domingo, 7 de abril de 2024

O que é o Movimento 4B na Coreia do Sul e por que ele foi responsabilizado pela baixa taxa de natalidade do país? (Artigo traduzido)

Hoje, um dos perfis feministas que sigo no Twitter repostou um vídeo de um homem acusando o movimento 4B de ser misógino.  Eu não sabia o que era movimento 4B e fui procurar.  Acabei achando um artigo do dia 5 de abril explicando o que é o 4B  e o traduzi.  É um movimento iniciado por feministas coreanas em 2016.  A maioria do que eu publico sobre a Coreia do Sul, ou é sobre mangás adaptados para dorama, ou sobre a questão das "mulheres do conforto", mas tenho três posts comentando como ser mulher é complicado na Coreia: Jovem Coreana é atacada por ter cabelos curtos, Camisa feminista provoca demissão de atriz coreanaCoreana ganha três medalhas para o seu país, mas é ostracizada por usar cabelo curto.

Conheço pouco de Coreia do Sul, mas sei como a estrutura do país é patriarcal e há uma onda de misoginia que tenta sufocar ainda mais as mulheres.  O 4B é uma reação a isso e, como a Coreia do Sul se tornou o país com a menor taxa de natalidade do mundo, há quem culpe o 4B por isso.  Olha, desde os meus vinte e poucos anos acompanho as discussões sobre queda de natalidade naquela região do mundo, o que quer dizer que a coisa vinha se processando desde o final dos anos 1990, mas vamos culpar as feministas e, não, o capitalismo e os homens velhos que administram nações como Japão e Coreia do Sul e não conseguem entender que é necessário que se criem políticas de apoio às famílias e às mulheres em particular.  Aqui, um artigo novinho sobre o tema.  Tem coisa no blog, mas procurei e não achei um artigo que traduzi anos atrás.

Jung Se-young e Baeck Ha-na são famosas no Youtube e fazem parte do movimento 4B.

Há algo no 4B que parece se remeter às ideias das feministas radicais da Segunda Onda Feminista e ao que se chama de lesbianismo político, o patriarcado é a raiz de todos os males e a heterossexualidade compulsória aprisiona as mulheres. E não tem a ver necessariamente com orientação sexual, mas criar laços emocionais com outras mulheres, abandonando a ideia de rivalidade que nos torna inimigas umas das outras, especialmente, quando o centro de nossas vidas são os homens. E acredito que as coreanas não chegaram a isso lendo  Marilyn Frye ou  Monique Wittig, mas pela experiência de opressão mesmo.   

Enfim, o artigo está abaixo, ele se chama What Is The 4B Movement In South Korea And Why Has It Been Blamed For The Country’s Low Birth Rate?.  Não mantive a estrutura do texto, porque juntei parágrafos e mudei o lugar das imagens, além de acrescentar mais uma.  Nas minhas andanças, achei mais três artigos sobre o B4, até melhores, mas já tinah feito a tradução.  Para quem quiser lê-los: A World Without Men The women of South Korea’s 4B movement aren’t fighting the patriarchy — they’re leaving it behind entirely. (2023), No sex, no babies: S.Korea's emerging feminists reject marriage (2020) e South Korea’s Feminist 4B Movement: An Explainer (2023).


O que é o Movimento 4B na Coreia do Sul e por que ele foi  responsabilizado pela baixa taxa de natalidade do país?

O movimento feminista viral defende que as mulheres rejeitem as normas de género, incluindo o casamento e a criação dos filhos, basicamente boicotando os homens em protesto contra a misoginia desenfreada do país.

Bryan Wong
05 de abril de 2024

O movimento feminista coreano 4B, que começou em 2019 no Twitter, está explodindo no TikTok.  Em suma, ele defende que as mulheres rejeitem as normas de género, incluindo o casamento e a criação dos filhos, basicamente boicotando os homens em protesto contra a misoginia desenfreada do país.

