Assisti com atraso ao episódio #5 de Kageki Shoujo!! (かげきしょうじょ!!), foi uma semana complicada e estou com uma resenha incompleta que comecei a escrever na sexta-feira dia 30 e nao concluí. Fui adiando Kageki Shoujo e, bem, estou comentando na véspera. Eu já sabia que seria um episódio importante, o drama da Yamada, a questão da bulimia, precisava ter um tratamento que fosse parelho com o mangá. Só que o capítulo conseguiu entregar mais duas coisas muito bem, falou de Kouka (Takarazuka) mostrando o espetáculo Romeu e Julieta e aspectos importantes do teatro feminino e ainda apresentou mais uma etapa da humanização de Ai-chan, que precisa se esforçar para ganhar de volta a amizade de Sarasa. Se antes de ler a resenha, você quiser olhar as dos capítulos anteriores, elas estão aqui: 1 - 2 - 3 - 4.
O capítulo é centrado em duas personagens, Yamada Ayako, a menina comum, mas que se esforçou muito para chegar ao Kouka e tem uma linda voz, e Narata Ai, a coprotagonista que, durante muito tempo, foi incapaz de criar laços de amizade com quem quer que seja. Ai-chan, como é chamada por Sarasa, quer a amizade da colega de quarto e, ao longo deste episodio, descobre, também, que deseja ser uma das estrelas do Kouka. Para quem não se recorda, ela entrou para a escola como uma forma de evitar o contato com os homens e a possibilidade de assédio e abuso pro parte deles. Agora, depois de assistir ao espetáculo Romeu e Julieta e de ver como Sarasa decorou as falas de Romeu de ouvi-las no palco uma única vez, ela começa a sonhar com mais.
Foi muito legal ver Ai-chan descobrindo seus próprios sentimentos, inclusive o akogare por Sarasa, aprendendo a gostar de alguma coisa de verdade, e a fazer amigas. Explicando, akogare (憧れ, 憬れ, あこがれ) não necessariamente se refere a algo romântico e/ou sexual, mas é um "(...) profundo sentimento de respeito e admiração que uma pessoa pode sentir por alguém que admira muito, geralmente alguém extremamente talentoso". Nesta altura, nenhuma das colegas de classe de Sarasa tem dúvida de seu talento, ela é brilhante, o que se coloca sempre em questão é se alguém como ela conseguirá se enquadrar, se adequar ao modelo que se espera de uma atriz do Kouka.
O episódio, aliás, a ignorância de Sarasa, que é fã da Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら) e só conhece este espetáculo do Kouka, fica exposta quando ela vê Sugimoto reproduzindo a pose (kata) da Winter Troupe (*o teatro Kouka, assim como o Takarazuka, se divide em trupes*) e não sabe do que se trata. Esses momentos, as poses, a visita ao teatro, a peça, o encontro com duas atrizes do Kouka, uma delas provavelmente o futuro 1º otokoyaku da Winter Troupe, servem para costurar os dramas pessoais das meninas com o tema central da série é é o teatro em si. Outra coisa que apareceu no episódio é como os laços entre as alunas do mesmo dormitório, que estão sempre juntas, vão se estreitando a ponto delas se chamarem pelo primeiro nome e criarem apelidos, que podem segui-las pela carreira no Kouka, isso é até comum, mas Ai continua tendo dificuldades. Ela ainda não consegue chamar Sarasa pelo nome, ela tenta, mas só sai Watanabe-san.
E vamos para a parte mais pesada do episódio. No capítulo #3, Watanabe, a menina tímida da turma, tinha sido humilhada publicamente pela professora de sapateado. Chamada de gorda, mesmo não sendo, e intimada a emagrecer, porque as fãs do Kouka não gostam de ver gordas no palco. É importante ressaltar que a série de TV seguiu exatamente o que está no mangá e o tema da bulimia foi tratado com toda a seriedade. Outro ponto é que o assédio partiu de uma mulher, porque, enfim, somos nós que introjetamos os padrões de beleza impostos pela sociedade do nosso tempo e atacamos umas as outras. Aliás, isso é fundamental para manter as mulheres sob controle, fazer com que elas lutem entre si e que percam mais tempo tentando se enquadrar do que sendo felizes e aproveitando a vida. E não é somente uma questão cultural, é econômica, também, há todo um mercado que depende da gordofobia e da competição entre as mulheres.
