sexta-feira, 25 de março de 2022

Comentando os quatro primeiros capítulos da segunda temporada de Bridgerton: Até agora, continua tudo bem divertido!

Usei meu tempo livre para começar a assistir a segunda temporada de Bridgerton, que estreou hoje na Netflix.  Vi quatro episódios dos oito e vou escrever algumas palavrinhas rápidas, mas prometo fazer pelo menos mais um texto, ao terminar de assistir.  A primeira temporada da série (*Textos sobre ela: 1 - 2 - 3 - 4*) baseada nos livros de Julia Quinn foi um sucesso na plataforma de streaming no final de 2020 e a pandemia deve ter pesado no atraso da segunda temporada, que é baseada no livro O Visconde que Me Amava, como comecei a ler o volume, já é possível dizer que foi inspirado e não muito mais que isso, pois as liberdades tomadas são muitas.

Nesta temporada, Anthony (Jonathan Bailey), Visconde de Bridgerton  decide que precisa se casar para cumprir com seu dever para com a sua família.  Ele tem medo de amar e ser amado, por causa do trauma da perda do pai (Rupert Evans) e do efeito devastador sobre ele e sua mãe (Ruth Gemmell).  O episodio #3 trouxe vários  flashbacks da morte de Edmund Bridgerton e, bem, carregaram no drama.  No livro, a coisa foi bem menos exagerada, por assim dizer, e Anthony não presenciou a morte do pai, ele chega depois.  Aliás, um monte de gente em cima do moço de 18 anos, que presenciou a morte do pai, perguntando coisas e exigindo que ele se posicionasse sobre várias questões em um momento de dor.  


Podem ser as memórias alteradas da personagem, mas foi bem exagerado mesmo, de qualquer forma, era para deixar bem claro que o moço carrega um belo de um trauma.  A condição de Anthony se presta a associá-lo com a biografia de Mr. Darcy, ele, também, ficou órfão de pai, a mãe tinha morrido antes, no fim da adolescência, ao que parece, e assumiu as responsabilidades de senhor e chefe de família, uma bem menor, verdade. Aliás, para enfatizar o preço sobre os ombros da protagonista, parece que ele não conta nem com um administrador, coisa que todos grande senhor tinha, era seu braço direito.  Seria esse funcionário que iria dar apoio ao jovem, poupando-lhe de tudo aquilo que vimos na tela.

Se Anthony precisa casar, o mesmo vale para Miss Edwina Sharma (Charithra Chandran), que veio da Índia junto com a mãe (Shelley Conn) e a irmã mais velha, Kate (Simone Ashley). Aqui, também, mexeram muito nas personagens originais e não estou falando do fato delas serem indianas, nesta série que mostra um início do século XIX multirracial e inclusivo, estou pensando na dinâmica da família mesmo.  As irmãs Sheffield, no original, tinham perdido o pai e viviam em condições econômicas limitadas para seu grupo social.  Sim, ecos de Jane Austen, aqui.  Por isso, Kate teve que esperar para debutar junto com a irmã caçula, porque seria menos dispendioso.  

Na série, Kate é uma conformada solteirona de 26 anos que quer ver a irmã bem casada, porque é a única forma de ver sua madrasta, mãe de Edwina, perdoada por sua família e receber o suporte financeiro que elas tanto precisavam.  Inventaram que o pai das moças era de condição inferior e a mãe de Edwina caiu em desgraça ao fugir com ele para a Índia.  Se assim fosse, dificilmente Lady Mary Sharma (*ela é filha de conde, acho, então é "lady" independentemente de com quem se casasse*) iria ser recebida pela alta sociedade, mesmo que alguns lhe torçam o nariz.  Sem recursos, ela ficaria no ostracismo.  Outro dramão, por assim dizer, mas que se presta a colocar Kate em uma situação de chefe de família tal e qual Anthony, porque ambos têm mães frágeis e incapazes de cuidar daquilo que realmente importa com racionalidade.  Gostei disso?  Não.  A história está cheia de viúvas que assumem a rédea de suas famílias e propriedades, ou são um braço forte para seus filhos e filhas.  Não é o caso aqui.  Se vocês lembram da primeira temporada, nem para situar a filha sobre o que aconteceria mais ou menos em sua noite de núpcias, ou como filhos são gerados, Violet Bridgerton serviu.

