"Em 27 de janeiro de 1945, soldados soviéticos entravam no campo de concentração de Auschwitz, no sul da Polônia, libertando milhares de sobreviventes do regime nazista. Nesta quinta-feira, o mundo marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Em mensagem, o secretário-geral da ONU homenageia os “6 milhões de judeus que morreram”. A mensagem menciona ainda os povos roma e sinti, conhecidos por ciganos, e “as outras inúmeras vítimas de um horror sem precedentes de crueldade calculada”."
O trecho veio da página da ONU marcando o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, que usa como marco a libertação de Auschwitz, e é necessário mais do que nunca lembrar do extermínio planejado e executado minuciosamente pelo governo alemão e seus agentes de judeus e outras minorias. Sim, um genocídio é sempre uma ação de Estado, que é quem dispõe dos meios para isso, contra seu próprio povo, ou outros povos, no caso do nazismo, as vítimas caiam nos dois casos. Para que chegássemos ao Holocausto, tivemos anos e anos de discursos que legitimavam a violência, justificavam a exclusão de minorias e insensibilizavam às massas. O Holocausto não começou em Auschwitz, ou em outros campos de extermínio, ali, foi a concretização de um programa, a Solução Final.
Mas estou lembrando que hoje é o dia de lembrar as vítimas do Holocausto, porque é importante, porque o neonazismo está em ascensão, assim como a negação do Holocausto, e porque escolas públicas do estado norte-americano do Tennessee baniram Maus, a primeira e única graphic novel, nome chique para quadrinho, a vencer o Prêmio Pulitzer (1992), e que revisita as memórias do pai do autor (Art Spiegelman) em relação ao antes, durante e depois do Holocausto. Em Maus, o autor conta a experiência de seu pai e sua mãe antes, durante e depois do Holocausto, dos efeitos que a vivência, especialmente, de seu pai teve sobre sua vida. Spiegelman escolheu usar animais para identificar os povos, por exemplo, alemães são gatos, judeus são ratos, norte-americanos são cães, poloneses são porcos, franceses são sapos etc. É importante lembrar que o discurso nazista animalizava os judeus, porque ao privá-los da sua humanidade tornava mais fácil fazer com que a população não os considerasse como gente como eles. Desumanizar o inimigo é recurso utilizado pela extrema-direita até nossos dias. Maus é um quadrinho fundamental e já o dei de presente para quatro pessoas e, acredito, darei de presente de novo para mais alguém.
Segundo a matéria da BBC, mas há outras, o comitê de educação do Condado de McMinn apontou que o quadrinho é inadequado para os alunos e alunas do 8º ano por conter palavrões e nudez (*de ratinhos*). Alguém propôs censurar os palavrões, mas o presidente do comitê disse se preocupar com os direitos autorais e a decisão foi de retirar os exemplares das bibliotecas.
Lembro que algo semelhante foi feito com Gen Pés Descalços em escolas japonesas e as reações ao caso. Todo mundo lembra de Gen para falar da bomba, mas o mangá discute o antes de Hiroshima, critica o imperialismo japonês e a violência do governo nipônico contra seu próprio povo. É um mangá antes de tudo pacifista e que não nega a História, nem tenta reforçar a ideia de que o Japão foi tão vítima da guerra quanto, sei lá, os coreanos. Retirar esses quadrinhos das bibliotecas escolares é uma forma de impedir que os estudantes tenham acesso a informação, algo fundamental quando estão em disputa as narrativas sobre o passado, sobre racismo e outras nojeiras que não podem ser esquecidas para que não continuem acontecendo. Quanto menos testemunhas (*porque já se vão mais de 70 anos do fim da 2ª Guerra*) e testemunhos mais fácil esquecer, por isso, falar do Holocausto é importante e ler Maus pode ser uma introdução sólida ao tema. Por isso mesmo, melhor retirar o livro da biblioteca, porque tem ratinhos pelados...
O fato é que o neonazismo está em alta, aqui, no Brasil, em especial, onde as células extremistas de direita estão em rápida expansão desde 2018. E não vou terminar sem recomendar o vídeo do The Intercept com a antropóloga Adriana Dias, que estuda os movimentos neonazistas brasileiros e suas ligações antigas com o atual presidente, desde quando ele nem era cogitado como candidato. vídeo abaixo:
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