Quando estava grávida de Júlia e nos primeiros anos dela comigo, minha filha completa 9 anos em outubro, escrevi várias vezes sobre parto humanizado e violência obstétrica. Não me desinteressei do tema, mas confesso que me afastei um pouco dessa militância. Muito bem, sigo a professora e médica Dr.ª Melania Amorim e vi uma postagem dela falando contra episiotomia, ou ponto do marido, e manobra Kristeller. Eu passei batida e segui em frente, mas me deparei hoje com a matéria do Intercept sobre o lançamento da polêmica Caderneta da Gestante, como uma das ações comemorativas do Dia das Mães. Trata-se, ao que parece, de um show de horrores, mas que contempla plenamente ou interesses do grupo de médicos cesaristas, que odeiam as doulas, e adeptos de práticas duvidosas que configuram violência obstétrica, termo que eles querem banir, e que apoiaram fervorosamente a eleição do atual presidente. Cito parte da matéria do Intercept de autoria de Bruna de Lara:
"O MINISTÉRIO DA SAÚDE, na figura do secretário de Atenção à Saúde Primária Raphael Câmara, anunciou na última semana o lançamento da sexta edição da Caderneta da Gestante. Serão distribuídos mais de três milhões de exemplares pelo SUS, todos com o preocupante estímulo a uma prática violenta e ultrapassada: a episiotomia, corte feito na vagina durante o parto para facilitar o trabalho do médico. Em 2018, a Organização Mundial da Saúde reconheceu que não há qualquer evidência científica que apoie a realização da episiotomia. O documento ainda promove uma diretriz duvidosa ao ressaltar a amamentação exclusiva como método para prevenir uma nova gravidez nos primeiros seis meses após o parto, apesar de complementar que esta proteção não é plena. Raphael Câmara, vale mencionar, é um fervoroso defensor da promoção da abstinência sexual como contracepção para jovens, opondo-se ao ensino do uso de contraceptivos. Pior: no evento que lançou a caderneta, Câmara defendeu abertamente não só a episiotomia – considerada uma “mutilação genital” por Marsden Wagner, ex-diretor da área de Saúde da Mulher e da Criança da OMS – mas também a realização da manobra de Kristeller. Ela consiste em fortes empurrões e apertos na barriga da gestante feitos com as mãos, braços ou cotovelos durante o parto – isso quando o profissional de saúde não sobe na barriga da mulher. No mesmo documento de 2018, a OMS os destacou como uma fonte de “grande preocupação” pelo potencial de “dano à mãe ou ao bebê”."
Eu estou realmente alterada por ter lido o que li. A guerra contra as mulheres neste país não é somente contra as que não querem gerar, as que não querem parir e desejam interromper uma gravidez, mas contra todas sem distinção. O que o documento lançado por este governo defende é a legitimação da violência obstétrica mais grosseira e da desinformação, como no caso da amamentação exclusiva como meio eficaz de contracepção. No fim das contas, é dar viés científico à práticas duvidosas, ou condenadas pelas organizações médicas no Brasil e no Exterior. Este post, portanto, tem o objetivo de informar, mas, também, de externar a minha indignação, meu horror, meu nojo.
E se você acredita que a sua episiotomia foi necessária como conforto já que seu/sua obstetra é tão bonzinho, trata-se de uma forma de consolo para a sua dor e, talvez, ele ou ela nem soubesse realmente do mal que estava lhe causando. Agora, tenha certeza de que seu bebê não foi salvo por um corte cujo intuito é apressar o parto e supostamente não alargar você e desagradar o seu marido, ou parceiro. Por favor, me poupe do seu comentário, ele será apagado.
A violência contra as mulheres é algo que se perpetua, porque somos levadas a acreditar que é normal, ou que merecemos, ou que não pode ser diferente. Ser feminista é se preocupar com as mulheres e respeitar suas opções, gerar, ou não gerar uma vida, por exemplo, não apoiar que sejam enganadas para que não reflitam sobre sua condição de opressão. Se você quiser ver os posts que a Melania fez no Facebook, é só clicar: - 1 - 2 - 3 - 4 - 5.
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