O dono da Amazon, um dos homens mais ricos do mundo, fez um voo suborbital no dia 20 de julho. O feito foi amplamente divulgado, o formato muito fálico da nave virou alvo de piadas e, como sempre, houve o povo que veio dizer que o bilionário gasta dinheiro nessas brincadeiras, enquanto paga muito mal seus trabalhadores (*VERDADE*) e, também, com aquele papo de que o dinheiro deveria ser investido na Terra e, não, nesse tipo de aventura. Desculpe, não temos pandemia, ou fome no mundo, porque estão investindo no progresso científico, mesmo que para diversão de poucos, o buraco é muito mais embaixo que isso. Enfim, nem iria comentar isso por aqui se meu marido não me avisasse que havia uma mulher muito especial à bordo da Blue Origin, Mary Wallace "Wally" Funk, agora, a pessoa mais velha a ir ao espaço. Antes de seguir, vamos falar por qual motivo ela é importante.
Em 1863, os soviéticos enviaram a jovem Valentina Tereshkova ao espaço. A pioneira era parte de uma peça de propaganda, porque a URSS não enviou outra mulher por muitos anos e todas as colegas de Tereshkova não tiveram a chance que ela teve. A primeira mulher só iria ao espaço vinte anos depois, agora, a norte-americana Sally Ride. Pois bem, houve norte-americanas testadas e treinadas a partir de 1959 para ir ao espaço, algumas dessas treze mulheres tiveram índices superiores aos dos homens submetidos às mesmas condições e foram submetidas à testes adicionais por serem mulheres. Era o projeto Mercury 13, feito pela iniciativa privada, mas reproduzindo o mesmo programa da NASA.
O Mercury 13 foi dissolvido em 1962 e as mulheres, mesmo qualificadas, foram descartadas. Com o feito de Tereshkova, o Mercury 13 passou a aparecer na imprensa norte-americana, algumas das mulheres foram ouvidas no Congresso, mas nada foi feito por elas, ou pelo progresso do programa espacial americano contemplando pelo menos a diversidade de gênero.
Wally Funk era uma dessas mulheres. Nascida em 1939, ela era uma piloto altamente habilitada. Em 1970, quando a Nasa passou aceitar mulheres, ela se candidatou, mas foi recusada por não ter um diploma em engenharia ou ter sido piloto de testes, algo que tinha lhe sido negado por ser mulher. Quando as possibilidades de aceso das mulheres aumentaram, ela foi rejeitada por ser "velha demais". Muito bem, estou realmente feliz que ela possa ter realizado pelo menos parte do seu sonho.
E, sim, isso é importante não somente em um plano individual, mas por apontar para os sistemas de exclusão que impediram mulheres ao longo de séculos de desenvolverem plenamente as suas competências e que privaram a humanidade de ter ido mais longe e, talvez, seguindo outros percursos.
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