sábado, 19 de novembro de 2022

Comentando Akuyaku Reijou to Kichiku Kishi: Um Mangá Mediano e com um Mocinho muito Perturbado. (NSFW/+18)

Estou tentando colocar o ranking da Oricon em dia, tive que dar uma reduzida nas postagens, porque tinha que colocar o trabalho que paga minhas contas em primeiro lugar, além disso, é período de provas da Júlia.  Enfim, Akuyaku Reijou to Kichiku Kishi (悪役令嬢と鬼畜騎士), de Nekoda e Seikan, apareceu no penúltimo top 30 da Oricon, em 13º lugar.  Abri sem olhar a revista e fiquei realmente surpresa de ver o primeiro TL (teen love) no ranking dos mais vendidos, que eu me lembre, claro.  Depois, fui checar a revista e não é, sai na  revista Zero-Sum Online.  Só que ele engana de propósito para atrair a audiência.  Li tudo o que estava disponível dele, 7 capítulos, sendo o primeiro, duplo.  Antes de começar, segue o resumo do Bakaupdates:  

A filha do Marquês, Cecilia, de repente percebeu o fato de que ela havia reencarnado em um  Otome Game como a vilã da história! No entanto, já era tarde demais para ela evitar a condenação. Após romper o noivado, ela foi incriminada pela heroína e, como punição, seria obrigada a se prostituir. Seu primeiro cliente foi o amigo de infância da heroína, o vice-líder da Guarda Imperial, Lucas Herbst, que era tão forte a ponto de ser difícil acreditar que suas capacidades eram reais. Assustada, Cecilia foi abraçada implacavelmente apenas para acordar na residência do duque de Herbst na manhã seguinte. Além disso, uma marca do voto foi gravada em seu abdômen inferior, marcando-a como noiva de Lucasー?!

Em condições normais, eu não prosseguiria a leitura deste mangá, mas eu queria descobrir o motivo dele estar entre os mais vendidos.  Terminada a leitura dos 8 capítulos disponíveis, a série teve seu segundo volume lançado, não descobri ainda.  É um mangá sem pé nem cabeça e de uma cara de pau sem limites.  Comecemos.  É isekai, mas isso não faz diferença alguma para a trama.  A mocinha diz, nada é mostrado de seu passado na Terra, que era uma estudante universitária que trabalhava em meio período para se sustentar.  Isso igualmente não faz diferença, porque a protagonista sequer parece ter o domínio das possibilidades de um jogo que ela afirmou ter jogado inúmeras vezes.  Na verdade, ao se apresentar como mangá do gênero, porque virou gênero "vilã" a série tem como objetivo embarcar na onda criada por sucessos como Hamefura, tome Gamu no Hametsu Furagu Shika Nai Akuyaku Reijou ni Tensei Shite Shimatta… (乙女ゲームの破滅フラグしかない悪役令嬢に転生してしまった…), ou My Next Life as a Villainess: All Routes Lead to Doom!.  

Para não ser tão injusta com a série, o que parece se desenhar nesse início de mangá é que a heroína, que como toda mocinha de Otome Game, vive cercada por homens potencialmente interessantes, não presta.  Aliás, a série constrói um mundo marcado por uma dupla moral que pesa sobre as mulheres (*Há!*), pois a heroína do jogo, além de ter ferrado sem dó a protagonista, é percebida por sua família como um problema, seus muitos pretendentes indicavam uma certa promiscuidade que poderia arrastar toda a família para a lama, pois é inadmissível que qualquer contato físico se estabeleça entre moças solteiras e seus pretendentes.  Já nossa vilã é modelo de virtude e tem um noivo, que vai ser "tomado" pela heroína, o segundo príncipe, que vive dando pulinhos e sonha em poder seduzir, estuprar, whatever, nossa protagonista sem ser obrigado a casar com ela.  A história do condenada ao bordel parecia ser um plano para que ele pudesse ter as duas, a heroína, promovida à noiva, e a protagonista, rebaixada à escrava sexual. Parecia, porque temos o tal Lord Lucas, o mocinho mais perturbado que eu já vi em um mangá.

