quarta-feira, 24 de julho de 2024

E a próxima temporada será a do Benedict + Resenha do Livro Um perfeito cavalheiro (An Offer From a Gentleman)

Ontem, a surpresa do dia foi um pequeno vídeo anunciando que a próxima temporada de Bridgerton.  Como muita gente torcia, será a vez de Benedict, o segundo filho mais velho e que cedeu espaço para Colin e Penelope na terceira temporada da série, que eu ainda não terminei de resenhar, mas farei antes do final das minhas férias (*Está acabando...*).  Enfim, segue o vídeo:

Como eu li o terceiro livro da série, Um perfeito cavalheiro (An Offer From a Gentleman) e gostei bastante, queria deixar alguns comentários sobre ele.  Pelos dois primeiros livros fiquei com uma impressão ruim em relação aos livros da Julia Quinn.  A história do casamento forçado, situações de abuso sexual ignoradas, uma informações estranhas sem que fossem rebatidas (*mulheres grávidas não podem cavalgar*) e uns anacronismos bem bestas (*Anthony e seu problema com cor de rosa*), são exemplos.  Citei os livros em mais de uma das minhas resenhas de Bridgerton, que tem tag no blog, então, ficou fácil achar tudo o que eu escrevi sobre a serie.  Eu não leria mais nada, mas fiquei tentada e fui atrás do livro 3 e do livro 4.  Até olhei o da Francesca, mas só por alto mesmo.

Enfim, o livro três e o quatro são divertidos, são basicamente romances Harlequin, ou Avon, dá na mesma, tudo saia pela Nova Cultural no Brasil, bem escritos e simpáticos.  Sim, romance de banca, produção em série, tipo mangá e romances de guerra ou faroeste, que eram voltados para o público feminino.  O fato de, pelo menos aqui no Brasil, terem promovido esse tipo de literatura popular à material de livraria para cobrar mais caro e fazer com que algumas pessoas não torçam o nariz, não muda sua origem.  Muito bem, o volume do Benedict reconta a história de Cinderela e a coloca no contexto da Regência Britânica com suas questões de classe social, legitimidade e bastardia.

An Offer from a Gentleman (*e o título original é importante na história*) tem momentos românticos, dramáticos, divertidos e eróticos, também, porque isso não pode faltar nos modernos romances populares para mulheres.  Apesar da mocinha e do mocinho não estarem em posição de igualdade, e isso no que se refere à classe social, que fique claro, porque mulheres e homens não estavam equiparados no período histórico que a Julia Quinn retrata, Sophie, este é o nome de nossa heroína, não se deixa intimidar e tem traços de personalidade e caráter bem marcantes.  Mas vamos deixa organizar as coisas! Como começa a história?

Sophie Beckett é a filha bastarda de um conde.  Sua mãe morreu no parto e sua avó entrega a menina ao pai quando ela tem três anos.  O conde de Penwood nunca legitimou Sophie, para todos os efeitos, ela era a filha órfã de um amigo ou parente distante, que ele acolhera sob sua tutela.  Sophie recebeu uma educação esmerada, mas não teve amor do pai.  Quando o conde se casa, sua nova esposa, Araminta, traz consigo duas filhas de um primeiro casamento. A condessa não desejava Sophie convivendo com suas filhas, mas o conde impõe que menina continue recebendo as mesmas lições, só que o conde morre quando a jovem tem 16 anos e ela termina sendo reduzida a condição de criada, na verdade, menos que isso, porque criadas recebem salários e tem dias de folga e ela não tinha nada.  Araminta, sua madrasta, a odeia.  Mais tarde retornarei a isso.

Fonte: @rafafinhass

A vida de Sophie era de humilhações e violências, mas ela, às vezes,  sonhava que as coisas poderiam ser diferentes.  Ela lê a coluna de Lady Whistledown e deseja poder ir ao último baile de máscaras que será oferecido pela Viscondessa viúva em sua despedida da grande casa dos Bridgerton, afinal, seu filho Anthony e sua esposa deveriam morar lá.  Com a ajuda de uma antiga criada da casa, Sophie é vestida com roupas que pertenceram a sua avó.  Como o baile era à fantasia, também, uma roupa absolutamente fora de moda não seria um problema.  O cocheiro leva a jovem às escondidas até o baile e ela entra de penetra, mas tem que ir embora até a meia noite.

