Estou sendo negligente com as minhas resenhas de filme, deixei de resenhar várias coisas importantes, mas desta vez vou deixar um pequeno texto sobre um lançamento recente da Netflix, Cabras da Peste (Get the Goat). Assisti pelo elenco (Matheus Nachtergaele e Edmilson Filho) e por achar que poderia me desligar do mundo real por uma hora e meia. Funcionou, dei boas gargalhadas, mas o filme é bem fraquinho no geral. A ideia é brincar com os filmes de duplas de policiais dos anos 19980 e 1990 que inundavam nossos cinemas e TVs, as referências são muitas, mas mesmo para uma comédia descerebrada, o filme carece de substância.
O ponto de partida da história é uma ação desastrada de Bruceuilis, um dedicado policial de uma cidadezinha do interior do Ceará, onde nada acontece. O castigo dado pela delegada é tomar conta de Celestina, a cabra que é patrimônio da cidade. Bruceuilis se sente humilhado, mas acaba tomado de carinho pela cabra. Um dia, ela foge e é sequestrada por um traficante, interpretado pelo Julinho do Choque de Cultura (Leandro Ramos), que está em um caminhão registrado na cidade de São Paulo. Para resgatar a cabra, ele parte para São Paulo sem avisar nada para a delegada.
Em São Paulo, temos Trindade, um policial que faz parte de uma equipe de elite da polícia civil (*uma mistura de BOPE com SWAT, ou seja, algo que não existe*), mas só faz trabalho burocrático. Obrigado a ir para uma missão, ele acaba perdendo o parceiro e sendo culpado por todos, especialmente a comandante do grupo, a Capitã Priscila (Letícia Lima), e é transferido para uma unidade que cuida de roubos de veículos. É lá que Bruceuilis o encontra e conta da sua missão, Trindade acredita que a cabra é uma menina sequestrada e termina o ajudando.
Sobre Cabras da Peste tenho duas coisas a dizer, eu ri muito em várias sequências, muito mesmo, e o filme é muito ruim, de sentir vergonha em certos momentos. A película está muito aquém do humor que Edmilson Filho colocou em Cine Holliúdy, o filme e série de TV, e parece mais um apanhado de esquetes; umas funcionam, outras, não. Há o humor com o dia-a-dia da pequena cidade cearense, não se pesa muito a mão nas expressões regionais, uma das atrações de Cine Holliúdy, e boa parte da ação se passa em São Paulo mesmo. Foi bom rever o Bairro da Liberdade, que visitei da última vez em 2019, mas ele foi chamado de bairro chinês o tempo inteiro, o que é, de certa forma, uma triste realidade cada vez mais próxima. Curioso é que um dos vilões, o traficante de ascendência chinesa Ping Li foi interpretado por um ator que, a julgar pelo nome, tem origem nipônica, Eyrio Okura.
Claro, as referências à China estão ligadas à fascinação de Bruceuilis por filmes de Kung-Fu. E a graça é que ele realmente é perito em artes marciais e as lutas e vôos bem ao estilo dos filmes wuxia. Tudo parece muito falso, mas algumas sequências funcionam bem, como a da luta no karaokê de nome japonês, onde só trabalham cearenses, contra Ping Li e outros bandidos que estão no local. Trindade acredita que vai morrer, mas Bruceuilis mostra os múltiplos usos de uma toalha molhada durante uma luta de Kung-Fu.
É muito divertido ver a interação entre Matheus Nachtergaele e Edmilson Filho. Eu realmente fiquei meio encucada com Trindade, se ele estaria apaixonado, ou não, pelo parceiro, mas a ideia é brincar com o clima de bromance dos filmes de duplas de policiais. Enfim, se você não quiser ver o filme todo, recomendo três sequências, a de abertura com Bruceuilis acreditando que está resolvendo um grande crime e não era nada disso, a da luta no karaokê e a do tira bom e do tira muito mal que conta com a participação de Leandro Ramos. Ela ficou muito, muito divertida.
Comentando as mulheres do filme, que não cumpre a Bechdel Rule, mas conta com uma boa participação feminina, temos a delegada (Valéria Vitoriano) que parece fazer uma espécie de homenagem/brincadeira com a delegada Chica Bandeira (Yara Cortez) de O Bem Amado. Há a capitã que faz o gênero mulher forte, mas que ficou caidinha pelo policial cearense. Interessante que as mulheres estão em posições de comando, nas cenas de ação, seja do lado da lei, ou do crime. Um dos capangas de Ping Li é uma mulher (Jéssica Tamochunas) e Bruceuilis tem que abrir mão de seu "cavalheirismo" e lutar com ela. E o destaque é Evelyn Castro, do Porta dos Fundos, que vira meio que parceira dos dois policiais
Enfim, é isso. Não há menções à pandemia, não sei quando foi filmado Cabras da Peste, mas temos menções ao slogan do atual presidente, que é colocado na boca do vilão. É cinema nacional, é despretencioso, está na Netflix e pode oferecer 1h30 minutos de alguma alienação. Minha filha perguntou se eu assistiria um filme dois, se ele fosse feito, e, sim, eu veria o filme, mesmo tendo repetido umas vinte vezes que o filme era muito ruim. De resto, Calor do Cão, versão de The Heat is On, na voz de Gaby Amarantos ficou muito boa. A música toca no final do filme, no início dos créditos.
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