Acabei de assistir Yubisaki to RenRen (ゆびさきと恋々), baseado no mangá de mesmo nome da dupla Suu Morishita. A série é conhecida, também, pelo seu subtítulo em inglês "A Sign of Affection" e o mangá está sendo publicado desde 2019 na revista Dessert. Está no volume 10 e as autoras não sinalizaram que caminha para o seu fim.
Minha resenha talvez seja muito impopular, porque apesar de ter achado a animação impecável e belíssima, delicada e de encher os olhos, certas coisas me incomodaram muito. Para quem não sabe, há uma resenha do iniciozinho do mangá, foi o que eu li e parei. Ao olhar o texto, achei pelo menos uma diferença, Yuki mora em uma república, o que reforça a sua autonomia, no anime, ela parece morar com a mãe, mas pode ser mal entendido mesmo. Talvez retome a leitura do começo para me situar melhor. Enfim, o primeiro episódio do anime segue de perto o primeiro capítulo do mangá acrescentando cenas.
A protagonista, Yuki, é deficiente auditiva, coloquei em algum texto que ela não ouvia e era muda, também, mas me corrigiram, não sei se ela ira falar em algum momento futuro. Yuki está na universidade e conhece Itsuomi, um aluno da mesma instituição, no metrô. Ela havia sido abordada por um estrangeiro que pedia informações e teve dificuldade de se comunicar com ele. Itsuomi vem em seu resgate. Ele orienta o turista e é gentil com Yuki. Quando compreende que ela tem deficiência auditiva, simplifica sua fala para que ela consiga ler confortavelmente os seus lábios.
Yuki se apaixona imediatamente por ele e reconhece o rapaz como alguém que está no mesmo clube de sua amiga, Rin. Ela pede ajuda para reencontrá-lo. Todo o primeiro episódio é contando como Yuki e Itsuomi se conhecem, se aproximam e terminam já quase namorados. Itsuomi também está interessado, ele é trilingue (Japonês-Inglês-alemão), tem interesse por idiomas, está estudando espanhol e chinês, mas não entende a língua de sinais e quer aprender, o que significa, claro, estar perto de Yuki. É rápido, é fofo, mas eu fiquei incomodíssima com algumas coisas. Muito mesmo.
Yuki usa aparelho, mas não ouve nada. Usar aparelho para quê então? A função dele é possibilitar que o usuário ouça os sons. Minha mãe, que está perdendo a audição, reclama que os sons são muito metálicos e se recusa a usar, mas Yuki deve ter nascido com a deficiência. OK. Mas ela não ouve nada com o aparelho. Nada. Isso é tão evidente que ela inclusive foi quase foi atropelada. Legal, Itsuomi a puxou, desculpa para contato físico, aquele momento em que a mocinha e o mocinho se tocam e que é tão lindinho, mas não faz sentido.
Ela usa aparelho que não serve para nada? E Yuki não fala, também? Ela é completamente muda? Quando escrevi isso em um texto, me corrigiram e já me explicaram que a mudez é, não raro, fruto da falta de audição e não uma condição congênita. Fora isso, Yuki tem dificuldade em ler lábios, acontece, tive alunos com deficiência auditiva leve ou mais severa, e a gente precisa olhar diretamente para a pessoa e, não raro, falar pausadamente. Eu tenho muitas dificuldades com isso, eu sou uma metralhadora quando estou dando aula.
Além de uma mãe que está perdendo a audição, de um marido que fez um implante em um dos ouvidos para continuar ouvindo, tenho três primos em primeiro grau que são deficientes auditivos. Minha prima mais velha é a que ouve menos, o caçula é o que ouve mais. Nunca gostaram do aparelho auditivo, os incomodava. Todos 3 aprenderam a ler lábios, a língua brasileira de sinais e falam com algum sucesso. Meu primo do meio foi o que teve mais dificuldades, ele sofria bullying e teve um professor que queria pressioná-lo a falar e ler em voz alta. Uma violência, enfim, meus tios acabaram o transferindo para o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos), onde, em uma escola especializada, ele conseguiu concluir os estudos.
Minha prima é formada em Português-Libras pela UFRJ, fez mestrado na área inclusive, muitas das minhas informações sobre a questão vem dela. Ela me explicou inclusive que português é sua primeira língua, a língua brasileira de sinais é sua segunda, porque ela foi alfabetizada em uma escola regular. Qual é a situação de Yuki? Não sei. Além dos meus 3 primos, tenho um amigo muito querido da época da faculdade que perdeu a audição por causa de uma doença que quase o matou. Ele fez um implante coclear, é o que lhe permite ouvir. Também se esforçou, porque ficou meses sem ouvir, para aprender a ler lábios. Ele tem algum sucesso nisso, mesmo tendo começado com mais de cinquenta anos.
Yuki parece ter alguma dificuldade em ler lábios, mas ela nasceu com a deficiência, ou não nasceu? Por tudo isso, a situação de Yuki com aparelho que para nada parece servir me incomoda muito. Tanto foi que a minha resenha é praticamente sobre isso e, não, outros aspectos do primeiro episódio. Que ela não queira falar, tenha algum bloqueio, trauma (*algo que a história precisa explicar*), eu entendo, o aparelho usado como adereço fashion, não.
Continuarei assistindo ao anime, pensei em fazer um Shoujocast sobre esse primeiro episódio, mas perdi a vontade. Devo pegar o mangá do início de novo, mas me incomodou muito essa situação. Curiosamente, a parte do aparelho não me pareceu tão absurda no mangá, ou a falta dos sons, é só leitura, não me fez acender a luz vermelha. Enfim, ser bonito, ser romântico, não justifica essas barbeiragens, não. Se o problema é do material original, continua sendo um problema. E, sim, comparado com o encerramento, que tem traçados que vão ganhando cor e movimento, achei a abertura bem genérica.
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário