quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Entrevista com a mangá-ka e o diretor de Kageki Shoujo!! (Traduzida do ANN)

Antes mesmo do último episódio de Kageki Shoujo!! (かげきしょうじょ!!), o ANN publicou uma entrevista exclusiva com a autora do mangá (Kumiko Saiki) e o diretor da série (Kazuhiro Yoneda).  As duas partes da entrevista são interessantes, porque mostram a paixão da autora pela Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら), o que justificou a dedicatória de Riyoko Ikeda, a autora do clássico, no obi do primeiro volume do mangá publicado na Melody.  Já o diretor fala de sua trajetória e mostra que a autora teve uma participação importante na animação.  E o resultado, que vocês podem conferir assistindo a série, ou pelas minhas resenhas, foi muito bom.  Queria a série dublada em português para que a Júlia assistisse e o mangá publicado no Brasil.   Lembrando, trata-se da tradução da tradução o que pode implicar em muitas perdas.  Se quiser ler em inglês, basta ir no ANN.

(E peço desculpas por ter diminuído o ritmo das postagens, estou passando por uma fase meio complicada na minha vida e com muito trabalho.  Vai passar, vai melhorar e se tirar Bolsonaro, já ajudaria muito)

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

RIP Takao Saito: Um dos Grandes do Mangá Nos Deixou


A Shogakukan comunicou ontem que o criador de Golgo 13 (ゴルゴサーティーン), Takao Saito, faleceu no dia 24 de setembro de câncer no pâncreas.  Nascido em 1936, Saito estreou em 1955 e foi um dos nomes mais importantes na constituição dos seinen mangá, ajudando a criar as bases da demografia voltada para homens jovens, que precisavam continuar lendo mangá e gerando lucros para as editoras.  Sim, hoje, seinen transborda e muito o seu foco inicial, mas não é o tema.  Saito também era notável por trabalhar em sistema de estúdio ao criar a  Saito Production, ele não fazia todo o trabalho, mas tinha o controle criativo da sua personagem mais importante, Golgo, um assassino de aluguel, além de outras coisas.  Segundo uma matéria sobre o seu 201º volume, Saito continuava desenhando o rosto da personagem em todos os quadros que ele aparecia.


No comunicado da Shogakukan, está explicado que o desejo do autor é que Golgo 13 continuasse sendo publicado em colaboração entre a Saito Production e o setor editorial da Big Comics, a revista onde ele é publicado.  Entre os prêmios e honra recebidos por Takao Saito estão o 21º Shogakukan Manga Award por Golgo 13, o Grande Prêmio da Associação de Cartunistas do Japão e o prêmio do júri especial no 50º Shogakukan Manga Awards. Saito foi premiado com a Medalha de Honra com Fita Púrpura em 2003, e a Ordem do Tesouro Sagrado, Raios de Ouro com Roseta em 2010. Golgo 13 celebrou seu 50º ano de serialização em 2018, e Saito celebrou seu 65º ano como criador de mangá em 2020 .  Uma coletânea de histórias de Golgo 13 chegou a ser publicada no Brasil pela JBC em três volumes.  Como é uma série episódica, essa possibilidade existe e deveria acontecer com mais frequência por aqui com séries de formato semelhante. (Fonte: ANN e Comic Natalie)

domingo, 26 de setembro de 2021

Comentando os episódios #12 e #13 de Kageki Shoujo!!: Uma linda série que merece continuação.

Ontem assisti aos dois últimos episódios de Kageki Shoujo!! (かげきしょうじょ!!) com a ideia de fazer duas resenhas em separado, mas acabei não tendo energia para fazer a primeira ontem e decidi juntar tudo em um texto só.  Se você quiser, pode ler todas as resenhas dos episódios no Shoujo Café, basta clicar na tag "Kageki Shoujo".  A ilustração da resenha foi postada pela autora do mangá, Kumiko Saiki, no Twitter.  Vamos lá, vou usar subtítulos no texto:

EPISÓDIO #12 - Kitto Dare ka ga (Tenho certeza que alguém)

No penúltimo episódio, a série mais uma vez aprofunda a personagem Ayako Yamada, a terceira mais importante da série de TV dada a atenção que ela recebeu do roteiro.  Escalada para ser Julieta, a menina, que se apaixonou várias vezes na vida, mas nunca foi retribuída, se sente insegura em relação ao seu papel.  A graça é que são mostrados os primeiros amores da menina e ela se apaixonou primeiro por André Grandier (Rosa de Versalhes) e, mais tarde, por Yang Wen-li (Lenda dos Heróis Galácticos).  Bem, só posso dizer que Yamada tem bom gosto.  O terceiro amor da menina foi um colega de escola, muito gentil, muito simpático, mas que só a enxergava como amiga.

A partir desse mergulho, vemos que Yamada era amada por todos na escola, mesmo as garotas maldosas e que ela era a única amiga de uma garota muito popular e acusada de ser a "piranha" da escola por namorar com todo mundo.  Yamada só via nela uma boa pessoa e as duas eram muito íntimas.  Mesmo quando o amado de Yamada confessa para ela que está apaixonado por essa colega, a garota não consegue se voltar contra a menina.  A graça é que ela acaba recebendo um cumprimento muito dúbio de Sawa Sugimoto, que fará Teobaldo no seu grupo, e que acaba fazendo com que ela compreenda que já foi amada, sim.  A amiga de escola, a garota difamada por ser muito popular com os garotos, tinha se declarado para ela e Yamada, inocente, avoada, nunca tinha conseguido processar o que tinha acontecido.

De todas os capítulos de Kageki Shoujo!!, este é o que é mais abertamente yuri.  Temos uma declaração de amor velada e uma explícita e o alvo é a tímida Yamada.  E, sim, tanto ela quanto Sawa se saem muito bem, arrebatando as colegas e os professores.  Onodera, o professor de música, vai ao êxtase, porque acredita que descobriu uma próxima top musumeyaku, afinal, ele conseguiu perceber uma joia escondida dentro de uma garota que parecia comum.  É uma das melhores partes do capítulo a reação do professor.

Ao final, para espanto de Yamada, uma Ai perplexa vem até Yamada e admite que ela é uma rival à altura.  Eu gostaria muito de ter a música que Yamada canta, a canção de Julieta, na verdade, queria ter toda a trilha sonora, porque é linda.  Aliás, a autora do mangá postou ontem uma prévia no Twitter de uma música cantada pelas dubladoras de Sarasa (Sayaka Senbongi) e Ai (Yumiri Hanamori), que é muito bonita, também.  O resto do episódio foi ocupado rapidamente pelas gêmeas, que não receberam a atenção que Hoshino, Sawa, Sarasa, Ai e Yamada tiveram em sua apresentação, e em Sarasa.

