Finalmente, tirei 44 minutos da minha vida para assistir ao primeiro episódio de A Discovery of Witches, A Descoberta das Bruxas, em português, no Globoplay. Confesso que só me movi, porque descobri que o Matthew Goode, um ator excelente e que acho super sexy, fazia um vampiro. Devo ter ido assistir, inclusive, porque o Youtube ficou me oferecendo fragmentos de Downton Abbey ontem e eu fui assistindo e, bem, deu nisso... Que eu digo do primeiro capítulo? Esquisito e cheio de ideias que não me desceram muito bem. Vou reproduzir um resumo conciso que achei na internet com uns acréscimos meus:
A Discovery of Witches é uma série de fantasia baseada no romance de mesmo nome da trilogia All Souls, escrita por Deborah Harkness. A atriz Teresa Palmer interpreta Diana Bishop, uma historiadora que descobre um manuscrito enfeitiçado, o Ashmole 782, na biblioteca Bodleian, na Universidade de Oxford. Enquanto ela tenta desvendar os segredos que este livro contém sobre criaturas mágicas, ela é forçada a voltar ao mundo da magia, cheio de vampiros, demônios, bruxas e amor proibido. Formando uma aliança improvável com o geneticista e vampiro Matthew Clairmont, interpretado por Matthew Goode, que ajuda Diana a tentar proteger o livro e resolver os enigmas dentro dele, enquanto ao mesmo tempo evita ameaças das criaturas do mundo mágico.
A série tem duas temporadas completas e começou a terceira, pelo que consegui descobrir. São 19 episódios até o momento. Muito bem, o que me incomodou neste primeiro capítulo? Primeira coisa, a série se leva à sério, ou, pelo menos, é assim no primeiro episódio. Eu gosto muito de séries de vampiros, eu sou fã de um monte de material de qualidade muito duvidosa com essas criaturas das trevas, mas o que me mantém mais ou menos conectada a esses materiais que incluem bruxas, vampiros, lobisomens, demônios etc., como Buffy, True Blood, Forever Knight, Moonlight, Blood Ties, é que, no fundo, no fundo, eles não chamam para si o peso da seriedade, mesmo tendo drama, tensão, até tragédia, eles são, basicamente, absurdos feitos para a gente se divertir. Moonlight revelando os segredo da Revolução Francesa, o que não querem que você saiba, foi genial. Sigamos.
A Discovery of Witches mexe com coisa séria, mexe com a História, essa disciplina tão maltratada desde muito tempo. A protagonista, e falo mais dela daqui a pouco, parece ser mais um exemplar daqueles deploráveis colegas de profissão que vão me fazer erguer as sobrancelhas a cada dez minutos. E, bem, ela é descendente direta de Bridget Bishop, pela linha paterna, suponho, já que mantém o sobre nome. Quem foi essa mulher? A primeira executada nos Julgamentos de Salém. Eu, Valéria, olho para Salém e vejo um caso de histeria coletiva potencializado pela repressão sexual e pela misoginia e que, talvez, pudesse trazer de arrasto brigas de vizinhos, interesses econômicos escusos e outras baixarias muito do nosso mundo.
A ideia de dizer que as pessoas mortas em Salém eram feiticeiros de verdade, termina sendo uma justificativa, dentro dos códigos da época para a chacina. Fora que me agrada mais a ideia de que a bruxaria não é algo hereditário e inescapável, tal e qual uma maldição, mas uma escolha, que demanda aprendizado. Mas este ponto é o que eu prefiro, a situação de Salém, não negocio. Nessa salada toda, sou o bibliotecário (Adetomiwa Edun), que aparece no episódio um e está paquerando a protagonista, que acha que tudo isso é superstição e deveríamos colocar os dois pés no século XXI. Terminar de desencantar o mundo, isto é, racionalizá-lo, seguindo o conceito do Max Weber, e, não, reencantá-lo.
Continuemos com as coisas esquisitas, o vampiro parece ser um católico praticante. Uma das primeiras cenas dele é rezando com um rosário na mão dentro de uma igreja católica. Não tenho problemas com vampiros andando à luz do dia, se alimentando (*ou fingindo*) e coisas do gênero, mas rezando na igreja, é estranho. Normalmente, nas histórias de vampiros, o sujeito, ou não tem fé, ou perdeu a fé, ou é inimigo da religião. Pode até sofrer por causa disso, mas, via de regra, religioso um vampiro não é, ou não pode ser. Outra coisa, já me enchia a paciência a história de vampiros inimigos de lobisomens. Agora, nesta série, vampiros e bruxas são aparentemente inimigos, ou desconfiam uns dos outros. Motivos? Espero que me expliquem, se eu tiver paciência para seguir em frente.
