sexta-feira, 19 de julho de 2024

Racismo e Xenofobia no Japão: 98% das pessoas com ascendência estrangeira já sofreram alguma forma de discriminação no país

Um grupo de pesquisadores japoneses realizou um estudo que revelou que cerca de 98% das pessoas com ascendência estrangeira no Japão já enfrentaram microagressões diárias devido à sua identidade, as informações vem do site Dia a Dia.  

Nos últimos anos, temos um número crescente de estrangeiros trabalhando no Japão e o número de japoneses casados com pessoas oriundas de outros países tem aumentado também.  Segundo o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, no ano de 2022, uma em cada 50 crianças nascidas no país tinha um dos pais com origem estrangeira.

A pesquisa foi conduzida por um comitê formado por Yoshikata Shimoji, acadêmico visitante da Universidade da Califórnia, Berkeley e Viveka Ichikawa, psicoterapeuta e candidata a doutorado na Universidade de Toronto, e teve como participantes adultos que viveram por pelo menos um ano no Japão.  Yoshikata Shimoji tem outras pesquisas sobre racismo no Japão, inclusive, encontrei um artigo de 2023 chamado Por que a sociedade japonesa negligencia o racismo? (WHY DOES JAPANESE SOCIETY OVERLOOK RACISM?), vou terminar de comentar a matéria do Dia a Dia e volto para falar das três razões que Yoshikata Shimoji elencou.

Muito bem, a pesquisa sobre microagressões entrevistou 448 pessoas online entre março e abril, 90% dos entrevistados com idade entre 18 e 39 anos.  Segundo a matéria, "Cerca de 60% dos entrevistados que relataram microagressões disseram que foram questionados sobre sua identidade japonesa e frequentemente perguntados de onde eles são. Cerca de 30% relatou já ter se sentido menosprezado por suas raízes estrangeiras e 15% disse que já foi interrogado pela polícia na rua.  Além das microagressões, cerca de 68% dos entrevistados disseram ter sofrido bullying e discriminação devido à sua identidade."

Indo para o outro artigo, o escrito por Yoshikata Shimoji, ele comenta levantamentos que apontam as dificuldades sofridas por estrangeiros no país, como conseguir emprego ou alugar um imóvel.  Mesmo com evidências levantadas inclusive por órgãos ligados pelo governo, Yoshitaka aponta três razões principais para o racismo prevalente no Japão, primeiro,  a posição oficial do governo japonês nega a própria existência de discriminação racial; segundo, nos métodos que o governo japonês utiliza para realizar o seu censo, levando em consideração somente a nacionalidade, sem levar em conta questões raciais ou étnicas; e, terceiro, o “mito da etnia única” propagado pelos políticos japoneses, que ignora as minorias do próprio país, como os Ainu e o artigo inclui inclusive as pessoas que se comunicam em língua de sinais.  E  vou citar o último parágrafo do artigo, porque ele é muito importante:

"Embora este artigo se concentre principalmente em questões da esfera política, outros sectores, como a educação e os meios de comunicação social, também desempenham um papel no silenciamento da realidade do racismo no país. Para ultrapassar esta ficção, temos de aceitar que o Japão é racialmente diverso e reconhecer que o povo japonês pratica discriminação contra estrangeiros e outros japoneses. A partir daqui, nós, como sociedade, devemos estabelecer leis e regulamentos que combatam a discriminação racial. Além disso, devemos prestar atenção às experiências vividas por cada indivíduo para compreender como a discriminação racial afeta o seu quotidiano e resistir ao impulso de minimizar ou silenciar as suas experiências."

Veja, há quem não consiga identificar essas microagressões, que são expressões de racismo e/ou xenofobia, porque elas são sutis ou por estarem acostumadas em outros países com ações explícitas e um risco de vida constante.  Por exemplo, estava assistindo a um vídeo de uma importante influencer trans brasileira e ela estava no Japão e conversou com uma amiga, também trans, residente no país.  A mulher pontuou o quanto é seguro ser trans no Japão e como se sente aceita, ou, pelo menos, não incomodada.  

Se a gente tomar somente esse vídeo, link aqui, fica parecendo que o mundo da pesquisa e o vivido por aquela mulher trans são distintos.  Na verdade, há nuances.  Quem cresceu como maioria, pertencendo a um grupo privilegiado em determinado país vai sentir a discriminação, por menor que seja, já quem sempre esteve em perigo, a sutileza dos japoneses vai parecer aceitação.  Enfim, espero ter deixado claro o meu ponto.

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