Faz quase duas semanas que terminei o terceiro livro de Watashi no Shiawase na Kekkon (わたしの幸せな結婚), escrita por Akumi Agitogi e ilustrada por Tsukiho Tsukioka. Para quem não sabe, a série de livros esta sendo adaptada para mangá, teve filme live action em março deste ano, peça de teatro, e, agora, está no ar na Netflix em formato anime. Só pelo número de adaptações, vocês sabem que o material é um sucesso. Fiz resenha do livro 1 e um texto sobre o livro 2, mas não organizei uma resenha de verdade. Antes de ir para o livro 3, um resumo situando quem caiu e paraquedas aqui.
Estamos em um Japão de história alternativa, no início do século XX, em que algumas pessoas tem dons, poderes à serviço do imperador para destruir as chamadas grotesqueries, um tipo de youkai. Miyo Saimori nasceu em uma família aristocrática, fruto de um casamento planejado para produzir uma criança com um dom, só que ela não tem nenhum. Quando sua mãe morre, o pai de Miyo se casa com a antiga amante, a mulher que ele amava. Deste segundo casamento nasce uma criança com o dom.
Miyo, que já era rejeitada pelo pai, agora, perde seu status de filha da casa e é tratada como se estivesse abaixo da criadagem. É a cinderela da casa. Aos 19 anos, seu pai a chama e comunica a ela e sua irmã que ambas vão se casar; Kaya, a caçula, se casará com Kouji, o vizinho que gosta de Miyo, sempre a amou e é o único que a trata bem, já a protagonista se casará com Kiyoka Kudo, conhecido por expulsar todas as noivas que lhe enviam. Só que Miyo não tem para onde voltar e precisa fazer deste arranjo um casamento feliz.
No geral, considero este livro melhor que o segundo, pode ter sido minha leitura apressada, mas o livro dois me pareceu confuso e um tanto fragmentado. O terceiro volume é bem mais fácil de seguir, temos a apresentação dos pais de Kiyoka, a tentativa de Miyo de conquistar a estima da sogra, a investigação de um incidente que pode ter sido causado por grotesqueries e o aprofundamento da relação entre Kiyoka e Miyo. A mocinha descobre o desejo (*ainda que ela não saiba o que está acontecendo*) e o mocinho toma consciência de que ama e que este sentimento é bem-vindo em sua vida. Se você continuar a leitura, não me responsabilizo pelos spoilers. E vou usar imagens do anime, filme, mangá e imagens de divulgação, pois ilustrações do livro mesmo, só a capa.
Logo no início do livro, conhecemos o pai de Kiyoka, Tadakiyo Kudo, um homem de meia idade, bonito como o filho, bem humorado e gentil, mas com uma saúde muito debilitada. Ele encontra Hazuki e Miyo nas ruas de Tokyo. Somos informados que ele arranjou o casamento entre Kiyoka e Miyo, que acredita que ele se enganou e o casamento deveria ter sido com sua irmã menor, Kaya. De qualquer forma, o engano, se ocorreu, foi positivo para ambos os jovens. Todas as noivas anteriores tinham sido arranjadas pela mãe do rapaz.
Tadakiyo, que tem muitos poderes, assim como o filho, abriu mão de sua posição como chefe da família, porque sua saúde estava declinando. É explicado que isso pode acontecer com alguns dos dotados, o poder pode destruir a saúde do indivíduo. Tadakiyo cumpriu com seu dever, mas chegou um momento em que a coisa se tornou pesada demais para ele. O que fica claro desde o início é o quanto a relação dos filhos com o pai e a mãe é disfuncional. Kiyoka parece se ressentir o pai, e mostra irritação com sua presença, além de ter ciúmes de Miyo com ele. É clichê esse tipo de coisa, mas Tadakiyo não se comporta como um velho pervertido de anime e mangá, ele simplesmente acolhe Miyo como filha e se congratula da escolha que fez.
Hazuki também tem reservas em relação ao pai, há algo no passado dessa família que eu espero que a autora esclareça. Concluída a leitura e conhecendo Fuyu, a mãe dos dois, fico imaginando se o pai foi negligente e deixou a educação dos dois nas mãos de uma mãe dominadora e cruel, ou se há outra coisa... Fiquei imaginando que uma mulher como Fuyu culparia Hazuki pelo fracasso de seu casamento, por isso, ela talvez more sozinha em Tokyo e, não, com os pais no interior. Já Kiyoka não consegue trocar palavras amigáveis com a mãe e chega a ameaçá-la de morte quando a mulher humilha Miyo no primeiro encontro das duas.
