Abri a BBC e havia um artigo intitulado K-drama: The women pushing boundaries on TV. Segui a leitura e estava falando da influência do shoujo mangá nos primeiros doramas. Eu coloquei uma imagem da atriz Uhm Jung-hwa no início do texto, porque a matéria da BBC abria com um vídeo. A foto em destaque aparecia mais adiante no texto. Segue a tradução, depois eu retorno:
"Muitas séries de televisão coreanas - ou K-dramas - agora apresentam personagens femininas complexas e poderosas, refletindo mudanças importantes na sociedade e nos hábitos da mídia.
Os K-dramas agora têm a mesma probabilidade de ter protagonistas femininos e masculinos. Um dos maiores sucessos deste ano, The Glory, era sobre uma mulher se vingando de seus agressores, e o imensamente popular Advogado Extraordinário Woo apresentava uma advogada autista.
Os papéis das mulheres no drama K nem sempre foram tão interessantes. Tradicionalmente feitos para serem assistidos por toda a família, hoje em dia os programas contam até com cenas de sexo esporádicos - e tabus como relacionamentos bissexuais e pessoas mais velhas tendo vida amorosa estão sendo quebrados.
“Na década de 1990, os dramas coreanos tratavam principalmente de chaebol – herdeiros ricos – que amavam mulheres pobres”, diz Hong Eun-mi, vice-presidente da Associação de Roteiristas Coreanos.
Dramas como Boys Over Flowers, em que herdeiros ricos e mimados se apaixonavam por garotas corajosas da classe trabalhadora, eram típicos. O gênero era conhecido como "Candy girl" - em homenagem ao anime japonês Candy Candy, sobre uma menina órfã alegre e trabalhadora esperando que seu príncipe a surpreendesse.
“Esse não é o caso agora”, diz Hong. “A protagonista feminina mudou – ela é muito independente, tem um trabalho profissional e não se incomoda muito com o casamento.”
E mesmo que os dramas ainda amem personagens ricos e poderosos, agora elas também podem ser mulheres - como em Crash Landing On You, um enorme sucesso global sobre um romance implausível e transfronteiriço.
A atriz e cantora Uhm Jung-hwa, uma das mulheres mais poderosas do entretenimento coreano, diz que os holofotes raramente brilhavam sobre as mulheres nos anos 90, quando os “objetivos de vida das mulheres se resumiam a encontrar o homem perfeito”.
“Agora podemos ver muitas personagens femininas fortes abraçando a vida com ousadia em seus próprios termos, e me sinto abençoada e feliz por poder contar histórias de mulheres, mesmo na minha idade.”"
O título da matéria me chamou a atenção, mas o que me levou a traduzir essa parte foi a citação à Candy♡Candy (キャンディ♡キャンディ) e Hana Yori Dango (花より男子/Boys Over Flowers). Me agradou? Não e vou explicar. A ideia da matéria é mostrar que os papéis das mulheres nos K-Dramas se tornaram mais plurais e que, agora, elas não tem como objetivo único se casar. Há mulheres maduras, há jovens, há idosas como protagonistas. Elas tem profissão, elas podem ser bad ass (*basta continuar a leitura*) elas estão rompendo novas fronteiras e ajudando tanto a transmitir mensagens positivas sobre a feminilidade, quanto apontar para as transformações da sociedade coreana.
Bonito, sem dúvida. Aliás, a telenovela brasileira durante muito tempo teve como função tanto retratar as mudanças na sociedade, quanto colocar em discussão questões relevantes para a sociedade e as mulheres (*divórcio, virgindade, violência doméstica, realização profissional tec.*). O problema, para mim, foi acusar a influência do shoujo mangá como motivo para personagens sem grandes horizontes na vida.
Os dois exemplos citados são Candy, da série Candy♡Candy, um material de imenso sucesso, mas que é voltado para meninas no fim da infância e adolescentes e que faz parte de um grande filão de histórias sobre jovens louras órfãs na Europa, ou Estados Unidos. Quando Candy♡Candy começa, a protagonista é um bebê e mais que ficar esperando seu príncipe, a mocinha se apaixona, tem amigos, sofre perdas (*a morte de Anthony, seu primeiro amor e até de amigos, o abandono de Terence*), ela estuda, se forma, se torna enfermeira (*estamos na I Guerra, 1914-18*) e somente lá, bem no final, ela conhece a verdadeira identidade do seu príncipe. Não sei de onde em sã consciência decidiram ler Candy Candy como uma apologia ao conformismo feminino ao casamento.
Resumo desse meu blá-blá-blá e o seguinte, quer valorizar os K-dorama, talvez fosse melhor falar das próprias expectativas da sociedade que produziu esse material, das representações sobre o feminino e as possiblidades das mulheres naquela sociedade. Culpar os shoujo mangá pela construção de representações passivas das mulheres é muita cara de pau, sabe? Até porque a Coreia do Sul é uma sociedade tão ou mais patriarcal do que o Japão e o que o shoujo ajudou a fazer por lá foi dar material, mostrar caminhos que foram ampliados pelas próprias autoras locais. Vide o sucesso das webcomics japonesas e outros manhwa sunjeong que fazem muito sucesso por aí. Enfim, se alguém quiser, eu faço a tradução do resto do artigo, mas é preciso deixar o pedido nos comentários daqui, ou do Facebook.
1 pessoas comentaram:
Será q rolou uma rivalidade Japão x Coréia? Eu não me arrisco para dizer quem é mais conservador, mas tenho a sensação que novelas e os quadrinhos japonesas e coreanos estão evoluindo junto, cada um faz sentido na sua época. Suponho (pelas imagens) que estão comparando obras de épocas bem diferentes, o que é um pouco injusto. Se os autores tivessem a chance de reescrever as histórias, certamente mudariam muitas coisas...
Tive a oportunidade de reler depois de adulta as revistas "caprichos" da minha época e fiquei abismada. Na época aquilo era algo "moderno" e "ousado", hoje eu não compartilharia a revista com uma adolescente, porque acho que existem conselhos menos retrógrados.
Ps: Enquanto escrevia, me lembrei de um quadrinho que estou acompanhando (The Time When We Were Young), é uma paródia de hana yori dango e outros shoujos da época. É sobre uma editora e escritora premiada que revive as fantasias da sua adolescência quando liga o computador velho onde costumava escrever suas novels durante a adolescência, algo que ela tem vergonha. Ela é sugada para um mundo da sua imaginação onde ela é forçada a dar seguimento ao enredo para poder voltar a sua realidade.
É um deboche dos clichês: como a protagonista cairia e beijaria o mocinho -que é machista e possessivo-, seria sempre salva em uma situação de perigo, adolescentes bebem e nenhum adulto intervém, motos são estacionadas nas escolas, brigam de gangue são importantes para mostrar como o mocinho pode derrotar vários oponentes ao mesmo tempo, sempre vai aparecer um segundo cara para competir pela mocinha, etc. Apesar de estar cansada desse gênero dei muitas risadas e até onde li a protagonista não tem interesse amoroso nos adolescentes - ela só quer sair dali (um bom sinal, pq acho que não é sobre um romance com diferença de idade).
Achei interessante citar porque mostra como o mundo e nós mudamos rápido e amadurecemos. As coisas q faziam sentido passam a não fazer mais e quem sabe algumas violências romantizadas que passaram na nossa adolescência talvez não passem mais.
Postar um comentário