A protagonista é mostrada em seus dias antes de ir para a escola do Kouka em Kobe e como sua amizade com o jovem Akiya Shirakawa se transformou em um namoro.  A garota também está preparando seu Teobaldo, que precisa ser único, especial, diferente daquele que apresentou em aula.  Ela, assim como Sawa, nunca matou ninguém, mas ela descobre, como já comentei, que já teve inveja, que já sentiu raiva de alguém e que, sim, ela ama.  Foi um bonito episódio.  

EPISÓDIO #13 - Kageki Shoujo (Tenho certeza que alguém)

E chegamos ao último episódio!  É capítulo da Sarasa, mas é, também, o da Sawa Sugimoto.  Refletindo neste último capítulo, entendi que foi uma opção da produção diluir a Sugimoto em vários episódios.  Sabemos muita coisa dela e mais ainda no último capítulo, o problema é que não tivemos aquele flashback mais aprofundado que as outras meninas tiveram.  Mas não vou atropelar, vamos ao começo do episódio.

Chegou a vez do grupo de Sarasa, mas houve um ponto disruptivo, que não foi explicado.  São quarenta alunas em cada turma do Kouka.  Quando ficou estabelecido que as meninas se apresentariam na formatura das alunas do segundo ano, os dez grupos de quatro estavam formados, no entanto, no último momento, Andou, o professor de teatro, assume o papel de Romeu no grupo de Sarasa.  Como já fizeram isso antes, imagino que no mangá expliquem a saída de uma das alunas, sua desistência.  Como o Kouka é vendido como um ambiente competitivo e de grande pressão, a desistência de uma ou mais alunas é mais que esperado.


A presença do professor tem influência sobre o desempenho das meninas, elas ficam nervosas, ele é um ator profissional e joga a barra lá em cima.   Sarasa não se abala e lembra das lições do Kabuki, de uma conversa que tivera com o avô (*ou seria tio avô?*) de seu namorado quando ainda era criança e consegue entregar seu Teobaldo.  A sua apresentação é carregada de sentimento e pensada para encantar a audiência, algo que não passa despercebido por um dos professores e é o fator que determina que ela, e não Sawa, será Teobaldo.  E não pensem que é uma bobagem para privilegiar a protagonista, a coisa fica absolutamente bem explicada e é mais que compreensível.

E quando os resultados estão para sair, Higiri faz sua última maldade com Sarasa e a impede de ver se foi a escolhida, retardando a menina por horas em uma faxina imprevista.  Ai se angustia e se sente derrotada, também.  A evolução da personagem ao longo da série foi enorme, ela aprendeu a sentir, se importar, desejar.  Ela quer ser uma top star, porque mais que ninguém ela acredita no potencial de Sarasa e sabe que a amiga um dia será Oscar e outros tantos papéis que somente uma top otokoyaku pode interpretar. 

E Andou-sensei fica esperando as alunas pedirem as explicações e elas vem.  E, como professora, sei que esse momento, ter que explicar uma correção, uma nota, é um dos mais difíceis para um professor, especialmente, em uma instituição na qual um décimo pode definir sua colocação, que muitos adolescentes acreditam que é a sua vida. Por qual motivo a Julieta de Yamada foi melhor que a de Ai?  Porque a da protagonista da série pareceu uma moça mais madura do que a Julieta da peça.

E vem Sawa, que está arrasada.  Andou não sabe dizer o que definiu a decisão, mas lhe avisa que houve um empate e uma professora deu o voto de Minerva.  Sawa fala então do filme Amadeus, o professor diz que ama o musical e o filme, ela diz que odeia.  O motivo?  Ela acredita que é um Salieri e, ao conhecer Sarasa, colocou na cabeça que ela é Mozart.  Salieri foi injustiçado no filme, pintado como uma criatura perfeita na sua arte, mas medíocre, desprovida da fagulha de genialidade que o tornaria especial.  Salieri foi um excepcional artista e professor e não tentou matar Mozart, como no filme.

Enfim, Andou explica para Sawa a importância de um Salieri.  Mais tarde, a moça é abordada pela primeira da turma do segundo ano, a aluna mais graduada de todos e ela lhe conta o quanto é pesado ser a primeira, algo que Sawa entende bem, e o quanto é uma honra, também.  A conversa é um dos pontos altos de um episódio que não tem cara de último capítulo, mas que pede um "continua" no final.  Sawa entende seu papel e que pessoas como ela podem chegar ao topo, que a tal fagulha de genialidade não é algo determinante.

Mas darei um spoiler sério, porque é outra das cenas importantes do episódio.  Por qual motivo Sawa perdeu para Sarasa?  Segundo a professora, Sarasa entendeu que precisa ter apelo para a audiência, que cada uma das mulheres que estiver sentada na plateia precisa se sentir a Julieta de Teobaldo.  Foi isso que Sarasa entregou.  Sawa preocupou-se com a dor da personagem somente.  E Sawa consegue apertar a mão de Sarasa e a cumprimentar.  Outro ponto importante do capítulo é quando Hoshino defende Yamada da difamação e consegue colocar sua frustração para fora por não ser Romeu.  E tudo termina com as meninas batendo a foto de anúncio do concurso para a 101ª turma do Kouka.  

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Kageki Shoujo!! foi um excelente anime que conseguiu transmitir a riqueza do mangá, os dramas, a dinâmica do Kouka (Takarazuka) e mesmo tocando em temas muito pesados afirmou-se como uma série para que a gente assista e se sinta bem.  Até onde li o mangá, sei que muita coisa ficou de fora, por isso mesmo, defendo que o mangá seja lançado por aqui.  É uma série em andamento e acredito que acompanhe pelo menos até a formatura das meninas.  Como sinalizei, o capítulo #13 não parece o final de uma série.  Pode ser que tenhamos uma continuação, é o que eu espero.  

Pensei em Maria-sama ga Miteru (マリア様がみてる), cuja referência foi retirada de Kageki Shoujo, e que teve várias temporadas e filme e tudo mais.  A série também se passava em uma escola e as alunas iam se formando e novas meninas entravam.  Adoraria ver uma Sarasa no segundo ano e como as meninas iriam se comportar como senpai.  Agora, Kuragehime (海月姫) também terminou com cara de "vai ter segunda temporada", com uma série de pontas soltas e nunca tivemos a continuação.  Enfim, espero que a série tenha feito sucesso suficiente no Japão para merecer uma continuação.  É isso.  O que você achou da série?  Espero que as minhas resenhas tenham sido interessantes.  

sábado, 25 de setembro de 2021

Ranking da Oricon


Saiu a nova edição do ranking da Oricon e temos dois shoujo no top 30, ambos da revista Dessert e eu apostaria que logo terão alguma adaptação, ou para filme, ou para dorama.  De resto, o novo volume de Tokyo Revengers puxou todos os demais para cima deixando pouco espaço para outros mangás.  Ainda assim, alguns permanecem no top 10, alguns títulos permanecem no top 10 pela terceira semana seguida.  Natsume Yuujinchou, no entanto, saiu no top 30.

