Um anos do 08 de janeiro de 2023: Sem Anistia, Sem Perdão!

O Correio Braziliense é o jornal mais importante de Brasília, um ano atrás, a cidade teve o seu centro de poder devastado por gente disposta a derrubar a nossa frágil democracia e abrir caminho para a instalação de uma ditadura.  Mesmo que não se tivesse sustentado, muita gente poderia ter sido morta e muito mais destruição poderia ter sido feita.  Eu poderia não estar aqui, por exemplo, porque aos olhos de gente fanatizada, seria facilmente rotulada como comunista.  Aliás, eu havia sido avisada no ano anterior, 2022, que me acompanhavam na internet e que meu problema era passar muita credibilidade.  Não é fanfic minha, para os sujeitos que queriam tomar o poder, ou permanecer nele, até gente insignificante como eu poderia ser um problema.

Lembro que, no 8 de janeiro, passei a tarde vendo vídeos bobos no Tik Tok com a Júlia e só fui tomas conhecimento da desgraça quando minha mãe me avisou e a coisa já tinha escalado.  A partir daí, entrei naquele frenesi do saber mais.  Reinaldo de Azevedo entrou no ar, interrompendo suas férias, e cada novo pedaço de notícia, cada imagem aterradora, cada fragmento da conspiração, fazia crescer tanto o nojo e a indignação, quanto o medo do que poderia ter sido.  E, verdade seja dita, só não rolou porque o governo dos Estados Unidos avisou previamente que não iria ter golpe, ainda assim, tentaram.

Agora, eu discordo muito do que está na capa.  Nossa democracia não está mais forte, ela continua sob ataque.  Houve um manifesto de senadores contra os atos em memória do fracasso da tentativa de golpe, por exemplo.  A maioria dos financiadores e instigadores do golpe, que começou com estradas fechadas, gente em porta de quartel e os ataques no centro de Brasília em dezembro, além da tentativa frustrada de explodir o aeroporto da capital, continuam livres.  Alguns dando entrevista, outros com mandato político, e há a parcela da mídia que pede anistia e tenta diminuir tudo o que aconteceu.  Não podemos esquecer e não pode haver anistia.  A Democracia salvou-se por um fio, um fio mesmo.  E as eleições este ano podem confirmar que os grupos obscurantistas e autoritários continuam muito bem, obrigada. 

É preciso manter a indignação viva, é mais que necessário punir, com a dureza adequada os envolvidos.  Desde os grandes até os pequenos.  Eu sei que não vai acontecer, historicamente, quando há poderosos metidos em conspirações, sempre se opta pelo esquecimento.  Há quem já tenha certeza de que escapou e vai continuar andando por aí de cabeça erguida e arrotando republicanismo.  Infelizmente, somente uma grande pressão da sociedade civil poderia fazer com que esse quadro se revertesse, mas, segundo aponta uma pesquisa Quaest, não há muito clima para isso.  Se esqueceram mais de 700 mil mortos pela COVID, como lembrariam daquilo que, para alguns, foram só uns vidros quebrados?

O Três Poderes deveriam colocar em todas as mídias possíveis as imagens do 8 de janeiro, o preço pago para consertar tudo, as notícias dos dias que antecederam, as falas de personalidades coniventes.  Um bombardeio de informação e de imagens chocantes.  Isso seria um contraponto, mesmo que de eficácia limitada, contra a torrente de mensagens mentirosas que circulam em redes bolsonaristas, das igrejas evangélicas (que continuam contaminadas) e mesmo na grande imprensa até hoje.  E, para quem não me acredita, sugiro assistir a Coluna do Garrone direto do esgoto das redes da extrema-direita.  

Aliás, para quem não acredita nos planos de assassinato do Ministro Alexandre de Moraes, há vídeos falando disso no último programa e são anteriores à entrevista do ministro.  A destruição da Praça dos Três Poderes poderia ser conjugada com um massacre, se houvesse alguém por lá.  Eu não tenho nada a comemorar.  Eu lamento, inclusive os delírios dos vitoriosos, dos que acham que a História, esta entidade que parece andar na boca de todos os envolvidos, não vai vingar ninguém e temo pelo futuro.  O meu e o da minha filha, em especial.