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quinta-feira, 16 de junho de 2022

"Esses homens se sentem protegidos pela presidência da República" e o desfecho foi como esperado

Ontem, foi confirmado o que a maioria de nós já sabia, o indigenista Bruno Ribeiro e o jornalista britânico Dom Phillips foram executados no Vale do Javari, no Amazonas.  O primeiro era um dos maiores especialistas em tribos isoladas no Brasil, funcionário licenciado da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) exonerado de seu cargo por ter prejudicado os interesses de garimpeiros ilegais em terras indígenas; o segundo, um jornalista britânico conceituado, casado com uma brasileira, e que fora parceiro de Bruno em reportagens importantes sobre a situação dos indígenas brasileiros.  Seu destino,  morte, era pedra cantada desde que o alarme foi dado e não vou me prolongar, só quero fazer algumas colocações.  Começo recomendando um vídeo do Meteoro Brasil, que pergunta como o governo vai lidar com o caso, um crime político.  Eu digo o seguinte, não vai lidar, é um governo que não assume as suas responsabilidades, vai tentar criar uma distração para a imprensa local.  Talvez, mais de uma, a atual, que já está rolando, é Ratanabá, essa bobagem sem tamanho, mas que está sendo discutida por muita gente boa por aí.  Eu me recuso.

Seguindo, no dia 05 de Junho eles foram vistos vivos pela última vez.  A cronologia do caso está muito bem organizada nesse artigo do Yahoo.   Graças ao alarme dado pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), o mundo ficou sabendo do acontecido e o governo viu-se obrigado a se pronunciar, algo que fez da forma como sempre faz, inclusive culpando as vítimas e/ou desqualificando-as, e mobilizar recursos para as buscas.  Como havia um inglês envolvido, um jornalista conhecido, o caso ganhou imediata repercussão e as cobranças aumentaram, assim como as reações defensivo-agressivas do governo.  Anteontem, os bombeiros anunciaram que tinham encontrado os pertences das vítimas.  Entre eles, um computador pertencente ao inglês.  Mais tarde, a PF divulgou a mesma lista, sem o notebook.  Esse detalhe é super importante, mas parece que passou batido para muita gente.  Havia um computador?  O que poderia estar dentro dele?  Ou não havia e foi engano?  

No mesmo dia, funcionário da embaixada brasileira em Londres ligou para a família comunicando que os corpos haviam sido encontrados.  Depois, a PF negou e a embaixada correu para negar tudo e se desculpar.  Prenderam o primeiro suspeito.  Mais tarde, houve denúncia de que o homem, um pescador, provavelmente parte de uma rede que trabalha para gente mais poderosa, foi torturado pelas autoridades.  Enquanto isso, a Justiça se pronuncia contra a FUNAI, que publicou nota ofensiva contra o trabalho de buscas e divulgação feito pela Univaja, pois não havia interesse, aparentemente, de que os indígenas, que conhecem a região, das buscas.  E a Univaja soltou uma nota na qual elogia o 8º Batalhão de Polícia de Tabatinga e dizendo que foram os únicos que realmente apoiaram as buscas e valorizaram o conhecimento que os nativos têm da região.

Se vocês quiserem saber minha opinião, e tudo aqui se trata de opinião mesmo, a demora em confirmar que haviam encontrado os corpos deriva da necessidade de arrumar a versão oficial e dar o caso por encerrado.  Dois pescadores, gente com a aparência de povo, foram os culpados.  Não foi um crime político, foi algo motivado por questões individuais, não existe o envolvimento de máfias, ou mesmo de políticos no caso, ou em outros casos.  A culpa é dos dois sujeitos, gente simples.  Ao mesmo tempo, o presidente diz que Dom Phillips, que ele não se digna a chamar pelo nome, o que discursivamente é uma forma de marcar sua desimportância, era "malvisto" na região.  O que é ser malvisto?  Malvisto por quem?  Isso justificaria o crime?

