Sábado passado, a Júlia, minha filha de sete anos, me fez assistir A Jornada de Vivo, nova animação da Netflix, e com a intenção de fazer uma resenha depois. Ontem, já com um bom atraso, ela e ditou o texto. Ele está abaixo com poucas correções minhas. Quando ele terminar, eu volto e faço algumas observações.
O filme A Jornada de Vivo é muito bom. Vivo é um jupará que vivia em Cuba com seu amigo, Andrés. Um dia, Andrés recebe uma carta para um show com sua amada, Marta, que vive há 60 anos em Miami e a quem ele nunca revelou o seu amor, porque quando ele iria se declarar, ela foi convidada por um agente para se mudar e realizar o seu sonho. Vivo não gosta nem um pouco da ideia de ir para o último show em Miami, então, ele vai embora, mas ele termina voltando para casa e percebe que Andrés morreu. No funeral de Andrés, ele acaba conhecendo uma parente de Andrés, Gabriela.
E, então, eles decidem ir em um barco montado pela garota para Miami, mas eles acabam parando numa floresta. Eles estavam cantando no barco na floresta até que começa uma chuva forte e que faz eles se perderem. Vivo encontra uma ave que está tentando achar seu par e a ajuda, depois disso, ele fica resmungando e acaba atraindo uma jiboia. Ele consegue fugir e encontrar Gabi e as escoteiras com quem se aliam, a jiboia apareceu de novo, Vivo luta com ela e a vence novamente, mas a canção cai no pântano e o papel estraga.
Mesmo assim, ele decide ir para Miami. Gabi dá o celular para Vivo, porque lá havia um aplicativo de piano, assim, ele poderia reproduzir a canção e ela escrever a partitura em um papel. Eles conseguem chegar a Miami, mas a mãe da garota a estava procurando, Gabi é pega e Vivo continua em busca de Marta, que se preparava para seu último show. Marta recebe um jornal com a notícia de que Andrés tinha morrido. Vivo consegue entrar no camarim de Marta e é reconhecido por ela, porque o jornal trazia uma foto dele juto com Andrés. Vivo entrega a música para Marta. Depois disso, ele volta para Gabi, que está no carro com a mãe. E a mãe decide voltar e assistir o último show de Marta com eles.
E chega a parte em que Marta a música que Andrés compôs para ela. Vivo cumpriu sua missão e passou a morar com Gabi. Eu percebi uma coisa que eles fizeram, no início do filme, Vivo e Andrés tocam na praça e no fim do filme, Gabi e Vivo tocam na praça. Eu achei esse filme ótimo. Você pode ver o filme na Netflix.
Aqui, sou eu de volta. Vivo, em português, A Jornada de Vivo, é um projeto envolvendo o premiadíssimo Lin-Manuel Miranda, que estava previsto para ser feito pela Dreamworks, mas acabou saindo pela Sony. Nos Estados Unidos, chegou a ser exibido nos cinemas, aqui, acredito que foi direto para a Netflix. A Júlia começou a ver na escola, mas não deu tempo de terminar, ela concluiu em casa, mas ficou insistindo para que eu assistisse. Vamos lá!
Confesso que não me impressionei muito com Vivo. Achei curioso que usassem um bichinho como o jupará (kinkajou) como protagonista e eu achei que era um macaquinho. Quando olhei, percebi que a cidade usada como cenário inicial me parecia familiar. Havana? Sim, era, mas sem menção alguma à Revolução Cubana (1959), mesmo que os carros antigos, marca da cidade, estivessem em cena. Marta, a amada de Andrés, o artista de rua que tem como companheiro o jupará, dublado no original por Lin-Manuel Miranda, tinha partido sessenta anos antes para Miami, 1960, 1961. Isso bate com o momento em que ainda era possível sair de Cuba para os Estados Unidos e vice-versa sem grandes obstruções. Parentes de Andrés também partiram, afinal, para os funerais do velho vem a esposa de seu sobrinho, Rosa, e a sobrinha-neta, Gabi.
Algo que Júlia não pontuou, mas que me chamou a atenção, é que a relação entre mãe e filha não é da melhores. Rosa quer obrigar Gabi a se enquadrar e, para isso, ela quer que a menina, que é muito excêntrica, se torne uma escoteira. Não sei se era o sonho da mãe e ela nunca conseguiu concretizar, mas o fato é que as meninas escoteiras são apresentadas como uma versão infantil das garotas populares de high school norte-americana. São estereótipos ambulantes, mas há algo positivo, elas conseguem criar laços com Gabi despois dos conflitos iniciais. A mãe, por outro lado, ao externar a exigência, enfatizá-la, mostra não somente a preocupação com a menina, mas uma rejeição ao fato da garota ser, além de latina, como a própria Rosa, alguém fora da caixinha.
O filme faz aquela exaltação da aceitação, mas não faz discussão sobre isso, o que me pareceu um problema, uma falta de aprofundamento mesmo. Não vi ganho aqui, Valente, por exemplo, faz melhor. De resto, é um desenho que diverte, fiquei surpresa com a morte de Andrés, bastante mesmo, ainda que tenha sido um clichê. E as músicas são boas. O filme cumpre a Bechdel Rule, porque há várias mulheres com nomes e elas conversam principalmente sobre outras mulheres, Marta, Gabi.
As cenas em flashback não usam 3D, mas animação tradicional. E é muito bonito. Achei a parte com os idosos, seja André, ou Marta, a mais tocante do filme, para mim, pelo menos. É isso. Outras resenhas de Júlia virão. Queria que ela gravasse um vídeo, mas ela preferiu me ditar o texto enquanto corria pela sala e pulava.
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