Bethany Antonia consegue passar a vivacidade de Marianne. Nada é dito sobre a idade das irmãs. Mas mesmo com um elenco muito velho, ela parece jovem o suficiente para não parecer falsa com seus rasgos românticos. Se Elinor é passivo-agressiva, Marianne é explosiva. Em uma sequência de um jantar na casa da Srª Ferrars, mãe de Fanny e Edward, ela levanta intempestivamente da mesa e dá uma resposta bem atravessada para a velha. Marianne faria isso e pagaria para ver. É uma cena possível. Aliás, essa sequência do jantar, feito sob medida para humilhar as irmãs Dashwood, está na adaptação de 2008, mas, curiosamente, foi cortado do DVD lançado no Brasil. Coloquei a sequência no Youtube, mas foi bloqueada.
Dado o tamanho do filme, não há tanto tempo de tela para Willoughby e Marianne, mas todas as cenas foram muito bem executadas. Há inclusive a sequência na qual o moço dá um cavalo, que Elinor diz que elas não tem como sustentar, para Marianne. O que eu achei uma escolha ruim foi trocarem o presente de Marianne para Willoughby. Ela lhe deu uma mecha de seu cabelo, algo muito íntimo, até escandaloso, por um lenço. Agora, a cena do encontro de Willoughby e Marianne foi adaptada de forma bem engenhosa. Margaret, que não foi cortada do filme e tem ótimas cenas, desce correndo a colina achando que o cavaleiro é o Coronel Brandon, mas é Willoughby, Marianne grita por ela e corre atrás só para levar um tombo.
Uma ótima adição ao filme, só para ilustrar como fizeram muito em tão pouco tempo, foi colocarem Edward enfrentando a mãe. Sabe o que sabemos pela personagem contando o que aconteceu? Pois bem, Edward enfrenta a matriarca, é deserdado, vemos tudo isso. E ele reafirma seu compromisso, porque o amor era para Elinor, com Lucy Steele, a atriz que a interpreta, usa o olhar e a expressão corporal o quanto estava decepcionada, afinal, ela queria o Edward Ferras herdeiro, não o rapaz sem um centavo. A cena foi ótima mesmo. E, no caso de Lucy, é mostrado como Robert flerta com ela em uma cena anterior. Rápido, mas eficaz para o entendimento do que virá depois.
Falando em Edward-Lucy-Elinor e a Srª Ferrars, alguns problemas do roteiro. Não fica claro que Edward queria ser pastor. É dito que o Cel. Brandon lhe oferece uma casa, mas qual seria sua ocupação? Quando Lucy revela seu noivado secreto para Elinor, dentro da dinâmica do filme, é para feri-la, a golpista vê a jovem como uma rival. O que me pareceu ruim foi colocarem Elinor visivelmente impactada. Cabia ali, até para honrar a personagem, que ela mostrasse com os olhos que estava sofrendo, mas não que ficasse tão emocionada.
Quanto à Sr.ª Ferrars, ela é descrita como madrasta de Edward e Robert (*um traste, mas, pela primeira vez, interpretado por um ator bonito*) e Fanny como meia-irmã dos dois. Fica difícil entender a ordem de nascimento dos três e por qual motivo uma madrasta seria tão protetora dos enteados. O filme é color blind e, até este momento, a cor das personagens era irrelevante. Serei franca, prefiro esquecer esse detalhe do roteiro e imaginar que a Sr.ª Ferrars é mãe mesmo, como no livro, porque as coisas voltam a fazer sentido e transformam o filme no melhor color blind que eu já vi.
Outras mudanças, algumas recorrentes, foram. Cortaram a esposa de Sir John, no filme, ele é viúvo e vive com a sogra somente. Já fizeram isso antes. Martina Laird e Edward Bennet estão maravilhosos como os barulhentos e mexeriqueiros, Sir John e Sr.ª Jennings. Anna Crichlow ficou ótima como a irritante, grosseira e tagarela irmão de Lucy Steele. As duas irmãs, aliás, foram transformadas de sobrinhas de Sr.ª Jennings em primas distantes.
A outra filha de Jennings e seu genro foram cortados do filme. O motivo foi economia de tempo, mas, também, uma tentativa desnecessária, de reabilitar parcialmente o irmão mais velho das Dashwood. John Dashwood oferece Norland Park para as irmãs repousarem quando elas estão voltando de Londres para Barton Cottage. É quando Marianne está com o coração partido por causa de Willoughby. A ideia, e esta, sim, funcionou, era de mostrar que as irmãs compreenderam, que ali não era mais o seu lugar.
E, bem, tivemos dois beijos nesse filme. Parece que a cota Hallmark é um só, mas o Cel. Brandon beijou Marianne, quando ela visita sua propriedade (Delaford) e Edward e Elinor fazem o mesmo. A cena em que o moço finalmente se declara foi carregada de emoção e as irmãs e a mãe da moça assistindo e vibrando foi um detalhe a mais para enriquecer o momento. Gostei bastante, apesar de achar o ator que faz Edward muito velho, neste caso visivelmente passado da idade da personagem que, como expliquei na resenha do filme de 1995, precisa ser e/ou parecer jovem.
Fora isso, fiquei esperando o ator Dan Jeannotte aparecer barbeado, porque, enfim, aquela barba por fazer me deu nos nervos. Ele chegando de viagem, OK, mas o tempo inteiro? E, antes do fim, elogiei a atriz que faz a Sr.ª Ferras, mas Carlyss Peer está perfeita como Fanny. Pérfida, avarenta e terrivelmente elegante. Aliás, o figurino me pareceu muito bonito, talvez, até demais, porque colocou a maioria das pessoas ricamente vestida quase o tempo todo. Se em Paging Mr. Darcy e no An American in Austen, muitas vezes as roupas parecessem desleixadas, ou mal cortadas, em Razão e Sensibilidade, tudo era de encher os olhos. As texturas dos tecidos, as cores.
Não sei realmente o quanto de rigor tivemos ali, mas como espetáculo, ficou lindo. Da primeira cena, a morte do pai, para a segunda, temos um salto no tempo de seis meses. A viúva continua de luto fechado, mas as moças, já aparecem em meio luto, seus vestido tem a cor preta. Essa marcação é importante, porque, em outras adaptações, a coisa passa batida. Já no final do filme, e a gente imagina uma passagem de um ano e meio pelo menos, é a Sr.ª Dashwood parece estar deixando o luto, usa cores escuras, mas não se veste mais totalmente de preto.
Outro detalhe importante, os homens apareceram mais de sapatos e calças curtas, do que costuma aparecer em filmes de época das últimas décadas. Só lamento que não colocaram o Cel. Brandon com um uniforme vermelho como no filme de 1995. Aquele homem ficaria lindo nele. E não entendi o bebezinho no final, ou, pensando bem, poderia ser da filha adotiva do Cel Brandon.
É isso. Vocês viram pelo tom do meu texto que eu realmente gostei do filme. Ele foi respeitoso com o material original, inovou em alguns pontos, assumiu-se como uma adaptação, isto é, sacrificou sequências e personagens para o bom andamento do roteiro e tem um elenco muito bom. Dar o protagonismo a um elenco negro, e os norte-americanos estão no mês da História Negra, justifica a escolha, mas somente mostra o quanto poderíamos ter mais obras assim sem recorrer à ideia capenga da história alternativa, como em Bridgerton. Razão & Sensibilidade do Hallmark vem se juntar às melhores adaptações de Jane Austen que eu já assisti. Recomendo muito.
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