Hinako Ashihara, conhecida no Brasil por sua série excelente Sunadokei (砂時計), lançada no Brasil pela Panini com o subtítulo de O Relógio de Areia (*tradução literal do título original*), morreu aos 50 anos. Segundo o Yahoo Japão, o corpo de uma mulher foi encontrado sem vida na represa de Kawaji, na cidade de Nikko, província de Tochigi, perto dele havia um documento de identificação da autora e o que parecia ser uma nota de suicídio. Eu vi a notícia primeiro no ProShojo Spain, mas encontrei uma matéria com esses detalhes no site japonês.
Para quem leu Sunadokei, que eu recomendo bastante, ou viu o dorama, que foi muito elogiado, também, deve lembrar que a temática do suicídio como ponto final para uma vida de fracassos era forte. A mãe da protagonista tira a própria vida depois de ter que retornar com a filha para a casa dos pais no interior, quando seu casamento com um homem da cidade grande chegou ao final. A família nunca quis aquela união e a mulher não suporta as humilhações e, por fim, coloca fim a sua vida.
Muito bem, no post do ProShojo é comentado que a mangá-ka tinha tido problemas no final do ano passado por estar insatisfeita com a adaptação de seu mangá Sexy Tanaka-san (セクシー田中さん) pela NTV. O mangá conta a história de uma OL (Office lady) de 40 anos, muito competente, mas sem atrativos, que tem uma vida dupla, à noite ela é uma requisitada artista de dança do ventre. A confusão começa, quando alguém começa a suspeitar de seu segredo. Eu encontrei o perfil HPriestは、取り扱い注意, especializado em bastidores de doramas e TV, que estava comentando a confusão toda. Vou dar o resumo aqui, não sabia do caso até agora.
Hinako Ashihara queria escrever ou participar ativamente dos roteiros da série, que estavam sob a responsabilidade da conceituada (*basta ver o currículo dela*), Aizawa Tomoko. A roteirista chegou a comentar no Instagram, ainda em dezembro (*o último episódio foi ao ar na véspera de Natal*), que recebeu feedback de fãs pouco satisfeitos pelo final do dorama. Ela afirmou, então, que o final da série, episódios 8 e 9, ficaram a cargo da autora original e que ela não teve nenhuma participação no desfecho do dorama, ou seja, ela não estava nada satisfeita com o que ocorrera nos bastidores da produção e estava usando as redes sociais para externar a coisa, sem citar o nome de Ashihara.
Ninomiya escreveu no Twitter: "Vejo que alguns de vocês vêm aqui para desenterrar minhas declarações anteriores. O autor original estabelece condições antecipadamente para proteger seu trabalho e seu coração. Se essas condições não forem seguidas, eles não têm escolha senão falar por si próprios e pelos futuros autores. Caso você esteja se perguntando, não acho que as alterações sejam ruins, acho que é uma questão de saber se as condições que foram estabelecidas anteriormente estão ou não sendo seguidas."
Já Aso comentou o seguinte na mesma rede: "Em relação às adaptações live-action de mangá, meus colegas artistas de mangá têm uma variedade de posturas. Há quem fique irritado e peça persistentemente revisões do roteiro que ignora as partes centrais de seu trabalho. Há quem peça que o drama seja completamente diferente porque a obra original está inacabada e pretendem terminá-la de uma determinada forma. E há aqueles como eu que são indiferentes e dizem: “Façam o que quiserem”. Não posso falar por todos, mas acho terrível ignorar completamente o que foi apresentado anteriormente como condições para a dramatização."
Diante da controvérsia, que tria explodido em dezembro, o dorama estreou em 22 de outubro, Hinako Ashihara fechou o seu blog em 26 de janeiro com uma última nota que terminava com a frase "Eu não queria atacar ninguém. Sinto muito.". Segundo consta, ao permitir a adaptação do mangá para dorama, a autora tinha somente duas exigências à emissora: “Seja fiel ao mangá ou faremos revisões” e que (*como o mangá ainda não está finalizado*) “o final original do drama, desde a sinopse até os diálogos, será fornecido por ela mesma”.
A emissora não respeitou o acordo, o que gerou um desgaste muito grande para a autora original. A comunicação era dificultada, as revisões pedidas pela autora não foram executadas, ou foram atrasadas a tal ponto que perderam a relevância. Enfim, deixei os links para o relato da situação no Twitter. O post explicando o embate nos bastidores da série é de antes do suicídio de Ashihara, ou seja, era tudo público desde o dia 26 de janeiro, quando a autora fez um relatório do acontecido e se desculpou com todos da produção de Sexy Tanaka-san.
Enfim, muito triste. Se a autora já tinha um quadro de saúde mental complicado, este deve ter sido o gatilho que a levou a tomar a decisão sem volta. Há quem reclame que mangá-kas são chatos com suas obras, mas o fato é que eles e elas são, na maioria dos casos, autores e donos do mangá original. Eu posso não gostar da certas atitudes mais radicais (*Riyoko Ikeda, estou falando de você!*), mas eu entendo perfeitamente a atitude. Enfim, a semana já começa com essa triste notícia, perdemos uma brilhante mangá-ka, não foi doença incurável, sua morte poderia ter sido evitada.
3 pessoas comentaram:
Muito triste essa notícia!
Essa noticia me abalou bastante hoje. Sou muito apaixonado por Sunadokei, mangá que me fez refletir muito sobre vida e fez eu mudar alguns pensamentos. Uma pena que nunca mais tenha saído nada dela por aqui, mas quando tiver oportunidade, lerei mais obras <3
Essa notícia realmente me pegou. Eu comprei Sunadokei quando saiu no Brasil depois de ler a sua resenha na Neo Tokyo e adorei a história que ainda hoje eu guardo com muito carinho.
Eu lia com uma amiga que na época era minha namorada e nós adorávamos. Alguns anos depois de terminarmos nossa relação (e mesmo agora), eu olhava para a minha coleção e sentia que a obra falava um pouco da gente. Que tristeza...
Que a terra te seja leve, Hinako Ashihara.
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