terça-feira, 3 de outubro de 2023

O anime de Me Apaixonei pela Vilã finalmente estreou e merece uma pequena resenha

Ano passado, fiz um post comentando o anúncio do anime de Me Apaixonei pela Vilã ou Watashi no Oshi wa Akuyaku Reijou (私の推しは悪役令嬢。). Originalmente é uma série de light novels com roteiro de Inori e ilustrações de Hanagata.  E, claro, antes do anime, lançaram mangá, é o percurso de sucesso de uma série que, no geral, é bem clichê, mas coloca na mesa algumas peças que lhe dão diferencial, a mocinha morre, mas não vira a vilã do game, na verdade, ela quer namorar a criatura.  Ao todo foram cinco volumes de novel e a Newpop está lançando.  Tenho o volume #1, mas não li, talvez, seja a hora.  Segue um resumo da série:

O ponto de partida da história é o seguinte: Oohashi Rei é uma office lady comum, trabalhando sem parar em um lugar que não ama e cujo único divertimento é jogar vídeo game.  Um dia, ela morre e acaba de acordar no corpo da protagonista do jogo otome game favorito, Revolution. Para sua alegria, a primeira pessoa a falar com ela é sua personagem favorita, Claire Francois, que, por acaso, é a vilã da história. Agora, Rei está determinada a fazer o que o jogo nunca permitiu: namorar Claire em vez de um dos três príncipes, que representam os percursos do jogo. Mas como sua vilã vai reagir a isso?!  

Vamos lá, não gosto do gênero vilã, mas esta série não faz parte desse filão da moda, porque a mocinha não reencarnou como a malvada original do jogo.  Isso já é um diferencial importante.  Porém, e imagino que a série nem vá explorar isso, a julgar pelo início do primeiro episódio, trata-se de um isekai reencarnacionista, subgênero que acho muito perturbador.  Como funciona esse tipo de história?  O mocinho, ou mocinha, normalmente um adulto, morre no início da história, não raro, de tanto trabalhar.   Os japoneses chamam isso de karōshi (過労死).  

A gente, no Ocidente ou sob influência dele (*para quem acredita que Brasil não é parte do Ocidente*) tem burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional), para de funcionar por começar a ter uma série de problemas de saúde gerados pela exploração capitalista.  Os japoneses morrem.  Talvez, por questões culturais, seja fraqueza pedir socorro, dizer que não consegue continuar, que seu corpo e sua mente não aguenta mais.  O corpo não dá sinal, se dá, ele é ignorado, até que ele para.  

Isekai (異 世界) quer dizer "mundo diferente", o termo surge no meio dos animes e mangás nos anos 1980 e, normalmente, era uma história na qual o protagonista adolescente entrava em um game, ou livro, ou ia para outro mundo.  Havia sempre uma porta aberta.  O mocinho, ou mocinha, poderia escolher voltar para casa, para a família, a escola, os amigos, ou ficar, mas, normalmente, não era algo definitivo.  Agora, é.  O mais curioso é que o protagonista, na maioria das vezes, nem fica triste com isso, ou lembra da sua vida passada com algum carinho, é uma libertação. Para mim, pelo menos parte desse material é de crítica semiconsciente ao capitalismo.  Fiz um Shoujocast sobre esse gênero perturbador que está em todas as demografias.  

Desculpem por ter ficado meio pesado este texto, mas Me Apaixonei pela Vilã não é depressivo, é comédia pura e desgovernada boa parte do tempo.  Nossa protagonista se vale do fato de conhecer o jogo, segundo ela mesma, melhor que os realizadores a seu favor.  Ela persegue a vilã, quase que suplicando pelo seu bullying como um sinal de afeto.  Claire, a vilã, uma típica ojousama do mal loura e com cachos (*isso vem dos clássicos do shoujo dos anos 1970*), não está acostumada com esse comportamento insano de quem é perseguido por ela.  Ao mesmo tempo, ela não consegue recuar, ela faz o serviço sujo, isto é, o bullying, com suas próprias mãos.

A mocinha é de origem plebeia, entrou na tal academia que é o centro da história por mérito e, em algum momento do episódio, é dito que o pai dela é a favor da meritocracia.  Talvez, o pai de Rae seja contra a monarquia.  Não sei.  O fato é que a melhor amiga da mocinha, que me parece uma personagem dúbia, Misha pertence a uma família da nobreza que foi rebaixada e perdeu seu status e riqueza.  Ela desconfia que há algo de errado com Rae, que é sua colega de quarto.

Já no primeiro episódio, somos apresentados aos três príncipes, que são personagens clichê, claro: Rod Bauer, o mais velho, com cabelo moderninho e que fala usando gírias, não sei se é o oresama guy ou o playboy, vamos descobrir; Yu Bauer, o caçula, que parece fofo, mas, segundo o que encontrei, tem raciocínio rápido e é manipulador, ele e Misha são apaixonados e isso, claro, é proibido; e, por fim, o príncipe do meio, Thane Bauer, ele é estoico, disciplinado, sério, mas se sente inferior aos irmãos, sendo menos popular.  Thane me pareceu o mais bonito, segundo os modelos clássicos do shoujo mangá e Claire tem interesse por ele, mas parece ser ignorada.  

Quando temos o embate entre Claire e Rae, que só aceita porque sabe que vai vencer, afinal, se a vilã levasse a melhor ela terá que ir embora da escola, ficamos sabendo que há magia na história.  *Clichê* E Rae faz magias ligadas à água, aliás, o encerramento com a gotinha d'água ficou uma graça.  Enfim, Rae vence por sua magia estar acima da média e não poder ser sequer categorizada. Isso chama a atenção dos príncipes, em especial, de Rod. Não sei como a história irá explorar isso, na abertura aparece uma personagem que pode ser o vilão, ou vilã, de verdade da história.

Me Apaixonei pela Vilã não é shoujo, ou josei, stricto sensu.  Sai em um selo GL (Girls Love) e o mangá sai na Comic Yuri Hime, a única antologia especializada em mangás sobre garotas que amam garotas.  Só que Yuri não é uma demografia ainda, não quando se trata de mangá, mas GL (Girls Love) em livro, game e outras mídias parece estar, sim, começando a se configurar como uma demografia.  Estou usando o "parece", porque yuri pode estar e está em todas as demografias principais (*shounen, shoujo, seinen, josei, hentai*) e, repito, não temos um número de revistas de mangá, ou selos, que configurem uma demografia, como no caso do BL, mas, imagino, logo a coisa chegue lá.  Aqui, no Brasil, a Newpop está se especializando em lançar material GL, inclusive, acredito que logo, logo, o mangá de Me Apaixonei pela Vilã venha parar aqui pelas mãos da editora.

Concluindo, porque a resenha não ficou pequena, Me Apaixonei pela Vilã me fez dar umas boas gargalhadas, mas algo me diz que a série vai me cansar, a não ser, claro, que para além das piadas, que tendem a se tornar repetitivas, houver uma história de fundo que segure a atenção.  O fato é que se trata de um exemplar que tenta usar uma tendência, no caso os isekai reencarnacionistas de vilã, a seu favor mexendo um pouquinho na arrumação das peças desse tipo de história.  O anime está no Crunchyroll, estreou ontem e não tem dublagem em português ainda.  Para quem quiser comprar as novel, seguem os links: 1 - 2 - 3 - 4 - 5.

1 pessoas comentaram:

Eu li os dois primeiros livros e gostei em geral, mesmo que tenha algumas críticas e questões em relação como a narrativa é levada.

E só pra avisar, Valéria, a NewPop já anunciou o manga.

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