Miyo deseja se dar bem com a sogra, um dos pontos importantes do livro é o esforço da jovem para receber a aceitação da mãe do marido, suplicando que Kiyoka a eixe lidar sozinha com o caso. Ele aceita, mas muito a contragosto. Como a função das sogras dentro de algumas culturas é oprimir as noras, não surpreende que a autora do livro tenha investido nessa linha dentro do livro, o diferencial é que Miyo tem Kiyoka incondicionalmente do seu lado, ele jaais ficaria do lado da mãe contra ela. O fato é que Fuyu não escolheu Miyo, provavelmente, ela selecionou mulheres parecidas com ela mesma para o filho (*no livro 1 Kiyoka chega a comentar sobre isso*) e o rapaz deseja tudo, menos uma noiva parecida com a mãe.
Fuyu ofende Miyo de várias maneiras. Ela a chama de velha (*a moça só tem 19 anos!!!*) e que o filho deveria ter uma noiva mais jovem, ela considera que a educação de Miyo é deficiente (*no que a mocinha concorda*) e diz que ela não é bonita. Na ausência de Kiyoka, chega a ordenar que Miyo coloque o uniforme das criadas e faça trabalhos domésticos. Miyo aceita como uma forma de interagir com a sogra e lhe dar motivos para estimá-la, mas nada ocorre. Em um dado momento, Fuyu quase bate em Miyo, o que é evitado pelo marido, é o único momento do livro no qual Tadakiyo intervém e mostra quem é o senhor da casa. Pode parecer que não, mas ele tem poder sobre a esposa e, não, o contrário. Trata-se de uma sociedade patriarcal.
Fuyu só passa a olhar para Miyo como alguém minimamente aceitável, quando descobre que ela tem o dom e a moça a enfrenta para tentar ajudar um camponês que parecia enfeitiçado. Ele poderia ser a chave para que Kiyoka compreendesse o que era o ser que estava atacando a vila, Miyo poderia entrar na mente do homem e arriscou sua vida por Kiyoka. Esse tipo de atitude Fuyu é capaz de valorizar. Nesta parte, tivemos um problema. Miyo tenta usar o seu dom, mas não é muito bem sucedida, ela está sendo treinada por seu primo, Arata, e não tinha permissão para tentar entrar nos sonhos de outras pessoas sozinha sem que estivesse pronta.
Arata chega bem na hora em que ela está fracassando, o príncipe o tinha enviado para apoiar Kiyoka usando o dom dos Usuba (*controle de mentes e similares*), ele a repreende e termina por ajudá-la a terminar o que começou. Assim como na batalha da tumba, não vemos nada, a autora não descreve os acontecimentos. Se houver uma segunda temporada do anime, sei que será uma das sequências que irão aparecer, talvez, esteja no mangá. Essas lacunas da autora são bem complicadas, porque não fazem sentido mesmo.
E há a interessante discussão sobre a ameaça da vila. Logo no primeiro dia de Miyo e Kiyoka no interior, ele não a deixa para trás e a leva junto. Ele queria falar com as pessoas e tentar entender o que estava acontecendo. Por conta disso, ele explica algo interessante para Miyo. Todos os lugares têm lendas folclóricas, a divisão liderada por Kiyoka não investiga esse tipo de coisa. Agora, se a descrição do fenômeno parece fora do padrão conhecido, a coisa é diferente, porque pode ser uma grotesquerie e elas se alimentam do medo. Isso foi explicado no primeiro livro, a ciência e a educação têm eliminado o medo e a ignorância enfraquecendo esses seres mágicos que se alimentam desse tipo de sentimento, mas a discussão ficou fora do anime até agora.
Pois bem, havia uma grotesquerie envolvida nos ataques, mas havia o envolvimento de uma seita chamada de "Nameless Order" (Ordem sem Nome) e que quer derrubar o imperador. Eu desconfio que os sujeitos que romperam o selo da tumba no anime possam já ser este grupo e a animação adiante a apresentação deles. O fato é que a seita é contra o contato com os estrangeiros e as inovações científicas, além disso, eles defendem que todos podem ter os dons, basta introduzir os fluídos corporais as grotesqueries em pessoas comuns.