1. Tokyo Manji Revengers #24
2. Dungeon Meshi #11
3. Golden Kamui #27
4. ONE PIECE #100
5. Yubisaki to Renren #5
6. Tokyo Manji Revengers #23
7. Jojolion #27
8. Kaiju Nº8 #4
9. Shuumatsu no Walküre #12
10. Tokyo Manji Revengers #9
29. Hananoi-kun to Koi no Yamai #9

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Melhor sacada de Nos Tempos do Imperador até agora: Tonico foi o responsável pela Questão Christie


Os capítulos #38 e #39 de Nos Tempos do Imperador, os primeiros a estarem totalmente depois do salto no tempo de oito anos continuaram com os problemas de sempre, mas trouxeram uma trama interessante.  Tonico tornou-se  um deputado bem sucedido e o espinho na carne do imperador.  Dono do jornal O Berro, ele difama sua majestade D. Pedro II todos os dias.  Vive criando "fake news" e citou o versículo "E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará." (João 8:32).  Fica cada vez mais claro em quem Tonico se inspira, mas ele é melhor que o excrementíssimo e Alexandre Nero está deitando e rolando com o seu vilão. 

Já no capítulo de segunda, Caxias comunica ao imperador do naufrágio do navio inglês Prince of Wales, ocorrido em fins de 1861 (*as datas não estão sendo levadas à sério aqui pelas minhas contas*), D. Pedro II, mais preocupado em dar seus pulinhos com a Condessa, parece ignorar o caso.  Este é o ponto de partida da importantíssima Questão Christie (1862-1865), que levou ao rompimento das relações entre Brasil e o Reino Unido.  A novela colocou Tonico como o responsável por atiçar tanto o embaixador britânico, William Dougal Christie, interpretado pelo excelente e subaproveitado na Globo Guilherme Weber, e o imperador.  Se quiser saber o que foi a Questão Christie, tem um pedaço da minha aula aí embaixo:


Olha, essa trama está uma delícia, porque é o tipo de encaminhamento que funciona em uma trama de história alternativa.  Você pega uma personagem ficcional e a costura em um evento real lhe dando uma atuação preponderante, mesmo que possa ser escondida.  Caso de Tonico.  E descobrimos que Nélio sabe inglês, aliás, está previsto que Nélio se apaixone por Dolores.  Eu tinha apostado nesse encaminhamento e, ao que parece, ele irá acontecer.  Espero que Nélio acolha Dolores, de repente, ensine coisas para ela, ler melhor, por exemplo, e coloque os chifres e m Tonico.

Falando em Dolores e Eudoro, Daphne Bozaski está muito bem e continuando o excelente trabalho que a menina Julia Freitas já vinha fazendo.  As duas são fisicamente parecidas e muito talentosas.  José Dumont nem se fala, ele é um dos destaques da novela desde o início.  Vamos lá, eles tiveram duas cenas importantes e relacionadas à revelação do casamento eminente da moça com Tonico.  Dolores está desesperada, o pai vai lhe levar o que comer.  A cena é bonita, carinhosa, crível e, ao mesmo tempo, horrenda e absolutamente norteada pelas desigualdades de gênero. 


Eudoro se preocupa com Dolores, ele não etá mentindo, mas para dominá-la, ele minou qualquer capacidade de autodeterminação da menina.  Ela é dependente e submissa, ela tem medo, ela é ignorante de tudo, inclusive como as crianças são feitas.  Dolores será capaz de se revoltar e tomar seu destino nas mãos?  Agora, há quase um repeteco da mesma cena, com o pai lhe levando mingau.  É estranho, porque fica parecendo que os dois estão na penúria.  Uma casa vazia, sem escravos, Dolores cuidando do pai doente, ele reclamando das mãos calejadas da menina.  Mas eles eram ricos!  Sim, o acordo de casamento era para unir fortunas e o próprio Tonico disse no capítulo de ontem que Eudoro foi esperto e enriqueceu com a venda do algodão aproveitando-se da Guerra de Secessão (1861-1865).  E fica já sugerido que Tonico não foi esperto, ele é que deve estar à beira da falência, isso se Nélio não está responsável por suas finanças e tentando manter as coisas em ordem.  

O capítulo de ontem tentou, em vão, na minha opinião, fazer uma analogia entre D. Pedro e sua amante alma gêmea, amor de sua vida, e Tonico que, de casamento marcado, diz que vai se divertir ainda mais com prostitutas depois de passar a viver com Dolores.  Desculpe, Pedro II é o mocinho, ele deveria ter um pouco de compostura, já Tonico, bem, o vilão pode fazer o que quiser.  D. Pedro histórico tinha muitas amantes, mas era discreto.  O da novela está todo errado.  Voltando para Eudoro, acredito que a reconciliação dele com Pilar virá quando a jovem o curar de sua doença.  Aguardem.  


Falando da subtrama ruim, agora.  A Lupita de Roberta Rodrigues é uma personagem simpática.  Trambiqueira, mas do bem.  Os autores, no entanto, decidiram deslocá-la para o mal sem apelação.  Como isso está sendo feito?  Ela é uma escrava que tem escravos.  Primeira coisa, poderia afirmar com quase 100% de certeza que como escrava ela não poderia ter escravos.  Se fosse  forra, sim.  Segundo, se as escravas fossem alugadas de Borges, vilão assassino e dono de Lupita, até iria, mas não é o caso.  Terceiro, ela, uma escravizada, que tem condições de comprar sua liberdade, mas cujo senhor se recusa a ceder, fez discurso contra os abolicionistas e foi mostrada examinando os dentes de outras mulheres negras como ela, avaliando a mercadoria.

Que Lupita seja ambiciosa, que se torne amante de Batista por interesse, que dê uns pegas em Bernardinho, o filho mestiço do amante que acabou de aparecer na novela, OK, que se alie à Borges, não.  Que se tornar mesmo escravizada, senhora de outras mulheres é destruir a personagem.  Estão mesmo recebendo alguma orientação de especialistas nas questões afro-brasileiras?  Sabe o que fica parecendo?  Coisa do pessoal que quer ficar repetindo que Zumbi não pode ser herói, porque ele, um negro, (supostamente) teria tido escravos.  Está me enojando essa manobra dos autores, muito mesmo tanto por ecoar essas bobagens racistas, como por manchar uma personagem que tinha muito potencial.  O que vai ser de Lupita?  No final da novela será punida junto com os vilões?.


