Estreou, no dia 09 de janeiro último, o anime baseado no mangá Baraou no Souretsu (薔薇王の葬列), baseado no mangá de Aya Kanno, autora de Otomen (オトメン). A série de fantasia histórica se passa durante a chamada Guerra das Duas Rosas (1455-85) e que dizimou a grande nobreza inglesa possibilitando a ascensão da Dinastia Tudor (*tese central de Perry Anderson em As Linhagens do Estado Absolutista*) e de novos setores que serão fundamentais para a modernização do país nos séculos que virão. Dentro de Baraou no Souretsu, ou Requiem of the Rose King, seu outro nome e que é usado no material japonês, também, o protagonista é Ricardo III, o último dos três reis da Dinastia York, a da rosa branca, e que destronou a Dinastia Lancaster, da rosa vermelha.
Todos os envolvidos eram Plantagenetas e descendentes dos filhos de Eduardo III, que reinou muito tempo e teve vários filhos que chegaram à idade adulta. Seus netos já estavam lutando pelo poder, afinal, Ricardo II foi derrubado pelo primo Henrique Plantageneta, futuro Henrique IV, durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Normalmente, os reis Ricardo da Inglaterra não tem muita sorte, não. De resto, entendam que era uma briga de família na qual todo mundo estava muito bem armado, tinha exércitos de cavaleiros, castelos e tudo mais.
O anime abre anunciando que se inspirou nas peças de William Shakespeare, e que foram adaptadas para a TV na série da BBC The Hollow Crown. Shakespeare tinha como um de seus mecenas a poderosa rainha Elizabeth I, logo, suas peças tendem a puxar sardinha para os vencedores, então Ricardo III é vilão nas peças do bardo. Ele é acusado de vários crimes, inclusive de ter se livrado de dois sobrinhos, Eduardo V e seu irmãozinho menor, que ele colocara na Torre de Londres para a "sua proteção". Historiadores discutem faz tempo até que ponto parte desses crimes não foram uma fabricação da dinastia vitoriosa, que buscou eliminar todos os potenciais competidores pelo trono. Por exemplo, hoje, há quem defenda que o futuro Henrique VII e/ou sua mãe, Margaret Beaufort, podem ter sido os responsáveis pela eliminação dos "príncipes da torre". De qualquer forma, havia vários interessados em dar sumiço nos meninos.
Em 2014, comentei o primeiro volume da série e trarei um parágrafo para cá: "Baraou no Souretsu é um mangá histórico, com toques de sobrenatural e sem nenhum traço aparente do humor que consagrou a autora colocou em Otomen. Não chamarei esta nova série de evolução, porque não acho que a comédia seja inferior a outros gêneros, mas é uma mostra da versatilidade de Kanno. O traço parece um pouco mais sério, é o que a história pede, aliás, mas continua bonito, e ela mostra um esmero extremo principalmente no desenho das armaduras ainda por aparecer. (...) No geral, pelo enfoque dado pela história, Baraou no Souretsu lembrou-me Cantarella (カンタレラ), de You Higuri, publicado, aliás, na mesma revista Princess."
Enfim, desde que li este primeiro volume, não voltei a visitar o mangá. Queria colecionar, mas não o fiz, fiquei de procurá-lo na internet, mas fui protelando. A série está concluída, salvo por algum gaiden que a autora ainda vá lançar, e ela vai. A série animada terá 24 episódios, duas temporadas no atual formato da média dos animes, portanto. Dá para desenvolver a história? Espero que dê. O que temos no primeiro capítulo?
A série começa apresentando o nosso protagonista. Ele é moreno entre irmãos louros. É o caçula entre seus irmãos e amado por seu pai, que lhe deu seu próprio nome, Richard. Seus irmãos mais velhos, Eduardo e George (*Edmundo, que poderia ter morrido neste primeiro episódio, foi cortado*) parecem amar o irmão. No entanto, sua mãe, Cecily Neville, o vê como um problema, uma criança demônio que nasceu deformada e o despreza. A duquesa acredita que aquele menino trará má sorte e desgraças e diz isso para o garoto neste primeiro episódio. Nas peças de Shakespeare, Ricardo tem problemas de coluna e manca, na série de Aya Kanno, ele tem outro tipo de problema, talvez, seja intersexuado e, por isso, esconde seu corpo que não é nem totalmente masculino, nem totalmente feminino. Nosso protagonista é atormentado pelo fantasma de Joana D'Arc, que lhe diz que ele é como ela. Eu particularmente não gosto da representação da donzela de Orleans na série.
O Duque de York está em guerra com o rei Henrique VI, acusado de perder a Guerra dos Cem Anos, no entanto, ele não quer ser rei, ele recebe o título de protetor. É assentado na historiografia que Henrique tivesse algum problema psiquiátrico, ou psicológico, ou vários que o impossibilitavam de governar, quem exercia o maior poder era a rainha Margaret de Anjou, que tentava proteger a coroa de seu marido e garantir o trono para seu único filho, Eduardo de Westminster, príncipe de Gales. Este príncipe é um dos antagonistas de Ricardo no início da série e é pintado como um jovem cruel e tem a caracterização típica dos vilões transtornados.
Já o rei Henrique VI estabelece um estranho elo com o menino Ricardo, despertando nele a sua humanidade. Henrique é apresentado, também, como um sujeito bom, que queria levar uma vida simples, mas não pode escolher, nasceu rei. Já Ricardo foge dos bons sentimentos e se apega ao poder. É ele, segundo a série, que estimula o pai a desejar mais que o título de Lorde protetor e tentar derrubar Henrique do trono de fato. Ricardo parece o diabinho pequeno e moreno sussurrando no ouvido do louro e belo duque. Essa contraposição entre luz e sombra, entre o negro e o dourado, não é coisa nova, mas se assenta em simbologias associadas às cores. Mas se o preto pode representar o mal, também é usado para significar o poder. Richard está sempre de preto. Só que é um poder que, talvez, se assente sobre as bases erradas.
No primeiro capítulo, as únicas personagens femininas que tem alguma relevância são a mãe do protagonista e Anne Neville, filha do Conde de Warwick, que Ricardo encontra criança na floresta e que se tornará sua rainha no futuro. Este capítulo tem muitos letreiramentos, usados para apresentar pessoas, que são muitas, e lugares. Temos guerra, porque, sim, a série se passa durante um período de combates que pareciam sem fim. O traço do anime é sóbrio e escuro, enquanto o mangá tem uma arte exuberante, mas mantém as características do original. Quer ver Aya Kanno brilhando? Pegue o mangá, o anime serve somente para dar maior visibilidade a um mangá que é reconhecido como muito bom e fazer propaganda desse produto.
E, sim, é shoujo, mas é sombrio e violento. Tem algo de homoerótico, mas não é um mangá sobre isso. Deve ter romance, não avancei na leitura, lembrem disso, mas não deve estar centrado nisso. E, muito provavelmente, o protagonista terá o destino que História lhe deu, isto é, morrerá no campo de batalha. De resto, não tenho mais a falar desse capítulo. Irei ver o outro? Sim. Vou comentar? Não sei. Pode ser que acompanhe todo Baraou no Souretsu, mas não me vi fisgada por esse primeiro capítulo. Hoje, devo assistir Sasaki to Miyano (佐々木と宮野), que me atraiu bastante.
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