Diante das mudanças em relação ao livro que percebi nos últimos dois episódios do anime, decidi reler o terceiro capítulo do livro dois de Watashi no Shawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚), de Akumi Agitogi, e fazer um texto sobre ele. A edição que eu tenho está em inglês, sempre há perda em relação ao original, adaptações de tradução, mas, no geral, o texto flui bem. O que eu ressaltei já na outra quase resenha é o quanto o livro 2 me parece confuso se comparado com os livros 1 (*resenha*) e 3 (*resenha*). Mas é isso, vamos para o texto, que ficou grande.
Quando Arata visitou a casa de Kiyoka, no capítulo 2, e falou com Miyo, ele deixou um cartão com seu nome e Usuba escrito atrás. Foi assim que Kiyoka pode finalmente juntar as pistas e entender que os Tsuruki e os Usuba eram a mesma família. No capítulo 2, Kiyoka, muito transtornado por não poder ajudar e proteger Miyo e por acreditar que ela está escondendo dele seus sentimentos, discute com a moça e diz que ela deve se preparar para fazer uma visita no outro dia. Algo que é descrito no livro é o quanto a mansão dos Usuba é imponente por fora e pobre por dentro. Vejam bem, não austera, mas empobrecida mesmo.
O que Kiyoka descobriu através do detetive é que Sumi Tsuruki frequentou uma escola feminina e que, vinte anos antes, fundos foram passados dos Saimori para os Tsuruki. Os Usuba eram visíveis até esta época? Kiyoka sabe quem eles são e diz que eles estavam em decadência (econômica?), depois sumiram. Os Tsuruki também eram visíveis e continuaram sendo. Sumi Tsuruki morre na mesma época em que Sumi Usuba se casou. Eu já escrevi na minha outra quase resenha que considero o livro 2 confuso e qualitativamente inferior ao livro 1 e ao livro 3, pois bem, um dos problemas está aí.
Se os Usuba viviam em segredo, o casamento da mãe de Miyo deveria se manter assim e todo mundo na história sempre soube que a jovem pertencia ao clã que, pelas regras que o livro 1 e o 2 explicam, só poderia se casar com alguém de sua própria família, só para repetir de novo e de novo, e não poderia manter laços amorosos e de amizade com nenhuma outra família. Era absolutamente endogâmico. Por essa lógica, Sumi nem deveria ir a uma escola, deveria ficar restrita à residência do avô. Arata diz que Kiyoka entrar na casa dos Usuba é uma exceção, que isso era uma quebra de protocolo.
Miyo se sente muito incomodada dos homens (seu avô, Arata e Kiyoka) estarem falando dela como se ela não estivesse ali. Ela quer gritar. Ela está magoada com Kiyoka e imagina que foi assim que Hazuki se sentiu quando lhe comunicaram o seu divórcio. Kiyoka diz que não irá deixá-la com os Usuba e o velho Yoshirou diz que isso não é algo que ele vá negociar.
O avô de Miyo explica para Kiyoka que a moça tem um dom raro e feminino, a visão dos sonhos (Dream-Sight). A portadora desse dom pode entrar nos sonhos, ver passado, presente e futuro, além de fazer lavagem cerebral em qualquer pessoa. O avô afirma que o dom de Miyo pode ser maior que o do imperador, o da Revelação Divina.
É o avô quem humilha Kiyoka com palavras estudadas. Ele não é capaz de proteger Miyo, ela irá continuar sofrendo com seus pesadelos, somente os Usuba podem ajudá-la. Fora isso, os Usuba jamais permitiriam que o dom especial que ela possui passasse para outro clã. E o avô deixa claro que só procuraram Miyo agora, porque não sabiam que ela tinha o dom, ele deveria estar selado, provavelmente, por obra de sua mãe.
Uma menina com a visão dos sonhos nasce raramente, às vezes, com décadas de diferença. Esta menina sempre tem como mãe uma mulher com o dom de telepatia, algo que é cada vez mais raro, porque o número de pessoas com dons está declinando. E, de novo, a autora explica que quanto mais comuns são o uso da tecnologia e a educação científica, menos grotesqueries, porque elas são movidas à medo e ignorância, e, curiosamente, menos dotados nascem. O anime eliminou essa discussão. Apesar de ninguém ter revelado isso para Sumi, ela cresceu sob imensa pressão. Seu pai já havia combinado seu casamento com um parente distante, mas os negócios pioraram e os Saimori apareceram oferecendo dinheiro.
