sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Comentando "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo": um simpático mangá TL nacional (pode abrir sem medo, porque não tem nenhuma imagem + 18 na resenha)

A minha querida amiga Tabby Kink lançou, no final de semana, seu novo mangá chamado "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo".  Trata-se de uma obra de 52 páginas e que é de leitura rápida e satisfatória.  Para você que não sabe o que é TL, trata-se de uma sigla para "Teen Love", que são mangás de conteúdo erótico e/ou pornográfico para mulheres.  O "teen" é resquício do início da demografia e que a separava dos lady's comics que tinham um traço menos "shoujo", por assim dizer, além de, lá nos anos 1990, as protagonistas serem mais jovens.  Desde um bom tempo, a maioria absoluta dos TL tem protagonistas adultas ou, pelo menos, maiores de idade.

Muito bem, qual é a história de "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo"?  Estamos em um mundo de fantasia.  Apolline é a terceira princesa do reino de Elmare.  Ela tem 21 anos e sua mãe a considera um fracasso, afinal, a rainha acredita que a filha é sem graça e não herdou sua beleza.  Haverá um grande da duquesa Evangeline, que, para a mãe da protagonista, será a última chance de Apolline conseguir um bom casamento, ou qualquer enlace que não envergonhe sua família.  Para a rainha, basta ser rico, nem precisa ser nobre.

Apolline vai ao baile e, mesmo estando belamente vestida, ninguém a tira para dançar.  Conformada estava a moça de que ficaria solteirona e sendo humilhada, mas eis que chega uma proposta de casamento vinda do reino dos Lobos, o mais poderoso do continente. O príncipe Maroo a deseja como esposa e o mais rápido possível.  Sim, ela casaria melhor que suas irmãs, mas ninguém nunca tinha visto o rosto de Maroo em público e havia mesmo boatos de que ele seria deformado.  Apolline, no entanto, não tem escolha, mas as cartas que o príncipe lhe escreve são tão bem escritas, sua caligrafia é tão linda, que ela se apaixona por ele por causa delas.

Enfim, como o mangá é curto, a resenha não pode ser muito longa, ou entregará o pequeno mistério que existe dentro da história.  Pelo que descrevi, vocês já sabem qual é, trata-se da aparência do príncipe Maroo.  Lendo "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo" a impressão é que se trata de um aperitivo de algo maior.  Queria saber mais sobre Apolline e sua dinâmica familiar.  Algo que desse mais profundidade à personagem.  Ela tem pai?  Como são suas irmãs?  A rainha regente é a mãe?

Da mesma forma, sem que se revelasse a aparência de Maroo, poderíamos saber mais sobre o reino dos Lobos, mas, neste caso, na noite de núpcias, o príncipe fala de sua infância, do quão difícil foi crescer visto como o elemento fraco da alcateia.  Os irmãos tem desprezo por ele e isso se desdobra na percepção de que Maroo não é competente como macho.   Lembrem que TL é sobre sexo e que ele é visto como expressão do amor.  Se dependesse de Maroo, nada aconteceria na noite de núpcias, mas é a aparentemente tímida Apolline que toma a iniciativa e as coisas acontecem.  

Em um mangá mais longo, haveria espaço para discutir a construção das masculinidades dentro do Reino dos Lobos, mas a mensagem neste caso foi passada de forma muito competente, mesmo em 52 páginas.  Falando em arte, Tabby desenha de forma bonita e dinâmica.  A sequência de sexo é, portanto, muito bem desenhada.  Melhor do que a de muitos TL japoneses, inclusive dos dois que eu resenhei recentemente.  Neste caso, muito melhor mesmo.  Se você comprar o mangá, passarei as informações no final da resenha, você receberá uma versão com censura e outra sem censura.

No Japão, a interpretação do artigo 175 do Código Penal normalmente é a de que genitais adultos não podem ser representados.  Por isso, normalmente, qualquer obra pornográfica japonesa normalmente, mas, ultimamente, nem sempre, joga mosaico, luzes, desfoque, nas cenas de sexo onde aparecem genitais e pelos pubianos.  Em "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo" a diferença é pequena, mas não se resume somente ao desfoque nas genitais.  Pouca coisa, não interfere na leitura e mesmo na versão com pênis (*e alguns enquadramentos diferentes*), ele é mais um esboço leve, já vi TL sem censura que se esmera mais nos detalhes. É escolha da artista, assim como eliminar os pelos corporais (*isso não me agrada muito*).  Maroo, por exemplo, não tem nenhum.  Certamente, isso deveria pesar contra ele entre os machos de sua espécie.  Em uma história maior, isso deveria ser discutido.

Vou terminar falando de figurino e outras coisas que me chamaram a atenção, porque isso é importante para mim.  Tabby mistura referências de uma Europa do século XIX e até século XX, a mocinha, por exemplo, usa um corte de cabelo que ficou famoso nos anos 1920, o "bob hair" com China antiga de dorama.  As roupas de Maroo pelo menos, me lembram a dos mocinhos de série chinesa e sei que a Tabby curte.  Além disso, Maroo usa uma espécie de delineador de olhos que já vi em doramas chineses e coreanos.  Japoneses não usam nas suas série.

Agora, apesar de muito fofa, não gostei do vestido de baile da Apolline.  Até pela pressão que a mãe coloca em Apolline, ela certamente estaria vestida na última moda da sua época e lugar, seja qual seja.  Como estamos nesse ambiente que simula tempos passados, colocar a mocinha com um vestido meio acima das canelas me pareceu infantilizador.  Mulheres crescidas, com 15-16 anos para cima, usavam vestidos longos.  Se a referência for mesmo os anos 1920 e não se quisesse optar pelo visual flapper (*melindrosa*), mais associado à década, eu optaria pelo robe de style, que muita gente esqueceu que existia.  Ele tem linhas modernas, mas saia armada e pode ser curto e não parecer coisa de criança.  Olhe, esse belíssimo modelo, é um exemplo do melhor design da Jeanne Lanvin (1867-1946).  Ultimamente, eu tenho me incomodado muito com figurino de mangá e anime, é uma das minhas fixações atuais.  A escolha, no fim das contas, é sempre do artista.

Bem, se você se interessou pelo mangá da Tabby Kink, é fácil consegui-lo.  Ele custa 35 reais e a compra é por PIX.  Você envia o comprovante para a artista e recebe o mangá nas duas versões, com e sem censura, além de três ilustrações especiais. As instruções estão aqui. Vale a pena?  Vale.  Além disso, é um incentivo a uma artista nacional que desenha muito bem e, de repente, ela se sente estimulada a estender o mangá e transformá-lo em uma série, ainda que curta usando os elementos que ela sugeriu nas suas 52 páginas.  E, pelo menos para mim, um bom TL tem que ter uma boa história e "Eu Me Casei com o Príncipe Lobo" tem tudo para ser uma história ainda mais interessante e com muitas cenas de sexo bem desenhadas para fazer valer ainda mais a pena.

2 pessoas comentaram:

eu não tinha percebido esses detalhes sobre o vestido ou a referência à época e o "teen" do TL, mas foi muito interessante ler essa matéria sobre esse mangá. A arte da Tabby é muito linda.

Arte lindíssima! Fiquei encantada demais com o traço da Tabby. Torço muito para que ela consiga bastante reconhecimento, pois talento é o que não falta!

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