E, com isso, volto ao primeiro capítulo, que é em duas partes.  Quando começamos o mangá temos a terrível condenação da mocinha.  Ela é acusada pela heroína de tentar lhe fazer mal (*a protagonista só lembra de pequenas maldades como não convidá-la para festinhas*), o príncipe compra a história da outra, o noivado é rompido e ela é rebaixada.  A protagonista imaginava ser enviada para um convento, esta seria a pena, mas o noivo pervertido e outros interessados em abusar dela, a enviam para um bordel de luxo.  Cecilia fica desesperada, mas se resigna (*fácil demais*) ao seu destino.  Ela é virgem, absolutamente inocente e tem sua primeira noite comprada pelo tal Lor Lucas, seu guarda-costas, sobrinho do imperador e conhecido por ser implacável.  E ele oscila entre a violência e a ternura nesse primeiro capítulo em duas partes.

Olha, é a primeira vez que vejo colocarem aviso de NSFW (Not safe for Work) em um título de capítulo, mas a segunda parte tem.  Temos sexo, ele é bem explícito e a protagonista acredita que o sujeito irá matá-la em vários momentos.  Ele é um yandere, isto é, "(...) Garotas ou garotos com interesses românticos, que se apresentam de maneira amorosa e gentil inicialmente, mas revelam uma fixação doentia por determinado personagem, se tornando sociopatas capazes de hostilidade e violência por motivos de ciúmes."  Nunca vi uma personagem se enquadrar melhor nisso aqui.  O yandere é uma criatura perigosa e imprevisível, além de possessivo e obcecado, claro.


Lucas jamais tinha demonstrado qualquer interesse por Cecilia.  Ele nem lhe dirigia a palavra para além do protocolar.  A mocinha se surpreende ao tê-lo como seu primeiro cliente e teme que ele possa estar querendo vingar a heroína, que foi sua amiga de infância.  Na verdade, ele veio tomar o que acredita ser seu, a virgindade da protagonista.  Ele quer mais que isso, também, mas só irá revelar seu plano mais tarde.

Há uma fetichização exagerada da dor da primeira vez, como de praxe nesse tipo de mangá, a mocinha aterrorizada fica excitada, tem orgasmos e por aí vai.  Detalhe, ela tenta retardar o ato e chega inclusive a pedir para tomar algum remédio que possa diminuir sua (possível) dor.  Lucas afirma então que ele quer que ela sinta dor, para que o fato dele ser o primeiro fique para sempre na memória dela e a morde e machuca e ameaça.  Sinceramente?  Isso nada tem de romântico, ou excitante.  Ele pergunta quem lhe deu o vestido que está usando e Cecilia diz que foi o filho do chanceler.  Ele fica possesso e a faz tirar a roupa e prega o vestido na parede com uma adaga.  Ele odeia Thomas Müller, o tal sujeito, que era uns dos que queriam se aproveitar de Cecilia.  Ele teve a ideia de mandá-la para o bordel.

E, sim, temos sexo e Lord Lucas obriga Cecilia a fazer uma série de juramentos sobre ele ser o primeiro a ter acesso ao seu corpo.  Por fim, ele se desculpa, se derrete todo e arranca uma admissão por parte da mocinha de que foi bom para ela, também.  Obviamente, Cecilia não tinha escolha, seria violentada de qualquer jeito caso resistisse, e, repito, o sujeito é muito perturbado.  E os próximos capítulos só reforçam isso e não houve mais sexo, foi somente esse primeiro capítulo e, depois, parece um mangá muito do bem comportado.

O terceiro e o quarto capítulos nos apresentam Lucas e suas motivações.  Desde a infância, ele é incapaz de sentir empatia por qualquer pessoa.  Ele é muito estudioso e se mostra competente nas artes marciais, por conta disso, seu pai o manda treinar com os adultos e magicamente disfarçado (*a magia é introduzida na história*) para que seus olhos dourados, típicos dos membros da casa real, não sejam percebidos.  Seu treinamento é brutal, seu mestre particularmente sádico, mas Lucas se torna cada vez melhor e, um dia, ele encontra Cecilia.  Eles têm praticamente a mesma idade e ela se mostra preocupado com ele, que aprece ferido.  Lucas fica absolutamente fixado nela.  Ele irá treinar o máximo possível para protegê-la e o garoto se torna cada vez mais violento.  Ele se tornará o mais jovem membro da ordem de cavaleiros que protege a família real.  Mais tarde, ele não deseja somente ser seu protetor, ele a quer para si, mas ela é noiva, então, ele precisa limpar o caminho.  Sim, é ele quem manipula a todos para que Cecilia possa cair em desgraça de forma que ela fique absolutamente dependente dele.  Doentio.