Já concluindo.  Samuel continua chato.  Pilar continua chata.  As crianças de Clemência e Quinzinho são insuportáveis.  Guebo (Maicon Rodrigues) pode ser interessante, vamos ver como ele se insere dessas novas tramas.  E, vejam bem, continua ridícula a história de Samuel se sentindo pai dele, quem deveria ter assumido o garoto era D. Olú.  O ator que faz Bernardinho, Gabriel Fuentes, é muito bonito, e o que faz Guebo, também, mas ele é um safado e deve estar enganando os pais, gastando seu dinheiro e mentindo sobre estar na Marinha.  Eu não li spoilers neste caso, estou só apostando.  Consegui rir genuinamente de Lota no último capítulo, a história dos três esqueletos está divertida, muito mesmo.  

E figurino?  Gastaram todo o dinheiro com a Barral e economizaram com as outras atrizes.  É uma pobreza de dar dó.  Não precisavam fazer um figurino gigantesco, não estou pedindo Bridgerton, mas o cuidado que a Globo sempre costuma ter com suas novelas de época.  Querem ver?  Passaram-se dois dias pelo menos entre a segunda-feira e ontem, mas a imperatriz, Pilar, as princesas, continuam com a mesma roupa.  Pilar, aliás, continua com o amarelo, até as anáguas são amarelas.  As anáguas!  E eu imaginando que iriam colocá-la com um cabelo belamente trançado, qual nada!  E chapéu, claro, só quem usa regularmente é a Condessa e isso porque só a Mariana Ximenes mereceu um figurino completo.


Concluindo, a novela continua muito mais ou menos.  Tonico pontua alto, o núcleo do Recôncavo é excelente.  Lupita continua boa, porque a atriz é ótima, mas sua trama está caminhando para o abismo.  E vamos ver o que fazem de Nélio e Dolores.  Assistir novela para ver inconsistências históricas, falar mal do figurino, elogiar o vilão e torcer por um punhado de coadjuvantes  é triste.  Ah, sim!  D. Pedro pede que Pilar sorria em uma foto.  As pessoas normalmente não sorriam em fotos antigas, porque era preciso esperar um longo tempo na mesma posição antes de bater a foto, é mais difícil manter um sorriso, do que um rosto neutro.  Pedir para sorrir pareceu gentil da parte do imperador, mas não fazia muito sentido na época.

Yuka Yamauchi será Haruhi no musical de Ouran Host Club


Foi anunciado em junho que Ouran Host Club teria um musical.  Os garotos do elenco foram anunciados, mas Haruhi, a protagonista, ainda não tinha sido divulgada.  A revelação veio esta semana.  Yuka Yamauchi, atriz de 27 anos, 
foi Anthy Himemiya no musical de Shoujo Kakumei Utena (少女革命ウテナ) de 2018-2019 e esteve no musical de Sailor Moon (美少女戦士セーラームーン) musical em 2018-2019.


O Musical Ouran High School Host Club será apresentado no The Galaxy Theatre em Tóquio de 15 a 23 de janeiro de 2022, e no Mielparque Hall Osaka em 29 e 30 de janeiro. Após as vendas antecipadas de 4 de outubro a 30 de novembro, as vendas gerais de os ingressos começarão às 12h00 em 11 de dezembro.  

A informação está no Comic Natalie, mas aproveitei para pegar a lista com o elenco completo no site do Crunchyroll.  Está abaixo:

  • Haruhi Fujioka: Yuka Yamauchi
  • Tamaki Suoh: Junya Komatsu
  • Kyoya Ohtori: Masamichi Satonaka
  • Hikaru Hitachiin: Yu Futaba
  • Kaoru Hitachiin: Kaname Futaba
  • Mitsukuni Haninotsuka: Eito Konishi
  • Takashi Harunozuka: Sho Kato
  • Umehito Nekozawa: Shoichiro Oumi
  • Renge Houshakuji: Mizuki Saito
  • Takeshi Kuze: Yusuke Kashiwagi
  • Ryoji "Ranka" Fujioka Ryouji: Kohei Houzuki

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Ranking da Oricon - Semana 06-12/09


Este é o ranking da semana passada, o novo deve sair amanhã, e temos a manutenção de vários títulos da semana passada no top 30, mas somente um shoujo entre eles. One Piece #100, um marco só por existir, está no topo da lista. No top 10 permanece Natsume Yuujinchou, que subiu para o quarto lugar. Vamos ver como fica no ranking desta semana.

1. One Piece #100
2. Kaiju Nº 8 #4
3. Look Back
4. Natsume Yuujinchou #27
5. MF Ghost #12
6. BORUTO -NARUTO NEXT GENERATIONS- 15
7. Isekai Nonbiri Nouka #8
8. Mahou Tsukai no Yome #16
9. Darwin's Game #24
10. Ichinichi Gaishutsuroku Hanchou #12

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Morre a mangá-ka Saeki Kayono

Kayono Saeki nasceu em 1952 e debutou em 1972.  Sua carreira foi quase integralmente dedicada ao shoujo mangá e era casada com o mangá-ka Shintani Kaoru.  A artista faleceu no dia 19 de agosto de câncer no pulmão, mas a notícia só foi divulgada somente agora pelo marido, que usou o Twitter.  Segundo o Yahoo, seus trabalhos mais importantes foram Smash! Meg..   (スマッシュ!メグ), Kuchibeni Combat (口紅コンバット) e Akihime (あき姫).  Ela recebeu o 23º Prêmio da Associação Japonesa de Cartunistas por  Hi no Ryousen  (緋の稜線).  Além do Yahoo, usei como fonte o Comic Natalie.

domingo, 19 de setembro de 2021

Fazendo um balanço da primeira fase de Nos Tempos do Imperador com ênfase nos capítulos que ainda não havia comentado

O último capítulo que comentei de Nos Tempos do Imperador foi o #27, de lá até ontem foram oito capítulos sem uma review curta, ou texto direto.  Era minha intenção comentar diariamente, mas efetivamente, não há material para resenhar todos os capítulos, pois em alguns momentos, a trama não anda, ou o faz em círculos mesmo.  Por exemplo, foram dias e dias insistindo na história da escola militar para Guebo, algo que me desceu mal dado o momento em que vivemos, e no pseudodrama da aceitação por parte do menino da paternidade adotiva de Samuel.  

O protagonista, aliás, falava como se a única saída fosse essa, ou Guebo ficaria abandona à própria sorte quando o caminho mais adequado seria o garoto ser acolhido por D. Olú e Mãe Cândida, que são os lideres da comunidade e têm laços muito mais sólidos com Guebo.  Obviamente, a ideia é criar dois triângulos amorosos na segunda parte da trama, um com Zayla, promovida à vilã ressentida, com Samuel e Pilar e outro envolvendo Guebo, que sempre foi apaixonado pela amiga de infância, mas culpado por a estar disputando com o pai postiço.  Vai dar certo isto aqui?  Dificilmente.