Temos duas questões aí, a primeira é que por tudo de ruim que acontece neste livro, a ideia de produzir os dons artificialmente é uma grande furada. Os contaminados não se tornam dotados, mas parecem zumbis e correm risco e vida. O outro ponto é que a ideia de democratizar os dons parece absurda para Kiyoka, seu pai e Arata. O Japão de Watashi no Shiawase na Kekkon é extremamente hierarquizado, ter dons é um privilégio que garante muita distinção social. A ideia de igualdade e democracia não é muito popular entre essa elite da nobreza, por assim dizer. Fora isso, os membros da Ordem sem Nome querem derrubar o império. Seriam fanáticos religiosos, terroristas, ou revolucionários?
Neste volume temos vários combates com Kiyoka exibindo os seus dons, assim como os seus oponentes tem seus poderes descritos. Kiyoka e seu pai enfrentam os membros da Ordem sem Nome, além disso, na cidade, Godou e outros soldados estão investigando as ações do grupo. No final do livro, há um atentado que pode ter tirado a vida do segundo em comando de Kiyoka. Não acredito que irá acontecer, Godou deve continuar vivo. De qualquer forma, o gancho final do livro foi muito bom e voltarei a ele daqui a pouco.
Falemos agora dos sentimentos de Miyo e Kiyoka. Logo de início, eles são colocados no mesmo quarto e há somente uma cama enorme e a mocinha fica imaginando como poderá dormir ao lado de Kiyoka. Isso é clichê de séries josei, especialmente, quando o casal protagonista finge que é casado, ou que namora, e vai visitar os parentes que não sabem. Eles sempre acabam ficando no mesmo quarto mesmo, embora nada aconteça. No livro, quando ambos estão se preparando para dormir, Miyo tem uma crise de pânico e sai correndo do quarto para pedir que lhe preparem outro.
O fato é que, e isso aparece em outros mangás de época (Haikara-san ga Tooru, Waltz Wa Shiroi Dress De), a mocinha vai morar na casa do noivo para aprender os costumes da família dele. Fica meio que evidente que se algo mais acontecer entre os dois, se o noivo tomasse liberdades (*porque precisa partir dele*) isso não será um problema, porque o casamento estava apalavrado, ou, caso seja cancelado, a mocinha estava em uma posição tão inferior que não seria um escândalo. Resumindo, se Miyo e Kiyoka fizessem sexo, ninguém teria a ver com isso. Mas eles não farão e, quando e se acontecer, a autora será econômica nos detalhes, eu aposto.
No dia seguinte, Kiyoka está indo para a vila sozinho e se perguntando do motivo do ocorrido, do desespero de Miyo, para, logo em seguida, entender e se recriminar. Ele tinha sido insensível e Miyo poderia imaginar que ele era um homem vulgar e que tomaria liberdades com ela, logo, suponho que Kiyoka tenha alguma experiência sexual anterior e retiro o que escrevi na minha resenha do livro 1. Aliás, mais para frente, ele fica fazendo um jogo de sedução com a pobre protagonista. Porque Miyo, na verdade, não imagina nada, ela recebeu uma educação insuficiente e deve ter tido zero informação sobre o que se passa na intimidade entre um homem e uma mulher. Ela sabe que algo acontecerá, mas não o quê. Talvez, Hazuki tenha lhe dito alguma coisa, mas os livros não mostram.
A própria sogra a recrimina por não se importar em ficar sozinha com o homem enfeitiçado. Ela diz que não tem medo de ser agredida, a sogra termina por deixar claro que não seria decente, nada tem a ver com o tipo de perigo que a mocinha imagina. Miyo fica envergonhada. Na noite anterior, Kiyoka a tinha chamado para se sentar ao lado dele debaixo das cobertas e ela fica rígida e se afasta, o rapaz insiste e a enlaça, de forma muito carinhosa e respeitosa, que fique claro. Miyo termina por aceitar, mas não entende por qual motivo se sente febril. Enfim, imagino que essas situações aumentem nos próximos livros.
Naquela mesma noite, Kiyoka e o pai conversam e o velho lhe adverte que ele está amando. Kiyoka acha a ideia ridícula. Ele sabe que tem sentimentos por Miyo, mas amor não é algo que ele entenda ainda, tampouco é um sentimento que precise estar presente em um casamento, ou assim ele julgava. O pai de Kiyoka mostra muito afeto publicamente pela esposa e ela se irrita com isso, talvez, seja uma forma de defesa da parte dela e provocação da parte dele, mas Miyo acaba descobrindo que Kiyoka tem mais da mãe do que do pai.
