Terminei de assistir à série Ana Bolena do Channel 5 na segunda-feira passada e eu fiquei martelando e parando o texto desde então. Detesto quando isso acontece. Enfim, a resenha do primeiro capítulo está aqui e como pontuei no meu primeiro texto, a série tem problemas, muitos, aliás, mas o elenco multirracial não é um deles. Para quem viu matérias destacando isso e não parou para olhar a série, explico novamente, a Ana Bolena trabalha com a ideia do "color-blind casting", isto é, a cor do ator, ou atriz, não importa, porque não está em questão. A atriz que faz Ana Bolena, Jodie Turner-Smith, não é está ali para mostrar que a rainha era negra, não é como em Bridgerton. Estabelecido isso, o único e grande problema atinente ao elenco é a clara opção, que tem repercussões na recepção do produto, dos atores e atrizes brancos serem inimigos ou antagonistas de Ana Bolena. De qualquer forma, o que realmente prejudica a série são escolhas de roteiro e na forma como mexeram na personalidade de figuras históricas muito conhecidas, em especial, de Henrique VIII.
Eu sei bem o fascínio que um sujeito como Henrique VIII exerce, há mulheres (*e homens, também*) que devem ficar imaginando o quanto este homem seria excepcional como amante, afinal, veja quantas mulheres passaram pela sua cama? Talvez, ele fosse galante (*quando queria*), mas era perigoso (*o termo é o que meu marido usou para defini-lo*), também. Mesmo uma biógrafa da estatura de Antonia Fraser tenta aliviar a barra de Henrique VIII em determinado momento do seu livro sobre as esposas do rei ao dizer algo como nenhuma mulher nunca casou com ele obrigada. Isso é bem questionável, querem ver?
Comecemos pelas duas esposas que não eram súditas dele. Catarina de Aragão estava em um limbo institucional desde a morte de seu primeiro marido, Arthur, o irmão mais velho do futuro Henrique VIII. O rei da Inglaterra não a devolveu para a Espanha, em parte por desejar ficar com o seu dote, e seu pai não fez tanta questão de tê-la de volta. Se ela estava presa na Inglaterra, vivendo em uma situação de penúria para uma mulher de sua posição, casar-se com o novo rei era uma bênção dos céus. Já Ana de Cleves, a quinta esposa, talvez tenha aquiescido com o casamento, afinal, outras nobres se negaram a casar com um homem que tinha mandado executar sua segunda esposa e feito sofrer a primeira, mas ela foi a única mulher com quem Henrique se casou sem ver antes, sem estar apaixonado e deu tudo errado.
Henrique VIII era uma aberração entre os príncipes, pois costumava se casar com mulheres que conhecia e que desejava na sua cama. Enfim, ainda que tenha conseguido prevalecer no final, ele não podia se livrar de nenhuma das duas esposas citadas acima, pois o resultado poderia ser (*pelo menos*) uma guerra. Já as demais, Ana Bolena, Jane Seymour, Catherine Howard e Catherine Parr, eram todas suas súditas. Elas não tinham parentes poderosos, que poderiam causar problemas para o rei da Inglaterra. Bolena, se tivesse aceitado as convenções, poderia ter sido somente amante e se acomodado a um papel que sua irmã cumprira anteriormente, mas ela queria ser rainha.
Quanto a casar por livre e espontânea vontade com o rei, todas elas tinham parentes que poderiam pressioná-las a aceitar o que o soberano oferecia, que poderia ser muito significativo para a família, além disso, temiam retaliações e elas poderiam vir. Henrique desde sua ascensão ao trono tinha mandado executar muita gente, amigos íntimos até, fora a forma terrível com que tratou sua primeira esposa e filha, porque elas não reconheceram sua união com Ana Bolena. Essas mulheres poderiam dizer "não" ao rei e saírem livres depois? Eu duvido muito.
Enfim, comentei na primeira resenha que a série iria investir na ideia de que Henrique (Mark Stanley) tinha passado por uma mudança de personalidade por causa do acidente na justa que quase o matou. Sim e não. Quando começamos o capítulo #1, Henrique e Ana estão comemorando com uma grande festa a morte de Catarina. Sim, exatamente isso. Ele era só amor para com ela. Há o acidente e ele começa a evitá-la e mostrar impaciência com a esposa, mas, antes mesmo, ele já estava flertando com Jane Seymour, só que parecia ter medo (*sim, esta é a palavra*) de desagradar Ana. Fora isso, a própria rainha tinha tentado colocar uma de suas damas, Madge Shelton (Thalissa Teixeira), na cama do rei para controlá-lo (*parece que essa ideia infeliz veio de The Tudors, mas não tem muita fundamentação histórica*). Com o acidente e Ana surpreendendo Jane (Lola Petticrew) sentando colo do rei, ela perde o filho que esperava exatamente no dia do enterro de Catarina de Aragão. Alguém poderia falar em castigo "divino" para ambos, mas ele era o rei e ela, como o próprio Henrique dirá no segundo capítulo, era nada.
