Raramente falo de Coreia do Sul, porque leio poucos manhwas e vejo praticamente nada de K-drama, mas acompanho as notícias de lá, especialmente quando relacionadas às mulheres, como sigo o que acontece nos outros países. Isso significa que quando se trata de feminismo, questões de gênero e afins, a coisa pode cair no meu radar. Foi assim que li essa notícia sobre uma jovem balconista, ou funcionária em meio período de uma loja, que foi atacada por um homem que argumentava que “Como você tem cabelo curto, você deve ser feminista. Sou um homem chauvinista e acho que as feministas merecem ser agredidas.”.
O sujeito chegou a conclusão de que a moça era feminista, porque ela usava cabelos curtos. Um cliente de meia idade foi ajudar a garota e terminou sendo agredido pelo meliante, até que a polícia apareceu. Tanto a moça, quanto o homem que foi ajudá-la, foram feridos, o senhor na casa dos 50 anos teve várias fraturas na face, ou seja, foi feio. A polícia argumentou que não pode enquadrar o caso como tentativa de assassinato, ainda que as lesões tenham sido graves. Segundo o site Koreaboo, o ataque gerou uma onda de indignação e apoio on line à vítima, inclusive uma campanha chamada "Eu devo apanhar por ter cabelo curto?".
Prontamente lembrei do caso da arqueira, campeã olímpica, três medalhas de ouro para seu país, que sofreu forte perseguição nas redes por ter cabelos curtos, eu escrevi sobre isso. O Koreaboo cita o caso. A misoginia na Coreia do Sul, ou a capacidade de mobilização dos grupos de odiadores de mulheres, parece ser enorme na Coreia. Agora, olhando o último relatório sobre desigualdade de gênero do Banco Mundial, a Coreia melhorou bastante e está em 105º, enquanto o Japão amarga a 125ª colocação. Só para efeito de comparação, dentre os 146 países, o Brasil está em 57º lugar. É possível que as explosões de violência sejam uma forma de homens mimados tentarem intimidar as mulheres, culpabilizando as feministas pelos avanços, ainda que tímidos, dos últimos anos. O site NDTV apontou que "feminista" é uma palavra tão estigmatizada na Coreia do Sul a ponto de muitas pessoas considerá-la um palavrão.
De qualquer forma, espero que esse sujeito seja punido e que casos assim deixem de existir. Associar roupas, penteados ou o que seja a um grupo específico pode conduzir a muitos erros e um membro de um grupo de ódio pode se sentir validado por esses indícios a expressar sua violência. As vítimas, claro, normalmente são gente que o imbecil considera inferior, mais fraca, e fácil de atingir, o que significa que mulheres e LGBTQ+ são alvos em potencial de ações como esta que vitimou a moça de cabelos curtos e o homem que veio em seu apoio.
E esses ataques objetivam a intimidação e impedir que minorias, no caso das mulheres, políticas, possam ter liberdade de expressão. As mulheres se veem moldadas para atender as expectativas masculinas, o olhar dos homens, se não se adequam, a violência é uma das formas de calá-las e discipliná-las. E isso não é algo típico da Coreia do Sul, mas uma prática que atravessa as sociedades patriarcais e se manifesta em menor ou maior grau a depender do nível de educação em relação às questões de gênero, aos direitos das mulheres e ao exercício geral da cidadania.
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