Nesses muitíssimos anos metida nesse universo de cultura pop japonesa, não me lembro de ter sonhado com um mangá, quer dizer, o sonho ser em formato mangá mesmo, preto e branco, com as personagens, foi hoje. E foi uma experiência tão interessante e divertida que eu gostaria que a coisa se repetisse. Enfim, eu decidi que vou gravar um Shoujocast daquela série "Mangás que eu queria que saíssem no Brasil?" sobre uma das minhas séries favoritas da Chiho Saito, e um dos meus mangás favoritos de todos os tempos, Waltz wa Shiroi Dress de (円舞曲は白いドレスで).
Para quem não conhece a história, um resumo do começo, porque a coisa vai ganhando maiores proporções. Japão, 1935. Koto acabou de completar 16 anos e sonha com duas coisas, uma é se tornar uma grande costureira, a melhor do Japão, a segunda, dançar sua primeira valsa vestida de branco nos braços do homem de sua vida. Ela sonha com ele, o rapaz estaria vestindo um uniforme militar branco, mas não consegue ver seu rosto. Enfim, ter uma carreira e encontrar o amor, coisa um tanto difícil em 1935. Só que no dia do grande baile da Embaixada Britânica, Koto com seu vestido pronto, o melhor que já fez, recebe a notícia de que está noiva e em breve irá se casar com um dos filhos do Barão Kidoin, um parente distante. O rapaz, Masaomi, que é lindo e frio, se apresenta diante dela, lhe dá a notícia de que pretende cumprir com a palavra do pai e que ela se informe dos detalhes com seu próprio pai. Koto fica furiosa, mas não há muito o que fazer.
O Barão Kidoin é muito poderoso e violento e acredita estar pagando uma divida com seu pai. O pai de Koto pega um resfriado e não pode ir ao baile acompanhando Koto e a filha do barão, Hanako, uma garota insuportável, com fixação pelo irmão e odeia a mocinha. Quem acaba levando as moças é Ryuichi, o filho mais velho do Barão, e que rompeu com o pai por não querer seguir a carreira militar. Detalhe, ele era o noivo de Koto. Dez anos mais velho que ela, só vira Koto menina e acaba ficando absolutamente deslumbrado por ela e até arrependido de ter aberto mão do compromisso. No baile, Hanako queima seu vestido e troca de roupa com Koto, afinal, a moça está noiva e não vai dançar mesmo. Koto acaba se perdendo pelos aposentos da embaixada e quase leva um tiro, pois se mete no meio da caçada de um espião. O sujeito procurado é Sagit, que tem sangue indiano e inglês e está espionando os ingleses para o movimento de independência da Índia. Ela dança com Sagit, os dois se apaixonam, mas, lembremos, Koto está noiva e Masaomi pretende cumprir com seu dever, mesmo sabendo que não é amado.
Fui atrás da minha edição italiana, a japonesa ainda está em uma caixa não localizada, e passei a tarde arrumando as caixas da mudança e persiste a mesma situação, catei meu dicionário e comecei a reler a série ontem. Waltz e sua continuação Magnolia Waltz (白木蘭円舞曲), o o último capítulo refeito, Tuberose Serenade, não são o que de mais refinado Saito fez, o traço dela se aprimorou muito desde os anos 1990, a história é toda carregada no dramalhão, mas é um mangá lindo, lindo, lindo e, ao mesmo tempo, cheio de discussões relevantes. E ele abre com discussões de gênero feitas por uma mocinha que lamenta ser mulher na sociedade em que nasceu, a história começa no Japão, em 1935, mas não se deixa abater e quer tomar sua vida nas mãos. E, ao mesmo tempo, ela é absolutamente romântica a ponto de acreditar que sonhou com o homem de sua vida e que irá encontrá-lo eventualmente.
E reler não me fez mudar de ideia, muito pelo contrário. Aliás, eu fiz uma matéria sobre Waltz para a Neo Tokyo, a revista, e fiz um texto no blog quando consegui ler a série toda pela primeira vez. A única coisa que eu percebi nesse início de releitura, foi que se trata de um harém reverso, ainda que com um efetivamente reduzido, já que são somente três caras, enfim. E só explicando, a protagonista, Koto, tem três homens orbitando em torno dela o tempo inteiro e (*spoiler*) ela eventualmente irá se envolver com cada um deles. Não ao mesmo tempo, que fique claro. Nesse revisitação, gosto ainda mais de Ryuichi, porque ele apoia Koto o tempo inteiro, se arrisca por ela, pelo irmão, também, verdade, mas acima de tudo por ela.
Agora, um detalhe incomodo, a Chiho Saito não escorrega ao discutir a cultura e os (pre)conceitos de época, ela desenha muito bem os figurinos, ela marca muito bem os interesses dos japoneses na Índia, lugar que eles tentaram conquistas e não conseguiram, mas ela passa por cima quando a questão são os abusos japoneses na China. Ela mostra a invasão e a ocupação, afinal, a mocinha tinha fugido do Japão para Shangai com Sagit, mas ela não mostra a violência dos japoneses. Sabendo como os livros didáticos japoneses são omissos em relação aos crimes japoneses durante a ocupação da Ásia e a Segunda Guerra Mundial, não me surpreende, mas, quando li o mangá da primeira vez, não tinha me atentado para isso. Os vilões na série são os ingleses e as tradições sufocantes vigentes no Japão. Enfim, falo mais da série no vídeo e realmente não acredito que Waltz e suas continuações sairão no Brasil um dia.
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