A minha querida amiga Tabby Kink lançou, no final de semana, seu novo mangá chamado "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo". Trata-se de uma obra de 52 páginas e que é de leitura rápida e satisfatória. Para você que não sabe o que é TL, trata-se de uma sigla para "Teen Love", que são mangás de conteúdo erótico e/ou pornográfico para mulheres. O "teen" é resquício do início da demografia e que a separava dos lady's comics que tinham um traço menos "shoujo", por assim dizer, além de, lá nos anos 1990, as protagonistas serem mais jovens. Desde um bom tempo, a maioria absoluta dos TL tem protagonistas adultas ou, pelo menos, maiores de idade.
Muito bem, qual é a história de "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo"? Estamos em um mundo de fantasia. Apolline é a terceira princesa do reino de Elmare. Ela tem 21 anos e sua mãe a considera um fracasso, afinal, a rainha acredita que a filha é sem graça e não herdou sua beleza. Haverá um grande da duquesa Evangeline, que, para a mãe da protagonista, será a última chance de Apolline conseguir um bom casamento, ou qualquer enlace que não envergonhe sua família. Para a rainha, basta ser rico, nem precisa ser nobre.
Apolline vai ao baile e, mesmo estando belamente vestida, ninguém a tira para dançar. Conformada estava a moça de que ficaria solteirona e sendo humilhada, mas eis que chega uma proposta de casamento vinda do reino dos Lobos, o mais poderoso do continente. O príncipe Maroo a deseja como esposa e o mais rápido possível. Sim, ela casaria melhor que suas irmãs, mas ninguém nunca tinha visto o rosto de Maroo em público e havia mesmo boatos de que ele seria deformado. Apolline, no entanto, não tem escolha, mas as cartas que o príncipe lhe escreve são tão bem escritas, sua caligrafia é tão linda, que ela se apaixona por ele por causa delas.
Enfim, como o mangá é curto, a resenha não pode ser muito longa, ou entregará o pequeno mistério que existe dentro da história. Pelo que descrevi, vocês já sabem qual é, trata-se da aparência do príncipe Maroo. Lendo "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo" a impressão é que se trata de um aperitivo de algo maior. Queria saber mais sobre Apolline e sua dinâmica familiar. Algo que desse mais profundidade à personagem. Ela tem pai? Como são suas irmãs? A rainha regente é a mãe?
Da mesma forma, sem que se revelasse a aparência de Maroo, poderíamos saber mais sobre o reino dos Lobos, mas, neste caso, na noite de núpcias, o príncipe fala de sua infância, do quão difícil foi crescer visto como o elemento fraco da alcateia. Os irmãos tem desprezo por ele e isso se desdobra na percepção de que Maroo não é competente como macho. Lembrem que TL é sobre sexo e que ele é visto como expressão do amor. Se dependesse de Maroo, nada aconteceria na noite de núpcias, mas é a aparentemente tímida Apolline que toma a iniciativa e as coisas acontecem.
Em um mangá mais longo, haveria espaço para discutir a construção das masculinidades dentro do Reino dos Lobos, mas a mensagem neste caso foi passada de forma muito competente, mesmo em 52 páginas. Falando em arte, Tabby desenha de forma bonita e dinâmica. A sequência de sexo é, portanto, muito bem desenhada. Melhor do que a de muitos TL japoneses, inclusive dos dois que eu resenhei recentemente. Neste caso, muito melhor mesmo. Se você comprar o mangá, passarei as informações no final da resenha, você receberá uma versão com censura e outra sem censura.
No Japão, a interpretação do artigo 175 do Código Penal normalmente é a de que genitais adultos não podem ser representados. Por isso, normalmente, qualquer obra pornográfica japonesa normalmente, mas, ultimamente, nem sempre, joga mosaico, luzes, desfoque, nas cenas de sexo onde aparecem genitais e pelos pubianos. Em "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo" a diferença é pequena, mas não se resume somente ao desfoque nas genitais. Pouca coisa, não interfere na leitura e mesmo na versão com pênis (*e alguns enquadramentos diferentes*), ele é mais um esboço leve, já vi TL sem censura que se esmera mais nos detalhes. É escolha da artista, assim como eliminar os pelos corporais (*isso não me agrada muito*). Maroo, por exemplo, não tem nenhum. Certamente, isso deveria pesar contra ele entre os machos de sua espécie. Em uma história maior, isso deveria ser discutido.
Vou terminar falando de figurino e outras coisas que me chamaram a atenção, porque isso é importante para mim. Tabby mistura referências de uma Europa do século XIX e até século XX, a mocinha, por exemplo, usa um corte de cabelo que ficou famoso nos anos 1920, o "bob hair" com China antiga de dorama. As roupas de Maroo pelo menos, me lembram a dos mocinhos de série chinesa e sei que a Tabby curte. Além disso, Maroo usa uma espécie de delineador de olhos que já vi em doramas chineses e coreanos. Japoneses não usam nas suas série.
Agora, apesar de muito fofa, não gostei do vestido de baile da Apolline. Até pela pressão que a mãe coloca em Apolline, ela certamente estaria vestida na última moda da sua época e lugar, seja qual seja. Como estamos nesse ambiente que simula tempos passados, colocar a mocinha com um vestido meio acima das canelas me pareceu infantilizador. Mulheres crescidas, com 15-16 anos para cima, usavam vestidos longos. Se a referência for mesmo os anos 1920 e não se quisesse optar pelo visual flapper (*melindrosa*), mais associado à década, eu optaria pelo robe de style, que muita gente esqueceu que existia. Ele tem linhas modernas, mas saia armada e pode ser curto e não parecer coisa de criança. Olhe, esse belíssimo modelo, é um exemplo do melhor design da Jeanne Lanvin (1867-1946). Ultimamente, eu tenho me incomodado muito com figurino de mangá e anime, é uma das minhas fixações atuais. A escolha, no fim das contas, é sempre do artista.
Bem, se você se interessou pelo mangá da Tabby Kink, é fácil consegui-lo. Ele custa 35 reais e a compra é por PIX. Você envia o comprovante para a artista e recebe o mangá nas duas versões, com e sem censura, além de três ilustrações especiais. As instruções estão aqui. Vale a pena? Vale. Além disso, é um incentivo a uma artista nacional que desenha muito bem e, de repente, ela se sente estimulada a estender o mangá e transformá-lo em uma série, ainda que curta usando os elementos que ela sugeriu nas suas 52 páginas. E, pelo menos para mim, um bom TL tem que ter uma boa história e "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo" tem tudo para ser uma história ainda mais interessante e com muitas cenas de sexo bem desenhadas para fazer valer ainda mais a pena.
2 pessoas comentaram:
eu não tinha percebido esses detalhes sobre o vestido ou a referência à época e o "teen" do TL, mas foi muito interessante ler essa matéria sobre esse mangá. A arte da Tabby é muito linda.
Arte lindíssima! Fiquei encantada demais com o traço da Tabby. Torço muito para que ela consiga bastante reconhecimento, pois talento é o que não falta!
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