Sydney Possuelo, ex-presidente da Funai, indigenista especializado em tribos isoladas e ativista social disse, no último Roda Viva, a seguinte frase: "Esses homens se sentem protegidos pela presidência da República".  Agora, assista, por favor a fala da Natuza Nery sobre o caso e usando muito bem o conceito de "lugar de fala".  Depois, vale assistir o vídeo inteiro do Henry Bugalho.

O governo federal agiu desde o seu primeiro momento no sentido de desmontar qualquer mecanismo de controle e de proteção à Amazônia (*Exemplo*) e aos indígenas do país, mais do que isso, os desqualifica.  Ao mesmo tempo, tentou normalizar a ação de grupos que agem na ilegalidade, gente que Luis Nassif chamou em um vídeo antigo e que não lembro qual de lupemcapitalista.  O que seria isso?  Ele tomou de empréstimo o conceito marxista de  lumpemproletariado, o grupo de trabalhadores que está tão degradado que não tem mais princípios, que é capaz de tudo.  O lupemcapitalista seria aquele que só se importa com seu lucro imediato, sem pensar no futuro, sem qualquer moral.  E, não, nem todos os capitalistas são degradados, ou não tem planejamento futuro.  Economia verde é uma realidade, gostem os pensadores de esquerda, ou não, aliás, bom que a crítica exista.  

O problema é que temos um governo que se alinha exatamente com esse tipo de "empreendedor".  Aliás, a última é facilitar, por exemplo, a construção de pistas particulares, desregulamentando o setor e facilitando a vida de criminosos e, claro, tornando mais perigoso voar no Brasil.  Meu marido que é da área, se assustou, disse que isso vai contra regulamentações internacionais.  Enfim, é o Brasil que temos e que pode se prolongar por mais quatro anos, ou mais até, porque se houver mais um mandato, a lógica é que ele consiga ficar mais um pouquinho..

O assassinato de Dom Phillips e Bruno Ribeiro deve repercutir mais fora do país do que aqui.  Se atrapalhar os negócios, talvez os capitalistas menos selvagens decidam que é preciso dar um basta a qualquer apoio à barbárie.  Talvez, os militares sejam prejudicados de alguma forma.  Talvez.  Afinal, ao invés de se preocupar com fraudes inexistentes nas eleições, cuidar da fronteira amazônica é função deles.  O fato é que eu tenho certeza que a operação abafa será grande.  Aliás, quem se lembra de Genivaldo?  Sua morte faz parte da naturalização da violência em nosso país, não do reconhecimento de que ela existe e precisa ser combatida, mas de que a degradação dos valores humanos mais básicos é normal.  E vamos discutir urnas eletrônicas, Ratanabá, ou sabe-se lá qual fake news será inventada.  

Se vocês me perguntarem se eu tenho esperança, eu responderei que não tenho.  O futuro é sombrio, o presente me assusta, e isso é ainda mais angustiante para mim, porque tenho uma criança em casa.  Eu preciso passar para ela sentimentos positivos sobre o futuro e me esforçar para ver algo de luz no fim do túnel é muito desgastante.  Espero estar errada e que possa mostrar este e outros textos para a minha Júlia e relembrar com ela tempos sombrios que ficaram para trás.

2 comentários:

  1. Imagina se o Brasil sofrer sanções por causa dessa conduta do Minto....

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  2. Se lembre... a grande mídia brasileira não é totalmente "inimiga" de Bozo.
    Pq a política econômica dele agrada a essa mídia! (patronal)....
    Quando a mídia "livre" fala de de problemas econômicos... evita ao máximo criticar Bozo...
    na época do PT... Lula e Dilma eram malhados ao extremo! Ontem vi "acidentalmente" num bar.. jornal da Record.. falando da carestia do feijão! O jornal pregava conformismo social de forma "implícita"... mostrou "soluções" como substituir o feijão por outro alimento... através de uma dona de casa entrevistada pela TV. (pobre manipulada)...
    Se essa carestia fosse no Brasil do PT... na Venezuela etc. a Record taria culpando os governantes... se fingiria de solidária etc.
    Ah... em termo de subserviência... ao menos a Jovem Klan é mais "sincera"... é puxa-saco explícita do Minto.
    Nem levo + a sério a mídia tradicional!

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