Enfim, começamos o segundo capítulo com o rei longe de Ana, sob o domínio de Cromwell (Barry Ward) e os boatos de que ela seria infértil e feiticeira. Ao invés de recuar e rever suas estratégias, Ana dobra a aposta e afronta e humilha praticamente todas as pessoas em cena. Para sua tia, Lady Shelton (Amanda Burton), ela insinua que sua filha, Madge, é uma vadia. Ela ameaça seu (*perigoso*) tio, o Duque de Norfolk (Kris Hitchen) com a dissolução do casamento de sua filha com o único bastardo reconhecido pelo rei. No capítulo anterior, ela já o havia humilhado. Ela faz pouco caso de sua cunhada, Lady Rochford (Anna Brewster), que tem vilã estampada no rosto. Ela mede forças com a jovem princesa Mary (Aoife Hinds), que a enfrenta e não se curva.
Mais tarde, com o rei de volta ao palácio, ela consegue a atenção dele e tenta impedir as negociações com o Sacro Império (*que englobava a Espanha, naquele momento*), conseguindo como bônus que o rei humilhe publicamente Cromwell, porque ele (*supostamente*) estaria negociando com o embaixador do Sacro Império pelas suas costas. Nessa cena, Ana quer mostrar que ela e Henrique reataram e tenta falar mais alto que o rei; ele a faz se calar. Além disso, tenta rebaixar o embaixador (Phoenix Di Sebastiani), que é colocado com kohl (*também chamado de kajal, ou kajol*) em volta dos olhos, um recurso clichê para marcar perigo, ou vilania, além disso parece ter prazer em colocar Cromwell em uma situação muito desconfortável.
A Ana Bolena real, que era um animal político, queria um acordo com a França, país onde havia sido educada, verdade, mas que, aos seus olhos, era um aliado mais valioso para a Inglaterra. Na série, a rainha pensa no seu umbigo somente e quer que Mary, a filha mais velha do rei, continue sendo considerada ilegítima. Aliás, a série investe pesadamente na ideia de que Ana Bolena temia por sua filha, Elizabeth, e que queria mantê-la à salvo de qualquer forma. À salvo de quem? Quem tocaria na filha do rei sem que o rei permitisse? Vejam que a empoderada Ana parece refém da sua função materna. Mas Henrique, na série, é um fantoche, um bobinho que vai da mão de Ana, que acredita que o tem a seus pés, para a de Cromwell, que é subestimado pela protagonista.
E, enfim, a situação entre Ana e o rei não melhora muito. E temos duas cenas fundamentais do segundo capítulo. Ana e sua camarilha estão bebendo e conversando. Lady Rochford começa a jogar seu veneno e a rainha, já meio bêbada, faz comentários sobre Henry Norris (Turlough Convery), que era muito próximo dela, noivo de Madge Shelton, e um dos homens de confiança do rei. Ela insinua levianamente que ele a visita tanto, não para cortejar a noiva, mas a rainha. Silêncio pesado e olhares apreensivos. Ana ultrapassou os limites e não percebeu o quão frágil era a sua situação. A cena foi muito boa, porque o ator mostrou toda a consciência do perigo que corria no seu rosto. E, detalhe, ele, como outras personagens, como Cranmer (Abhin Galeya), tem intérpretes bem mais jovens que as figuras históricas. Enfim, Norris é o único que merece pedidos de desculpa de Ana Bolena durante toda a série, mas já era tarde demais...Ele é um dos que vão perder a cabeça acusado de cometer adultério com a rainha.
Mais tarde, Lady Worcester (Isabella Laughland), que é a única das damas por quem a rainha parece ter algum sentimento de sororidade e, talvez, só por ela estar grávida de seu irmão, a avisa que Jane Seymour agora tem aposentos que se comunicam com os do rei. Lady Worcester faz isso para reagir ao fato da rainha, que estava agindo de forma sensata, lhe avisar que ela, uma mulher casada, não poderia manter o bebê que esperava, mas que sua família iria zelar pelo futuro da criança. É exatamente esta dama, que tinha grande intimidade com a rainha, a principal testemunha contra ela. Agora, segundo as fontes, mesmo depois de presa e traída, Ana continua se preocupando com Worcester e perguntando por ela e sua gravidez.