Benedict Bridgerton estava no baile promovido pela mãe e fugindo da pressão para dançar com wallflowers (*como Penelope*), que ficavam nos cantos do salão, e moças que a viscondessa considerasse candidatas a noiva.  Ele não quer se casar, ele nem queria estar na festa, mas eis que aparece uma bela dama com um vestido prateado e sua atenção é totalmente capturada por ela.  Ele a convida para dançar e se surpreende em saber que a moça não sabe como fazer.  Na verdade, ele fica surpreso da moça não saber quem ele é e fica fascinado com a genuína alegria que emana dela.  Sophie está feliz, pelo menos por algumas horas ela se dará esse direito.

A identidade de Benedict é revelada, claro, a festa era na casa dele e Sophie fica um tanto atordoada.  Ela lera sobre ele nas colunas de Lady Whistledown. Mesmo contra o que seria considerado decente, Benedict leva a jovem para um dos terraços privados da casa e começa a lhe ensinar a dançar.  Na conversa entre os dois, ele tenta tirar informações da jovem e já se imagina indo à casa dela no dia seguinte, mas ela é lacônica e misteriosa.  Teria ela ido escondida ao baile?  Seria jovem demais?  Quem era a sua família?  Ela morava em Londres ou viera de outro lugar?  Ele tenta conseguir indícios de quem ela seria, mas em vão.

Eles dançam, eles se beijam, porque Sophie imagina que aquela é sua única oportunidade de estar com um homem como Benedict Bridgerton.  A interação entre os dois vai também além do que seria considerado decente, toca meia noite e ela foge deixando a luva para trás.  Ele até a teria alcançado, se Lady Danbury não o tivesse interceptado no caminho.

Com a luva em sua posse, ele vai até sua mãe para que ela identifique a qual família pertence.  Lady Bridgerton diz que é dos Penwood e que ela conheceu o antigo conde e outros membros da família.  A moça poderia ser uma das enteadas do falecido conde e Benedict vai até a casa  onde Sophie é mantida em regime de escravidão.  Ele interage com a condessa, uma mulher que não lhe desperta simpatia, sua mãe, aliás, já tinha sinalizado que ela não era boa pessoa, e as duas filhas.  Nenhuma delas é a dama mascarada.  Ele chega a ouvir o nome de Sophie, tida como uma criada displicente pela condessa viúva, e tem pena dela, mas não a vê.

Araminta, que já estava desconfiada que Sophie tinha feito algo de errado na noite anterior, porque um dos seus sapatos estava machucado ou sujo, enfim, junta os pontos e decide expulsar a jovem de casa.  Sophie era ingrata e estava sendo sustentada por ela desde que completara 20 anos e terminará o prazo no testamento de seu marido para que ela cuidasse da moça, ou perderia parte do dinheiro que lhe cabia.  Antes de mandá-la embora, porém, impõe uma tarefa impossível para a moça, limpar todos os sapatos até o amanhecer, e a trança no closet.  Sophie fica desesperada.  O que seria dela?  Desesperada, Sophie rouba um par de adereços de sapatos de Araminta como uma pequena paga por tudo que passara.  Ela os venderia.  Antes do amanhecer, uma das filhas da madrasta, a única que lhe mostrava alguma simpatia, a liberta.

Benedict passou dois anos sonhando com a dama mascarada, procurando por ela, até acreditar que era tudo em vão.  Até que, em uma noite, ele salva uma jovem criada de três abusadores bêbados.  Um deles era o filho do patrão da jovem que se apresenta como Sophie Beckett.  Depois de enfrentar o sujeito e dois amigos bêbados, ele leva Sophie embora e promete lhe arrumar um emprego na casa de sua mãe.  Eles estão no interior da Inglaterra e Benedict a leva para a casa que mantém no campo.  No caminho, são pegos por uma tempestade.  O rapaz, que se recuperava de uma doença, tem uma recaída e Sophie, que desejava fugir o mais rápido possível, acaba ficando cuidando dele.  

Ela se sente aliviada e frustrada ao mesmo tempo, afinal, ele não conseguiu descobrir sua identidade.  Mas como poderia?  Passaram-se dois anos, ela estava com o cabelo empoado, além disso, teve que vender suas madeixas para um fazedor de perucas, e tinha emagrecido.  Na casa da madrasta, os criados que a conheciam desde pequena lhe davam mais comida (*mesmo que às escondidas*) do que ela recebia dos patrões atuais.  Conforme Benedict vai melhorando, ele começa a se apaixonar pela criada, eles conversam, eles tomam chá juntos, ela é muito mais educada do que ele imaginava que uma criada seria (*e ela tem que inventar mentiras para justificar*).  