Enfim, Kiyoka termina por se declarar para Miyo neste livro. Primeiro, ele a beija. Beijo casto e leve, mas o suficiente para Miyo não se lembrar nem como chegou em seu próprio quarto e não conseguir olhá-lo nos olhos no outro dia. Ela acha que pode ter sonhado, ou que Kiyoka estava bêbado, ou ainda que o beijo não tinha sido de fato importante para ele. Percebendo o embaraço da noiva, Kiyoka se aproxima dela e sussurra em seu ouvido que a ama e que tudo o que fez e disse foi real. Ele é muito direto e franco, isso é bom. Só que Miyo não sabe como lidar com aquilo. Ela vai se casar com ele em poucos meses e não consegue entender seus sentimentos, como lidar com eles, por assim dizer.
Já quando eles estão partindo, Miyo usa pela primeira vez um vestido ocidental. Exatamente por este motivo eu fiquei insatisfeita com o que fizeram no anime. Ela está indecisa e sem confiança e é a sogra, da sua forma enviesada, que termina por lhe dar um empurrão, o figurado e o literal, porque ela praticamente atira Miyo entro da sala. Ela não é gentil, mas a ideia que o livro quer passar é que Fuyu, assim como o filho, nem sempre consegue se expressar da forma correta o que estão sentindo, ou costumam negar o que de fato sentem.
Quando Miyo finalmente consegue ser vista pelos homens da casa, ela é elogiada por Tadakiyo, Arata (*que continua sendo alvo dos ciúmes de Kiyoka*) e pelo noivo. Todos a elogiam e Kiyoka não se contém e termina dizendo que ela está "cute", imagino que, em japonês, ele tenha usado "kawaii". Fuyu fica indignada e diz para o marido que não educou o filho para servir ao imperador e vê-lo usando esse linguajar ridículo. Kiyoka nem ouve a mãe, ele está absolutamente absorvido por Miyo.
Voltando à Ordem sem Nome, Arata havia feito uma revelação para Miyo e Kiyoka, o líder e fundador do grupo é um dos Usuba, Naoshi Usui. Ele é um sujeito muito poderoso e havia sido noivo da mãe de Miyo. Ele se revoltou contra a família e o imperador quando este obriga a jovem a se casar com alguém da família Saimori. O ódio ao imperador deriva daí. Quando Kiyoka, Arata e Miyo chegam de trem a Tokyo, Naoshi Usui fala com eles através de telepatia. Isso é pouco depois do atentado e ele chama Miyo de filha.
Como não acredito que a mãe de Miyo tenha traído o marido, ou algo semelhante, talvez Naoshi acredite que Miyo deveria ter sido sua filha por direito por ele ser o noivo de Sumi e por amá-la loucamente. Provavelmente, ele vai tentar tirar Miyo de Kiyoka. Se a autora quiser ser ousada, e não acredito nisso, talvez ele possa realmente ser o pai de Miyo. Os Usuba controlam a mente das pessoas, talvez, ele tenha conseguido se infiltrar na casa dos Saimori e enganado a própria Sumi. Afinal, foi assim que em algumas versões da lenda, Uther Pendragon se deitou com Igraine e gerou o rei Arthur com a ajuda de Merlin.
O livro terminou exatamente neste ponto e vou começar o livro 4. Apesar de me aborrecer em ver Miyo sendo tratada como criada, não houve retrocesso no amadurecimento emocional da moça. Ela ainda tem problemas de autoconfiança e se acredita inferior, mas ela sabe que Kiyoka a escolheu como esposa, pois poderia mandá-la embora sem problema nenhum, e quer ficar ao lado dele. Miyo acredita que, com o tempo, suas deficiências poderão ser minimizadas e, bem, nós sabemos que Kiyoka a ama como ela é. Enfim, a autora conseguiu entrelaçar bem as coisas nesse volume. Houve romance, drama, suspense e um final que obriga a gente a correr para o próximo livro. Se você leu o texto e não está sabendo, eu estou comentando todos os episódios da animação no meu canal do Youtube.
2 pessoas comentaram:
muito legal, gostei....
mas onde eu posso ler os livros???
Olha, eu compro os volumes em inglês. Consegui baixar os três primeiros deste site aqui, mas ele deixou de funcionar comigo, o Norton não gosta dele. Agora, deve ter gente traduzindo para o português, só não sei onde.
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