A outra cena importante do segundo capítulo é com Henrique VIII. Antes da conversa com Worcester, Ana tinha presenciado escondida Jane recusando um presente mandado pelo rei, Ana, então, invade os aposentos do marido. Esclarecendo a história do presente, Jane realmente recusou o mimo e teria dito que o melhor presente que o rei poderia lhe dar seria um casamento honrado. Subentendido estava que ela não seria amante do rei, Ana teria que ser tirada do caminho. Mas ao fazê-lo, Jane já estava na casa de seus pais e, muito provavelmente, sendo instruída pelos adversários de Ana sobre como se comportar com Henrique. Ela negou-lhe favores sexuais assim como Ana Bolena o fez. Isso é consenso entre os biógrafos e historiadores tanto quanto Jane não ser simpática à reforma religiosa.
Furiosa, Ana quebra tudo em uma das salas dos aposentos do rei, grita com Henrique, os dois se agridem, ela o esbofeteia. O rei quase a estrangula, mas recua. Ela o ofende, o chama de patético. Sim, o Henrique da série certamente é patético, mas eu não imagino ninguém batendo em um rei como ele, o ofendendo, como ela faz, e saindo ileso depois. É sabido que quando os filhos homens não vieram, Henrique parece se aborrecer com a forma assertiva com que Ana discute com ele política e religião, mas nada se falou de agressões físicas. E sobre Ana Bolena muita coisa ruim se falou, se algo do gênero pudesse de longe ter ocorrido, estaria em alguma fonte difamatória. Enfim, Ana fala que o rei lhe prometeu um casamento diferente, ele diz que ela lhe prometeu filhos homens. Eu acredito que a roteirista deve imaginar Henrique oferecendo um casamento igualitário à Ana, coisa que não existia no século XVI. E, como ele coloca, ela era um nada, especialmente, se comparada a Catarina de Aragão, uma princesa espanhola, tia do Imperador do Sacro Império Romano Germânico, um homem que era senhor de metade do mundo.
Verdade, que o Henrique marido de Catarina e Ana valorizava a opinião política de suas esposas, que eram cultas e inteligentes, PORÉM não que elas mandassem nele, discordassem dele em público, ou, como a série apresenta, o agredissem fisicamente em privado. Lembram que eu comentei que a Ana desse seriado é agressiva com o rei na cama, bate nele durante o sexo. Ana é o tempo inteiro a parte dominante do casal, os ângulos de câmera fazem com que a atriz que faz a rainha pareça mais alta que Henrique, o olhe de cima. É tudo construído para apequenar Henrique e, ao fazê-lo, a série meio que isenta um dos machos mais escrotos da História de responsabilidade por seus atos.
Veja, isso pode parecer feminista para alguns, ver uma mulher agindo como dona de um sujeito que sempre foi retratado como poderoso. "Nossa, Ana era fodona!" e, por ser negra, isso pode ser visto como uma forma de empoderamento. Não, o que temos em tela é uma tragédia, porque a responsabilidade de um Henrique, um homem que sabemos ter planejado meticulosamente a execução de Ana Bolena e se casado com Jane Seymour logo em seguida, é transferida para outros. Ele, coitado, era um doce, submisso e gentil, tudo culpa da pancada, que o fez cair nas garras de Cromwell, o verdadeiro malvado dessa história. Sei que há quem defenda que Cromwell tinha muito mais poder do que historiadores acreditaram por séculos, mas essas vozes não são majoritárias e eu realmente não consigo comprar esta versão.
Cromwell era um homem inteligente, funcionário competente, um executor, mais do que uma mente criativa. Ele fazia os desejos do rei acontecerem, sem ligar para escrúpulos morais, ele apoiou Ana Bolena contra Catarina de Aragão e queria ver a reforma religiosa avançar na Inglaterra, mas quando quis dar um passo a mais, no caso do casamento com Ana de Cleves, terminou sendo eliminado por Henrique. Mais poderoso talvez fosse o tio de Ana, o Duque de Norfolk, que tem posição vilanesca na trama, mas dada a proeminência de Cromwell dentro do roteiro, sua participação na queda da sobrinha passa meio que batida. Para se ter uma ideia, Norfolk era tio das duas esposas de Henrique que foram decapitadas, Ana e Catherine Howard, e sobreviveu para morrer depois de todos os envolvidos.