Vou repetir de novo, se o paradeiro dos Usuba era secreto, se usavam publicamente o nome Tsuruki, se só se casavam entre si, como os Saimori ficaram sabendo de Sumi? Isso tudo é uma armação do imperador, como se mostrará no último capítulo. Então, faltam peças nessa história, neste momento em que estamos do livro.
Yoshirou se nega, segundo ele, a aceitar as propostas e os Saimori começam a perseguir a própria Sumi e ela acaba cedendo para salvar a família, mesmo contra a vontade do pai. Aqui, não fica claro se o patriarca consentiu no final, porque sem a permissão dele, ela não poderia casar. Ele deixa claro que os Saimori deveriam estar cientes do dom de Sumi e da possibilidade do nascimento de uma menina com a visão dos sonhos e certamente iriam explorar os poderes desta criança se ela viesse a nascer. Por isso, Sumi deve ter selado os poderes da filha. Nada é dito sobre uma doença prévia de Sumi.
Com o passar do tempo, o selo se enfraqueceu e, segundo o avô de Miyo, ele estava em algum lugar na residência dos Saimori. Obviamente, era o pé de cerejeira que virou pó. O avô de Miyo prossegue dizendo que como Miyo não tinha o dom, os Usuba lavaram suas mãos e se sentiram tranquilos, porque um poder tão grande não tinha passado para outra linhagem. Vejam bem, a partir desta fala sabemos que eles estavam cientes dos sofrimentos da menina e a abandonaram.
Os filhos são do pai, trata-se de uma sociedade patriarcal, mas os Saimori não tinham interesse nela, muito pelo contrário. Mas quem quer uma menina sem dons? Só alguém como Kiyoka, que a aceita com ela é e a ama assim mesmo, apesar de ainda não saber disso. Miyo ouve tudo isso e fica com cada vez mais raiva e acredita que a ação da sua mãe prejudicou enormemente a sua vida lhe tirando o amor de sua família paterna, a possibilidade de educação e perspectivas de vida melhores, porque, como até ela sabe, toda mulher portadora de um dom é obrigada a se casar. Já Kiyoka, se mostra indignado com o abandono imposto a sua noiva.
Arata entra na conversa e confronta Kiyoka sobre sua incapacidade de proteger Miyo. A moça está em dúvida se Kiyoka a quer ao seu lado e, ao ser perguntada, perguntada, diz que faria o que seu noivo dissesse. Inquirida de novo por Arata, ela diz não se importar com seu destino como uma forma de libertar Kiyoka de qualquer compromisso. O moço chocado, mas ela não o olha nos olhos. Arata, então, o desafia para um duelo e ele aceita. O duelo é tratado como um absurdo dentro do livro. Miyo desesperada chama por Kiyoka enquanto ele se dirige para a parte externa da casa, mas ele não se vira para ela e a moça se sente ainda mais insegura.
O duelo seguiu mais ou menos o que vimos no anime e com Miyo estava desesperada e culpada por não confiar no noivo. Tudo se define quando Arata toma a forma da jovem, porque Kiyoka, que estava em vantagem, o jovem fica confuso e acaba baixando a guarda. Derrotado, ele vira o rosto e tenta controlar as lágrimas de frustração. Miyo se desvencilha do avô, que a estava segurando e corre para Kiyoka, mas não o alcança, Arata a segura e diz que a luta foi justa e que, agora, ela estará sob a proteção dos Usuba.
Kiyoka volta para casa e a primeira coisa que ele pensa é que aquele lugar parece frio e vazio sem Miyo. Quem aparece de repente é Hazuki e ela se espanta ao não ver a moça com ele. Quando Kiyoka conta que a perdeu em um duelo, a irmã lhe dá um tapão na cara. Relendo o livro, lembrei que Hazuki bate mais nele no original do que na animação, são um tapa e dois cascudos. Nos animes e mangá, tapa na cara raramente tem um sentido cômico como os cascudos têm, é algo que tende a ser levado à sério, seja como alerta, ou ofensa. Ela o lembra que alguém como Miyo é frágil e se sentiria culpada por toda a situação. Miyo passara a ter dúvidas sobre o moço querer que ela ficasse em sua casa depois da discussão na cozinha e ele a ter levado sem qualquer explicação para a casa dos Usuba.
