No dia 14 de dezembro foi ao ar na NHK um especial discutindo a importância e o legado de Sailor Moon (美少女戦士セーラームーン). O documentário de 28 minutos tem também o objetivo de promover o último filme animado da série, Sailor Moon Cosmos, que estreia em 2023 e fecha o ciclo do novo anime, que começou a ser produzido em comemoração aos vinte anos da série e só irá se fechar com os quase trinta anos do mangá original. O documentário é feito para a NHK internacional e com narração em inglês, as legendas só aparecem quando a língua falada não é o inglês.
O documentário visita a exposição "Sailor Moon Museum" e entrevista várias mulheres adultas que são fãs da série desde a infância, ou início da adolescência. Algumas estavam levando seus bebês e acompanhadas dos maridos, uma delas era colecionadora de itens da série e teve um casamento inspirado em Sailor Moon com a supervisão das roupas feitas pela própria Naoko Takeuchi. O documentário entrevista, também, uma fã norte-americana que visitava a mostra, e que destaca o caráter feminista da série. e uma brasileira residente no Japão.
A moça norte-americana destaca que uma das coisas que a chamaram para Sailor Moon, e que ela aponta como a característica feminista, é que cada uma das guerreiras tem uma personalidade diferente e aspirações profissionais, ou seja, ela não desejam somente casar (*a fã nem toca nesse ponto, eu estou apontando*). E isso é uma verdade, mesmo que elas possam flertar, namorar até, se pensarmos em Netuno e Urano, elas são mais que suas relações amorosas. Aliás, um ponto que é destacado pelo documentário é de como a série contemplou a diversidade. Sim, para época, Sailor Moon era bem moderna, especialmente, para os padrões ocidentais.
A moça do Brasil fala em português, comenta a importância que Sailor Moon teve para que ela vencesse momentos de dificuldade financeira enfrentadas pela família. A jovem trabalha em uma loja de itens da série e comenta, também, da importância das novas fãs, porque o documentário está todo no feminino, e que os desenhos animados de quando era criança no Brasil eram muito simples e exatamente por isso, Sailor Moon lhe causou impacto desde o começo.
Do staff do mangá e da animação original e nova, destacam-se Mitsuishi Kotono (dubladora de Usagi) e Tadano Kazuko (character design). Mitsuishi fala que era uma novata quando ganhou as audições para o papel de Usagi, da sua emoção e mostra o roteiro original do primeiro capítulo da série de 1992. Ela descreve muito empolgada como o final da primeira temporada, como a morte das sailors a deixou emocionada e afetou a audiência. Esta sequência não estava no mangá original.
Já Tadano, que não mostra o rosto, comenta que Sailor Moon foi o seu primeiro shoujo anime, que ela sempre trabalhou com shounen e que tentou dar formas, subentende-se sensuais, para as guerreiras da lua. Neste ponto, a narração estaca a importância das cenas de transformação na série original e que havia o destaque da silhueta das meninas.
Talvez, a participação mais importante do documentário, porque Naoko Takeuchi infelizmente não aparece, é do editor da mangá-ka, Osano Fumio (editor do mangá). Na época ele era um jovem editor e queria deixar uma marca na Nakayoshi. Ele chama para si boa parte da parte criativa de Sailor Moon, desde a ideia de serem guerreiras, de usarem o sailor fuku (uniforme escolar de marinheira). Diz que o projeto deslanchou a partir do momento que ele descobriu que Takeuchi era fã de super sentai.
Alguns pontos importantes ditos por Osano é que já nos anos 1990 havia um número crescente de mulheres editoras de mangá, suponho que nas revista femininas; o destaque que ele dá para a questão do nome em inglês da série, que deveria ser "Pretty Soldiers", mas que optaram por trocar de soldados para guardiãs (Guardians), porque a ideia era de proteção, não de violência. Ele pontua, também, como os sailor fuku eram populares entre as meninas e que muitas escolhiam a escola onde gostariam de estudar pela beleza do uniforme.
Osano louva as capacidades de Takeuchi e de como ela colocou temas adultos dentro de Sailor Moon, uma série que deveria ser voltada para crianças, adequando as discussões. Terminou a parte bonita e vamos para a controversa. Osano destaca que o anime começou praticamente junto com o mangá, que isso era arriscado, porque não havia frente de capítulos necessária, mas que ele e Takeuchi ficaram no pé dos animadores para que o anime seguisse de perto o mangá, seu espírito pelo menos.
Eu acabei encontrando um texto de 2014 no meu blog citando um texto do Okazu, site muito sério, que falava das reclamações da autora por causa das mudanças feitas no original, que não houve respeito, ela também tinha ficado chateada em ver que a produção do anime estava na mão de homens. Quem viu a série dos anos 1990 sabe que um dos defeitos que ela tem, defeito em uma série muito amada, que fique claro, é de manterem Usagi imatura e a tornarem burrinha. A cada nova temporada, ela tinha seu amadurecimento apagado e retornava como uma garota bobona e chorona. Aliás, emburrecer protagonistas de shoujo anime era meio que regra na época, pegue Fushigi Yuugi (ふしぎ遊戯) e compara Miaka no mangá e no anime. A quem agrada uma heroína burra e insegura?
Uma das coisas que meu marido, fã de Sailor Moon, reclamou muito assistindo ao documentário, foi a ausência de fãs homens japoneses. O programa não se aprofunda nisso, mas parece ser voltado para as fãs mesmo, consumidoras do mangá, que eram meninas trinta anos atrás. Os fãs homens, no entanto, aparecem na multidão de um desfile em Nova York portando itens colecionáveis e vidrando com as moças vestidas de Sailor em um carro aberto. Há dois homens na mostra de Sailor Moon que não parecem estar acompanhando esposas ou namoradas, ou, pelo menos, foram filmados sozinhos.
Agora, o documentário fala, sim, de fãs homens, porque destaca que Takahashi Tomoya, diretor do novo movie, decidiu tomar essa carreira na animação por causa do seu amor ao anime original de Sailor Moon e que está se inspirando nas cores e cenários da série clássica para construir o novo filme. Se tomamos o depoimento dele como verdade, Sailor Moon causou grande impacto em muitos meninos japoneses, mesmo que o documentário não lhes dê espaço.
Concluindo, é inegável a importância de Sailor Moon, um marco cultural que revolucionou os animes de garotas mágicas. Terminei de assistir ao documentário, no dia primeiro deste ano, enquanto voava de Brasília para o Rio, emocionada e coloquei a trilha original no meu tablet logo em seguida. A abertura e Princess Moon são minhas músicas favoritas e acho lamentável que anova série tenha optado por uma abertura diferente e sem a mesma força.
Algo a se destacar, no entanto, é ver que Naoko Takeuchi parece ter parado ali e só participou indiretamente deste tributo. Sempre me questiono sobre o que terá acontecido com ela, porque ela poderia, sim, claro, viver somente de Sailor Moon para todo o sempre, mas poderia, também, continuar criando e produzindo coisas novas. Enfim, o documentário está disponível no site da NHK e eu consegui baixá-lo usando este site aqui.
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