Benedict sente culpa por se interessar por Sophie, por sentir desejo por ela, afinal, ele ainda sonhava em casar com a moça mascarada, ela, sim, era da mesma classe social que ele. Ao beijar a jovem, ele sente algo estranho, mas não consegue imaginar que sejam a mesma mulher. E Sophie quer fugir, porque sabe que não poderá ter nada com aquele homem.  Mas, depois do incidente do lago, quando a moça é surpreendida o espiando enquanto se banha (*e ele se meteu na água fria para aplacar sua luxúria*), ele lhe faz a oferta que ela não poderia aceitar jamais, se tornar sua concubina.  Percebem que o título original é importante?  "Uma oferta/proposta de um cavalheiro".  Pararei a descrição minuciosa aqui, estou no capítulo 8, acho.

Muitos homens ricos tinham concubinas, não vou usar o termo amante como tradução para "mistress", porque o sujeito montava casa para a mulher e a sustentava integralmente por toda a vida, ou enquanto lhe fosse conveniente.  Ter uma concubina não impedia um homem de se casar, mas poderia significar que os filhos e filhas nascidos daquela relação nunca seriam legitimados.  Sophie não deseja isso para nenhuma criança, muito menos par um filho seu.  E ela vai resistir à proposta de Benedict, mesmo que ele seja insistente em um nível autoritário, e que ela sinta desejo por ele, também.  E a ideia de que uma mulher sente desejo, que isso é normal, que podemos gostar de sexo é importante nesse tipo de literatura, pelo menos nos seus filões mais importantes.


Sophie, quase que à força, termina trabalhando para Lady Bridgerton e sendo dama de companhia de Eloise, Fancesca e Hyacinth.  Ser tão bem tratada a deixa surpresa, observar uma família que não é disfuncional, faz com que suas lembranças de dias ruins se tornem mais vívidas. E Benedict piora as coisas indo visitar com frequência a mãe.  Nesse estágio da série, Colin e Benedict tem suas próprias casas de solteiro e Gregory, o caçula, está na universidade.  Eloise continua enrolando para se casar e Francesca, diferentemente da série da Netflix, quer aproveitar a temporada e casar quando lhe convier.

Nessas visitas de Benedict, ele sempre faz investidas e tenta convencer Sophie.  Ele pode ser gentil, ele pode ser inconveniente, mas não desiste.  Dentro dele há algo que lhe empurra para a ideia do casamento com a moça, afinal, ele acredita amá-la e ela está ali, não é uma criatura de sonho, mas ele imagina que seria algo impossível.  Alguém de sua posição não pode se casar com uma criada.  Quem ajuda a desatar o primeiro nó é Lady Bridgerton.  Esqueça a mãe meio mosca morta da série, neste livro, ela luta pela felicidade do filho como uma leoa.

Lady Bridgerton diz, bem lá no início do livro, que dá mais importância ao caráter e à felicidade dos filhos do que à riqueza e posição.  Ao conhecer Sophie, ele já sabe o que está acontecendo, ela consegue ler os sentimentos do filho.  Com a convivência, ela passa a gostar da moça.  O que ela diz para Benedict é que eles teriam que pagar algum preço pelo seu casamento.  Não poderiam frequentar a alta sociedade, teriam, muito provavelmente, que morar no interior.  Mas isso, se ela fosse uma criada.  Sophie, eles descobrem, é uma bastarda não legitimada.  

O problema seria maior, vejam, não por ter nascido fora do casamento, até alguns dos filhos do Rei George III tinham vários bastardos, mas essa situação de ilegalidade.  Por fim, Sophie termina cedendo e tem lá uma noite de sexo com Benedict.  Na série da Netflix, colocam Penelope e Colin fazendo amor em um sofá, mas, nos livros, são Benedict e Sophie.  É uma sequência bonita, não tão erótica quanto a do lago, mas tem seu calor, também.  Sophie decide fazer algo que tinha jurado que não faria, mas ela queria viver este momento com o homem que amava.  E assim foi.  Só que, no dia seguinte, quando Benedict acredita que venceu e que a moça aceitou ser sua concubina, ela diz que não é nada daquilo.  Ele fica ofendidíssimo (*com razão, se pensarmos pelo ledo dele*) e termina tendo suas memórias destravadas, o que torna tudo pior.

