Eu só estou feliz, eu não consegui ficar sentada assistindo a Rebeca Andrade se apresentar no solo. Pedi que a Júlia narrasse: "Ela está indo bem" "Ela deu um salto." "Agora, ela vai pular de novo.". Foram muitos, muitos anos esperando que a ginástica artística feminina brasileira conseguisse chegar lá. Foi muito investimento em mais de uma geração de atleta, foi muita obstrução, também. Clubes que sabotaram a ideia de um centro de treinamento. Oleg Ostapenko, o ucraniano que treinou a equipe, que esteve junto com a Daiane dos Santos, faleceu este ano, não pode ver os frutos do seu trabalho, porque foram, também. E Rebeca deu uma entrevista agora, está falando ainda, enquanto escrevo e agradeceu sua psicóloga. No caso dos atletas brasileiros esse trabalho tem feito toda a diferença. Espero que isso impulsione, também, a procura por esses profissionais fundamentais.
Enfim, parabéns Rebeca Andrade pelo esforço pessoal, ela veio de três cirurgias no joelho, mas parabéns, também, para as ginastas que vieram antes, que não chegaram lá, talvez, por falta de um apoio psicológico mais sólido. E fico muito feliz que tenha sido uma atleta negra, porque uma menina negra no Brasil, especialmente quando pobre, tem menos oportunidades, incentivo, é desvalorizada em seu próprio corpo e aparência. E isso é patente no mundo da ginástica que, durante anos, foi marcado pelas ginastas brancas e longilíneas. Daiane dos Santos já falou sobre o racismo enfrentado por ela e acredito que a mudança no perfil da equipe norte americana, sim, Simone Biles, tem importância nessa mudança, mas tem chão ainda, porque lembro do racismo contra Biles na Olimpíada do Rio.
Aliás, a fala da Daiane dos Santos na Globo merece ser registrada e assistida (*chorei de novo*): “A primeira medalha do Brasil num Mundial de Ginástica foi negra. A primeira medalha do Brasil na Ginástica feminina foi negra. Isso é muito importante. Diziam que a gente não podia estar nesses lugares”. Fora isso, Daiane fala da luta pessoal de Rebeca, uma menina pobre que chegou onde chegou também por ter uma mãe guerreira e que a criou e educou sozinha. Sim, é bom falar das mães e das avós, que já foram acusadas pelo vice-presidente de serem fábricas de elementos desajustados, e se perguntar onde estão os pais nessas histórias olímpicas que temos ouvido.
Quem acompanha Olimpíadas durante muito tempo, também, e eu lembro concretamente dos jogos desde 1984 (Los Angeles), sabe que a dureza é muito maior na avaliação de ginastas de países periféricos, exatamente para que continuem assim. Para uma brasileira, ou brasileiro, aparecer, e neste caso a cor de pele pesa como um adicional de marginalidade, precisa ser muito melhor que a média. Então, parabéns, Rebeca! E ainda falta os aparelhos. Tomara que ela consiga ainda um ouro por aparelhos.
Outro destaque do dia e um muito importante é o bronze de Mayra Aguiar no Judô. Ela foi a primeira mulher brasileira a conseguir três medalhas seguidas em Olimpíadas em um esporte individual. Ela tem três bronzes, em Londres (2012), no Rio (2016) e, agora, em Tokyo (2020/2021). E ela veio de uma lesão grave. E quem viu o que aconteceu ontem com Maria Portela sabe como alguém que não é de um país central pode ser prejudicado. Sim, isso pesa, isso define, isso prejudica carreiras e tira possibilidades de medalha de quem poderia tentar conseguir uma. Para um país que ganha medalhas de braçada, pode não fazer diferença, para um Brasil faz, para o futuro de um esporte que não é futebol masculino em nosso país, faz e muita. Então, não esqueçamos de Mayra Aguiar. Ela merece e ela colocou seu nome na história do esporte brasileiro.
E uma notinha triste que, talvez, mereça outro post. A goleira da seleção brasileira de futebol feminino está sendo bombardeada por comentários gordofóbicos. Ela falhou no jogo contra a Holanda e foi atacada por um jornalista daquele país com as seguintes palavras: "Essa goleira está acima do peso, não? É uma porca com um suéter. É uma zombaria total para a seleção brasileira. Ela realmente não defendeu uma bola decente." Bárbara não é uma mulher gorda, mas é sabido que para uma mulher, ser chamada de gorda precisa ser lido como ofensa.
Corpos gordos são abjetos, são depreciados, servem para o deboche, são associados ao de animais considerados sujos. Gordos não têm agilidade, são lentos no corpo e no raciocínio. A ideia é essa e, pior, ela vem sofrendo outros ataques do gênero. Ela é incompetente por, supostamente, ser gorda. E está resolvida a situação, fosse uma mulher magra, o gol das brasileiras estaria bem defendido. Enfim, espero que Bárbara não se abale e não a culpo por bater boca na internet, mas que busque se educar politicamente, também, para se defender melhor desse tipo de ofensa. E, sim, torço muito por um ouro olímpico para as mulheres da seleção brasileira de futebol. Espero que venha desta vez.
1 pessoas comentaram:
Oi eu também acompanho a muito tempo a gisnastica feminina do Brasil, sempre torci muito, e também acompanhei as dificuldades, ver a Rebeca na final geral já me deixou muito feliz, mas eu já acreditava na medalha, fiquei nervosa também nem olhei kkkkk só fiquei lá mandando forças positivas a ela e ainda bem deu tudo certo! São muitos anos de luta, todas as meninas se esforçaram muito, a fala da Dai me emocionou muito, eu comecei a gostar do esporte em 1996 quando vi o time americano em Atlanta, e realmente sempre foi esporte de meninas brancas, por isso é muito bom ver as meninas negras se destacando.
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