Aqui, no Brasil, existe um excesso de informalidade e muita gente acha curioso que em outras culturas as pessoas se tratem pelo sobrenome, às vezes, acrescentando algum pronome de tratamento, como "senhor", "senhora", "senhorita", ou ainda que os franceses e italianos não admitam o uso do "tu" entre desconhecidos e por aí vai. Há quem veja frieza, mas é questão de respeito e de grau de familiaridade, também.
O idioma japonês tem uma quantidade grande de honoríficos e distinções de uso que rendem discussões entre os fãs de anime e mangá, que acham absurdo que as traduções e dublagens não mantenham o "san", "sama", "dono" etc. Não estou fazendo este post para discutir isso, mas estou comentando uma matéria do Sora News, que está aberta aqui faz tempo.
Muito bem, a matéria está falando de uma recente controvérsia nas escolas do país, não todas, que fique claro, que é a proibição do uso de apelidos e do reforço para que o "san" seja usado em bases regulares desde o primário, o nosso fundamental 1. Ao longo do texto, a matéria reproduz falas de autoridades escolares reforçando a necessidade de ensinar as crianças a terem respeito pelos colegas, porque em nenhum momento há a mínima sugestão de que o uso esteja sendo deixado de lado em relação aos superiores. A questão central do argumento dos entrevistados parece ser o bullying. Vou reproduzir as falas:
“Se você promover um senso de respeito pela pessoa com quem está falando desde tenra idade, ela não tomará medidas que prejudiquem os outros”, diz Masaaki Uchino, diretor de 60 anos da Kasai Elementary. “Muitos apelidos baseados na aparência física de uma pessoa, ou em um erro que ela cometeu, são um insulto”, diz Mitsuo Nobuchi, o vice-diretor de 51 anos da Mito Eiko Elementary, uma escola particular da província de Ibaraki cujas regras de conduta para os alunos incluem "Use -san ao falar com seus amigos". “Não acreditamos que as regras de como os alunos devem se dirigir uns aos outros acabarão completamente com o bullying”, admite Nobuchi, “mas acreditamos que seja um componente de medidas dissuasivas”.
Por outro lado, há a fala de uma professora primária que destaca um aspecto importante, a afetividade entre as crianças. "“Ao proibir apelidos, temo que eles possam dificultar a comunicação fácil e aberta das crianças umas com as outras”, disse uma professora primária de 40 e poucos anos da província de Saitama." Curiosamente, é a única fala anônima. Professores temem por seus empregos em todos os lugares do mundo... Enfim, ensinar respeito é importante, mas ajudar a construir pontes entre as pessoas, também, é.
Será que reprimir os pequenos, obrigando-os a se tratar de maneira tão formal irá ajudar a reprimir o bullying? Certamente, essa medida sozinha não vai servir de nada, porque é possível ofender e ferir as pessoas usando a linguagem formal e os honoríficos. Talvez, o problema tenha que ser procurado em outro lugar. Qual a atitude das autoridades escolares e das famílias em relação ao Bullying? Que tipo de orientação as escolas oferecem? Apoio? Se nós tirarmos pelos mangás e animes, além de notícias que aparecem aqui e ali, o esforço tem que ir muito além de usar "san" com os amiguinhos.
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