O resultado é que ele confronta Sophie e é injusto com ela, porque a moça não tinha como fazer muito diferente.  Nesta altura, a moça também descobre que sua madrasta veio morar na casa da frente dos Bridgertons.  Resultado, ela tem que partir.  Só que se Sophie descobriu, a madrasta também o fez e ela odeia a moça com todas as suas forças.  Resultado?  Nossa mocinha é sequestrada e termina na cadeia acusa da de roubar os clipes de sapatos, mas algo mais valioso, também, a aliança de casamento da madrasta.  

Sophie é colocada em uma cela fétida e tem dois destinos diante de si, a morte, ou a deportação para a Austrália.  Araminta quer que ela sofra lentamente, quer que ela seja mandada para a Austrália.  Para quem não sabe, a colonização britânica na Austrália começou principalmente com colônias penais.  E ser enviado para o outro lado do mundo, uma viagem longuíssima em condições miseráveis já deveria causar a morte de muita gente.  Só para se ter uma ideia "Entre 1788 e 1868, cerca de 162 mil condenados foram transportados da Grã-Bretanha e da Irlanda para várias colônias penais na Austrália.". (FONTE)  Sophie estava perdendo a esperança, mas eis que teremos o barraco na cadeia, que é a melhor parte do livro.

Depois de descobrir a identidade de Sophie e já tendo sido rejeitado antes várias vezes, Benedict está arrasado.  Deseja esquecer tudo, se embriagar até perder a consciência.  Colin chega em sua casa e eles decidem praticar esgrima. No livro, é dito que as duas coisas que Benedict mais gosta é esgrimir e desenhar/pintar, algo que ele escondia da família. Ele também não gosta muito de farras e orgias, ou não mais, ele já está com 30 anos. Se você viu a série, sabe o quanto mudaram a personagem aqui. Eis que, durante o exercício, Colin lhe dá alguns conselhos e ele decide chutar a sua vida na alta sociedade e ir atrás de Sophie, casar-se com ela DE VERDADE.  Só que ela se foi e sua mãe não sabe onde a moça está.

No meio da confusão, chegam Francesca e Hyacinth com a última coluna de Lady Whistledown (*Penelope reconheceu Sophie como a dama mascarada*).  Sophie foi presa.  Benedict diz que vai até lá, a mãe, diz que faz junto e ela não aceita um "não" como resposta.  As meninas, pro outro lado, tem que ficar.  E, na cadeia, temos um barraco fenomenal que se não estiver na série da Netflix será lamentável.  Coisa das boas novelas de Walcyr Carrasco.  Benedict quase estrangulou Araminta?  Sim, mas foi quase e sei que isso seria cortado da série.

Quem salva de verdade Sophie é Posy, que assume que roubou os clipes de sapato e que a aliança da mãe está guardada em casa, junto com o testamento do conde, onde ele deixou estabelecido que Sophie teria direito a um dote.  A revelação faz com que Lady Bridgerton ameace com seus advogados (*no plural, porque gente rica nunca tem um advogado só*) a madrasta de Sophie.  Antes da revelação, a mãe de Benedict já tinha dito que iria queimar Araminta diante da boa sociedade, a condessa viúva diz que é superior em titulação de nobreza, mas Violet Bridgerton diz ser mais popular (*e rica*).  Agora, com a informação de Posy, ela tem a lei para jogar em cima da outra.

O barraco é maior, eu só falei de algumas partes.  O resultado é um acordo pelo qual Araminta iria confirmar que Sophie era filha de um primo distante do conde e, portanto, não seria bastarda.  Isso bastaria para dar para a moça a legitimidade necessária para que o casamento com um Bridgerton não fosse um escândalo.  O resto do livro é deixo para vocês, o ápice é a altercação na cadeia.

Jovem mulher passando roupa, cerca de 1800.  
Louis-Léopold Boilly (1761–1845)

Dentro de An Offer from a Gentleman temos questões de gênero que se entrelaçam com questões de classe.  Quando está na casa de campo de Benedict, que ele chama de "My Cottage", mas era muito maior do que isso.  Sophie fala tanto para ele quanto para a governanta que ela só pode ficar sozinha com o rapaz, porque ela é uma criada.  Benedict pensa diversas vezes em o quanto as criadas, ou a criadagem em geral era invisível.  Ele se surpreende com certos pudores de Sophie, afinal, criadas entravam sem grande problema em todos os cômodos de uma casa, logo, a nudez masculina não deveria ser um problema para ela.  Poderia não ser, se ela não estivesse apaixonada, mas o que está em questão é que, para as classes aristocráticas e para a burguesia, criados devem trabalhar e não são vistos, em muitos casos, sequer como humanos.

