Hebe de Bonafini (1928-2022) líder das Mães da Praça de Maio, um grupo de mulheres que confrontaram a ditadura argentina (1976-1983), uma das mais cruéis da América Latina, faleceu no último domingo (*1 - 2 - 3*). Todas as quintas-feiras, usando lenços brancos na cabeça, desde 1977, elas se reuniam diante da Casa Rosada, a residência oficial da presidência argentina, exigindo que seus filhos e filhas lhes fossem devolvidos. Com o passar do tempo, as mães viraram avós, porque uma das práticas mais cruéis da ditadura militar argentina era sequestrar crianças, filhos e filhas de prisioneiros políticos, e as darem em adoção para casais de confiança do regime. Em alguns casos, os próprios carrascos adotavam essas crianças (*Exemplo*). Estima-se que mais de 500 crianças tenham sido roubadas e até hoje, há quem procure seus netos e netas e muita gente traumatizada em descobrir que seu amoroso pai talvez tenha sido o torturador e assassino de sua mãe biológica.
Hoje, o Mães da Praça de Maio se transformou em uma poderosa entidade, que hoje possui um instituto universitário, um jornal, uma rádio e uma livraria. E, não, isso não é ruim, só mostra a importância da luta dessas mulheres, a maioria donas de casa sem nenhum envolvimento político na época do início do movimento, e a força de sua causa. Além disso, administra um centro cultural que funciona hoje numa das ex-sedes clandestinas de tortura, a ESMA (Escola Superior de Mecânica da Marinha).
Bonafini teve dois de seus três filhos sequestrados e mortos pela ditadura. As Mães da Praça de Maio até hoje marcham em memória dos seus filhos e filhas e para manter viva a memória das atrocidades da ditadura e formar novos militantes pela causa dos direitos humanos. Sim, é preciso não esquecer, ou novas ditaduras podem acontecer. Os argentinos merecem toda a admiração por não terem nem perdoado, nem esquecido, os criminosos responsáveis pela ditadura em seu país. Com a idade avançada e a saúde já se deteriorando, Bonafini passou a participar cada vez menos as marchas, que foram suspensas por dois anos por causa da pandemia.
Bonafini foi homenageada por várias autoridades da Argentina e, também, do exterior. Sua luta e a de outras mães para encontrarem os cerca de 30 mil desaparecidos durante a ditadura é publicamente reconhecida em seu país. Eu prometo terminar de assistir Argentina 1985 e resenhar. É um filme necessário. Para quem quiser saber mais sobre o roubo de crianças, recomendo o filme História Oficial, que ganhou inúmeros prêmios, incluindo o de melhor filme estrangeiro no Oscar de 1986. Sim, os argentinos não esperaram vinte anos para enfrentar seus fantasmas. Para quem está curioso, houve sequestro e adoções ilegais de crianças no Brasil, a escala foi menor, mas há pelo menos um livro sobre o tema, o nome é Cativeiro sem fim: as Histórias dos Bebês, Crianças e Adolescentes Sequestrados Pela Ditadura Militar no Brasil. Eu tenho e recomendo. A questão do sequestro de crianças durante a ditadura foi tratada na novela Amor & Revolução do SBT, aliás, procurando no Youtube, você encontra os relatos dos torturados e perseguidos que iam ao ar ao final dos capítulos até que pararam de ser exibidos. A novela, não recomendo, porque era bem precária.
4 pessoas comentaram:
"Os argentinos merecem toda a admiração por não terem nem perdoado, nem esquecido, os criminosos responsáveis pela ditadura em seu país"
Pero no mucho, não é mesmo? Lá babam horrores o Peron, aliado entusiasmado do Franco, negacionista do Holocausto,
fez da Argentina um dos maiores (se não o maior) refúgios de criminosos de guerra nazistas do mundo...
E é cultuado na Argentina até hoje à esquerda e à direita, com direito a musiquinhas cantadas na rua e uma corrente política com seu nome.
Peron é admirado por lá, e odiado, também, você deve saber disso, pelo que fez por seu país, assim como Getúlio Vargas. Há certas nuances que precisam ser consideradas, fora que Franco foi muito bem aceito pelos democratas pós 2ª Guerra, assim como manteve boníssimas relações com Fidel Castro. Não procure santos na política, eu não procuro. Na política, normalmente, se tem aliados. Quanto aos nazistas, eles foram para o Chile, o Brasil e os norte-americanos têm muito a agradecer a um nazista pelo seu programa espacial.
Então, pode odiar Peron à vontade, ele não é perfeito, mas nivelá-lo com Videla e os seus é ser muito ingênuo, ou canalha. Você pode escolher o que você prefere ser. De qualquer forma, seu comentário foi publicado, mas aviso que não pretendo estender a discussão, porque o texto não é sobre Peron, sequer falou dele, é sobre não esquecer os crimes da ditadura criminosa de 1976-83. Grata pela compreensão.
Vale lembrar também que Videla literalmente "comprou" o título mundial da Argentina em 1978...
com direito a "marmelada" épica... 6x0 contra o Peru. Dizem que Videla negociou com o ditador peruano essa marmelada... dinheiro e entrega de trigo
além disso... Argentina 6x0 Peru foi realizado depois de Brasil 3x1 Polônia.
Quero recordar também que depois que Videla foi "convidado a se retirar" do poder em 1981... o regime deu claras mostras que tava perto do fim. de 1981 até 1983(final do regime)...
Viola, Galtieri e Bignone. E claro, o fiasco das Malvinas acelerou a decadência.
Por falar em nazistas, os EUA os recrutaram na CIA... Klaus Barbie por exemplo...
Nazistas foram recrutados pela França na Legião Estrangeira... inclusive houve adaptação em francês de canções militares alemãs. (exemplo... "Képi blanc" derivada de "Panzerlied")
https://fr.wikipedia.org/wiki/Allemands_de_la_L%C3%A9gion_%C3%A9trang%C3%A8re_fran%C3%A7aise_dans_la_guerre_d%27Indochine
https://www.liberation.fr/planete/2014/03/05/indochine-la-legion-des-inconnus-de-la-wehrmacht_984735/
Júlio, por favor, vá odiar Perón e os argentinos em outro lugar. Não vou publicar mais nada nesse sentido da sua parte. Um povo não tem alma, se o tivesse, a dos brasileiros, dado o que estamos testemunhando, seria muito horrenda.
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