Ana é presa no final do capítulo 2 e o último capítulo é todo na Torre de Londres e no local onde ocorreu o julgamento da rainha. Não temos Henrique em cena em nenhum momento, porque, como pontuei acima, a culpa é TODA de Cromwell, que se delicia em torturar Ana e fazê-la sofrer. Na prisão, o elenco é reduzido. Ana deveria ser espionada por quatro damas escolhidas por Cromwell, mas temos somente duas. Lady Shelton age como carcereira da rainha, relatando tudo ao prefeito da torre, Sir William Kingston (James Harkness), responsável por repassar as informações ao vilão. Lady Shelton é cruel com Ana e sua filha Madge, perdoa a rainha e se mostra fiel até o fim. Madge recebe um pedido de desculpas sincero de Ana por tê-la tentado empurrar para a cama do rei. A sororidade veio tarde demais... Falando em Madge, há controvérsias sobre quem teria sido amante do rei por um curto período de tempo, se ela, ou sua irmã, Mary Shelton.
Enfim, além das visitas de Cromwell com o intuito de tornar o final da vida de Ana mais difícil, temos uma relação conturbada entre a rainha e William Kingston que me chamaram MUITO a atenção. Kingston era homem de Cromwell, segundo as fontes, no início da estadia de Ana, ele lhe é hostil, mas as fontes mostram que o prefeito da Torre de Londres foi desenvolvendo admiração pela rainha e sua coragem diante da morte. Ele jantava com Ana frequentemente e foi convidado por ela a fazer-lhe companhia na sua última missa antes da execução. A mudança na visão sobre Ana e na relação entre os dois está presente nos relatórios e outros documentos que sobreviveram. Seus relatórios foram fundamentais para a condenação de Ana e, também, para provar sua inocência aos olhos dos historiadores.
Na série, o percurso de Kingston é semelhante, porém ele ameaça Ana em uma de suas primeiras cenas com ela, ao ser tratado com desprezo pela rainha, e simplesmente segura seu ombro com força. Eu pensei em como aquilo era absurdo, afinal, ela era ainda a esposa do rei, que podia perdoá-la a qualquer momento. Aliás, é outro consenso entre os biógrafos e historiadores de Ana Bolena que ela parecia acreditar que o rei poderia perdoá-la a qualquer momento e seguiu assim até quase o seu último dia de encarceramento. Fora isso, Kingston nessa altura da história já era quase sexagenário, não um homem relativamente jovem.
Pensem comigo, nesta cena, a escolha de elenco faz toda diferença, porque o que temos é uma sugestão de abuso policial, por assim dizer. Fosse Ana uma atriz branca, colocariam Kingston tocando na rainha e a ameaçando? Duvido. Agora, a coisa fica pior. Mais tarde, Ana tem um momento de desespero depois de uma visita de Cromwell. Ela grita e chuta a porta da cela. Kingston invade os aposentos da rainha, a domina por trás, lhe torce o braço e a atira na cama, jogando o seu preso sobre a rainha. Pensem em quantas abordagens de policiais brancos a mulheres negras já apareceram nas manchetes de jornal com eles sendo igualmente agressivos com elas. Fora isso, ele acrescenta que aquilo era chilique de mulher e precisava parar. É uma cena violenta e eu cheguei a pensar que aconteceria um estupro. De novo, me pergunto se uma cena assim existiria se a atriz fosse branca. A resposta é não. E, vejam, Ana sofreu bastante na prisão, teve um julgamento injusto, mas não foi fisicamente agredida, ou torturada.
Mas eis que, depois dessa cena infeliz, uma transformação acontece, a Ana que era tão autoritária com Kingston, que dominava o marido, que achou que poderia humilhar Cromwell, vira um doce com o prefeito da torre. Eles jantam pacificamente todos os dias e Kingston permite que Ana veja seu irmão Jorge antes da execução. Quando ela é executada, os olhos dele estão cheio d'água. Qual a mensagem que a série queria passar? Que o que Ana precisava é de um macho que a dominasse e a colocasse no seu devido lugar? Que se o rei tivesse batido nela, a humilhado, ela teria sido mais gentil com ele, teria sido submissa? Não culpo o elenco, eles fizeram o que lhes pediram para fazer, e fizeram bem, mas nunca vi uma série feminista me parecer tão não feminista. E, sim, é inegável que, ao olhar para a tela, o que vemos é um homem branco dominando uma mulher negra. Sinceramente, foi terrível.