E retomando o meu texto sobre a possível destruição do núcleo negro da novela, um dos motivos para que Borges assassinasse Baltazar e Abena foi a fuga dos escravos de Lota e Batista.  Borges viu Minervina, ela voltara e arriscara todos os demais por desejar libertar sua mãe.  Mas, depois da morte do casal, onde foi parar Minervina?  Ela sumiu. Será que perdi alguma cena? Ela não está mais na trama?  Devo concluir o quê?  O objetivo dessa subtrama era simplesmente eliminar parte importante do elenco da Pequena África.  Boas personagens, negras ainda por cima, rompendo com o paradigma das personagens negras isoladas, foram jogadas fora.  Parabéns aos envolvidos!  E, sim, imagino que entrem outras personagens, inclusive Déo Garcez viverá Luiz Gama.  Será que vão compensar os deslizes da primeira fase?

A princípio, a novela tem um especialista, o escritor e pesquisador da cultura afro-brasileira, Nei Lopes.  Pelo que entendi, da confusão com a cena do racismo reverso, ele entrou na produção quando ela já estava em andamento.  Aparentemente, ele vai ajudar a consertar a novela.  Vai dar certo?  Uma segunda fase pode significar, sim, um recomeço, mas, talvez, a coisa precise de tantos remendos que não vai dar certo do mesmo jeito.  Fora isso, ninguém falou em assessoria histórica, coisa que a Globo costumava levar muito a sério, mas que parece não existir em Nos Tempos do Imperador.  Porque tem que ter alguém para avisar que vai dar m***a, mas muito mais importante é ter gente evitando que você tenha que consertar o que já está feito.

Agora, estou curiosa com uma coisa.  Será que Lupita, que Borges se recusa a vender, se tornará amante do pai de Nélio?  Acho que um caminho interessante tomado nos últimos capítulos foi rearranjar a relação dos dois.  A Lupita de Roberta Rodrigues é malandra ao extremo e mesmo sendo uma escravizada, está jogando com todos os seus recursos para conseguir cativar o fazendeiro.  Se a piada de Batista comprando Lupita para usá-la sexualmente pegou tão mal aos meus olhos quanto o racismo reverso, esse romance esquisito dos dois até consegue ser engraçado e funcionar.  O problema é que falta uma trama mais robusta para Nos Tempos do Imperador, então, entrechos curtos e núcleos menores que funcionem não vão salvar a novela.

Nesta semana que estive sem comentar os capítulos, o núcleo da Bahia veio para o Rio de Janeiro, pois Tonico iria tomar posse.  Eu considero Tonico, Nélio, Eudoro e Dolores o melhor núcleo da novela.  Alexandre Nero é um vilão que consegue ser ao mesmo tempo terrível e engraçado, inteligente e atrapalhado.  De todas as cenas dele, a única fraca, porque mais óbvia, foi ao ar no capítulo de sábado, o roubo da aliança do garçom e ele ter acusado Samuel pelo "crime".  Com a presença do imperador em cena, Samuel seria salvo e foi.  De resto, todas as cenas de Tonico são muito bem aproveitadas, ele é inconveniente, ele é cruel, ele é engraçado e ele almeja derrubar D. Pedro.

O reencontro dele com Pilar foi importante para colocar os sentimentos do vilão em evidência novamente.  Ele ama a moça?  A deseja pelo menos?  Ele quer casar com ela para se vingar todos os dias, afinal, como esposa, ela estará sob sua autoridade?  Provavelmente, a última opção e ele iria tratá-la como um animal a ser domado.  Mas, ao mesmo tempo, o ator consegue imprimir uma dúvida.  Ele ama Pilar?  Ele sofreu com o abandono?  Só que como todas as paixões desse novela, mesmo a de Tonico por Pilar foi súbita.  De qualquer forma, a cena dele ensaiando no espelho com Nélio como iria pedi-la em casamento foi nota dez para os dois, João Pedro Zappa está muitíssimo bem no papel e queria que sua personagem tivesse um bom desenvolvimento na segunda fase.

Mas como Tonico separou Pilar de Samuel?  Um dos melhores lances da novela até agora foi a manipulação de Dolores por parte de Tonico.  E a coisa só funcionou bem, porque Julia Freitas é muito competente.  Conversando com Pilar, ela foi capaz de mudar o olhar, a atitude corporal de forma muito convincente.  Agora, a trama, que era acusar Samuel e Barral de terem um caso, só funcionou porque Pilar já estava com ciúme.  E não me refiro à cena muito suspeita do batom no cassino, ou quando ela interrompeu confidências entre a condessa e Samuel e ouviu um "Pilar não pode saber", ou algo assim.  Mesmo antes, um dos traços da personalidade da mocinha, além do seu egoísmo que é vendido como virtude, é sentir ciúmes do moço.  A dúvida que já estava lá só foi potencializada pela palavra de Dolores.  Como duvidar?  

Nesse ponto, a novela caminhou bem, ainda que tenha recorrido a uma facilidade que foi retirar a Condessa de Barral e D. Pedro da corte eliminando um possível confronto e revelação da verdade.  Mas o que seria uma novela, boa, mediana, ou ruim, se não fossem alguns mal-entendidos e recursos não tão elegantes?  A Barral poderia ter confidenciado seu romance com o imperador para a moça?  Sim, poderia, mas lembrem que ela tem língua solta e é fiel à imperatriz.  Pelo menos, Pilar não foi enganada por burrice, criou-se um solo bem fértil para que vicejasse a dúvida e ela e Samuel pudessem romper.  E Tonico foi rápido e competente em retirar Dolores e o Coronel Eudoro, José Dumont no seu melhor, da corte, assim como Nélio foi hábil para segurá-los no Rio.  

Aliás, Eudoro é uma personagem crível e ele, nas suas limitações autoritárias de patriarca, ama as filhas.  Mesmo a sua rejeição à Pilar, na cena muito boa que os dois tiveram no cassino, foi bem construída e carregada de uma dose certa de emoção.  Talvez, mais adiante, ele até consiga romper com Tonico.  Talvez, porque vai depender do talento dos autores da trama.  Fazer as pazes com Pilar será difícil, mas vai que criam uma situação na qual ela salve a vida do pai ou de Dolores?

Acho que serão os únicos elogios a se fazer à novela nesse texto.  Vamos para as críticas umas valem para esse conjunto de capítulos, outras para a primeira fase como um todo.  O Coronel levou Dolores para uma barbearia.  Quando um pai levaria a filha para um ambiente que era essencialmente masculino?  A deixaria em casa.  Qual foi o motivo?  Possibilitar um encontro com Pilar.  A coisa poderia ser feita de outra forma, aliás, quando precisou, a mocinha recorreu à imperatriz e deu certo.  Aliás, Tereza Cristina é uma espécie de fada madrinha da protagonista e é mais doce ainda por estar na pele de Letícia Sabatella.