Algo mais é que professora não se arrepende. Sim, é um spoiler, mas é importante, vivemos em um momento no qual as pessoas se acham no direito de atacar, agredir, intimidar, perseguir e se acharem no direito de fazê-lo. A professora acredita que está treinando Yamada para sua vida como atriz, ela será atacada e se não for, é porque não é realmente boa, porque uma atriz principal tem que despertar a inveja e o ódio, assim como a devoção. É doentio isso, mas é o que é. Yamada adoece. E a professora nota, "se preocupa", mas no fundo, no fundo, a professora acredita que se a menina fracassar é porque ela nunca mereceu estar ali. O mundo é dos fortes e a visão dela de força não inclui ninguém que seja muito diferente dela mesma.
Esse assédio a uma adolescente, essa falta de empatia, podem conduzir à morte. É uma fase muito complicada para alguns, com mudanças no corpo, sentimentos que muitas vezes os confundem, vulnerabilidade, enfim. Esta semana mesmo, ganhou a imprensa o caso de um menino de 16 anos que se matou depois de sofrer um ataque de haters na internet. Alguém pode dizer que não é a mesma coisa, mas se você tem um histórico de fragilidade (*timidez, baixa autoestima, depressão etc.*), caso de Yamada e do garoto que tirou a própria vida, ou não tem ajuda, as coisas podem escalar para o pior. Quando li essa parte do mangá de Kageki Shoujo, pensei que o destino de Yamada poderia ser triste, mas, claro, a série é solar, é sobre amizade, superação, o caminho da autora é outro.
E temos flashbacks da família de Yamada, de como seus pais, que não eram ricos, longe disso, se esforçaram por tornar o sonho da menina possível. Foi comovente também a interação entre a menina Yamada e a irmã mais velha adulta, uma office lady (*OL = funcionária de escritório*), que nunca sonhou com uma carreira específica e se compromete em ajudar a pagar os estudos da irmã em Kouka, porque quer que ela possa atingir o seu objetivo. E essa estrutura familiar sólida, mais o apoio do professor de música, Onodera, salvam a menina. Ai-chan também tenta fazer alguma coisa, ela conversa com Yamada e conta que uma companheira do JPX tinha o mesmo problema, mas, como ela mesma admite, ela é muito desastrada quando se trata de expressar sentimentos.
Um destaque do episódio é o trabalho dos dubladores, especialmente, na parte do drama de Yamada. Nesse aspecto, assistir ao anime me impactou mais do que ler o mangá. Eu não chorei durante a leitura, mas se consegui me segurar quando Ai-chan pede para ser amiga de Sarasa em uma belíssima cena, aliás, eu não consegui conter as lágrimas quando Yamada conversa com a irmã pelo celular e o professor Onodera quebra as regras da escola para arrancar a menina do inferno. Foi emocionante, essa sequência me arrastou. E ainda teve sua parte de humor, porque Onodera diz para a matrona do dormitório que diz que homens não podem entrar ali que por dentro ele era uma linda aluna do Kouka. Me lembrou o episódio de Bob Esponja em que o Sr. Sirigueijo tenta enrolar o protagonista com um ataque homofóbico "Assim, você parece uma garotinha!" "Ah, mas pelo menos eu sou uma garotinha bonitinha!".
Foi um lindo episódio, muito mesmo. Quase chorei no final do primeiro terço e terminei chorando no final. Eu tenho muito respeito por filmes, animações, mangás, o que seja, que consigam me tocar ao ponto de me fazerem chorar. Quando foi a última vez com animes? Sakamichi no Apollon (坂道のアポロン), que me fez chorar três vezes, e Yuri!!! on ICE (ユーリ!!! on ICE), que me fez chorar em dois episódios, se bem me lembro. Há várias resenhas dessas duas séries no blog. Com Kageki Shoujo, tive momentos de angústia no episódio #3, mas neste #5, foi algo maior. Acredito que é o capítulo que pontuou mais alto até agora, porque falou de sentimentos, de questões de gênero, de família e amizade, de doença mental e de Takarazuka, claro. Ufa! É isso! Prometo resenhar o episódio #6 mais cedo.
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário