O Japão é uma monarquia aparentemente estável, mas que corre sério risco de mergulhar em uma crise a qualquer momento. Motivo? A Lei da Casa Imperial de 1947, buscou eliminar a nobreza do país e estabeleceu que a sucessão se faria exclusivamente por linha paterna e masculina. Qualquer princesa da Casa Imperial que se case, deixa de fazer parte da família. Somente meninos nascidos da linhagem paterna podem ocupar o trono. Eu sempre interpreto isso como uma forma de estrangulamento da monarquia e, no caso do Japão, isso fica muito evidente neste exato momento.
Antes de comentar a matéria do jornal Mainichi, uma explicação. Existem várias possibilidades de herdar um trono, normalmente, a predominante é a da hereditariedade com precedência masculina, isto é, qualquer menino nascido do casal real/imperial passa a frente das irmãs. As mulheres reinam, se não tiverem irmãos. Há monarquias que excluem as mulheres totalmente, mas isso é burrice e acredito que Felipe V da França se arrependeu muito de ter forjado a Lei Sálica para tomar o trono da sobrinha.
No caso da monarquia russa, desde o filho de Catarina, a Grande, que devia odiar a mãe, a lei passou a ser semi-Sálica, as mulheres assumiriam o trono se não houvesse nenhum homem restando. Por exemplo, as filhas de Nicolau II (Olga, Tatiana, Maria e Anastácia) só se sentariam no trono russo se não houvesse nenhum irmão, tio, ou primo. Suas possibilidades eram, portanto, muito remotas. Hoje, na Europa, a tendência das monarquias modernas é alterar suas leis de sucessão e adotar a primogenitura absoluta, o mais velho herda, sendo menino, ou menina. Por isso, a princesa Charlotte foi celebrada como a primeira menina da família real inglesa a ter precedência em relação a um irmão caçula. A ordem atual de ascensão ao trono da Inglaterra é Charles - William - George - Charlotte - Louis.
E a situação do Japão? Até o nascimento do príncipe Hisahito, de 14 anos, sobrinho do imperador atual, foram mais de 30 anos sem que nenhum homem nascesse na casa imperial. Hisahito tem duas irmãs mais velhas, o imperador tem somente uma filha, Aiko (foto abaixo), de 19 anos. Até o nascimento do garoto, a Dieta, o Parlamento japonês, estava discutindo a possibilidade de mudanças na lei, mas os velhos políticos tinham grande resistência a permitir a ascensão de uma mulher ao trono do Crisântemo, como se isso nunca tivesse acontecido. Houve infelizes que propuseram inclusive a possibilidade do imperador voltar a ter concubinas para garantir a sucessão. Sim, isso no século XXI.
E a população japonesa? Bem, as pesquisas recentes apontam que boa pare dos japoneses e japonesas é favorável à mudança na legislação para permitir a ascensão de mulheres ao trono. E, segundo o Mainichi, o Primeiro-Ministro se pronunciou publicamente dizendo que a discussão é uma prioridade. Encontrei um artigo no Japan Times que argumenta que a inclusão seria inconstitucional mesmo, já que a carta magna do país afirmaria a igualdade entre homens e mulheres. Vamos esperar pelas cenas dos próximos capítulos.
1 pessoas comentaram:
impressão minha ou a Casa Imperial quer a república no Japão...?
(algo de forma bem sutil)
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