Ainda no núcleo de Tonico, ele chega ao Rio com uns três ou quatro escravos, chega inclusive a dizer para Pilar e Samuel que igual ao protagonista, ele tinha vários.  Só que os escravos somem.  Não sei se por causa da pandemia, ou por falta de informação de quem escreve a novela, todo o serviço da casa estava sendo feito por Lota e Dolores.  Um princípio básico de uma sociedade escravista é que todos os serviços deveriam ser feitos por escravizados.  Era humilhante, era inadequado, um livre faria tudo para não estar envolvido com trabalhos manuais.  Mas é assim na casa de Tonico, é assim no cassino, com Clemência responsável por todos os serviços, e no palácio do imperador.  Em São Cristóvão, só vimos criados, e eram negros, quando houve a recepção aos deputados.  O resto do tempo, o mordomo faz tudo, a baronesa faz tudo, e, agora, Lurdes morreu.  É um núcleo inexplicavelmente minúsculo o do palácio.  Deveríamos ter uma dezena de criados, a maioria, em 1856-57, negros e negras escravizados.

Continua muito forte na narrativa da novela a ideia de que a família imperial era abolicionista militante e D. Pedro II um homem impedido de governar.  Acusa-se o parlamento de corrupção e de impedir que o iluminado interpretado pro Selton Mello possa fazer o bem para o Brasil.  A imprensa, que só cairia em cima de D. Pedro lá na década de 1880, não faz nada além de criticar o soberano. De repente, se o imperador fechasse o parlamento e censurasse a imprensa as coisas funcionariam, não é mesmo?  E o braço direito de D. Pedro, o Marquês de Caxias, esse homem probo, lhe traria o apoio do Exército.  Será que assim como no caso do racismo reverso, ninguém avisou para os autores da novela que esse discurso parece perigosamente próximo do usado por nosso presidente?  

Ao mesmo tempo que D. Pedro reclama que não o deixam trabalhar, ele não quer fazer o que precisa fazer, como cumprir suas funções cerimoniais, algo super importante para qualquer monarquia, como a Barral tentou lhe recordar algumas vezes.  Veja, a monarquia se mantém através do reforço de seus símbolos e da contínua criação e manutenção de tradições.  O D. Pedro II histórico tinha plena consciência disso, o da novela, por opção dos autores, quer se afastar de tudo o que o tornaria indispensável, tudo o que reforçaria a sua posição.  Ele reclama, e o fez com Samuel no capítulo de sábado, de não ter o poder pessoal ilimitado.  Isso não era bem uma preocupação de D. Pedro II real, que tinha campo para interferir na política, e o fazia constitucionalmente, sem precisar ser, ou parecer autoritário.

Apesar de reclamar do excesso de trabalho, não vemos o monarca trabalhar muito.  Quando anunciaram a novela, imaginei que ela poderia se prestar a fazer propaganda da monarquia, afinal, D. Pedro II é meio que um santo, mas, não, não, corre o risco do imperador sair difamado.  Aliás, uma das coisas que o acusaram recentemente, a personagem de José de Alencar, que era deputado e se tornou inimigo do imperador, de trocar títulos de nobreza por favores e apoio.  Certamente, tinha muito valor um título de nobreza, você era elevado acima dos demais, mas sabiam que era caro, muito caro?  O sujeito virava barão, sonho de Lota e Batista, mas tinha que pagar um bom dinheiro por isso, em valores atualizados, mais de 230 mil reais.  O imperador se mantinha normalmente à margem das picuinhas e dos jogos de poder, a maioria dos títulos de nobreza eram fruto de sugestões do conselho de ministros e outras instâncias de poder, o problema eram as amantes!  Sobre isso nos diz o Paulo Rezzutti:

“D. Pedro estivera até então acima das negociatas e dos jogos de poder. Ninguém podia acusá-lo de enriquecimento ilícito, por exemplo. A sua renda era assegurada pela dotação e ele fizera de tudo para nunca elevá-la, mesmo se endividando durante anos para saldar as viagens feitas ao exterior. Entretanto, ele se imiscuiu em diversas nomeações, como comprovam as cartas de suas amantes com pedidos de cargos e postos no exterior, geralmente dados pelo soberano.” (REZZUTTI, Paulo. D. Pedro II (A história não contada) . Leya. Edição do Kindle.)

Não era incomum em monarquias que maridos oferecessem suas esposas, de forma direta, ou indireta, ao monarca em troca de favores.  Isso aconteceu no Brasil, também.  Você imagina algo assim rolando em Nos Tempos do Imperador?  O Pedro II de Selton Mello compensando algum marido com um cargo pelos chifres tomados?  A resposta é não, porque isso feriria as nossas sensibilidades contemporâneas.  Mais ainda, você imagina a novela colocando D. Pedro com várias amantes nessa novela?  Não de novo!  Somente a Barral, o amor de sua vida, sua alma gêmea.  No entanto, as várias amantes eram comuns e os ciúmes da imperatriz, também, ao que parece: 

"Educado, diferente do pai, d. Pedro II não daria escândalos públicos com seus casos extraconjugais, quase todos passageiros. Mas, no início, o medo dos funcionários da Casa Imperial a respeito do legado da imagem de d. Pedro I era um temor constante. Em carta de 31 de julho de 1850, o superintendente da Fazenda de Santa Cruz, o coronel Conrado Jacob de Niemeyer, após a passagem do imperador e de sua família pela propriedade, escreveu ao mordomo Paulo Barbosa acerca da imperatriz: Ao meu ver o seu maior receio é que seu esposo faça em Santa Cruz as mesmas galanterias que fazia o senhor d. Pedro I, e como ela é talvez a única esposa que desvirginando-se desvirginou o esposo tem muito ciúme dele. É isto bem mal, mas que muito se deve desculpar às senhoras. É ele, se bem que de uma moral austera, homem, e se o diabo tentou Jesus Cristo quanto mais a ele que já provou o fruto de Adão. (REZZUTTI, Paulo. D. Pedro II (A história não contada) . Leya. Edição do Kindle.)

Não sabemos muito como ela expressava seu ciúme, mas o fato é que a imperatriz está na novela com aquela eterna cara de sofrimento.  Eu lamento muito que tenham engrenado o romance dele com a Barral tão rápido, sem nenhuma culpa, nenhuma restrição da parte da personagem de Mariana Ximenes.  Cria-se, inclusive, uma sombra de leviandade sobre a personagem.  O fandom da imperatriz na internet é grande, mas acho que a rejeição à D. Pedro também é.  Muita gente torce pelo que não pode ocorrer, salvo, claro, se os autores chutarem toda e qualquer coerência... Pensando bem, pode acontecer qualquer coisa, sim.  