O mocinho do livro é menos irritante, muito menos, do que o Duque e Anthony, ele é capaz de se arrepender das coisas que faz com sinceridade e sabe o significado da palavra consentimento. Quer dizer, ele sabe quando a questão é sexo, mas não na relação de proteção que impõe à Sophie.  Ela a salva do estupro principalmente por ver as irmãs em toda jovem mulher em perigo.  Agora, quando ela quer ir embora, o que obviamente estragaria todo o progresso da história, ele a ameaça, diz que vai acusá-la de roubo e assumir sua custódia, porque precisa "salvá-la de si mesma".  Além de saber o que é melhor para ela por ser homem, ele é, também, um aristocrata e ela é somente uma criada.  Submissão é o mínimo esperado.  

Durante o barraco na prisão, vem à tona uma questão importante, mas que a autora não desenvolve. Araminta odeia Sophie por ela ser amada pelo marido.  Ela se sentia menos importante para o antigo conde do que a menina.  Fora isso, segundo a vilã, o marido a culpava por não ter lhe dado filhos.  Então, ela invejava a mãe de Sophie, a quem se referia como prostituta, por ter conseguido.  A menina era um sinal de seu fracasso.  Bem, deveria ser um sinal do fracasso do conde de Penwood, mas, no fim das contas, o peso da (*suposta*) esterilidade recaía sobre as mulheres.  Como Araminta é vilã, e ama mais uma filha do que a outra, e tratou Sophie como escrava, além de roubar-lhe seu dinheiro, a autora não vai mexer com isso aqui.  Mas lembrei da cena do live action de Cinderela no qual a madrasta ouve o pai da mocinha dizendo que ela é a pessoa que ele mais ama na vida, ou algo assim.  A madrasta guardou com rancor essa informação.  O problema é que o pai de Sophie nunca conseguiu colocar em palavras seu amor e a deixou ilegítima.

Prometo que estou terminando e nem sei se ainda existe alguém lendo, porque ficou muito longo.  Muito bem, a próxima temporada de Bridgerton será de Benedict.  Há um boato de que a mãe de Cressida é Araminta.  Será?  É esperar para ver.  Benedict, na última temporada, foi confirmado como bissexual, antes, não estava claro.  Eu imaginava que Sophie poderia ser uma mulher trans, mas como Francesca foi escolhida para representar o casal diverso, imagino que Sophie seja uma mulher cis na série.


Espero que não escalem uma atriz negra para o papel, porque mesmo sendo Bridgerton história alternativa, colocar uma pessoa negra como criada e passando pela pressão que Benedict colocou sobre ela pode, sim, chamar sentidos ligados à escravidão.  Discuti isso nas resenhas de Ana Bolena do Channel 4 (*tem no Globoplay*).  Sophie será branca?  Oriental, talvez.  Não sei.  Será uma mulher cis ou trans?  Vamos ver por quanto tempo irão segurar a identidade da atriz que fará o papel.  De qualquer forma, eu acredito que Sophie seja uma das mocinhas mais amadas da série de livros.

Uma saída muito clichê para explorar o fato de Benedict ser bissexual seria colocar Sophie se travestindo de homem na sua versão criada.  Poderiam justificar isso como uma forma de enganar a madrasta, ou fugir de seu passado. Aí, teríamos aquela situação Mulan em que o mocinho se apaixona por um rapaz sem saber que é uma moça.  O fato é que dificilmente vão seguir o livro de perto.  Podem esquecer isso!  O que eu espero é que tenhamos pelo menos três coisas na adaptação: o baile, o lago e o barraco na cadeia.  Aliás, deem para Violet Bridgerton a chance de ser uma mãe leoa, porque, nos livros, ela é muito mais interessante. 

Antes do fim, aquela cena constrangedora em que Colin diz que não se casaria com Penelope está neste livro.  Benedict, Anthony e Colin estão entrando na casa da mãe e Penelope está saindo e ouve a ofensa.  Foi muito mais impactante do que na série.  Os irmãos ficam mortificados e Benedict e Anthony sentem vergonha por Colin.  Penelope guardou no fundo do coração a ofensa.  No final do livro, depois de um novo salto no tempo, Lady Whistledown está cansada e se pergunta se não é a hora de aposentar sua pena.  Eu realmente vejo como uma escolha ruim terem adiantado o livro de Penelope e Colin.  Agora, se nada mudar, é esperar até 2026 pela quarta temporada.  É isso.  O livro é divertido.

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