É off-topic. É e não é. Sou professora, este blog é meu, e eu fiz um post em 2016 sobre o projeto do Novo Ensino Médio que se tornou uma tragédia bem maior do que eu poderia imaginava. Meu post antevia problemas e contava minha experiência no antigo 2º Grau e apontava que a reforma poderia nos levar para algo semelhante, que se mostrou pior. Ao invés do Ensino Técnico imposto aos adolescentes pobres e de classe média baixa, temos escolas públicas e particulares para as camadas menos abastadas ensinando matérias absurdas no lugar das convencionais e as escolas de elite garantindo que seus alunos e alunas tenham uma educação de qualidade (*para os padrões nacionais*) e garantam sua entrada na universidade.
Para quem não se lembra, ou fingi não lembrar, o Novo Ensino Médio foi imposto - sim, esta é a palavra - no governo de Michel Temer. Não houve debate com a sociedade, não foram ouvidos os professores e especialistas em educação, ou as organizações estudantis, quem resistiu (*porque junto com a MP do Novo Ensino Médio havia o congelamento das verbas da educação proposto pela PEC do Teto de Gastos*), foi demonizado. Eram arruaceiros, jovens manipulados pela esquerda, gente que não se preocupava DE VERDADE com a educação. Enquanto isso, o MEC colocou muito dinheiro na mão de influencers (*mercenários*) para que eles falassem favoravelmente à reforma no Youtube e Instagram; as empresas ligadas à educação e o mercado financeiro comemoraram. O que o mercado financeiro tem a ver com isso mesmo?
Eles, como a Todos Pela Educação - Fundação Lemann (*sim, o bilionário do rombo das Lojas Americanas*), estavam pensando nos negócios, afinal, poderiam vender muita coisa para as redes de ensino públicas, além de cursos para professores desesperados, a reforma criava necessidades que eram do tamanho dos interesses desses grupos privados. Aliás, um de seus porta-vozes, o apresentador Luciano Huck, estava lamentando que Lula tivesse anunciado a revogação, ou suspensão, mesmo que não definitiva, do Novo Ensino Médio e do ENEM. Ele tem interesses e garanto que não são os da melhora da educação do país para todos e todas.
Uma das desculpas da reforma é a preparação dos jovens para o "mundo do trabalho" (*olha um artigo da Fundação Lenman para confirmar*) . Qual jovem vai para o mercado de trabalho ao terminar o Ensino Médio (*na verdade, até antes disso*), o jovem pobre. Este adolescente não precisa ter uma formação profunda, seja humanística (*História, Sociologia, Geografia, Filosofia, Artes, Literatura*), ou nas ciências exatas (*Física, Química, Matemática mais avançada*), não precisa, também, aprender Biologia. Basta um verniz básico e aprender a ler um manual, fazer uns cálculos e entender uns termos em inglês. Está pronto para o abate e abre caminho para que os jovens de classe média média e além possam voltar a ter a tranquilidade em ocupar as universidades públicas e os melhores empregos.
Tenham certeza que nas escolas particulares de elite e mesmo nas públicas federais, a atrocidade do Novo Ensino Médio não irá acontecer sem a manutenção das disciplinas fundamentais na formação básica. E cito o Sistema Colégio Militar, que é onde leciono. Criaram-se os itinerários, mas se manteve o currículo padrão, porque é ele que ajuda a levar nossos alunos e alunas para as universidades e escolas militares superiores, não curso de bolo de pote ou empreendedorismo freestyle.
Quando o novo presidente assumiu, a pressão para que ele revogasse o Novo Ensino Médio era grande e vinha de vários lados, desde professores e estudantes, até especialistas em educação, culminando em protestos no dia 15 de março em todo o país. Ainda assim, o Ministro da Educação, Camilo Santana, resistiu e parece ainda resistir, à revogação do Novo Ensino Médio. O anúncio oficial de que o presidente tinha se decidido, foi um alívio, mesmo que seja necessário ficar e olho, afinal, o histórico de Lula no relacionamento com os grandes capitalistas da educação não é dos mais abonadores. E é esse pessoal que tem interesse em precarizar ainda mais a educação, mesmo que travestindo seus interesses, como se vê no Tuíte e Luciano Huck, de pretensa preocupação com o futuro do país e falsa neutralidade.
Enfim, espero mesmo que Lula bata o martelo e reverta as mudanças, que não seja somente um adiamento do cronograma de implantação, ou uma revisão, estabelecendo grupos de estudo para uma reforma melhor do Ensino Médio. Nada de empreendedorismo neoliberal fajuto, disciplinas inúteis ou esquisitas (como 'O que rola por aí', 'RPG' e 'Brigadeiro caseiro') substituindo aulas de História, Sociologia, Geografia, e mesmo Português e Matemática e itinerários impostos por sorteio e outros métodos (*só tem aquela escola na sua cidade, ou bairro, para onde você vai?*), quando, lá atrás, a propaganda enganosa de Temer e seus cúmplices enfatizava que os jovens poderiam escolher. Não podem.
Que possamos ver o Espanhol de volta à grade e que professores e alunos possam ter um pouco de paz, que RPG ou feitura de brigadeiro possam ser oferecidas como oficinas junto com outras tantas coisas que possam ser de interesse dos adolescentes. De resto, essa história de itinerário é um engodo. E só tem causado dano à formação de nossos jovens e tormento na vida dos professores e mesmo dos gestores das escolas que se veem obrigados a inventar coisas absurdas. É isso. Foi a melhor notícia em muito tempo, mesmo que ainda não seja algo definitivo. E vamos pressionar mais, porque é preciso que o Novo Ensino Médio seja enterrado junto com outras reformas impostas pelo golpe que tanto mal fez ao país.
1 pessoas comentaram:
Precisa ser revogado pra ontem.
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