Na Inglaterra, elas ficam sob a proteção de Lady Danbury (Adjoa Andoh) que termina manobrando a rainha (Golda Rosheuvel), ainda obcecada por Lady Whistledown, a escolher Edwina como o diamante da temporada de 1814.  Anthony termina atraído por Edwina, ela parece a esposa perfeita, treinada para agradar um marido nobre e, ainda assim, com um charme especial.  O problema é que seu caminho cruza com o de Kate e eles se apaixonam, mas ficam tentando se enganar até o capítulo #4.  Eles tentam fingir que se odeiam.  Kate não quer sua irmã com Anthony, mas Lady Danbury e a mãe do rapaz decidem unir os dois.  Quando Anthony e Kate descobrem seus sentimentos, ele decide tomar uma atitude, que é a errada.  Até o momento em que estou, a dinâmica de Anthony e Kate é visivelmente inspirada em Orgulho & Preconceito de Jane Austen, não somente o livro, mas as duas adaptações mais influentes (*1995 e 2005*).  Já a forma como Kate e Edwina se relacionam, são visivelmente inspiradas nas relações entre irmãs que Austen construiu tão bem em seus livros.

Algo que salta aos olhos nessa temporada é que temos muita tensão sexual entre Kate e Anthony, o que eu acho ótimo. Os dois têm química e gosto mesmo desse sofrimento, dessa angústia, que deve ser mantida pelo tempo necessário para que a gente torça para que as personagens cheguem aos finalmentes.  Por outro lado, a segunda temporada está sendo econômica com nudez e sexo, ainda que, logo no primeiro capítulo, Jonathan Bailey apareça pelado, ou meio pelado, umas três vezes, mas não temos nada daquele fogo da temporada #1.  Não acho que está fazendo falta mesmo, assim como o duque e espero que Regé-Jean Page se arrependa de não ter retornado para a segunda temporada.  O fato é que, até aqui, capítulo #4, tudo está funcionando bem.

Para além do triângulo principal, temos muito destaque para Penelope (Nicola Coughlan), que agora sabemos ser Lady Whistledown, a autora dos panfletos contando as fofocas sobre as outras personagens.  Penelope precisa manter sua identidade segura e, ao mesmo tempo, tenta ser notada pelo chato do Colin (Luke Newton).  Sim, é o Bridgerton que eu menos gosto e não achei graça de terem colocado o moço indo atrás de Marina (Ruby Barker), agora, Lady Crane.  É o tipo de trama que a gente não quer ver sendo esticada, ainda que o ator que faz o marido dela, Sir Philip (Chris Fulton), parece ser bem fofinho e é maltratado, coitadinho!  Penelope é muito legal para o Colin, salvo se ele melhorar muito.  Até Benedict (Luke Newton) está melhor do que ele nesta temporada.  As cenas dele sob o efeito de drogas, o que foi aquilo?  Ficou ótimo. 😁 Fora isso, as Featherington recebem o herdeiro de seu pai (Rupert Young) e a mãe das moças, Portia (Polly Walker), faz o possível para garantir seu futuro usando de todos os meios e, ao que parece, fracassando parcialmente em seus intentos.

Já a pobre Eloise (Claudia Jessie), que aparece com o cabelo solto e bem feio em várias de suas cenas, está vivendo o seu inferno como debutante da temporada.  Empurrada pela mãe, e eu não consigo ter simpatia por Lady Bridgerton, os flashbacks aliás pesaram contra ela, a moça vive de pequenas rebeliões contra o sistema.  Não quer ser comparada com a irmã perfeita, Daphne (Phoebe Dynevor), quer ter direito as suas próprias ideias. Por conta disso, a série está trazendo várias discussões feministas.  Algumas funcionam bem, a maioria, aliás, outras, são um fiasco, caso da história da caça.

