Assisti a todos os capítulos de Além da Ilusão e decidi fazer um texto comentando os primeiros capítulos e dando minha opinião geral sobre a primeira semana. Primeira coisa, estou gostando da novela e vou continuar assistindo, agora, o que menos me cativou foi o romance corrido entre Davi e Elisa. Todo aquele excesso de urgência em ficarem juntos, consumarem seu amor, mais uma vez a virgindade da mocinha parece ser coisa alguma, salvo para seu pai ultraconservador, e a morte prematura de Elisa me desanimou. Ao mesmo tempo, o juiz vivido por Antônio Calloni, o pai não somente conservador, mas sem escrúpulos e obcecado pelo controle sobre a filha, serviu pra compensar um pouco as coisas.
Larissa Manoela, em sua estreia na Globo, me pareceu OK. O texto da mocinha, excessivamente meloso e empoderado é que empobreceu sua personagem. A culpa não é dela e a menina brilhou no capítulo de sábado. Aliás, um capítulo cheio de tantos acontecimentos importantes não deveria estar no dia em que, tradicionalmente, temos menos audiência. Já Rafael Vitti me parece muito fraco. Ele recita as falas sem convicção e me lembra um pouco o Rodrigo Santoro em início de carreira, a diferença é que ele já interpretou vários protagonistas.
Falando do romance central, não negarei que estou incomodada com essa história de amar uma irmã e, mais tarde, se apaixonar pelo seu clone. E, não, não estou nem aí para o fato da Isadora de Larissa Manoela ter 18 anos na segunda fase, algo que alguém veio me dizer "os dois são de maior". Aliás, não é porque é "de maior", e no tempo da novela nem era ainda, que pode tudo, que gira a chave, e já escrevi sobre isso antes. Falando nisso, exatamente para contemplar quem grita "pedofilia" mesmo para adolescentes, colocaram o aniversário de 18 anos de Elisa. No Brasil, essas festinhas aconteciam, e ainda acontecem, aos 15 anos. Mas não é este o ponto.
Além da coisa de se apaixonar pelo clone, me espantei com essa história de colocaram o Davi já tendo terminado a faculdade. Calculava que ele teria concluído o colegial e teria, no máximo, 20 anos na primeira fase. Só que ele deve ter por volta de 26, a idade real do ator, porque já estava na faculdade em 1929, e a novela se passa em 1934. Daí, com um salto no tempo de dez anos, ele terá o quê? Trinta e seis? Mesmo se for 34, é muito. E, pior, o ator parece mais jovem na segunda fase. Seria melhor se colocassem o ilusionista como um ser mágico mesmo, envelhecendo devagarinho, um pouquinho de realismo fantástico salvaria o dia. De resto, moço que dorme com a namorada donzela e de família nessa pressa toda, ainda mais nos anos 1930, JAMAIS poderia ser considerado moço sério e direito. Me lembrei da correria no início de Tempo de Amar. A mocinha acreditar que o pai aceitaria como caso consumado o amor dos dois por eles terem transado é muito absurdo, ele, com bem mais de vinte anos, agir como um moleque, só o diminui. Fora isso, o resultado só podia ser aquele, o juiz iria querer lavar a honra com sangue.
Se o casal protagonista não me convence, gosto da dinâmica entre as irmãs, Elisa e Isadora criança (Sofia Budke). Assim como o amor do juiz por sua feminista de estimação, a esposa Violeta (Malu Galli). E a empolgação com a constituição de 1934 e o voto feminino faz sentido, porque foi uma luta longa e estávamos em uma ditadura ainda. O que é absurdo é Davi enfrentar o delegado, porque sendo interior de Minas e ditadura Vargas, o sujeito iria tomar uma surra. Mas há uma série de problemas, começando com uma festa de 18 anos, passando pela virgindade perdida de forma tão rápida e Elisa chamando o pai de senhor. Naquela época e com o perfil de Matias, seria difícil.
Gostei, também, do núcleo das crianças rurais e o drama do menino Lorenzo (Vinícius Pieri) que deseja ir para a escola e o da família negra que tem o pai alcoólatra. No caso de Lorenzo, me parece muito estranho que a mãe não veja como importante nem as primeiras letras. No caso do alcoolismo e violência doméstica, é difícil saber o quanto a novela estará disposta a mudar. Já que estou em Campos, preciso dizer que Lima Duarte armado e perigoso no primeiro capítulo foi um primor, agora, quem brilho mesmo foi Paloma Duarte.
A atriz deu várias camadas e nuances para Heloísa, a filha do coronel que se perdeu, protegeu o namorado e foi punida pelo pai, que lhe tomou a filha e lhe deu sumiço. A personagem guarda muita raiva e dor dentro de si e foi muito bem utilizada para dizer duas verdades, um velho frágil pode ter sido um monstro no passado e não é porque morreu que virou santo. A aparição da filha vestida de prostituta no velório e dando escândalo foi ótima. E ainda disse que estava assim, porque o pai a chamava de polaca para humilhá-la e ofendê-la. Polaca era sinônimo de prostituta, mas que era aplicado às mulheres trazidas do leste europeu, a maioria judias, para se prostituírem aqui. O Coronel também tinha nuances, mas Lima Duarte fez só uma participação curtinha.
Ainda sobre Heloísa, sua relação com a irmã Violeta é bem complexa. A filha favorita nem sempre entende os sentimentos da irmã, mas a aceita e consola. A cena das duas no pequeno porto e abraçadas foi uma das mais bonitas da semana. A relação das duas parece mais profunda do que parece e espero que ambas as atrizes tenham muitas cenas na novela. Agora, está em aberto como as duas irão gerir o engenho do pai agora que ele se foi. Elas estão ameaçadas pelo progresso e precisarão pensar rápido em como agir.
Acredito que para uma primeira semana é isso. Há mais personagens, mas comentarei em textos futuros, acredito. Quero só ver esta semana como Matias vai se sair nas suas mentiras e a reação de Violeta à morte da filha. Imagino que o salto do tempo já seja esta semana. E é pena que a novela estreie toda gravada. Torço para que o conceito de "obra aberta" volte a valer para as tramas da Globo.
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