eles são. ROZ defende a cooperação, não a competição, algo estranho para a maioria dos animais que vivem em um ambiente no qual uns morrem para que outros consigam sobreviver.
Só que ROZ fica dividida entre permanecer na ilha, mesmo depois de cumprida sua missão com Bico-Vivo, que em dado momento se torna um adolescente ressentido muito verossímil, e voltar para a sua matriz. Afinal, ela tem uma programação e quer estar (*aqui, temos consciência e sentimentos*) com os de sua "espécie". Só que, ao tentar contato, ela atrai até a ilha a corporação que a criou e temos um pequeno vislumbre desse capitalismo violento do futuro.
Gostei sinceramente de Robô Selvagem. O filme consegue dialogar com adultos e crianças e fica no limite de ser excelente. Motivo? Robô Selvagem não se furta de mostrar a morte e não demoniza os animais carnívoros, ou esconde que existe uma cadeia alimentar que implica em sacrifícios. O problema é que o filme vende a ideia de cooperação, sim, era necessário para salvar a ilha, mas será que os animais deixaram seus hábitos naturais por influência de ROZ e se tornaram, sei lá, veganos? Não fica claro. Outro ponto que tira uma nota máxima do filme é que ele precisava sacrificar ROZ e tinha que ser um sacrifício completo e absoluto. Mas faltou coragem, ou, sei lá, teremos uma continuação, afinal, são três livros.
Robô Selvagem cumpre a Bechdel Rule. Temos várias personagens femininas, algumas com nomes, protagonista, aliás, é uma robô-mãe. Agora, a questão da maternidade como principal missão das mulheres, ou das fêmeas, é algo central na película. ROZ se torna mãe e, como tal, ela se torna vulnerável e capaz de se sacrificar por seu filho. A maternidade em Robô Selvagem parece beber em referenciais do século XIX, vitorianos, mesmo colocando ROZ como uma heroína de ação, afinal, sendo uma robô, ela tem muitas capacidades.
Uma das mensagens do filme é que não precisamos aceitar um destino que nos foi imposto. ROZ pode ir contra a sua programação, os animais também podem ir além daquilo que a natureza nos impôs, por isso, até um ganso anão pode ter um futuro, porque podemos, sim, construir um mundo melhor e mais inclusivo. Robô Selvagem é um filme simpático e deve estar no streaming daqui a pouco. Uma pena mesmo, minha sessão estava cheia e houve aplausos.
Robô Selvagem deve ser indicado ao Oscar e será muito merecido. A música tema também é bem bonita. Queria ter ouvido a dublagem original com Lupita Nyong'o e Pedro Pascal, mas a dublagem brasileira ficou muito boa, gostei bastante. Espero a série inteira de livros saia por aqui, no Amazon só encontrei o volume 1 em português e só em formato Kindle. E é isso. Espero conseguir ir ao cinema de novo o mais rápido possível.
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