No episódio #4, em uma tentativa de aproximar a irmã de Anthony, Edwina meio que obriga o rapaz a levar Kate junto com o grupo de caçadores.  Anthony afirma que damas não caçam.  Kate emenda que é porque não lhes é permitido caçar.  Poderiam usar outro exemplo para ilustrar as restrições impostas às mulheres, porque, bem, damas caçavam, sim, ainda que algumas não o fizessem, tal e qual certos homens também não caçavam.  A ideia, claro, é mostrar que Kate não é uma mulher como as outras, ela é diferente, e, claro, trata-se de um recurso machista de roteiro.  "Veja como essa mulher é especial!", pode ser a Bela de A Bela e a Fera, uma intelectual, ou uma mulher cheia de personalidade, como Kate.  Elas não são como as outras, elas valem a pena, desde que SEMPRE sejam bonitas dentro dos padrões do momento em que a produção é feita.😉 E eu acabei encontrando uma página cheia de retratos de damas caçando, ou vestidas para a caça e portando armas.  Aliás, algumas, pelo menos no século XVIII, às vezes eram representadas com roupas bem masculinas enquanto praticavam a atividade.  

Por hoje, acredito que é só.  Escrevo mais coisas em outro texto, especialmente, o figurino, por exemplo, parece menos interessante que o da primeira temporada. Ah, antes que eu esqueça, talvez o interesse romântico de Eloise esteja sendo introduzido já nessa temporada.  Aliás, eu torço para que Bridgerton só tenha as quatro temporadas confirmadas mesmo, que não seja uma para cada livro, porque é muita coisa e pouca coisa, ao mesmo tempo, além de eu não ter paciência para séries muito longas.  Fora isso, as crianças crescem e os Bridgertons mais novos já parecem ter muito mais idade do que deveriam dado o atraso da segunda temporada.

E, sim, algo que queria marcar é que é muito bom ver um ator abertamente gay sendo o protagonista, o galã de uma série romântica, porque durante muito tempo, um ator não poderia jamais assumir sua sexualidade sem pagar um preço e, mesmo hoje, parece que há aqueles que acreditam que a orientação sexual, ou a identidade de gênero, de um ator, ou atriz deveria pautar as escalações de cinema e TV. Eu discordo, mas entendo quando alguns grupos cobram representatividade, porque é sabido que os LGBTAQIA+ são preteridos mesmo para interpretar personagens pertencentes a esse grupo.

E, para quem quiser, recomendo a matéria Galã de 'Bridgerton' diz que escondeu a homossexualidade para ter trabalhos. Ela fala de todas as dificuldades e angústias de  Jonathan Bailey e da coragem que ele teve que arrancar de dentro de si para se assumir. E eu sou velha e lembro de quando o Richard Chamberlain assumiu sua homossexualidade, um cara que era galã desde os anos 1960, e os comentários que li por aí "Ah, ele sempre pareceu fingir nas cenas de amor e/ou sexo.", "Ele nunca me convenceu.", "Ele parece que não gosta do que está fazendo.". Um cara desejadíssimo, de repente, se torna abjeto por causa da homofobia. Um horror! O próprio ator disse em uma entrevista de 2010 que "Eu não aconselharia um ator de grandes papéis masculinos a sair do armário.". Bridgerton sinaliza que já é possível fazer diferente, ou, pelo menos, tentar e, sim, está dando muito certo.

2 pessoas comentaram:

valeria, talvez na frança as mulheres caçavam nessa epoca pq na inglaterra n caçavam mto n, so dps do seculo 19 q começaram a participar mais das caçadas

Yasmin, não sei quais as suas fontes, mas há quadros de mulheres inglesas caçando no século XVIII, fora que caça é esporte da nobreza. O que a série colocou é uma bobagem sem tamanho e insistiu nisso em outro capítulo de novo. E só para tirar reforçar, relatos de mulheres inglesas caçando no século XVIII.

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