O quinto capítulo mostra o passado de Cecilia, mas não temos NADA sobre sua vida na Terra, porque, bem, isso não importa, é só desculpa mesmo para enfiar esse mangá dentro da tendência da moda.  Cecilia foi selecionada aos dez anos para ser noiva do segundo príncipe.  O noivo é desagradável, grosseiro e obsceno.  Ele acha feia e sem graça.  Ela sofre com o fim da sua infância, já que deverá passar por um intenso treinamento para se tornar um membro da família real.  Aqui, o mangá fica muito parecido com outro que resenhei, Outaishi ni Konyaku Hakisareta no de, Mou Baka no Furi wa Yameyou to Omoimasu (王太子に婚約破棄されたので、もうバカのふりはやめようと思います), o da mocinha que tinah que fingir-se de burra para não desagradar o noivo-príncipe e é descartada por ele.

E temos a perspectiva de Cecilia do seu encontro com Lucas.  Ela se compadece do garoto que é obrigado a treinar junto com adultos.  Ela se sente comovida pelo fato dele estar treinando para se tornar seu guarda-costas e ela também se apaixona por ele.  Cecilia decide se dedicar a sua educação com o mesmo afinco que o garoto, como forma de honrá-lo.  Ela inclusive aprende magia de cura.  No quinto capítulo, ela o reencontra, agora, como Lord Lucas e fica na dúvida se ele é o mesmo garoto que ela conheceu, afinal, ele antes estava disfarçado.  Conhecendo a fama do sujeito, a violência com a qual ele costuma agir contra seus inimigos (*mesmo sem revelar sua identidade, ela desconfia dele*), ela passa a temê-lo.  

Ainda no quarto capítulo, retornamos para o presente.  Cecilia acorda em um quarto estranho, cercada por maids e descobre que está na casa de Lord Lucas.  Não como prostituta, ou concubina, mas sua noiva.  O sujeito a enredou para que ela pronunciasse juramentos que uniriam os dois para sempre.  Agora, ela carrega uma marca que  a impede de se aproximar de qualquer outro homem, se outro sujeito se aproximar dela, para além da ira de Lucas, teria que enfrentar uma magia muito poderosa.  Está bom para você?  Nossa mocinha agora está prisioneira da mansão de Lucas.  Todos sorriem para ela, mas Cecilia não pode nem ir ao quintal.  

A autora introduz algum humor rasteiro, com uma das maids tendo sido babá de Lucas e tendo domínio sobre ele e evitando que ele faça sexo violento com ela de novo, ou a constranja em público.  O rapaz tem que que se afastar de Cecilia para cumprir missões e conseguir eliminar os primos que estão na sua frente.  Sim, não me perguntem como, o mangá não mostrou, mas ele vira o herdeiro do tio.  E o capítulo sete é o reencontro dos dois com Cecilia se convencendo de que ama o sujeito e tentando convencê-lo a transar com ela de novo.  

É o que temos até o momento.  Veredito?  Nota 10 para o mocinho mentalmente perturbado e super inteligente, a arte é boa, de resto, o mangá é confuso, rasteiro e só se diz isekai e de vilã reencarnada para atrair atenção.  Fazia tempo que não via uma mocinha prisioneira nesse grau em um mangá, me fez lembrar certos shoujo duvidosos dos anos 1990-2000. DUVIDO que esses detalhes tenham alguma importância no roteiro, mas se Cecilia voltasse para o Japão de nossos dias e o sociopata fosse atrás dela e causasse destruição na Terra, até que poderia ter sua graça.  O mangá é baseado em três novels, então, imagino que não será longo.

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