Já caminhando para o final, tivemos a difamação de uma personagem histórica, Thomas Cranmer, arcebispo de Canterbury. Assim como Cromwell, Cranmer fazia o que o rei lhe mandava, neste sentido, ele era muito covarde, mas não há dúvidas de sua simpatia sincera por Ana. Ele não a visitou na prisão, mas mostrou-se triste e cabisbaixo desde às vésperas da execução da rainha e na fatídica data, passou o dia chorando e sem comer. Cranmer foi a autoridade eclesiástica que anulou os casamentos de Catarina de Aragão e Ana Bolena com o rei, porque foi a ordem que recebeu, no entanto ele não levou um documento até a segunda rainha de Henrique até a prisão para que ela aquiescesse em reconhecer seu casamento como inválido. Aliás, isso não era necessário.
Na cena, Cranmer, que não é interpretado por um ator branco, convence Ana, que resiste muito, a aceitar que seu casamento é inválido como a única forma de proteger sua filha, Elizabeth. A Ana da série é mãe acima de tudo, ela sacrificou sua honra para garantir a vida e o futuro da criança que teve com o rei. O tal documento previa, também, que Ana não seria morta, vejam só, mas enviada para um convento na França. Ana não era católica, era protestante engajada, assim como o próprio Cranmer, que parece constrangido o tempo inteiro nesta cena. O documento, claro, era mais uma das tramas pérfidas de Cromwell, sim, o rei, provavelmente, era inocente.
Não comentarei o julgamento, mas é preciso dizer que a série investe na ideia de que Lady Worcester, que poderia ser condenada por adultério dentro do que o roteiro construiu, foi obrigada a incriminar Ana. Já Lady Rochester, a cunhada, o fez com prazer. Dos acusados de relações sexuais com a rainha, somente o músico, Mark Smeaton, confessou. Ele era plebeu, ele foi torturado, os demais acusados, George Boleyn, irmão da rainha, Henry Norris, Francis Weston e William Brereton, que eram nobres, não foram. A série decidiu omitir o discurso final de Ana Bolena, que é bem forte e admite que se faça a Justiça segundo a lei sem assumir a culpa por qualquer crime, foi cortado. Motivo, não sei. Uma lástima.
A série também não clarifica que Ana, que deveria ser queimada, teve sua condenação mudada pelo rei, não por Cromwell, para decapitação. O rei lhe prestou uma última deferência e mandou vir da França um carrasco especialista em execuções com espada. Ela não colocou a cabeça em um cepo. Segundo todos os relatos da época, tudo foi muito rápido. A série coloca uma pequena multidão assistindo, mas também por ordem de Henrique, a execução de Ana foi restrita. Cromwell assistiu, ele precisava relatar ao rei.
Caminhando para o fim, foi muito difícil conseguir fotos boas da série, em especial, de algumas personagens. Não achei nenhuma realmente boa de Kingston, Lady Worcester, ou Cranmer, a única interessante de Norris é do primeiro capítulo. Da princesa Mary, só gifs. Falando um tiquinho do figurino, ele continuou bonito, na média, mas frouxo. O destaque sempre para as roupas de Ana, que ficavam ainda mais impressionantes, porque a protagonista é muito bonita, elegante, enfim, ela se impõe em cena. As roupas que Ana usou na sua execução, no entanto, não seguiram as descrições de época. Curiosamente o único french hood completo, não somente um diadema ou visor, mas com véu e tudo, só aparece de relance em uma figurante.
Enfim, se alguém quiser considerar esta série feminista, que seja, eu a considero uma peça de ficção muito problemática. De novo, o elenco, em especial Ana está muito bem, o problema não reside aí, mas em outras escolhas feitas pela equipe de produção, pela roteirista e diretora. Espero que deixem Ana Bolena em paz por algum tempo. Em 2020, houve uma série de docudramas também em três episódios sobre Ana Bolena, que parece muito bom, e estou tentando baixar o último capítulo. Acho que, para quem se interessar, valeria a pena assistir, especialmente, para comparar com o trabalho complicado que foi feito na minissérie do Channel 5. E, aqui n o blog, há a resenha dos docudramas da BBC Six Wives with Lucy Worsley, que é de 2016. É isso.
1 pessoas comentaram:
Meu interesse por essa série sempre foi 0 por estar cansada de tantas produções sobre a Era Tudor (porque ninguém faz uma série sobre os Plantageneta? Além de considerá-los uma dinastia muito mas interessante, foi mas longa, então dava pra fazer várias produções sobre eles sem ficar repetindo a mesma história sempre). E agora depois dos seus comentários, aí é que vou passar longe mesmo.
PS: Você chegou a assistir Domina? Eu estava com poucas expectativas porque achei o trailer ruim, mas até que me diverti bastante com ela.
Postar um comentário