Humor à parte, foi muito boa a cena da carruagem entre a Barral e a Imperatriz. O tom de voz baixo, porém firme, de Letícia Sabatella, que incomodou alguns, mostrou bem a situação de humilhação na qual ela estava.  Eu não gostei da cena de Leopoldina dizendo preferir ser filha da Barral e dos seus desdobramentos, como a menina vendo o pai aos beijos com a amante, no entanto, foi boa a cena da menina com a imperatriz.  Um pacto de silêncio pela boa imagem da família.  A cena não precisava estar lá, era, afinal, uma criança, mas terminou por criar um laço entre a imperatriz e a filha.  Se os autores forem espertos, irão investir nesse aspecto nessa fase que começa amanhã.

O fato é que D. Pedro II se comporta de uma forma muito diversa do que deveria ser nesses assuntos romântico-sexuais.  De que estou falando?  Certamente, ele não se agarraria com a Barral em todo o lugar possível, na sua própria casa e correndo o risco, como foi na novela, de ser visto, como foi por uma das filhas.  Estávamos em plena Era Vitoriana (1837-1901), ter amantes não tornaria um homem infame, mas colocar a amante dentro de casa e exibir-se com ela como D. Pedro da novela faz sem se preocupar em poupar as filhas da sua devassidão, ou a esposa de ser humilhada, sim.  A ideia de que D. Pedro era discreto com suas escapadelas e de que o romance dele com a Barral, caso tenha existido, não era esfregado na cara da sociedade, também está no livro As Barbas do Imperador:

“Por sinal, d. Pedro teria uma atitude oposta à de seu pai: a discrição será a marca de suas relações.  Ter amantes não era problema.  Sobretudo em um reino como o Brasil, seria um mau sinal o comentário geral sobre a escassa virilidade do imperador.  Há histórias e boatos sobre as amantes de d. Pedro II – condessa de Villeneuve, a Guedes Pinho, Maria Francisca, condessa de Goiás, a condessa de la Tour –, mas o que mais impressiona é o silêncio.  Comentava-se, inclusive, que d. Pedro distribuía a todos os seus filhos naturais o nome Alcântara Brasileiro, um reconhecimento de filiação e uma homenagem ao santo protetor.  É o próprio imperador que, em seu diário de 1861, o único que traz reflexões um pouco mais pessoais, fala com moderação sobre a relação com Teresa Cristina – “Respeito e estimo sinceramente minha mulher, cujas qualidades constitutivas do caráter individual são excelentes” –, que com o passar do tempo se acomodara.  Mas d. Pedro achava-a carola, e parece ter se encantado com a proximidade de uma dama da corte, educada e cheia de personalidade, como a Barral.  Depois da partida da condessa, já na década de 80, é com saudade que ambos relembram momentos de intimidade.  (...) Em carta datada de 3 de dezembro de 1884, d. Pedro insiste em falar das raras ocasiões de maior privacidade: “D. Pedro: – Lembra-se do hotel Orléans?  Barral: – Como não!  D. Pedro: – Lembra-se do nome do nosso porteiro?  Barral: – Se me lembro do Sr. Rozano.  Estou ouvindo o sino!!”.  (SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador - D. Pedro II, um monarca nos trópicos.  São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 381-382.)

Não sabemos muitos detalhes da vida íntima de D. Pedro, Teresa Cristina e da Condessa de Barral, mas o fato é que a novela está criando ranço em muita gente por causa da forma leviana como está retratando o relacionamento do imperador com a da personagem de Mariana Ximenes.  A imperatriz está sendo apresentada como mártir.  Umas vigas quase caem em cima dela, o que seria sua morte, e o imperador sovina nem se move como se não se preocupasse com a esposa.  Mais tarde, a filha Leopoldina humilha a mãe dizendo que prefere a Barral.  Não sei qual foi a pior cena, ó fato é que não sei como será a dinâmica das personagens na próxima fase, se vão tentar demonizar a imperatriz, lhe arranjar amantes, o que será de ruim que vão inventar.  Sim, estão regravando cenas e a gente não sabe o que pode vir por aí.

Queria terminar falando de algo que eu gosto muito:  figurino.  Não sou especialista, recomendo os canais da Eneida Queiroz e da Modista do Desterro (*que já fez vários vídeos sobre a novela*) para se aprofundar em moda histórica, mas sei alguma coisa e a novela está me incomodando muito.  Boa parte do figurino parece pobre, improvisado e a foto acima da Barral foi um dos ápices desse desarranjo.  O figurino é assinado pela experiente e competente Beth Filipecki e, segundo essa matéria da Marie Claire, ela optou por seguir um percurso semelhante ao de Orgulho & Paixão, novela que eu gosto muito.  Ela escolheu uma cor para estar sempre presente na roupa das personagens femininas.  A da Barral é verde, a de Pilar é o monótono amarelo desmaiado.  O problema é que o que funcionou em uma novela que não era realista,, não está dando certo em Nos Tempos do Imperador.

Não estou reclamando do figurino ser para-realista [1], isto é, tomar liberdade com a moda da época, ainda que mantenha um pé firme na realidade, o problema é que salvo pela Barral, as princesas, Mãe Cândida, Zayla e Dolores na corte todo o resto é muito feio.  A escolha da cor azul escuro para a Imperatriz já seria ruim, mas não foi só isso, todas as roupas de Letícia Sabatella parecem iguais, ou muito pouco diferentes.  E não distinguiram uma roupa de dia de uma usada à noite, nem no jantar, nem no cassino. Ela não seria menos séria, menos religiosa, se se vestisse de forma mais decotada à noite, porque isso era a norma e ela era a imperatriz. E isso mesmo tendo muitas referências visuais da imperatriz vestindo-se na moda, usando cores fortes como vermelho, tudo foi ignorado.  Teresa Cristina só adota os tons escuros na velhice, na primeira fase da novela, ela  tem menos de 40 anos.

Pilar, para passar a ideia de praticidade, usa pouca crinolina e parece quase sempre estar com a mesma roupa.  O mesmo ocorre com a imperatriz. As diferenças na roupa são muito pequenas.  Não vou falar do cabelo, porque virou moda não prender cabelo da mocinha, mas será que mesmo no retorno de Boston, médica, com mais de trinta anos, Pilar vai andar de cabelo solto?  E chapéu a Pilar também não usa, parece que decidiram seguir o padrão de Bridgerton.  A imperatriz também parece só usar chapéu, um item obrigatório em uma dama, de vez em quando.  

Outra coisa, vi fotos de Dolores na segunda fase bem deslocada da moda da época.  Será que não pararam para pensar que um homem como Tonico iria querer exibir a noiva na última moda, porque isso servia para marcar o seu próprio prestígio?  Sim, uma esposa e filhas bem vestidas apontavam para o poder do patriarca mais do que para os interesses particulares das mulheres envolvidas.  Eu sempre acho interessante as discussões que tentam apresentar a moda como uma forma de empoderamento das mulheres no século XIX e esquecem que elas se vestiam, não raro, com um dinheiro que não era seu e para atender as expectativas de sua classe social e dos homens de sua vida.

