Para quem não viu, a Record fez uma série de quatro matérias sobre as mulheres brasileiras aliciadas na internet para tráfico humano, de órgãos, escravidão sexual e até para o Estado Islâmico. Dos casos descritos, todos direcionados a partir do canal Sobrevivendo na Turquia, só não conhecia o da moça que quase perdeu o rim, deve ter sido comentado em alguma live da Danny Borggione que não assisti. Esta moça do rim, inclusive, não teve estrutura para aparecer ao vivo e sua história foi contada usando a técnica do jornalismo em quadrinhos, recebendo destaque em grupos de estudiosos de arte sequencial.
Para quem não conhece o Sobrevivendo na Turquia, é um canal sério que tenta alertar brasileiras dos vários golpes dados por homens do Oriente Médio, indivíduos portanto, usando a internet, passando pela máfia nigeriana, cujos golpes resultam em perdas financeiras, e chegando até esses casos mais pesados que podem condenar uma mulher à morte e, antes dela, situações de degradação absurda. Nem sempre concordo com a Danny Borgione, ela, por exemplo, tem uma visão muito equivocada sobre o que são os feminismos, mas é uma pessoa séria, uma mulher engajada em ajudar outras mulheres e famílias. Seu trabalho merece o máximo de respeito.
De todos os casos narrados, destaco, em especial, o da adolescente pobre, negra, que se converteu ao Islã, mudou de comportamento e roubou a mãe para se juntar ao Estado Islâmico. Quem acompanha meu blog sabe o que eu penso do ISIS ou EI (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), ou ainda o Califado, mas se não leu nada ainda, recomendo a resenha do filme As Filhas do Sol. A primeira crítica que faço a essa primeira matéria, que nem o povo parece ignorar que há mulheres que aderem ao Estado Islâmico por se sentirem seduzidas pela violência e que dentro das fileiras do ISIS há mulheres que exercem papel de polícia contra outras mulheres, de supervisionar e torturar mulheres e crianças escravizadas pelo grupo. É necessário ter mulheres em funções como essas. Não tenho como localizar agora, é uma matéria de antes do Shoujo Café, mas li uma vez a entrevista da única mulher policial de Cabul, Afeganistão. Ela se tornara policial na época da guerra com os soviéticos e, apesar da proibição de que mulheres trabalhassem, foi mantida na função, porque era indecente que homens fossem carcereiros de mulheres. Para quem não sabe, havia mulheres militares no Afeganistão antes do Taleban.
O fato de serem noivas da Jihad, de algumas delas terem sido enganadas a respeito do que lhes seria oferecido na Síria e no Iraque caso partissem para se juntar ao ISIS, não exclui essas outras. Seu poder, claro, é delegado e pode ser confiscado, mas elas são parte do problema, não vítimas. Inclusive o caso Shamima Begum, que a Danny cita no seu canal quando fala da brasileira da matéria, é se uma moça que foi não somente para ser noiva da Jihad, mas que pertencia a esses quadros de mulheres armadas que oprimiam outras mulheres, além de fazer parte de redes de aliciamento na internet. Por isso, o Reino Unido lhe tirou a cidadania. É uma pena pesada? Sim, é, mas não me peçam para passar a mão em quem merece, sim, uma punição severa e que parece não ter se arrependido de nada. A gente tem que parar de tentar acreditar que a única função possível para as mulheres dentro desses grupos é de serem vítimas de uma ilusão. Bianca, a menina brasileira, tirou fotos portando armas de brinquedo e desenhou mulheres com niqab e Kalashnikov na mão.
Na época em que o caso foi falado no Sobrevivendo na Turquia do caso da Bianca, a Danny afirmou que deu o apoio que podia para a família, mas que mexer com ISIS ela não mexe e que a Polícia Federal se recusou, porque era risco demais tentar infiltrar alguém na Síria para tirá-la da Síria, para um resultado que provavelmente seria ZERO, ou de perda de agentes. Agora, deveriam investigar a mesquita, também. Nada sobre isso foi dito na matéria. Estão confiando que a fanatização da menina, porque era uma menina, se deu somente via internet, mas em países da Europa não tem sido somente através de redes sociais que os jovens são aliciados.
Já que estou falando de Oriente Médio, eu sei que Israel, mais uma vez, está usando de força excessiva contra os Palestinos e agindo como um Estado terrorista. Reagir a paus e pedras com mísseis parece ser a regra nas ações de Israel nos últimos anos e lembro que o pacifista Itzak Rabin, talvez o último primeiro-ministro de Israel a tentar negociar com os palestinos, foi morto por um judeu extremista religioso. Agora, se você não concorda com aquilo que escrevi, veja que já foram mais de 140 mortos palestinos em uma única semana, inclusive várias crianças, e nenhum israelense. Também foi chocante assistir um grupo de extrema direita judaico linchando um palestino em Tel Aviv, uma das cidades mais abertas, talvez a mais aberta, do Oriente Médio, ao vivo na TV. Ou ainda a derrubada ao vivo de um prédio de veículos de imprensa em Gaza com 13 andares durante uma transmissão da BBC. Impedir o trabalho da imprensa, tentar impedir que a informação seja divulgada, é algo fundamental quando se quer esconder abusos e crimes.
Obviamente, isso não vai me fazer achar que o Hamas é uma organização que simplesmente reage a violência dos israelenses, ou que seu governo, se efetivado, seria democrático e inclusivo. Ou ainda, vai me fazer olhar para o ISIS como um desdobramento da violência dos Estados Unidos no Iraque. O buraco é mais embaixo, a história é mais longa e alimentar a violência e a miséria no Oriente Médio é um jogo com vários participantes, inclusive as nações árabe-muçulmanas, mas chega. É horrível ver os civis sofrendo com as atrocidades e saber que essa desgraceira só começou. A pandemia não ensinou nada, aliás, é como se ela sequer existisse em alguns lugares.
P.S.: Só uma correção sobre as baixas em Israel. Citando do El País: "Em Israel, por outro lado, são 10 as vítimas fatais, oito delas por impacto de foguetes e duas que faleceram ao correr para se proteger em abrigos antibombas. A cifra de feridos em Israel até o momento superou neste sábado as 250 pessoas."
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