Hoje, foi divulgada a notícia de que a quadrinista, artista, editora e historiadora feminista, militante dos direitos das mulheres e da comunidade LGBTQ+, Trina Robbins, partiu. Havia um zum-zum-zum no Twitter e na página do Facebook da autora, mas a confirmação veio depois das 21h, no horário do Brasil. Nascida em 1938, ela começou produzindo quadrinhos underground na década de 1960, enquanto se dividia com sua loja de roupas e a cena musical em Nova York. Em 1969, Trina Robbins fez o design do famoso traje de Vampirella para Frank Frazetta no nº1 da revista da personagem.
Em 1970, Robbins começou a trabalhar em São Francisco no jornal underground feminista It Ain't Me, Babe, do qual produziu o one-shot It Ain't Me, Babe Comix com Barbara Mendes, a primeira história em quadrinhos norte americana feita somente por mulheres. Essa experiência ajudou na formação do coletivo responsável pelo Wimmen's Comix, que durou vinte anos. Sua primeira tira para a Wimmen's Comix, Sandy Comes Out, foi a primeira tira em quadrinhos a apresentar uma personagem abertamente lésbica nos quadrinhos norte-americanos. Ainda nos anos 1970, Robbins colaborou com a revista Ah! Nana, que era feita somente por mulheres quadrinistas.
Nos anos 1980, ela desenhou a personagem Misty para a Marvel e foi a primeira mulher a desenhar a Mulher Maravilha para a DC. Nos anos 1990, ela voltaria a desenhar a personagem. Em 1990, Robbins editou e contribuiu para Choices: A Pro-Choice Benefit Comic Anthology para a National Organization for Women, publicado sob o selo da própria Robbins, chamado Angry Isis Press. No ano 2000, ela criou a série GoGirl!, com super-heroínas para meninas.
Mas eu conheci o trabalho da Trina Robbins através dos seus livros de herstory, isto é, uma história escrita a partir de uma perspectiva feminista e enfatizando o papel das mulheres, ou contada do ponto de vista de uma mulher. Robbins dedicou muito do seu tempo a tentar rastrear a presença de mulheres quadrinistas nos Estados Unidos, assim como, discutir as super-heroínas e os quadrinhos voltados para o público feminino. Dentre os seus livros estão The Flapper Queens, Women Cartoonists Of The Jazz Age, Gladys Parker: A Life In Comics, A Passion For Fashion, A Century of Women Cartoonists, The Great Women Superheroes, From Girls to Grrrlz, The Great Women Cartoonists, Pretty In Ink. Eu tenho vários deles, foi lendo Trina Robbins que eu comecei a me situar em várias discussões sobre a história dos quadrinhos nos Estados Unidos e como se deu a exclusão das mulheres. Robbins ajudou a redescobrir mais de uma quadrinista, como Lily Renée. Nenhum dos livros dela foi publicado no Brasil.
Suas últimas duas publicações foram Dauntless Dames: High-Heeled Heroes of the Comic Strips, sobre as mulheres protagonistas dos quadrinhos entre os anos 1920 e a 2ª Guerra Mundial, e Won't Back Down: An Anthology of Pro-Choice Comics, saído ano passado como uma reação da derrubada da Roe vs Wade pela Suprema Corte. Robbins pertencia à geração de feministas que lutou pelo direito de aborto nos Estados Unidos, que se beneficiou da decisão da Suprema Corte em 1973 e deve ter ficado muito arrasada com a retirada desse direito.
Trina Robbins esteve no Brasil mais de uma vez e eu tive o prazer de conhecê-la em 2015, nas 3as Jornadas em Histórias em Quadrinhos da USP. Eu fiquei muito sem graça, afinal, eu tinah uma grande admiração por ela, mas a Trina era tão simpática e acolhedora, tão empolgada e gentil, que era impossível não querer interagir com ela. Até cheguei a traduzir uma discussão que estava rolando em uma sessão de comunicações e a Trina ficou indignada ao descobrir que o sujeito estava fazendo mansplaining com a moça que estava apresentando o trabalho.
Enfim, é uma grande perda e não comentei nem a metade das coisas que Robbins fez. Terminei encontrando, mexendo no blog, um artigo de 2004 do New York Times falando da importância das meninas para a explosão do mangá nos EUA. Trina era uma das entrevistadas, Talvez, ali eu tenha lido sobre ela pela primeira vez, não tenho mesmo certeza. Rest in Power, Trina Robbins. Você foi um cometa que deixou um rastro de luz nesse mundo.
1 pessoas comentaram:
Eu tive o prazer de encontrar a Trina em uma sessão de autógrafos e palestra em uma biblioteca de Botafogo em 2016. Ela foi super simpática e foi ótimo conversar com ela durante esse dia.
Rest in Power, Trina.
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