Falando dos homens, não sei qual o problema, também.  Tudo parece pobre e desconjuntado.  Pegue a imagem comparando o quadro com a novela e veja como Selton Mello está parecendo um cospobre do imperador.  Pode isso?  A Globo sabe fazer melhor.  Tonico parece usar bota em todo lugar.  De novo, se ele quer impressionar, e quer, ele se vestiria na última moda e poderia cometer exageros e se tornar alvo de piada por isso.  Como detalhe menor, a bota do Coronel Eudoro em um dos últimos capítulos tinha um zíper, algo que nem inventado fora ainda.

Concluindo, porque estiquei demais, aconteceu a cena infeliz com Leopoldina de calças compridas e dizendo que queria ser uma grande amazona como a Condessa de Barral.  Primeiro, uma dama como a Barral nunca montaria como um homem, ainda mais na corte.  Seria totalmente inadequado, ela precisava dar o exemplo, afinal, a novela fez questão de marcar que a Condessa foi contratada, entre outras coisas, para transformar as princesas em damas refinadas.  Sim, um dos problemas da novela é vender a ideia de que eram todos uns jecas na corte de Pedro II e a imperatriz, uma princesa europeia legítima, nada tinha a ensinar às próprias filhas.


Segundo, havia selas feitas para mulheres e que eram usadas pelas damas.  Sim, até entendo que uma Pilar possa montar à cavaleiro, como um homem faria, mas a Condessa de Barral teria selas adequadas e o treinamento necessário para montar como uma dama e não usaria roupas "masculinas"  por conforto.  Sim, eu acredito que fosse muito mais confortável montar como um homem, mas era um mundo de comportamentos bem gendrados e no qual uma mulher muitas vezes deveria fingir não saber fazer algumas coisas para parecer "educada".  Enfim, esse treinamento para montar atravessada na sela começava cedo e quem viu o filme E o Vento Levou lembra da tragédia com a filhinha de Scarlet e Rhett Butler, porque a menina vai saltar um obstáculo sem dominar ainda o equilíbrio em uma sela feminina, ela aprendera a montar da forma mais cômoda e segura, mas deveria ser uma dama.

A própria ideia de grande amazona dentro da nobreza ou das classes abastadas passava por ser capaz de montar atravessada na sela e conseguir fazer qualquer coisa que um homem fizesse desse jeito, com vestido e tudo.  Claro, a maioria das mulheres não eram amazonas ousadas, até eram proibidas de tentar, mas algumas se destacavam muito, como como a australiana Esther Stace.  Seu recorde de salto  usando uma sela feminina continuava de pé no ano passado, quase cem anos depois.  E, sim, era mais difícil montar assim e as filhas de Pedro II (*vide a gravura acima*) adoravam andar à cavalo.

E quero terminar marcando que a primeira fase da novela não foi boa.  Não daria nem um 6,0, que foi a nota dada pelo Coisas de TV no seu vídeo de hoje.  Não culpo os atores, culpo o texto.  Não acho que a novela tem problemas, porque escolheu uma época "chata" da História do Brasil, é falta de competência para produzir um material decente.  Também não é culpa da pandemia, a maioria dos problemas nada tem a ver com  a tragédia na qual estamos metidos.  Se há situações inaceitáveis, como racismo reverso, não é falta de gente para orientar o que é certo, porque gente minimamente informada sabe que isso não existe.  

Como deveria ser muito evidente que um casal interracial teria que enfrentar muitos problemas, especialmente, se a mulher era branca e o homem, negro. Inverter a lógica da dominação, mexe com as estruturas do sistema e atinge em cheio a masculinidade frágil do homem branco.  Só que colocar situações do século XXI, comportamentos da nossa época, no século XIX é um dos problemas da novela.  De novo, não me parece inocente essa tentativa recente de construir passados limpos de racismo, de sexismo e outros ismos horríveis em recentes produções muito competentes e bonitinhas.  BridgertonGambito da RainhaEnola Holmes.  E a última versão de Éramos Seis vem no mesmo balaio.  A gritaria com Nos Tempos do Imperador só está sendo grande, porque a lambança é muito evidente e é a única novela inédita no ar.  


E, sim, a insistência com a escola militar para o menino negro continua me incomodando muito, mas é coisa que deve ser largada pelo caminho, como outras ideias da trama.  Lembram da briga por causa dos horários das princesas?  Quem se lembra disso?  E as meninas vivem de folga mesmo, não é?  Afinal, o pai precisa continuar se pegando com a Condessa em horário de trabalho.  Terminando, o final de Germana e Licurgo foi grotesco, muito desagradável mesmo.  Talvez não seja meu tipo de humor, talvez funcione com você, mas colocá-los sendo mortos por um trem foi horrível.  Mas não se preocupem, o casal que em nada contribui para a novela voltará como fantasmas na segunda fase, foram atropelados e morreram da forma horrível que morreram para nada.  De repente, as joias da imperatriz, que eles haviam roubado, sejam encontradas pelos filhos de Clemência e Quinzinho, que serão assombrados por eles.

Mangá sobre colegas de trabalho que brigam feito cão e gato, mas escondem que foram namorados no passado, vai virar dorama

Dekinai Futari  (デキないふたり) da mangá-ka Satomura vai virar dorama, segundo o Comic Natalie, a série vai virar dorama.  Eu realmente não conhecia o mangá e a autora (*linkei o Twitter dela*), ele é publicado somente em versão digital, no LINE, acredito, e, depois, sai o encadernado.  Tem somente dois volumes  e tudo com scanlations e fui dar uma olhada.   Segue o resumo oficial: "Nao Shirafuji e Takahito Kurose são colegas de trabalho e rivais ferozes, competindo pelas vendas mais altas todos os meses. Eles podem lutar como cães e gatos no trabalho, mas na verdade foram amantes no colégio! A causa do rompimento foi uma frase dolorosa que ele disse durante a primeira experiência."

Li dois capítulos, o traço é bom e a história é capaz de prender a audiência fácil.  Eles são profissionais competentes, são publicitários, mas brigam feito cão e gato, mesmo no ambiente de trabalho,  são repreendidos pelo chefe, mas não se emendam. Agora, Kurose, o par romântico da protagonista, fez um negócio muito detestável com Shirafuji.  E foi na primeira vez dela e isso faz com que ela fique traumatizada, com bloqueio e talz.  Aos 25 anos, ela não consegue fazer sexo com ninguém. Eu torceria mais para que um outro sujeito aparecesse na história para ajudá-la a superar.  E parece que aparece mesmo, mas é um cara que tem um cabelo mais bonito que o dela e isso pode gerar outro trauma, vai saber... Enfim, depois continuo lendo, porque estou com algumas coisas atrasadas aqui.  O CN não traz mais informações sobre o dorama, temos que aguardar.