Já nossa protagonista é mais uma da longa tradição de historiadores problemáticos e já imagino as bobagens que ela poderá fazer ao longo dos vários episódios. Enfim, ela é historiadora da ciência, aparentemente especializada em século XVI-XVII, mas é descendente de uma linhagem de bruxas e seus pais foram mortos por causa disso. Rejeita seus poderes, que se manifestam sem prévio aviso. Assim, poderia ter ido para Hogwarts e evitar todos esses problemas. Ela volta para dar uma palestra em Oxford e é convidada para se candidatar a lecionar na universidade. Imagina o prestígio? Daí, ela vai terminar um artigo, que precisa ser entregue para se candidatar ao cargo, e pede um livro que é procurado por vampiros, bruxas e sabe-se lá mais quem. O problema é que o livro estava listado, mas não era encontrado fazia mais de 100 anos. E o livro aparece na prateleira. Só de ela achar o livro, já termina com uma queimadura horrível na mão e é gerado um "desequilíbrio na força" que impede até um vampiro de vampirizar outro sujeito.
O tal vampiro que não consegue "salvar" o colega (Edward Bluemel) é "filho" do Mathew Goode, médico e cientista como o seu "sire". Daí, entramos em uma discussão muito contemporânea e, a meu ver, ridícula em uma história de vampiros se não for muito bem trabalhada, que é o consentimento. O rapaz não tinha pedido o consentimento do colega que estava morrendo para tentar vampirizá-lo. Não pode. Me lembrei das intermináveis discussões que vi na internet de se o o Erik tinha violentado a Sookie ao sugar seu sangue sem permissão em True Blood. Nos livros, e eu resenhei a maioria, a coisa era bem mais, enfim... Esquece. Mas falando sério, os vampiros do grupo do Mathew Goode parecem seguir uma série de protocolos para não serem detectados. Sair vampirizando as pessoas não é legal quando você quer se manter incógnito. Agora, dada a quantidade de seres das trevas circulando nesse primeiro capítulo, alguém iria reconhecer os sinais e certamente os vampiros teriam que dar explicações. Em boas séries com vampiros, essas coisas sempre acontecem, sempre dá ruim para o vampiro desastrado, ou que não cumpre as regras. Isso, claro, quando não existe um grupo responsável por limpar a sujeira.
Enfim, o livro estava desaparecido, foi encontrado, parou na mão da protagonista, mas parece que vai desaparecer de novo. O problema é que, agora, todo mundo está atrás da mocinha para que ela consiga pegar o livro novamente. Ela corre grave perigo, querendo assumir-se bruxa, ou não. Começam aí os seus problemas e o dos vampiros cientistas da turma do Matthew Goode. Eles querem o livro, procuram por ele faz mais de um século. Ele sabe que a protagonista é uma desastrada e vai se meter em alguma encrenca (*já se meteu*) e fica stalkeando a sujeita por 2/3 do episódio. Não serei eu a ficar reclamando do Matthew Goode lindo desfilando todo elegante pela tela, mas explicação ZERO para a confusão toda neste primeiro episódio.
A graça é que na primeira fala dele, na primeira cena da introdução do episódio, ele diz que os seres mágicos estão em extinção, mas praticamente todo mundo que aparece em cena, ou é vampiro, ou é bruxa, ou é outra coisa que eu ainda não sei. Aliás, como tem seres das trevas na área científica e da educação nessa série! E, sim, há outra bruxa historiadora (Louise Brealey), essa de Grécia e Roma, colega da época da graduação da protagonista, que tem inveja da coleguinha e dá com a língua nos dentes e diz para a chefe do coven (*porque está todo mundo em extinção, mas tem clube e tudo mais*) da história do livro. E eis que aparecem um bruxo do mal super respeitado (Owen Teale) e sua pupila finlandesa que é poderosa e não é desastrada, a atriz que fez o filme sobre a Rainha Cristina, atrás do tal livro. Malin Buska é uma atriz excelente, e fica ótima fazendo cara de malvada. Acho que a bruxa tagarela e invejosa não dura muito nessa série, não. As tias da protagonista também têm importância no seriado, elas criaram a mocinha, e uma delas, interpretada por Alex Kingston aparece em boa parte dos episódios da série.
Acho que vão rodar rapidinho a historiadora de Estudos Clássicos que queria o emprego que ofereceram para a colega e os amigos vampiros cientistas do Matthew Goode, que vai ter que virar guarda-costas da protagonista, e deve trabalhar bastante, se ela não mudar de postura. E há química entre Mathew Goode e Teresa Palmer, muita tensão sexual, a última cena do episódio foi meio curiosa, eu diria. Vampiros tem um olfato apurado, mas o que ele sentiu e por qual motivo reage daquela forma, não sei. Mas achei um vídeo dos dois que me convenceu a continuar assistindo. Está no final do post. Ah, sim, parece que tem viagem no tempo na série, vi várias fotos com os protagonistas em roupas que parecem ser do período Elizabetano (1558-1603). Fora isso, o tal Elias Ashmole (1617-1692), autor do livro, existiu. Era uma série de coisas, inclusive alquimista. Também, não peguei spoilers, então, não tenho nada mais a dizer.
Já terminando, as legendas do Globoplay são péssimas. Só tem em português e fica uma faixa larga poluindo a tela. Outra coisa, a autora dos livros que deram origem à série é historiadora, como a protagonista, e especialista em história da ciência, da alquimia e da medicina, além de ter interesse em ocultismo. O livro A Descoberta das Bruxas foi lançado no Brasil e está disponível no Amazon.
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