Iniciados pela autora Cho Nam-Joo, que cunhou o termo em seu romance de 2016 "Kim Jiyoung, Nascida em 1982", [1] os 4Bs representam quatro princípios [2]: “Bihon” (sem casamento heterossexual), “bichulsan” (sem parto), “biyeonae” (sem namorar homens) e “bisekseu” (sem relações sexuais heterossexuais).

O livro que detonou o movimento.

O movimento anteriormente obscuro foi recentemente colocado em destaque depois que as populares YouTubers Jung Se-young e Baeck Ha-na disseram através de seu canal SOLOdarity que o casamento era a “causa raiz do patriarcado”.  As duas também encorajaram as mulheres a rejeitar os deveres femininos tradicionais, como casar e criar os filhos. [3]

O movimento 4B então explodiu no TikTok depois que uma TikToker chamada Jeanie, que atende pelo nome denimchromosome, fez um discurso animado sobre isso em 17 de fevereiro. [4]  Ela disse que o movimento 4B é a resposta das mulheres à “desistência” dos homens, a quem ela se referiu como “f**king a******”, acrescentando que as mulheres serão “extintas”.

“A etnia coreana está prestes a desaparecer, e as mulheres coreanas estão literalmente tipo…”, acrescentou Jeanie enquanto levantava o dedo médio.

Desde então, o discurso de Jeanie obteve mais de 5,5 
milhões de visualizações e uma enxurrada de comentários.

O que ela queria dizer era que as mulheres coreanas estão cansadas da misoginia e, portanto, vão boicotar as relações heterossexuais e outras normas femininas.

Não é de surpreender que aqueles que são contra o movimento afirmem que o movimento 4B é a causa da baixa taxa de natalidade na Coreia.  A Coreia já detém o título de taxa de natalidade mais baixa do mundo e, em 2023, atingiu o mínimo histórico de apenas 0,78, em comparação com a média global de 2,3.  A taxa de natalidade de Singapura é de 0,93, também um mínimo histórico.

De acordo com um estudo sobre sentimentos anti-família na Coreia, 65% das mulheres entrevistadas não querem filhos.

Relatos da mídia também sugeriram que o movimento 4B é uma retaliação a incidentes recentes, incluindo assassinatos de mulheres de destaque, pornografia de vingança e crimes sexuais com “câmeras espiãs”.

O vídeo tem agora mais de 5,5 milhões de visualizações e milhares de comentários, principalmente de mulheres que apelam para que o movimento 4B vá além das costas da Coreia.

Houve até um caso na Coreia em que um homem que assassinou uma jovem num banheiro público alegou tê-lo feito porque ela o ignorou.  No entanto, a polícia não classificou isso como crime de ódio.

Os internautas divulgaram seus pensamentos on-line em outros sites, muitos dizendo que tal movimento estava para acontecer fazia muito tempo e é uma “resposta racional à cultura dominada pelos homens na Coreia”.

“Muito bem, Coreia! Tais movimentos deveriam ser normalizados para que as mulheres possam fazer as mesmas escolhas que os homens, sem medo de pressão ou reação, em vez de se conformarem às expectativas da sociedade”, escreveu um usuário.

No entanto, algumas blogueiras coreanas rejeitaram o movimento 4B como um exagero das ideologias ocidentais e representam uma parte muito pequena da população.


[1] O livro está disponível em português, o preço não é alto, foi publicado pela Intrínseca. Agradeço  à Irla por ter me corrigido e ela ainda me informou que há um filme baseado no livro.
[2] 4 Bi = 4 Nãos.  
[3] Demorei um tempo para achar esse canal do Youtube.  Apesar da sua importância, tem bem menos de 50 mil inscritos e acredito que para derrubar a natalidade da Coreia do Sul seja necessário mais do que isso.  E, pelo que vi, é tudo em coreano sem legendas mesmo. Para quem quiser saber mais sobre de Jung Se-young e Baeck Ha-na, tem esta matéria aqui.
[4] Achei o canal da Jeanie, ele também não é tão grande, mas deve haver vários outros postando coisas sobre o 4B.  Aliás, o canal dela não é sobre o movimento.

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