Sua irmã o cura e o livro comenta que este dom vem do lado materno da família, não é um dos que correm no clã dos Kudo. Hazuki exige que ele vá atrás de Miyo e ele está decidido a ir, mas chega a mensagem de Godou. Hazuki percebe a indecisão do irmão e diz que ele deve ir e voltar rápido para resgatar a moça e que ela está do lado de Miyo. Kiyoka então se retira para seu quarto para trocar de camisa e fica olhando o uniforme e pensando que é necessário se desvencilhar do dever o quanto antes para retomar Miyo, na verdade, ele pensa em retomar "tudo o que perdeu". Não é somente a moça fisicamente na sua casa, onde ele acredita que ela deveria estar se despedindo dele ao partir (*ele pensa isso*) e o recebendo quando ele retorna depois do trabalho, mas dos sentimentos que preencheram sua vida. Ele não pode e não vai perdê-la.
O capítulo passa a mostrar o dia-a-dia na casa dos Usuba. A autora descreve em detalhes a mobília, as cores das paredes e tudo mais do andar onde Miyo está confinada, porque é isso mesmo, uma espécie de prisão. Tudo é bonito e ao estilo ocidental, em contraste com o primeiro andar, que tem uma decoração japonesa tradicional. Miyo não está acostumada a dormir em uma cama elevada, ela não pode escolher o que comer, todas as refeições são ao estilo ocidental. Ela também não precisa fazer coisa alguma, nem a permitem. As horas e dias passam de forma arrastada e triste, mas ela não tem mais pesadelos, na verdade, ela acaba se insensibilizando diante de uma rotina que lhe é imposta e perdendo a noção do tempo. Diferentemente do anime, o livro não enfatiza a melhora da saúde física da moça, ainda que esteja implícito, afinal, o bem-estar mental dela está muito deteriorado.
Arata é o único que vem visitá-la, o avô parece não se aproximar dela. Arata passou a chamá-la pelo nome sem sua permissão, como ela bem pontua em sua mente e isso é algo sério no Japão, uma quebra de etiqueta. A versão em inglês usa "miss" (senhorita), mas ele deveria estar usando "san", o honorífico mais comum. Arata é sempre gentil, mas quando ela pede seu quimono de volta, recebe uma negativa seca. O rapaz também lhe nega a possibilidade de rever Kiyoka. Miyo quer se desculpar, ela reflete que deveria ter confiado mais no noivo, que ele sempre a recebeu de braços abertos e lutou por ela quando foi sequestrada.
Miyo lamenta em seu íntimo o que perdeu, enquanto Arata lhe explica uma série de detalhes sobre a sua família materna. Os Usuba tem como função conter outros dotados, eles não precisam ter a visão, que é o primeiro indício de que alguém tem um dom, Miyo diz que faz sentido, afinal, eles não precisam ver grotesqueries. A seguir, ele conta sobre o código dos Usuba, entre eles, absoluta endogamia. E qualquer transgressão seria punida.
Pensem comigo, senhoras e senhores, é óbvio que o avô mentiu sobre Sumi decidir seu casamento. Uma adolescente, uma mulher, uma pessoa sob tutela, ademais alguém tão precioso para seu clã e para o Japão, afinal, ela poderia gerar uma menina com a visão dos sonhos, JAMAIS teria autonomia para casar sem permissão, além disso, ela já estava prometida a um parente. Há caroço neste angu, há o dedo do imperador. Fora que dado o nível de segredo descrito por Arata, os Saimori não poderiam saber da existência dos Usuba, detalhes sobre Sumi e por aí vai. O avô mentiu e o anime investiu em transformar a mentira em verdade. Quem deve estar dizendo o que realmente aconteceu de verdade é Usui lá no terceiro livro.
Por fim, Arata fala de como sua vida foi árida até aquele momento. Que foi separado de seu pai, porque ele não tinha dons e obrigado a residir com sue avô. Solidão e falta de propósito marcaram sua vida até então. E ele se declara dizendo que o "natural" é que eles se casem e que ele deve proteger Miyo. A razão de sua existência deveria ser proteger a donzela portadora da visão dos sonhos. A declaração não é romântica, mas ele espera que ela o aceite. Miyo se cala, no íntimo, lamenta por ele, mas ela deseja rever Kiyoka. Arata se retira um tanto transtornado.
A seguir temos Arata passando em revista seus sentimentos, na verdade, o quanto ele é vazio como a casa dos Usuba. Sem pessoas e depauperada de bens de valor e mobília. Por fora imponente, impecável, por dentro, vazio. Miyo pode encher sua vida e ele acredita que ela pode se tornar sua razão de existir, ele a imaginava vazia, também, quando a amparou na rua, mas percebeu que ela não era, quando foi até a casa dos Kudo e os criticou, pois Miyo ergueu sua voz em protesto. O fato é que Arata teve uma vida infeliz e acredita que Miyo possa mudá-la. E ele vai para a firma acreditando nisso, ou tentando.
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