Já havia até desistido de comentar este documentário, que está disponível no Youtube, sobre as negligências do Governo Federal que possibilitaram que as mortes por COVID-19 escalassem no Brasil. Estou com COVID no momento e sou grata às quatro doses de vacina, porque se os sintomas são ruins, muito mesmo, no meu caso, imagino o que seria se estivesse sem vacina, como tantos estavam em 2020, 2021, mesmo com os primeiros imunizantes disponíveis. E esta semana, em debate, o presidente mentiu novamente dizendo que eles não estavam disponíveis no final de 2020. MENTIU e quer se reeleger e pode efetivamente conseguir, mesmo tendo possível responsabilidade na morte de pelo menos 400 mil pessoas das cerca de 700 mil oficialmente perdidas para a doença.
Muito bem, o documentário produzido pelos irmãos Gabriel e Lucas Mesquita foca nos familiares das vítimas, histórias tristes, cruéis, de gente que não pode enterrar seus mortos como se deve, isto é, contemplando pela última vez seu ente querido que partiu. Gente que viu pai, mãe, irmãos, partirem sem terem tido acesso a uma única dose de vacina. O outro foco do documentário são os cientistas, vários deles, de áreas relacionadas ao combate e prevenção da epidemia. Alguns estiveram na CPI, outros são ligados a importantes centros de pesquisa no Brasil e no Exterior.
Na comparação, acredito que há mais cientistas do que relatos de vítimas, eu teria invertido a balança e dado mais voz aos que sofreram as perdas. Ainda assim, eu consegui me comover e estando doente neste momento junto com meu marido e filha, minha indignação é ainda maior. Mas eu conheço pelo menos uma pessoa que quase morreu, perdeu pai, perdeu mãe e continua achando que tudo o que (não) foi feito pelo governo federal na pandemia foi corretíssimo. E que trabalho domiciliar no auge da pandemia era coisa de quem não queria trabalhar de verdade.
Por essas e outras, eu senti realmente falta foi da ponte com o Fascismo e a pulsão de morte, que possibilita a defesa de que aqueles que morreram são os mais fracos, os indignos, os que representavam um peso para a comunidade. Não se trata somente, como o documentário defende, de uma opção pela economia, até porque Paulo Guedes e Bolsonaro não tem nenhum planejamento econômico para além da espoliação das riquezas da nação e a possibilidade de garantir o enriquecimento de especuladores e dos lumpen capitalistas (*aqueles que querem ganhar o máximo, o mais rápido possível, sem pensar no amanhã*). E cabe aqui ressaltar que, também nos debates, se ignorou o fato do governo atual, e isso depois de muito pressionado, ter defendido um auxílio de somente 200 reais. Quem garantiu que fosse mais que isso foi o Congresso, em especial as oposições, e um arranjo com o STF.
Não se priorizou a economia, portanto, se jogou com a possibilidade de dispensar um número de pessoas considerado inferior em um projeto de "imunidade de rebanho" que jogava com vidas humanas. O nome é eugenia os resultados dessa "experiência" estão aí para quem quiser ver. Eu perdi pessoas próximas, não perdi membros diretos da minha família, ou amigos íntimos, mas conheço mais de um caso trágico. Vi meu irmão destroçado pela perda de quatro amigos em um mesmo dia, meus pais lamentando a perda de pessoas que estimavam, famílias inteiras, gente que eu conheci enquanto crescia. Eles moram no Rio de Janeiro, eu em Brasília. Eu trabalhei presencialmente, mesmo sem alunos em minha escola, durante todo o ano de 2020. Eu saia de casa sem a certeza de que não voltaria trazendo a infestação para minha filhinha e meu marido, que era grupo de risco.
E é isso. O documentário foi lançado no dia 22 de setembro. Houve algumas exibições públicas, uma na UnB, inclusive, mas o acesso estava liberado no Youtube simultaneamente. De resto, NÃO PODEMOS ESQUECER DOS QUE PODERIAM ESTAR AQUI CONOSCO, SE AS VACINAS TIVESSEM CHEGADO. E a pandemia, à despeito da suspensão de todas as medidas sanitárias, mesmo em ambientes escolar, local onde eu trabalho, não acabou. E eu não esqueço, mesmo não tendo perdido nenhuma pessoa realmente próxima, ou passado uma temporada na UTI. Você pretende esquecer? Mais uma coisinha antes do fim, as ações do presidente ajudaram a colocar em questão a eficácia das vacinas, isso é muito bem tratado no documentário, dando peso para discursos antivacina que eram absolutamente marginais até então. Resultado? Voltamos a ter mortes por sarampo, a poliomielite pode voltar, também. Deem mais quatro anos para este homem e os resultados não serão dramáticos somente na economia.
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